Wall Street e o Dia Mundial da Água

Assinalou-se ontem o Dia Mundial da Água, um dos bens mais preciosos que a Mãe Natureza ofereceu à humanidade, do qual nem todos dispomos e pelo qual se travam conflitos armados e económicos em vários pontos do globo. Para ajudar à festa, porque onde há sangue e cadáveres, haverá sempre um gangue de abutres a voar em círculos, os terroristas de Wall Street pretendem começar “negociar” o futuro da água, como se de uma commodity se tratasse.

Eu disse “como se de uma commodity se tratasse”? Perdoem-me a imprecisão: parece que, desde meados de Dezembro de 2020, já se trata, juntando-se assim ao ouro, ao petróleo e a outros recursos manipulados pelo terrorismo de mercado dos gangsters de Nova Iorque. Pelo que é uma questão de tempo, certamente, até que o capitalismo selvagem comece a comprar políticos corruptos, disponíveis para privatizar a água dos seus países pelo preço certo em euros, dólares, bitcoins ou lugares em conselhos de administração de fundos de investimento sediados nas Ilhas Virgens Britânicas, com participações qualificadas nos grandes conglomerados que a mão invisível há-de parir para o efeito.

Em princípio, note-se, será para nosso bem. E, claro, vai ficar tudo bem. Portanto tratem de beber muita água, e de armazenar tanta quanta puderem, porque poderá chegar o dia em que os mercados precisem da vossa sede para salvar o mundo da Venezuela e do marxismo cultural. Brace yourselves.

Comments

  1. Filipe Bastos says:

    Em cheio, João.

    Se os ‘mercados’ e outros mamões quererem abocanhar até a água não faz soar alarmes às pessoas, não sei o que fará.


  2. Depois, eventualmente & paulatinamente, instalam-nos uns aparelhos ( esteticamente muito apelativos) que nos permitem consumir oxigénio e no final do mês aparece a conta.
    E o pessoal aceita…


    • … e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.

  3. Luís Lavoura says:

    “negociar” o futuro da água, como se de uma commodity se tratasse

    O autor deste post não paga pela água que consome em casa, como se de uma “commodity” se tratasse? Eu pago.

    A água é efetivamente, na generalidade dos casos, uma “commodity”: um produto mais ou menos indiferenciado, que se compra e vende em quantidade e não em função da sua especial qualidade, ou seja, que não está sujeito a “marketing”.

    Pode-se comprar água mineral para beber no supermercado, e então não se trata de uma “commodity”. Mas a água que sai das nossas torneiras é uma “commodity” e é paga como tal.

    • Paulo Marques says:

      Ai sim? Posso trocar de fornecedor de um momento para o outro? E nova concorrência pode aparecer a qualquer momento?

      • POIS! says:

        Pode pois! Tem é de andar de garrafão de um lado para o outro.

        Mas só enquanto não existirem operadores de mercado providos de frotas autotanques. Nessa altura pode esperar que eles lhe estacionem á porta de casa.

        Concorrência não vai faltar! Água às cores, com sabores, ou até já com o shampoo incluído… E vai ser um corrupio de autotanques na bisga por essas estradas fora. Sabe, nestas coisas dos mercados, os primeiros a chegar…