Atropelar o neoliberalismo com um rolo compressor

foi o que fez Ricardo Paes Mamede. No Público.

Coração de papelão – as empresas e as causas sociais (parte 2)

Ainda em 2022, depois da cadeia de hiper-mercados alemã Lidl se ter aproveitado de uma causa social para flechar o coração mole dos seus clientes, através de publicidade em folhetos, escrevi um texto criticando esta nova moda de empresas cotadas em bolsa, que vivem do lucro, usarem causas sociais para tornarem os seus produtos mais apelativos e a sua marca mais “trendy” (como se diz agora).

Durante a época natalícia, várias operadoras de telecomunicações decidiram apropriar-se do tema da saúde mental, usando tal flagelo como forma de vender mais pacotes de televisão e internet. Muita gente aplaudiu, centenas e milhares de partilhas nas redes sociais e as operadoras a passar a imagem de boas samaritanas do bem-estar físico e psicológico.

Já trabalhei num call-center de uma das operadoras. Ao ver o anúncio, torci o nariz. “Saúde mental?” – questionei-me. “Mas o publicitário que fez o anúncio já entrou nalgum call-center desta operadora?”. Claramente, não.

Hoje, é notícia um antigo trabalhador de uma destas empresas, Rui Oliveira, que relata a sua história ao Expresso: Rui, que sofria de ansiedade e depressão, foi despedido da empresa com a justificação de que os trabalhadores de tal empresa… “não podem sofrer de ansiedade ou depressão”. Quando as empresas de capital, cotadas em bolsa, são vistas como “boazinhas” por conta de um anúncio, cheira-me sempre a esturro. Ver as pessoas alienadas a adorar estas empresas por uma ”boa acção”, soa-me sempre ao vilão da Disney ou da Marvel, que engendra um plano maquiavélico, mascarando-se de “pobrezinho”, para a seguir destruir tudo e conquistar o Mundo.

Não se enganem: as empresas vão continuar a aproveitar-se de causas sociais para vender. E vão continuar a despedir pessoas que não tenham o “mindset” apropriado… toda a gente sabe que quem está deprimido, não está disposto a fazer “networking” para depois acabar num “rooftop” a beber um “drink” com os ”workmates”.

Rui. Foi despedido de uma empresa de telecomunicações por ter ansiedade e depressão.

Imagens: jornal Expresso

A mais recente campanha publicitária do Lidl: quando o capitalismo selvagem se apropria das causas sociais

A mais recente publicidade do Lidl, aplaudida por tantos, mostra-nos crianças a brincar com brinquedos. Inovador, pensam vocês. Não, são só crianças a brincar com objectos de plástico. Mas por que razão foi tão aplaudida, perguntam vocês.

O aplauso advém da ânsia que a sociedade tem em ver grandes empresas, lobbistas ou o Estado resolverem os problemas que o povo desistiu de tentar resolver. A nova campanha publicitária do Lidl mostra-nos rapazes e raparigas, com idades entre os 1 e os 7 anos, a brincarem normalmente – a mesma foi aplaudida porque, supostamente, cria uma ruptura com a “normatividade”, pois há rapazes a brincar com conjuntos de princesas e raparigas a brincar com conjuntos de super-heróis. Estas práticas, toda a gente sabe, a sociedade já não consegue aceitar… ou será que a campanha do Lidl é uma distopia?

É mesmo. A campanha do Lidl é isso mesmo: uma estratégia de marketing pura e dura, onde a publicidade apelativa leve os leitores a serem potenciais compradores… numa altura em que estamos quase no Natal… e onde gastamos dinheiro… para as crianças. Visa, acima de tudo, vender: e numa época de polarização, que tal tentar fazer a venda apelando à Humanidade do potencial comprador, usando uma causa social pelo caminho para lá se chegar? É o que acontece aqui. E o Lidl já venceu a causa.

Venceu, porque usou uma fórmula que, hoje, é o B A B A do marketing: usar causas sociais (sejam os direitos das crianças, das mulheres, das diferentes etnias, das diferentes sexualidades) como combustível para apelar à compra. Venceu, porque, inteligente, não colocou o anúncio na TV, apenas o colocou nos folhetos, os quais chegam a grupos restritos de pessoas e… à internet, onde, aí sim, o Lidl sabia que faria as delícias de alguns internautas mais “woke” e que estes se encarregariam de partilhar a campanha do Lidl, fazendo publicidade gratuita sem que o Lidl mexa mais do que uma palha. Está de parabéns, o Lidl.

O Lidl é uma rede de supermercados, presente em 32 países, pertencente ao Grupo Schwarz (o maior grupo de retalho na Europa e o sexto maior do mundo), avaliado em cerca de 57.000 milhões de dólares. O seu objectivo é vender os seus produtos e a forma de lá chegar… pouco importa. Não podem, portanto, ser deixadas nas mãos de uma empresa capitalista, avaliada em biliões, as causas sociais que dizem respeito a toda uma sociedade… sem cotação em bolsa. O mais curioso é esta campanha ter surgido depois da notícia que dava conta de, num armazém alemão de um fornecedor do Lidl, terem sido encontrados pintainhos mortos, cadáveres debicados e galinhas mal tratadas.

O povo e as suas causas não são piada, não são bens de consumo, não são folhetos divertidos para vender plásticos. O povo é carne e osso. O povo e as suas causas não são matérias primas prontas a ser transaccionadas, como se os direitos sociais fossem meros produtos de consumo, como um Action Man ou uma Cinderela de plástico. Às empresas o que é das empresas.

Ao povo o que é do povo.

Eleições em França: Ler os sinais

Le Pen ganhou no eleitorado dos 18 aos 50. Só a partir daí Macron conseguiu vencer. É só perceber os sinais. Ou mudam as políticas ou os franceses vão acabar a entregar o poder ao lado negro da história.

Depois não culpem o eleitorado…

Alemanha com “o gás de fora”…

There’s a structural problem Germany is waking up to: the competitiveness of its heavy, energy-intensive industry (chemicals, engineering, metals) is based in no small part on cheap Russian gas; take that away, and made-in-Germany may not that different to, ehem, made-in-Spain (Javier Blas, Bloomberg).

E onde diz Espanha podem substituir por Portugal ou outro exemplo. Por cada foto de Bucha ontem ou de Mariupol amanhã, fico na dúvida se os dirigentes alemães conseguem dormir em paz. O capitalismo selvagem é para o lado que dorme melhor. Provavelmente, eles também….

Ucrânia e Nestlé

Somos todos de Esquerda ou de Direita mas….

Os mandamentos do pensamento único:

Se és de direita não te podes manifestar contra o capitalismo selvagem que prefere produzir onde os direitos dos trabalhadores são uma miragem. Se és de direita não podes denunciar os desmandos dos dirigentes dos partidos ideologicamente próximos do teu pensamento político (deve ser por isso que o PCP não pode criticar a Coreia do Norte). Se és empresário e ainda por cima de direita não podes criticar as empresas, sejam ou não tuas concorrentes, por produzir em países não democráticos com tudo o que isso significa de concorrência desleal e de asfixia aos direitos mais elementares (sejam eles laborais ou humanos). Não podes.

Caso contrário, és um sacana de um comunista. É isso? Com ou mais molho? Agora percebo melhor a posição do PCP. Realmente, não pode criticar. Porque são os seus. Uns sacanas mas são os seus sacanas. Ainda não tinha percebido essa regra. Caramba, andei eu a criticar o PSD, o CDS ou a IL de quando em vez e não podia. Raios… Tenho de colocar umas palas para ser politicamente correcto como exige o mainstream…

Grupo VW e as mãos cheias de sangue

Vou acreditar que o Observador traduziu bem o que disse o homem. Uma vergonha sem nome.

Soy Maior pero no Idiota – Crónica do Rochedo #50

Carlos San Juan, 78 anos, nascido em Valencia, Espanha. Lidera a campanha “Soy Maior pero no Idiota” contra a forma como a banca trata os seus clientes e em especial os mais idosos num processo vergonhoso de aceleração da transição digital sem respeito pelos clientes.

Juntou mais de 600 mil assinaturas. Chamou a atenção da opinião pública. O Governo ouviu. Parte da banca já recuou. Carlos, 78 anos. Reformado. Um exemplo.

Wall Street e o Dia Mundial da Água

Assinalou-se ontem o Dia Mundial da Água, um dos bens mais preciosos que a Mãe Natureza ofereceu à humanidade, do qual nem todos dispomos e pelo qual se travam conflitos armados e económicos em vários pontos do globo. Para ajudar à festa, porque onde há sangue e cadáveres, haverá sempre um gangue de abutres a voar em círculos, os terroristas de Wall Street pretendem começar “negociar” o futuro da água, como se de uma commodity se tratasse.

Eu disse “como se de uma commodity se tratasse”? Perdoem-me a imprecisão: parece que, desde meados de Dezembro de 2020, já se trata, juntando-se assim ao ouro, ao petróleo e a outros recursos manipulados pelo terrorismo de mercado dos gangsters de Nova Iorque. Pelo que é uma questão de tempo, certamente, até que o capitalismo selvagem comece a comprar políticos corruptos, disponíveis para privatizar a água dos seus países pelo preço certo em euros, dólares, bitcoins ou lugares em conselhos de administração de fundos de investimento sediados nas Ilhas Virgens Britânicas, com participações qualificadas nos grandes conglomerados que a mão invisível há-de parir para o efeito.

Em princípio, note-se, será para nosso bem. E, claro, vai ficar tudo bem. Portanto tratem de beber muita água, e de armazenar tanta quanta puderem, porque poderá chegar o dia em que os mercados precisem da vossa sede para salvar o mundo da Venezuela e do marxismo cultural. Brace yourselves.

O sonho molhado dos liberais portugueses


Despedir 400 pessoas (maioritariamente pretos e mulheres) de uma só vez, em videochamada sem direito a perguntas, com recurso a uma gravação robotizada e a um botão que desligue de imediato o trabalhador.
Digam lá que não é o sonho molhado de qualquer liberal português…

O pecado do capitalismo selvagem, segundo Francisco

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Belém: o nome significa casa do pão. Hoje, nesta «casa», o Senhor marca encontro com a Humanidade. Sabe que precisamos de alimento para viver. Mas sabe também que os alimentos do mundo não saciam o coração. Na Sagrada Escritura, o pecado original da humanidade aparece associado precisamente com o ato de tomar alimento: «…agarrou do fruto, comeu» – diz o livro do Génesis (3, 6). Agarrou e comeu. O homem tornou-se ávido e voraz. Para muitos, o sentido da vida parece ser possuir, estar cheio de coisas. Uma ganância insaciável atravessa a história humana, chegando ao paradoxo de hoje em que alguns se banqueteiam lautamente enquanto muitos não têm pão para viver.

Adoro quando o Papa Francisco usa o seu poder mediático para nos lembrar que o capitalismo selvagem e as suas elites opulentas e corruptas são um nojo. Nunca é demais recordar.

Lembrem-se disto quando tiverem que explicar aos vossos filhos por que raio foi a democracia desmantelada

Há 11 anos, na era da fartura socrática, Joe Berardo pediu um empréstimo de várias centenas de milhões de euros à Caixa, para a famosa compra de acções do BCP, sem que para tal lhe fosse exigida qualquer garantia, apesar do risco associado à operação.

Hoje, 11 anos depois, Berardo ainda nos deve cerca de 280 milhões de euros. Apesar da vida faustosa que todos lhe conhecem, este distinto empreendedor e coleccionador de arte ainda não encontrou meio de limpar o seu calote. E provavelmente nunca o fará, até porque não há quem o obrigue. [Read more…]

Trump e Bolsonaro: as provas vivas de que o capitalismo selvagem detesta a democracia

Imagem via Blog de Pablo Reis

A eleição de Trump, o anti-herói que alguns palermas ainda acreditam não representar os mais imorais interesses económicos, foi apresentado ao mundo como aquele que vinha para romper com o establishment e acabar com os poderes ocultos que nos conduziam para uma ditadura globalista. Não só não o fez como não há stock de Gout de Diamants que resista ao clima de celebração em que vivem os piratas de Wall Street, desde que o anormal foi eleito.

Com Bolsonaro sucede exactamente a mesma coisa. Aldrabado que está grande parte do povo, com uma campanha milionária totalmente focada nas redes sociais e na desinformação, largos milhões de ingénuos (ou imbecis) acreditam que Bolsonaro não representa a elite abastada do país. E a elite abastada do país já esfrega as mãos com o que aí vem. Porque a supressão de direitos e liberdades é sempre boa para o negócio, até porque pagar salários justos e dar condições aos trabalhadores é sempre uma maçada e o helicóptero não se mantém sozinho. Que o diga a bolsa de São Paulo, em contraciclo com o resto do mundo.

Banqueiros filhos da puta

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A organização terrorista Goldman Sachs, que entre outros fundamentalistas emprega o mordomo-lobista Durão Barroso, elaborou um estudo onde conclui que “as curas de doenças podem ser más para negócios no longo prazo”. O documento, sugestivamente intitulado “Curar os pacientes é um modelo de negócios sustentável?“, é todo um hino à lógica predatória que assiste ao capitalismo selvagem, onde o lucro se sobrepõe à dignidade do ser humano, pedra basilar do doentio liberal-fascismo.

Eis o mais perigoso inimigo de uma humanidade livre e emancipada. Não mata como Assad, Putin, Salman ou qualquer presidente norte-americano, mas tem um projecto esclavagista a longo prazo, infinitamente mais perigoso e melhor elaborado que qualquer estratagema saído da cabeça de um político corrupto ou tirano sanguinário. Até porque são estes tipos que compram políticos corruptos e tiranos sanguinários, não o contrário. Não, Pedro Pinheiro Augusto, não podemos confiar nestes banqueiros filhos da puta.

Mulher doa rim aos mercados

Despedida por faltar ao trabalho para doar rim a filho

A ser verdade esta notícia (porque verosímil é, com certeza), confirmamos que não há conquistas asseguradas. No mesmo mundo ocidental que comemora o Primeiro de Maio, a regressão contínua e frequente dos direitos dos trabalhadores é um facto lamentável e nada lamentado por um patronato em roda livre, apoiado em políticos encandeados com o brilho dos mercados e de um capitalismo que não é mais do que a suspensão de qualquer resquício de humanidade, uma lei da selva com aroma a perfumes caros.

Uma mãe que dá, pela segunda vez, vida a um filho é, para estes yuppies (ana)crónicos, um anacronismo que deve ser varrido. Nem será de admirar que os lusos seguidores desta seita de um capitalismo de rosto inumano venham a exigir aos assalariados a doação de órgãos, porque parece estar cada vez mais perto o dia em que já não será possível retirar-lhes direitos ou cortar-lhes salários.