Ucrânia e Palestina, heróis e terroristas: o terror que nos vendem e o mundo real

Não é à toa que a narrativa dominante impõe um silêncio sobre o passado, rotulando de apoiante de Putin quem ousa falar nos antecedentes desta guerra. Não que eles justifiquem a agressão, que deve ser condenada e combatida por todos os meios e sem hesitações – e eu defendo, há vários anos, um embargo à Rússia, quando ainda muitos destes freedoms fighters da treta estendiam tapetes vermelhos aos oligarcas que continuam a voar para a Europa, apesar dos espaços aéreos fechados – mas a tentativa de reescrever a história que está em curso é ilustrativa do quão usado o povo ucraniano e o seu sofrimento estão a ser. Usados por gente que se está literalmente nas tintas para eles. Usado, aqui em Portugal, por muitos daqueles que os trataram como merda, quando aqui começaram a chegar há 20 anos, e os remeteram para as obras e para as limpezas, ignorando diplomas e elevados níveis de formação superior, com a arrogância xenófoba que se lhes conhece.

Sou pela autodeterminação dos ucranianos, pelo respeito pelo direito internacional e pelo isolamento total de Putin, que defendo desde 2014, sem “mas” nem meio “mas”. Também sou pela autodeterminação dos palestinianos, que estão a ser agredidos hoje, foram-no ontem e sê-lo-ão amanhã. Pela sua autodeterminação, pelo respeito pelo direito internacional, no que toca também (mas não só) ao cumprimento do plano de partilha da Palestina de 1947, que nunca foi respeitado por Israel, que continua a construir colonatos ilegais na Cisjordânia (hoje, não há não-sei-quantos anos), e pelo julgamento dos criminosos de guerra que, protegidos pelas potências ocidentais e pela nossa cobardia, continuam a espancar e a matar crianças, idosos, mulheres e homens que só querem ser livres. Como os ucranianos. Porque continuamos a negar aos palestinianos os mesmos direitos que hoje nos mobilizam pelos ucranianos? Simples: porque isso não serve a agenda de quem realmente manda nisto tudo. E, por isso, um palestiniano que luta contra um colonato ilegal na Cisjordânia é terrorista, e um ucraniano que luta contra a ocupação da sua cidade é um herói.

Comments


  1. Plenamente de acordo. A hipocrisia, cinismo e duplicidade do Ocidente são tão ou mais execráveis que a invasão em curso. Nunca pode haver invasões boas nem guerras boas. Porque é que a invasão da Ukrania é perversa, mas a da Líbia não é, a do Iraque, Síria, Líbano, Afganistão, Yémen, etc, haveriam de ser boas?


    • Seria viável argumentar que (quase) todas essas “invasões” (porque várias delas não existiram) foram precedidas de monstruosidades praticadas pelos “invadidos” – como o bombardeamento aéreo de Mistrata, por Khadafi, o gazeamento de Halabja e a invasão do Kuwait, por Saddam, o massacre de Homs pelo Assad (pai) e o uso de gás sarin pelo Assad (filho), o ocupação do Sul do Líbano pela OLP, para bombardear daí Israel, as sucessivas atrocidades dos Taliban e as bases da Al Qaeda no Afeganistão – sendo que, realmente, para o que os Sauditas e Emiratis estão a fazer no Iémen, não há justificação nem desculpa (excepto dependermos do petróleo deles, o que também já permitiu a Putin massacrar chechenos, georgianos e sírios e assassinar rivais em plena UE com igual impunidade). A questão é mais, “o que é que o cu tem a ver com as calças”? Mas, deixem lá, continuem, porque, em 7 dias, já fizeram mais pela erradicação do comunismo em Portugal do que conseguiu a PVDE/PIDE/DGS em 48 anos.

  2. JgMenos says:

    Mais um penso rápido para a verdadeira esquerda…

    • POIS! says:

      Pois é! É como digo!

      Vosselência está a ficar cheio de pensos! Não admira, está com a cútis toda lixada! E o bestunto nem se fala!

  3. Vitor Cruz says:

    Há muito tempo que não passo aqui pelo blog que acho muito interessante. Mas vejo que continua aqui sem falhas, em pleno combate, um perfil, “Jgmenos”, na militância incansável pela luta anticomunista. Não sou comunista, nem nunca a minha independência me permitiria ser militante de qualquer partido. Mas este incansável e imbecil Jgmenos é da estirpe que abomino: aqueles para quem os direitos humanos e o direito à vida só é válido e respeitável para os agredidos por entidades exteriores à NATO e seus aliados, na santa luta contra o comunismo. Pela mesma razão que a NATO necessita ter um inimigo embora não exista já URSS, mas naquele sitio está agora a Rússia do apoiante da extrema direita (não nazi, sublinhe-se), Putin.

Trackbacks


  1. […] os novos pacifistas – e alguns velhos – qualquer paralelo que se faça com a Ucrânia é whataboutismo, ou seja, um truque de propaganda que pretende desvalorizar, antes […]