Normalizar o ódio

“Facebook e Instagram vão permitir temporariamente incentivos à violência contra a Rússia em publicações sobre a Ucrânia.

Meta vai alterar temporariamente a política relativa aos discursos de ódio. Utilizadores de alguns países vão poder incentivar à violência contra a Rússia em publicações no contexto da invasão da Ucrânia.”

Começo a pensar, seriamente, em sair de todas as redes sociais. O pior é que, no mundo global de hoje, todos nós, mais ou menos, dependemos, directa ou indirectamente, das redes sociais. No meu caso, por causa da Fotografia, uso o Instagram para divulgar trabalho.

Mas isto é o cúmulo dos cúmulos. É a normalização do ódio como um todo (porque, convenhamos, já ele estava normalizado há muito nestas redes). É a banalização da atrocidade. É a apologia da indiferença.

Eu não estou contra a Rússia enquanto país. Eu não estou contra os russos enquanto povo, porque para mim também eles são joguetes e sofrem às mãos do tirano que os governa há décadas. Em meu nome, não. Banalizar os insultos a um povo, seja ele qual for, é não entender nada do que nos trouxe até aqui. É não perceber minimamente o conceito de empatia. Eu sou pela causa Palestiniana, mas não estou contra o povo de Israel.

Sei que a Meta, dona do Facebook e do Instagram, entre outras, é uma empresa privada e, como tal, gere-se da maneira que bem entende. Quem nela está inscrito, ou aceita, ou não aceita os termos a que se compromete quando se inscreve. No entanto, e apesar do facto que supracito, sabe a empresa, e concordaremos todos nós, que quando num mundo global como o de hoje, onde milhões de pessoas se encontram ligadas a estas redes sociais, esta última terá, em última instância, algumas responsabilidades sociais que não pode, em circunstância alguma, deixar de lado. Mas todos sabemos de onde vem o lucro destas empresas. Por isso, por muito que nos escandalize, cá continuamos muitos, senão a maioria. E porquê? Que droga é esta que muitos de nós não conseguimos largar e que cada cada vez nos divide mais? Que instituto do mal é este que nos instiga a, gratuitamente, odiarmos um povo que muitos de nós nem sequer conhece?

Depois do escândalo com a Cambridge Analytica e tudo o que daí veio a público, começa a tornar-se óbvio quais as reais intenções de quem quer este mundo “conectado” ao máximo. E não é para o nosso bem.

Estou na trincheira dos que querem a paz e não desarmam por um mundo sem guerra. Dos que nunca querem a guerra. Nunca estarei na trincheira dos que fazem da guerra lucrativa. Em meu nome, não.

Comments

  1. balio says:

    Começo a pensar, seriamente, em sair de todas as redes sociais.

    Já o deveria ter feito há muito.

  2. balio says:

    no mundo global de hoje, todos nós, mais ou menos, dependemos, directa ou indirectamente, das redes sociais

    Eu não dependo. Não estou em nenhuma.

    • Rui Naldinho says:

      Um blogue também faz parte das redes sociais, ainda que de uma forma específica.
      Ou acha que o Aventar não está de pleno direito nas chamadas redes sociais?
      Se você comenta aqui e interage com terceiros, completamente desconhecidos, “numa realidade que por vezes até se pode considerar ficcional”, está claramente dentro das redes sociais.
      Agora diga-me que não liga ao Facebook ou ao Twitter as duas maiores redes sociais do mundo.
      Há mais vida para além do Facebook.

      • balio says:

        Não. Um blogue não é uma rede social. Primeiro, porque não tem um algoritmo que dirige as pessoas para certas coisas. Depois, porque não permite formar qualquer relação social entre as pessoas que o lêem.

        • Paulo Marques says:

          Não é muito diferente do que o Google faz com os resultados de pesquisa, incluindo… os blogues e fóruns, onde é também monitorado.

        • João L Maio says:

          Hoje em dia, sim, poderemos considerar um blogue uma espécie de rede social.

    • João L Maio says:

      Excelente para si. Parabéns, balio.

  3. Rui Naldinho says:

    “A opção selecionada é Mais Relevantes e alguns comentários podem ter sido filtrados”

    Isto está a aparecer no Facebook. Mas mesmo no Twitter também há filtragem.
    Dos motores de busca, Google, às redes sociais, Facebook e Twitter, os europeus estão na mão dos Norte Americanos. Até nisto a Europa anda há muito a dormir. Ja não bastava a NATO ser os EUA e mais dúzia e meia de povos indígenas, no domínio da comunicação de massas estamos dependentes dos gostos políticos de terceiros.

  4. A hipocrisia ocidental revela-se a cada dia mais abjecta. Todos os media e plataformas se esforçam numa campanha diária a todas as horas, para nos convercer que há guerras boas e más, invasões boas e más, criminosos de guerra bons e maus, vulnerabilidades boas e más. É um manicaismo completamente absurdo e infundado. Como é que as guerras do Yémen da Líbia ou do Mali são boas e a da Ucrânia é má. A explicação é só uma. É assim que agrada ao “amigo americano”. Se se diz que a Europa não pode estar vulnerável às imporatções de gás russo, como poderá estar vulnerável à importação de gás americano? E os navios aportaram a Sines com gás e gasóleo russo? Portanto, há que boicotar a Rússia, mas o combustível deles será bom ou não? Perguntemos ao prof Martelo que tem sempre opinião para tudo (menos para a guerra)….

    • balio says:

      há que boicotar a Rússia, mas o combustível deles será bom ou não?

      Atualmente estamos como no tempo dos nazis, em que tudo aquilo que era produzido por judeus estava contaminado. Por exemplo, a teoria da relatividade era “ciência judaica” e portanto era má.
      Nos anos 80 nos EUA havia o café nicaraguense, que era proibido. Qualquer lote de café que estivesse contaminado por café da Nicarágua, não podia ser comercializado nos EUA.
      Agora temos o petróleo russo.

  5. Joana Quelhas says:

    Para um comunista o esquema é bastante fácil.
    As guerras más são as guerras onde estão envolvidos os EUA, as outras são boas ou mais ou menos.
    Um comunista odeia o Ocidente e a sua maneira de viver.Odeia o capitalismo que trouxe a sociedade de maior bem estar que alguma vez o planeta viveu.
    Um comunista não sabe que a paz de que desfrutamos (hoje infelizmente em rico) se deve em grande parte ao Tio Sam.

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Pois claro!

      Para um direitrolha o esquema é bastante fácil.
      As guerras más são as guerras onde estão envolvidos os outros, as dos EUA são boas ou mais ou menos.
      Um direitrolha odeia os povos e a sua maneira de viver.Odeia o socialismo e mesmo a social-democracia que trouxe a sociedade de maior bem estar que alguma vez o planeta viveu.
      Um direitrolha não sabe que as guerras de que sofremos as consequências (hoje infelizmente) se devem em grande parte ao Tio Sam.

    • Paulo Marques says:

      Só há um problema, a segunda frase é uma mentira descarada, e não melhora pelo restante.

  6. JgMenos says:

    O povo vitimado.

    Seguramente que tal é uma muito óbvia possibilidade, mas…
    Seguramente cabe ao povo responsabilidade pelos dirigentes que elege ou suporta.

    A doutrina dos coitadinhos tem que ser moderada pela responsbilidade que sempre cabe a quem é governado.

    • Paulo Marques says:

      Resta saber se o Menos já assumiu a responsabilidade pela destabilização do Iraque e dos milhões de mortes que se seguiram.
      Claro que não. Tivessem mérito.

      • JgMenos says:

        Que Alá te ajude e te dê um dia um Saddam ou um Kadafi que te establlize bem estabilizado.

        • Paulo Marques says:

          Entre eles e os que a Nato lá deixou à solta, qual é a dúvida?

          • Paulo Marques says:

            Esses que, de resto, eram nossos aliados até quererem controlar demasiado o que fugia para fora.

    • João L. Maio says:

      Coitado de ti, Diminuído. Gostei do teu auto-retrato, beijoca nessa bochecha gorda.

  7. Paulo Marques says:

    Vai ter que haver violência contra alguns imigrantes para as pessoas perceberem ao que chegamos, onde a culpa será exclusiva de alguns tresloucados e mais ninguém teve nada a ver com isso.
    O costume.

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