Bom dia, alegria

Jornalista da CNN faz “a pergunta que não quer calar”.

Em memória de Frédéric Leclerc-Imhoff

Frédéric Leclerc-Imhoff

Era operador de câmera. Tinha 32 anos. Trabalhava para o canal BFM TV. É mais uma das vítimas às mãos da tirania putinista, na Ucrânia. O jornalista francês fazia-se transportar numa caravana humanitária, quando a mesma acabou bombardeada pelo exército russo.

A todos os jornalistas e foto-jornalistas que se encontram a cobrir situações de guerra e que vêem, todos os dias, os seus direitos subjugados às mãos dos imperialismos – silenciados ou mortos -, a minha solidariedade.

Ao Frédéric, um brinde.

Iraq too, anyway

Com a idade, a memória vai esvanecendo, a verdade vem ao de cima e muitas vezes já estamos por tudo.

Não é? Que o diga George W. Bush neste discurso há uns dias. Até o próprio Bush andou estes anos todos incrédulo, por nunca ter sido julgado pelos crimes de guerra que cometeu.

De Kyiv a Jenin: abaixo a ocupação!

Fourth Palestinian dies after being shot by Israeli soldiers

Em menos de dois dias, as forças armadas israelitas mataram quatro palestinianos. Entre as vítimas mortais estão um adolescente (17 anos) e uma mãe, viúva, que deixa dois filhos órfãos (é provável que estes, como muitos outros, acabem integrados no exército israelita, depois de uma profícua lavagem cerebral). O apartheid israelita na Palestina e a ocupação ilegal tem de acabar. Israel tem de ser responsabilizado pelos crimes que vai cometendo livremente.

Aproveitando o caos na Ucrânia, legitimado tanto por Putin como por Zelensky, Israel voltou a atacar: em menos de 24h matou quatro pessoas, indiscriminadamente. A ocupação israelita nas terras da Palestina dura há mais de setenta anos. E nem as resoluções que dizem “Israel está a impor um apartheid e a cometer crimes de guerra” os param. Nem isso, nem ninguém, porque, aparentemente, há ocupações boas e ocupações más.

A ONU já reagiu. Pede “contenção”. Contenção, imagino, será matar apenas dois em vez de quatro de uma vez. Imagino eu. Pedir contenção não é suficiente. Imaginamos Putin aceder aos “pedidos de contenção” na invasão à Ucrânia? Tenho outra ideia não-peregrina: que tal impor sanções à economia israelita?

Quem olhar para o que a Federação Russa está a fazer na Ucrânia e depois olhe com seriedade para o que Israel está a fazer na Palestina, só pode escolher um lado: o lado do povo ocupado. O lado do povo ucraniano, o lado do povo da Palestina. Neste caso, a Rússia só invadiu… para ocupar. Israel já invadiu e já ocupou. As sanções à Rússia são tão legítimas como seriam as sanções a Israel. Mas por que razão uma ocupação é boa (Israel na Palestina) e uma ocupação é má (Rússia na Ucrânia)? Não vos sei responder, pois quem defende a ocupada Ucrânia mas depois defende o ocupador Israel, só pode ser mentecapto ou, em última instância, troglodita. Como não me enquadro em nenhum dos dois, deixo para que alguns comentadores o justifiquem.

O assassinato aleatório de palestinianos continuará. A ocupação israelita não parará. Israel não descansará enquanto não exterminar todo o sentimento e a identidade palestiniana. A solidariedade de quem se diz do lado da paz… bem, essa está reservada só para alguns. Espero que, tal como a Ucrânia tem direito à sua defesa, os palestinianos se consigam defender com o que têm à mão: escombros. Pode não magoar muito, mas se acertar num tanque israelita já será positivo. Defendam-se, nunca se rendam, o dia chegará:

Palestina vencerá!

Fotografia: AFP

O que é? Para que serve? ou Pela Boca Morre o Peixe

Na passada segunda-feira, o jornal Público decidiu lançar um vídeo explicativo. No vídeo, intitulado “O que é a NATO? Para que serve?”, a jornalista Cláudia Carvalho Silva explica meia-dúzia de factos. Na publicação da notícia no Facebook, comentei alertando para alguns factos que ficaram por enumerar, entre os quais a inclusão de antigos generais do exército Nazi na NATO ou o massacre levado a cabo nos Balcãs.

Por entre insultos, troço ou desvalorização do assunto que coloquei na mesa, por parte de outros internautas, eis que, entre eles, surge Bruno Vitorino. E quem é Bruno Vitorino? Para que serve?

Não farei um vídeo explicativo, mas poderei lançar umas achas para a fogueira. Bruno Vitorino foi deputado de 2011 a 2019, tendo passado pelas legislaturas do governo PáF e da Geringonça. Bruno Vitorino é militante do PSD-Barreiro, tendo sido o candidato à autarquia nas Autárquicas de 2021 (onde ficou conhecido por meia dúzia de tempos de antena, onde, com laivos de lunatismo, dizia que vivemos numa ditadura comunista – o sr. Vitorino confundiu Portugal com Havana, se calhar porque uma vez passou lá férias e achou que por haver muito sol nos dois lados, é tudo parecido).

No comentário que me dirigiu, fazendo a apologia da máquina de guerra que é a NATO, decidiu apoucar os factos que apresentei. Ora, em 2016, o Bloco de Esquerda apresentou, em sede própria, um voto pela libertação dos presos políticos angolanos e um voto de condenação pela repressão imposta pelo regime angolano sobre o seu povo. Relembro: Bruno Vitorino era, à data, deputado dos conservadores-liberais do PSD. Como terá votado estes dois tópicos? Com uma pesquisa rápida, descobrimos: no primeiro, absteve-se; no segundo, votou contra. [Read more…]

“Andamos a Leste”, uma crónica de Madalena Sá Fernandes

Partilho aqui um excerto de uma crónica que li hoje no Público. De Madalena Sá Fernandes.

Manifestações. Uma mensagem no WhatsApp. Um míssil. Miss you! Bombardearam um lar. Também eu, temos de combinar. Vem aí a terceira guerra mundial. Que tal hoje à tarde? Vídeos de pais a despedirem-se dos filhos. Trânsito na Segunda Circular. Os ucranianos. Vou tentar pensar noutra coisa. A Rússia invadiu a Ucrânia. Não te esqueças de comprar leite. Bombardearam uma escola. Vou pôr gasolina. Tomaram Chernobyl. Onde é que eu pus os óculos? Putin ameaça quem intervier. São 20€ de gasolina. Rússia lança ataques aéreos. Qual é a bomba? Pessoas em pânico fogem da Ucrânia. É a bomba 3. A culpa é do Putin. Desculpe, esse carrinho é meu. A culpa é dos EUA. Já não tem alho francês? A culpa é da NATO. No corredor 6 ao lado dos frescos. A culpa é do PCP. Ah, também preciso de champô. A culpa é da China. Patrícia chamada à caixa central. Como é que foi o teu dia? Pela paz. Parece que não estou aqui. Fim da guerra. Também eu, não consigo pensar noutra coisa. Onde é que pus os óculos? Andamos a Leste. 

A direita e a solidariedade ‘soft’ dos ‘likes’ no Facebook

Laurinda Alves. Fotografia: Filipa Couto

Nos últimos dias, temos assistido à escalada da intolerância, do ódio e do separatismo bacoco entre opiniões. No meu caso, tenho apanhado por essa internet fora uma panóplia de saudosistas e desiludidos, hoje capacitados de uma estoica postura de “contra tudo e contra todos“, como se as vítimas ucranianas servissem de arremesso à limpeza de imagem de quem, há tempos, tão embeiçado andava (uns escondidos, outros bem à mostra) com o regime neo-fascista e autocrático de Vladimir Putin.

Aqueles que, outrora feirantes dos vistos gold para oligarcas russos, apoiantes fervorosos dessa direita reaccionária e saudosista dos tempos do PREC, são hoje indefectíveis defensores do Estado de Direito e contra os autoritarismos. Devo lembrar que estes são os mesmos que apoiaram a venda de empresas estratégicas do sector público ao Estado chinês… esse Estado plural, democrático e defensor dos Direitos Humanos. São exactamente esses, os que anteriormente aplaudiam quando se jogava monopólio com Estados que não respeitam os valores democráticos, só pela cor do pilim, que hoje se deixam ver, do alto da sua moral e heroicidade, com bandeirinhas ucranianas em fotografias no Facebook, em publicações carregadas de dogmas fabricados na hora e de argumentos de “se não concordas comigo, és amigo do Putin”. Sim, há gente que outrora apertava a mão a gente “do Putin” e que hoje se apercebe do que andou a fazer. Coitadinhos.

Serve este longo preâmbulo para tornar pública uma mensagem de Laurinda Alves, vereadora dos Direitos Humanos e Sociais na Câmara Municipal de Lisboa, eleita pela coligação NOVOS TEMPOS, que deixa transparecer essa hipocrisia direitola de se dizer muito solidário num dia e depois lavar as “manchas” da solidariedade no outro. Na mensagem que enviou para os colegas da CML, a vereadora convoca uma sessão de esclarecimento sobre o apoio aos refugiados ucranianos que chegam a Portugal. Na mensagem, afirma a independente eleita pela coligação, que a sessão serve “(…) para assumir publicamente que a CML NÃO tem capacidade para se responsabilizar pelo acompanhamento destas famílias (…)” e “(…) deixando claro que a CML não se responsabiliza, não paga, não dá sequência a mais nada após o acolhimento de emergência (…)”.

Traduzindo, quer dizer a senhora vereadora, em nome da CML e da coligação que a governa, que tudo bem, venham os refugiados, mas uma vez cá chegados, que fiquem entregues à sua sorte. Ou as associações que se ralem. Ou o c*ralho!

Laurinda Alves quer “gerir expectativas”. As de quem?!

Como sempre. A direita é aquela pessoa que escreve no mural #prayforukraine, muda a fotografia do perfil para uma bandeirinha ucraniana e nos diz “estejamos do lado de quem é agredido”. Depois, quando já meio mundo está, e bem, do lado do agredido e esse meio mundo lhe pede que ajude frontalmente as vítimas da guerra, para lá de palavras com ‘likes’ no Facebook e “votos de condenação” nas assembleias, diz não ter “capacidade para se responsabilizar”.

Parecem o Pôncio Pilatos.

Mensagem enviada por Laurinda Alves aos colegas da CML.

Toma o comprimido que isso passa

Esta coisa da guerra e da paz, Rússia e Ucrânia, Leste e Ocidente, Putin e Zelensky, Batatinha e Companhia, está a deixar homens de meia-idade, classe média-alta, de direita, completamente ‘tan tan’, cegos de ódio (e não sabem bem a quem, porque o ódio deles hoje é contra o Putin, amanhã é contra o Costa, depois de amanhã é o PCP e na Segunda será o Biden, sem critério próprio), a metralhar populismo do que fica bem e dá likes pelos facebooks.

Vejo homens de meia-idade, classe média-alta, de direita, demasiado molhados com a guerra. Podem contar-nos que sonhos têm, senhores de meia-idade, classe média-alta, de direita, que explique essa tusa toda que, antigamente, apresentavam tão murcha? O que vos entesa tanto, neste caso em particular? É que guerras já existiam e vocês andavam com disfunção eréctil.

A nova de hoje é a de que “quem usa a situação na Ucrânia para falar na Palestina faz dói-dói” e “vocês só falam da Palestina porque não condenam a Rússia e isso faz dói-dói”. Temo ter de explicar a quem, toldado pelo ódio, não vê o óbvio:

É exactamente por muitos de nós condenarmos taxativamente a invasão russa na Ucrânia, que vos vemos hipócritas ao lado da Ucrânia agora, quando nunca estiveram do lado da Palestina.

É preciso fazer um desenho ou o vosso spin vai continuar de pau feito pelos hologramas que criaram na vossa própria cabeça? Até lá, é tomar um comprimido. Isso passa.

Cordão Humano em Lisboa pela paz na Ucrânia, contra a invasão de Putin. Março, 2022.

Manifestação de solidariedade com o povo da Palestina e de condenação da violência do Estado de Israel. Maio, 2021.

Fotografias: MAYO.

Normalizar o ódio

“Facebook e Instagram vão permitir temporariamente incentivos à violência contra a Rússia em publicações sobre a Ucrânia.

Meta vai alterar temporariamente a política relativa aos discursos de ódio. Utilizadores de alguns países vão poder incentivar à violência contra a Rússia em publicações no contexto da invasão da Ucrânia.”

Começo a pensar, seriamente, em sair de todas as redes sociais. O pior é que, no mundo global de hoje, todos nós, mais ou menos, dependemos, directa ou indirectamente, das redes sociais. No meu caso, por causa da Fotografia, uso o Instagram para divulgar trabalho.

Mas isto é o cúmulo dos cúmulos. É a normalização do ódio como um todo (porque, convenhamos, já ele estava normalizado há muito nestas redes). É a banalização da atrocidade. É a apologia da indiferença.

Eu não estou contra a Rússia enquanto país. Eu não estou contra os russos enquanto povo, porque para mim também eles são joguetes e sofrem às mãos do tirano que os governa há décadas. Em meu nome, não. Banalizar os insultos a um povo, seja ele qual for, é não entender nada do que nos trouxe até aqui. É não perceber minimamente o conceito de empatia. Eu sou pela causa Palestiniana, mas não estou contra o povo de Israel.

Sei que a Meta, dona do Facebook e do Instagram, entre outras, é uma empresa privada e, como tal, gere-se da maneira que bem entende. Quem nela está inscrito, ou aceita, ou não aceita os termos a que se compromete quando se inscreve. No entanto, e apesar do facto que supracito, sabe a empresa, e concordaremos todos nós, que quando num mundo global como o de hoje, onde milhões de pessoas se encontram ligadas a estas redes sociais, esta última terá, em última instância, algumas responsabilidades sociais que não pode, em circunstância alguma, deixar de lado. Mas todos sabemos de onde vem o lucro destas empresas. Por isso, por muito que nos escandalize, cá continuamos muitos, senão a maioria. E porquê? Que droga é esta que muitos de nós não conseguimos largar e que cada cada vez nos divide mais? Que instituto do mal é este que nos instiga a, gratuitamente, odiarmos um povo que muitos de nós nem sequer conhece?

Depois do escândalo com a Cambridge Analytica e tudo o que daí veio a público, começa a tornar-se óbvio quais as reais intenções de quem quer este mundo “conectado” ao máximo. E não é para o nosso bem.

Estou na trincheira dos que querem a paz e não desarmam por um mundo sem guerra. Dos que nunca querem a guerra. Nunca estarei na trincheira dos que fazem da guerra lucrativa. Em meu nome, não.

A ferida da hipocrisia

Há uns dias, abordei aqui o tema. Coisas que me enojam. Afinal, não sou o único enojado com a hipocrisia que grassa hoje no mundo, graças à guerra na Ucrânia.

Em baixo, Richard Barrett, deputado da República da Irlanda, do partido People Before Profit/Solidarity, põe o dedo na ferida. E bem.

Do nojo

Quando há uns meses escalou, de novo, a guerra na Palestina, com a agressão israelita a ser, novamente, de uma violência inqualificável, aqueles que pediam o boicote à economia de Israel, devo lembrar-vos, foram apelidados de anti-semitas.

Há uns meses, pedir o boicote à economia de um país agressor, instalado em regime de Apartheid noutro país soberano, que lança Rockets todos os dias por sobre civis, que mata velhos, mulheres e crianças, indiscriminadamente, era, se bem vos lembro, “anti-semitismo”. Óbvio que não era, mas foi a desculpa que alguns de vocês arranjaram, sem se aperceberem que anti-semitas são vocês.

Era só para vos lembrar do vosso duplo critério e da vossa total falta de noção. Bom Domingo.

Com um brilhozinho noj’olhos

“Casa Branca recusa fechar, em definitivo, a porta ao gás e petróleo russo”. Diz-me a RTP.

Traduzindo: “A tua teta não presta! Deixa-me mamar só mais um bocadinho. Mas a tua teta é caca! Vá, chega lá aqui esse seio bom. Mas eu desfaço-te todo! Deixa só apanhar mais uma pinga desse mamilinho”.

É isto? Vós estais a dar-me baile e eu a ver…

Nice try, bro

Senhoras e senhores, a piada do ano está feita. Até 2023.

Vamos para intervalo, até já

Acompanhar a guerra pelos meios de comunicação social ‘mainstream’ é um ‘must’. O sensacionalismo, informações que não interessam, especulações e mentiras… e nem assim ultrapassam as audiências do Big Brother, o que em termos práticos deveria envergonhar qualquer OCS.

As minhas tiradas favoritas, até agora, foram:

SIC Notícias: “O avó do Putin era cozinheiro do Estaline”;

– Jornal Inevitável: “Putin é comunista”;

– Todos sem excepção: “Estou de pau feito pelo Zelensky”;

– Visão: “Putin teve esposa, amantes e tem filhos”;

– Más Noticias: “Pornhub bloqueia conteúdo na Rússia”;

– CNN: “A economia soviética…”;

– CNN, outra vez: “Ibrahimovic ajuda nas negociações”;

– Expresso: “Ucrânia vai vencer Eurovisão”.

A lista poderia continuar. Enquanto os russos invadem a Ucrânia, bombas caem em Kyiv e milhares de refugiados fogem para outros países, a comunicação social entretém-se em especulações, como se a guerra fosse passível de ser tratada como o mercado de transferências em Agosto. Notícias que não são notícias, comentadores a gastar latim quando não têm nada para dizer (Zé Milhazes? Sérgio Sousa Pinto? Clara Ferreira Alves? Alexandre Guerreiro? Sebastião quê?), homens de meia idade (liberais e conversadores, o que é giro, porque os une) de pau feito com o presidente ucraniano, fanáticos da pólvora que se babam em directo… para quê? Há gente a fugir. Há gente a sofrer. E a guerra não passa na televisão. A verdadeira guerra.

Fecho este meu resmungo com a frase que abriu, com pompa e circunstância, o noticiário da meia-noite, na SIC Notícias, há uns dias: “Última hora!: russos estão a 30km de Kyiv! Vamos para intervalo, até já”.

PCP 2008 (ou como isto não começou na semana passada)

Coxos

Fotografia: Dinheiro Vivo

Em 2013, se bem me lembro, já era reconhecido e unânime que Vladimir Putin era um déspota, um nacionalista, um autocrata que ameaçava o Estado de Direito e que não se revia em Democracias.

Pois era.

Em 2013: “Portugal vai receber 30 mil turistas russos”. Ai vai? E quem são estes “turistas russos”? Adolfo Mesquita Nunes, hoje em dia um heróico defensor do liberalismo clássico (está bem, está bem), na altura Secretário de Estado do Turismo, explica: «(…) o responsável disse que foram precisas reuniões com a homóloga russa, com o objectivo de obter “um acordo aéreo entre Portugal e Rússia que facilite os voos entre os dois países”». Mas esperem. O “responsável” não ficou por aqui e disse ainda que: «“Do ponto de vista institucional, tivemos a presença de vários investidores interessados nos vistos ‘gold’ para efeitos de turismo residencial (…)».

Em 2013, o presidente do conselho directivo da Turismo de Portugal era… João Cotrim Figueiredo, hoje presidente da Iniciativa Liberal.

Portanto, em suma, Adolfo Mesquita Nunes, hoje um “feroz” “opositor” de Putin e do seu regime, como se pode ver nas peças teatrais que encena na CNN, em 2013, em representação do governo português, foi até à Rússia onde, com o apoio da Turismo de Portugal, negociou vistos gold com oligarcas russos.

Cada vez me confundem mais, estes heróis, novos adeptos do politicamente correcto sem correcção que os salve. Se não fosse um dissidente do partido do mocassim, aconselhava-o a enfiar-se num submarino.

Hoje é vê-los indignados com estes déspotas, quando há menos de uma década lhes apertavam as mãos, de Putin a Maduro, de Xi a Castro, do PS para a Direita. Cambada de coxos.

Ide…

Major-General Raul Cunha, sobre o conflito na Ucrânia

A fé (ou as fezes) que nos guia

Em 1991 caía a União Soviética.

Formada em 1922, depois da revolução soviética de 1917, teve o mérito inicial de depor os cazaristas que usurpavam ao povo o que era do povo. Depois disso, mais imperialismo, fome, terror e morte. Durante os anos em que esteve edificada, e ao contrário do seu propósito inicial, a URSS mais não foi do que um Estado imperialista, comandado por um psicopata tirano que governou como governam todos os psicopatas tiranos: a bel-prazer e tirando, para si e para os seus, os maiores dividendos, mantendo o povo de barriga colada às costas. Foi assim com Estaline, foi assim com Hitler e Mussolini, foi assim com Franco e Salazar, é assim com Putin e Castros, é assim com Maduro e Xi, é assim com Órban e foi assim com Netanyahu, é assim com a maioria dos presidentes norte-americanos, que vão provando a decadência do “sonho americano”.

Depois do preâmbulo, voltemos a 1991, aquando da queda da URSS. Cai a URSS, ficam a Federação Russa e um punhado de países, agora independentes. Ora, depois de assinados os acordos que dissolviam a União Soviética e dada a independência aos países do antigo Bloco de Leste, várias questões se levantaram. Uma delas a das armas nucleares. Como é sabido, os vários países que compunham a URSS ficaram, depois de 1991, detentoras de ‘n’ armas nucleares. Mas não por muito tempo. Em 1994, Boris Ieltsin e Leonid Kuchma, presidentes da Rússia e da Ucrânia, respectivamente, firmavam o Memorando de Budapeste. Este Memorando aprovou o envio de cerca de mil e seiscentas armas nucleares remanescentes da URSS, por parte da Ucrânia, à Rússia. [Read more…]

Fífia

Como toda a gente sabe, Vladimir Putin só passou a ser uma pessoa em quem não confiar, um déspota, um neo-fascista e persona non grata há três dias, depois de invadir a Ucrânia. Antes, eram só mares de rosas, Putin deveria ser um anjo caído, um deus na Terra, o artífice que consertava todos os males. Só assim se explica o contorcionismo a que os senhores do capital se sujeitam por causa… do capital.

Quando a Federação Russa enche a FIFA e a UEFA de rublos cambiados em euros, quando a Gazprom enche o esfíncter dos marmanjos dos sorrisos amarelos ou quando os oligarcas capachos do líder russo mexem cordelinhos junto das grandes instâncias mundiais (FIFA e UEFA, como dizia o que abusava das secretárias, estão todas lá dentro… o resto já sabem), prevendo-se a situação win-win para ambas as partes, não os vejo preocupados com o perigo que vem de Leste. Nós, pessoas “normais”, cidadãos comuns, há muito sabemos do que é feito Putin, há muito estamos avisados para o seu calculismo, há muito sabemos que quer construir, de novo, a Rússia imperial czarista, há muito sabemos da sua simpatia pelo nacionalismo, da sua antipatia pelos valores democráticos, do seu ódio ao Estado de Direito. Há muito sabemos que famílias políticas europeias são financiadas por Putin. Nós, pessoas comuns. E a FIFA? Não o sabia? Duvido. Duvido muito. Aliás, não duvido: tenho a certeza – a FIFA sempre o soube.

Agora, qual zeladora dos interesses do mundo pacifista, vem a FIFA informar, cinicamente, que a “selecção da Rússia vai continuar a jogar, mas com algumas restrições”. A sério? “Algumas restrições”? Coitados. Isto é o equivalente a um homem que matou a esposa à pancada, mas que vai poder continuar a bater com algumas restrições. Entre as restrições constam: não pode usar moca de pregos, armas de fogo estão estritamente proibidas, facões e outras lâminas só em legítima defesa. E por legítima defesa, entenda-se, quer dizer a FIFA: “na eventualidade da esposa se recusar a lavar a loiça”.

E estamos nisto. Nos jogos de sombras típicos destes eventos históricos, há sempre a megalomania que os donos disto tudo têm, de fingir que estão do lado certo da História. Não estão. E não enganam ninguém.

Fotografia: AFP/Getty

Apanhar as canas dos foguetes da reacção

A minha solidariedade para com a Esquerda Revolucionária e para com o PCP, agredidos por neo-nazis e reaccionários, ontem na manifestação de apoio ao povo ucraniano, em Lisboa. Compreenda-se, ou não, a posição do PCP, tudo bem. Concorde-se, ou não, com a posição do PCP, tudo bem também. Nada justifica a agressão.

Estive presente, em trabalho, e notei a presença de membros da ER, que distribuíam panfletos anti-guerrra, assim como uma banca do PCP, com a presença, julgo, de militantes da JCP. Vi, também, neo-nazis e reaccionários, que, confesso, não percebi o que faziam ali, dado que, na zona onde me posicionei, o que mais se via eram cartazes contra a extrema-direita, contra a NATO e a favor da paz, assim como, no local em questão, se encontravam maioritariamente camaradas de esquerda. Talvez procurassem, de facto, conflito – e os militantes comunistas foram o alvo fácil pela posição que têm assumido.

O sentimento anti-comunista que tem sido criado, baseado em desinformação e apelos de famosos neo-nazis cá do burgo, não passará. A normalização que este país tem vindo a fazer em relação a neo-fascistas e neo-nazis é perigosa… apanhem, então, as canas, antes que algo pior aconteça. Mas lembrem-se que o único regime ditatorial que Portugal viveu em República era fascista… nunca foi comunista.

Força, PCP.
Força, Esquerda Revolucionária.