Segundo a Bloomberg, há venezuelanos a voltar ao país, devido a um volte-face inesperado: a Venezuela decidiu abraçar o capitalismo.
Lendo uma coisa destas, assim pela manhã, fica-se com a sensação que teve um lugar um golpe de Estado em Caracas, liderado pelo Guaidó e financiado pelos EUA, que derrubou Nicolás Maduro. Querem ver que, com as TVs ocupadíssimas em loops sobre a invasão da Ucrânia, tão ocupadas que já nem a pandemia tem um holofote que lhe valha, a coisa lhes passou ao lado?
Nada disso. Maduro ainda governa, despoticamente, Guaidó continua a não contar para nada, como nunca contou, e a única coisa que os americanos se preparam para financiar é o próprio regime venezuelano, através da compra de petróleo, agora que o outro ditador, apoiado por Caracas, está temporariamente embargado. E sublinhe-se o “temporariamente”, para não haver ilusões e frustrações mais à frente.
Este take da Bloomberg diz-nos quase tudo o que precisamos de saber sobre a forma como o Ocidente e o capitalismo branqueiam as piores ditaduras. Num dia são personas non gratas, não porque oprime, mas porque não servem os seus interesses, descritos como estalinistas totalitários, corruptos e com sede de sangue, no outro já estão a abraçar o capitalismo porque o mercado livre precisa do petróleo deles. Nada de novo. Apenas a boa velha hipocrisia de quem se está nas tintas para a liberdade, os direitos humanos e a democracia. Ou, dito por outras palavras, business as usual.
Não tarda nada ainda vemos o Biden a apoiar o Bolsonaro. E o Bolsonaro a virar o bico ao prego e a criticar Putin.
Em política tudo é possível.
Ó homem, se os EUA e a GB se aliaram ao Estaline – o segundo pior genocida da história moderna, e uma ameaça directa a esses dois países – para se livrarem do Hitler – o pior genocida da história moderna – como não se haviam de se aliar ao Maduro – um tiranete peso-mosca – para se livrarem do Putin – o tirano campeão dos super-pesados? Não é o “mercado livre que precisa do petróleo deles”, é a sociedade moderna, livre ou não, que precisa de combustíveis fosseis para continuar. Eu e você.
Quando os pastores socialistas mamaram o bastante, logo se acolhem ao sistema que lhes deem segurança e retabililidade aos activos.
Pois é!
E que “sistema” é esse?
Parafraseando um conhecido comentadeiro direitrolha:
“Quando os direitrolhas capitalistas querem continuar a mamar o bastante, logo se acolhem ao sistema que lhes dê segurança e retabililidade aos activos.Querem lá saber de “totalitarismos”.
Quem mudou não foi o “socialista” de ter o estado a fazer coisas, foi o império a desistir de controlar a extracção do país.
O Paulo tem muita razão. Aliás, o regime venezuelano nunca deixou de ser de base capitalista, apenas houve alguma mudança de propriedade, mas a essência de funcionamento sempre foi a mesma. Quando hove a alta das “commodities”, este e outros regimes latino-americanos decidiram alocar boa parte dos lucros excedentários a ajudar as massas empobrecidas. Claro que isso irritou o “amigo americano”. Obama chegou a declarar, imagine-se, a Venezuela uma ameaça para a segurança dos EUA. Tu bota ameaça nisso, meu.