Frederico Bruno Varandas de Carvalho

A declaração à imprensa de Frederico Varandas no final do jogo entre o FC Porto e o Sporting é um verdadeiro tratado de manipulação. Expectável e até compreensivo.

O ainda presidente do Sporting vive na angústia e no medo. Não é fácil ser presidente de um clube do tamanho do Sporting, o terceiro maior clube português tendo contra si a principal claque do clube, a Juventude Leonina. Uma claque conhecida pela sua violência, cujos acontecimentos de Alcochete vieram apenas sublinhar o que todos no mundo da bola já sabiam. Ora, Varandas ganhou as eleições com um discurso duro contra os membros desta claque a quem apelidava de guarda pretoriana do anterior presidente, Bruno de Carvalho. Após a sofrida vitória, procurou cortar o mal pela raiz. A juventude leonina nunca lhe perdoou. Mesmo com a vitória no campeonato a coisa amainou mas não acabou. Temos que ter a noção de que não é fácil para a família de Varandas conviver com o medo, com as constantes ameaças e o perigo que é estar na mira dos elementos mais violentos do futebol. Quem conhece o mundo das claques dos grandes clubes percebe melhor do que estou aqui a falar.

Ora, Varandas precisava desesperadamente de algo que fizesse aproximar as partes. É preciso encontrar um inimigo e transforma-lo em inimigo comum. A vitória nas próximas eleições internas está mais que garantida mas a paz com os elementos mais violentos do clube ainda está longe. Ou estava. 

A pressão familiar é enorme. Viver em constante sobressalto é impossível. É aqui que entra o último Porto – Sporting. A oportunidade faz o ladrão, diz o povo. O Sporting precisava de uma vitória para relançar o campeonato e sabia que perdendo entregava logo a liga 2022 ao adversário. O empate era do mal o menos. Porém, a batalha campal no final do jogo foi a tal “oportunidade”. Varandas e os seus conselheiros de comunicação nem pestanejaram. Toca a atacar fortemente Jorge Nuno Pinto da Costa usando a cartilha já antes usada por outros mas que sempre resultou. A narrativa era simples: “fomos roubados durante 40 anos mas agora não o vamos ser mais, porque não temos medo, porque vamos ser pior que o Pinto da Costa, até fomos campeões o ano passado, porque não tememos nada nem de ninguém”. E afirmar isto em pleno Estádio do Dragão é simbólico. As massas leoninas rejubilam, os mais violentos sentem-se respaldados e Varandas tenta assim obter a paz interna e sossegar a família. Já Bruno de Carvalho o tinha feito e até resultou. E ainda resulta? Depende se a bola continuar a entrar na baliza adversária ou, não entrando, reforçando o discurso “calimérico” de que a culpa é do tal inimigo. É uma coisa básica? É. Mas resulta sempre no futebol. É o similar ao grito portista (do meu clube) do “Contra tudo e contra todos” que no Sporting virou em “Onde vai um vão todos”. A merda é a mesma, o cheiro é que é diferente. E este foi o momento em que Frederico Varandas abraçou a estratégia de Bruno de Carvalho.

O presidente do Sporting foi criado na mesma fornada de Bruno de Carvalho. Vive, como o anterior, numa espécie de universo paralelo, esquecendo que nem o Pinto da Costa dos anos 80 e 90 existe mais, nem ele tem a densidade ou o saber desse Jorge Nuno Pinto da Costa. Como recorda Carlos Tê, hoje, no Jogo: “Já o presidente Varandas puxou dos galões de intrépido oficial do exército para ter o seu momento Pinheiro de Azevedo mas limitou-se a repetir uma vulgata estafada: 40 anos de inferno e 60 de paraíso quando a irmandade da segunda circular distribuir sem pecado, os títulos entre si”. Mas é uma estratégia que até pode resultar para acalmar os seus inimigos na juventude leonina e trazê-los para o seu regaço. Resolve no curto prazo o seu grave problema familiar e afasta por uns tempos o clima de terror em que vivem os seus mais próximos. 

O único problema é que no nosso futebol só uma coisa interessa aos fanáticos: a vitória. Sem vitórias, nem inventando inimigos externos em catadupa a coisa se resolve.O discurso incendiário de ontem pode resolver o problema de hoje mas só com vitórias é que resolve o de amanhã. Porque quem se deita com cães acorda com pulgas. Ao “brunocarvalhizar-se”, Varandas deitou pela janela fora todo o capital acumulado nos últimos anos. Radicalizou-se. É hoje aquilo que ontem criticou aos adversários. Não passando de uma mera cópia. A preto e branco. 

Tenho as mais sérias dúvidas que o Conde das Forças Armadas saiba no que se meteu. 

Comments

  1. Tuga says:

    É verdade.É uma cegueira geral por essas bandas.
    Ainda me lembro quando toda a gente viu um empregado do gangster a agredir um reporter de imagem com o dito gangster a 3 metros a presenciar e ninguem viu nada, a não ser os espectadores da Televisão
    A tradição do apito dourado continua. São todos surdos, mudos e cegos

  2. Pedro Luiz de Castro says:

    Manipulação? Sim, claro….
    É só (tornar a) ler este mesmo texto…

  3. Regionalista convicto says:

    Precisamos é de Pinheiros destes. Que enquanto VAR não veem murraças, e que enquanto árbitros transformam pisadelas em amarelos ao adversário. O futebol quer-se é com erro humano.
    O Varandas e o Bruno de Carvalho não tinham nada que vestir coletes e arremessar objectos, cadeiras e atingir os jogadores. Ou agredir um dirigente do Porto que andava ali a tentar acalmar as coisas.
    Curioso que contra o Atletico de Madrid houve caldeirada entre os jogadores, mas os coletes portaram-se todos bem. Por que seria…
    Vitor Catão, grande dirigente sportinguista, é que os sabia colocar na ordem. Nada como uns bons sopapos para dar educação, é o que falta a esta juventude. E mesmo com uns quantos milhões de testemunhas, nem vontade houve para apresentar queixa. Respeito, é o que é. Já não se encontram valores destes em Portugal.