Marcelo, o sobrevivente

Marcelo Rebelo de Sousa não comete erros, salvo raríssimas excepções. Porque Marcelo é calculista, planeia e antecipa, e joga o jogo como poucos, na política e na imprensa.

Marcelo é de outro campeonato. Tanto que destruiu a concorrência na corrida à Belém, num momento de crise existencial à direita, com o apoio do primeiro-ministro e presidente do partido com o qual o seu PSD disputa o controle do Estado.

Esta semana, porém, assistimos a uma dessas raríssimas excepções. E não, não estou a tentar desculpar Marcelo. As declarações do presidente são hediondas e inaceitáveis. E não acho que Marcelo o tenha feito inadvertidamente. Acho que foi calculado, com o objectivo de minimizar o horror que aqueles números representam. Foi um frete do presidente da República de um Estado laico à hierarquia da Igreja Católica. Só que correu mal, obrigando Marcelo a recorrer ao seu amplo repertório de desculpas esfarrapadas.

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A conversão de Gouveia e Melo

Elogiei várias vezes o desempenho do vice-almirante à frente da task force. Mantenho tudo o que disse e escrevi. E é talvez por isso que me custou vê-lo ser atropelado pelo Ricardo Araújo Pereira, primeiro no Governo Sombra, depois no Isto é Gozar com quem Trabalha. E bem atropelado, diga-se. Porque, no início de Setembro, em entrevista à Lusa, Gouveia e Melo afirmou o seguinte:

– Não sinto necessidade de dar [o meu contributo] enquanto político, primeiro porque não estou preparado para isso, acho que daria um péssimo político e também acho que devemos separar o que é militar do que é político, porque são campos de atuação completamente diferentes. , afirmou o vice-almirante Gouveia e Melo à Lusa, numa entrevista de balanço sobre o processo de vacinação.

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Carta Aberta ao jornalista Pedro Tadeu (DN)

O jornalista Pedro Tadeu escreveu ontem, no DN, um artigo sobre jornalismo. Sobre o que se passa no jornalismo actualmente. Citando:

“Desde que esse meu amigo me contou o que se passou com ele, sempre que vejo uma notícia sobre a covid-19 fico desconfiado: “Será mesmo assim ou isto foi uma encomenda?” E quando constato a grande quantidade de peças que estão dentro da área de interesses destes “recrutadores de jornalistas”, quando vejo que essas peças se repetem no foco e na mensagem, exageradamente, nos últimos meses, fico espantado com a minha ingenuidade estúpida: “Como é possível eu ter achado que isto era, apenas, um exercício editorial insensato e incompetente, mas genuíno?” A seguir vem o desgosto: “Como é que a minha profissão chegou a este ponto!?”

Aqui fica a minha carta aberta ao Pedro Tadeu:

Caro jornalista Pedro Tadeu, eu tenho um amigo, não sei se o mesmo, que já nos idos de noventa me contava existirem jornalistas no activo a fazer assessoria de comunicação para privados. Esse meu amigo deparou com altos quadros, dirigentes, de canais de televisão cujas mulheres (ou irmãs ou mesmo primas, a minha memoria já não me ajuda muito) trabalhavam ou eram donas de empresas de assessoria de comunicação e ele, pasme-se, avisava que se o “pedido” viesse por essa mão amiga, a coisa teria direito a telejornal e tudo, veja bem. Isto já em pleno novo milénio e, suponho, não deve ter mudado assim tanto. E advogados comentadores nos media que, simultaneamente, tratavam dos problemas pessoais dos seus entrevistadores? E o mesmo se diga no tocante a médicos? Já ele me falava na confusão entre o que era pessoal e o que era profissional. Nisso e nos políticos que conseguiam ser, simultaneamente, informadores do jornalista A ou B e articulistas no mesmo jornal ou comentadeiras na mesma televisão. Uma festa. Ou, usando as palavras desse meu amigo (será p mesmo?), um festim.

Caro Pedro Tadeu, pelo que percebi do seu amigo e juntando com o meu, desconfio que não se fique apenas pelo Covid, ao que parece já não se pode confiar em praticamente nada do que se vê nos noticiários tal a confusão entre o que são noticias e o que são apenas encomendas. É claro que aqueles 15 milhões não ajudam nada. Isso e a propriedade actual dos meios de comunicação. De qualquer forma, obrigado pelo seu artigo e que nunca nos faltem os amigos.

Com os melhores cumprimentos.

Bola Bolsanaro

Coletivo de arte usa “cabeça de Bolsonaro” como bola de futebol. A escultura ultrarrealista da cabeça do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é usada como bola de futebol. A ação foi divulgada no Instagram oficial do grupo e faz parte do projeto ‘Freedom Kick’ (“chute de liberdade”, em português), que também tem peças similares à imagem de Donald Trump e Vladimir Putin.
No texto da publicação, o coletivo afirma: “Embora aqueles que têm o poder gostem de tratar política como uma brincadeira, para muitos, há muita coisa em jogo. Futebol sempre foi um esforço coletivo, algo que envolve comunidade e organização, enquanto a ditadura é mais individual. É como dizem, só há uma bola. Essa é uma metáfora perfeita para os nossos chefes de Estado; e o nosso trabalho é chutá-los até encontrarmos uma maneira de transformar nossos esforços individuais numa vitória coletiva”.

Arte é resistência.

 

Lei vs Ética

Nestes tempos de pandemia, há muita coisa que nos passa completamente ao lado. A comunicação social que deveria ser a nossa principal fonte de informação, não ajuda muito. Primeiro, porque grande parte está arregimentada pelos interesses dominantes; segundo, porque não está a funcionar em pleno com muitos jornalistas em layoff; terceiro, porque estão quase 100% focados no tema “pandemia”.

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Poluição, alterações climáticas e desigualdade social

Será néscio negar a excessiva poluição que o Ser Humano provoca, em especial a queima de combustíveis fósseis para o fornecimento de energia à indústria e aos transportes, com especial gravidade nos aéreos e marítimos, ou a produção de plásticos e baterias para tudo quanto é aparelho.
O problema é grave e urge encontrar soluções que modifiquem os hábitos de todos os consumidores, como já vai acontecendo, e não castigar os mais desfavorecidos através da penalização com impostos que, para além de não alterarem hábitos, criam uma desigualdade inaceitável entre ricos e remediados, onde os primeiros poderão continuar a poluir quanto quiserem desde que paguem!

Left – Mellimage/Shutterstock.com, center – Montree Hanlue/Shutterstock.com.

De uma forma geral, podemos dizer que os governos, nomeadamente o de Portugal, [Read more…]

Resistir

Por Daniel Resende

As eleições em 2018 já deixaram claro o quanto fomos claramente manipulados e divididos em bolhas.

Ficamos surdos com o barulho do eco dentro da bolha e nos perdemos em causas indentitárias (justíssimas, aliás), mas que nos afastaram de grande parte da sociedade.

O discurso reacionário, violento, opressor e cheio de ódio de Jair Bolsonaro encontrou abrigo em uma sociedade neo-pentecostal, egoísta, rancorosa, abalada pela crise econômica e assustada com a violência.

Não falo apenas dos ricos ou da classe média tão bem definida por Marilena Chauí. “A classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante”, disse em 2013.

Essa turma se acha elite enquanto observa um horizonte de prédios medíocres sentada na varanda (área gourmet para ser mais chic) e ajusta a bússola da essência na busca por encontrar no Norte um SUV branco.

Estão sempre a serviço dos verdadeiros ricos. São os sabujos da engrenagem social. Bajulam o andar de cima, pois temem que o elevador chegue com outras pessoas no andar que estão.

Se destacam nessa fauna os burocratas do judiciário e ministério público com gravatas e camisas pretas (que coisa brega!), os chefinhos de merda das redações, os militares que fedem naftalina, os médicos sem humanidade entre outros que exercem grande influência no debate público e arrastam a reboque a opinião pública.

Contra isso só há um discurso capaz de reduzir as imensas desigualdades de um país vítima da colonização e escravidão:

Luta de classes.

É o que une a ativista transexual e a fiel da Universal no mesmo campo.

Por isso, a fala do Mano Brown na terça-feira, em evento do PT no RJ, foi sensacional: “Deixou de entender o povão já era. Se somos o Partido dos Trabalhadores tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta pra base e vai procurar entender. As minhas ideias são essas. Fechou”.

Vamos virar e se não virar vamos resistir.

Mas vamos resistir pra caralho!

Lula Livre

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A foto de Lula fichado no DOPS (Foto: Instituto Lula)

Ditadura milita, 19 de abril de 1980, Luiz Inácio Lula da Silva o então líder sindical do ABC Paulista  foi preso pelo DOPS, a polícia política do regime, sob a acusação de “ferir a Lei de Segurança Nacional”.

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Em Entre-os-Rios a culpa morreu mesmo solteira

Fotografia RTP

Aquando da tragédia de Entre-os-Rios, Jorge Coelho, ministro do Equipamento Social demitiu-se nessa mesma madrugada, justificando a decisão: “a culpa não pode morrer solteira”. Pois bem, a culpa morreu mesmo solteira. Apesar de a comissão parlamentar de inquérito concluir que as atividades de extração de inertes foram a principal causa da queda da ponte, nem os areeiros, nem os seis técnicos que foram acusados de negligência e de violação de regras técnicas foram condenados. Foram todos absolvidos.

De que valeu aquela demissão espetáculo de “a culpa não pode morrer solteira”? Não valeu absolutamente nada. A carreira política de Jorge Coelho não saiu beliscada e Jorge Coelho não fez o trabalho que lhe competia fazer depois da tragédia, que era bater-se para que as famílias das vítimas fossem devidamente recompensadas e a culpa do acidente fosse exatamente determinada. Pensei assim na altura e penso exatamente a mesma coisa no caso da tragédia dos fogos que acabámos de viver. Considero que os ministros deveriam ficar em funções e levar o seu trabalho até conhecermos as conclusão dos relatórios das tragédias. Se há culpas, então demitem-se e são julgados se for caso disso. Em particular, no caso dos fogos e no caso de Entre-os-Rios, há imensas culpas que residem no passado. O que é irónico é que alguns desses com poucas e muitas culpas no cartório andam por aí desgarradamente a pedir demissões (sim, sim, estou também a pensar em Cristas).

Este frenesim de exigir demissões a todo o transe, remete-nos para os tempos em que se sacrificavam cordeiros, virgens ou patifes para expiar a culpa e acalmar os deuses. No século XXI temos obrigação de fazer melhor.

França agrilhoada pelos políticos do medo

Os franceses elegem hoje o sucessor de Hollande, tendo, por opção de 45,31% deles na 1ª volta, a escolha entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron. O sistema presidencialista francês, optou, constitucionalmente, por uma eleição dualista numa 2ª volta entre os dois candidatos mais votados, com o objectivo de proteger o seu país do vazio de poder e de presidentes eleitos sem uma maioria simples que legitime o seu poder.
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Evitando cair em crítica fácil por reducionismo, aponta-se, desde já, a principal virtude deste sistema – assegurar e reforçar a legitimidade do futuro Presidente, num sistema que o privilegia relativamente aos Parlamentos, sejam eles simples ou composto de câmara alta e baixa, como é o caso de França. No entanto, não podemos deixar de apontar alguns perigos para a Democracia que tal sistema comporta, nomeadamente dois, a saber:
1 – uma minoria pode obrigar uma maioria a votar em quem não se identifica [Read more…]

Crónicas do Rochedo XVI – O algodão não engana…

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Ontem escrevi um post sobre o facto de Rui Moreira se ter divorciado do PS. Um dos comentários com que fui brindado no facebook foi:

O problema do teu post, Fernando, é que partes dos princípio que o Rui Moreira funciona segundo os cânones da política partidária. Rui Moreira sempre deixou claro que contava com Pizarro por uma questão de lealdade política, por ter sido um bom parceiro durante o mandato, e que aceitava o apoio do PS nesse pressuposto. Traçou linhas vermelhas na sua relação com os partidos, aceitando o apoio de quem subcrevesse as regras. Violadas as regras, de forma reiterada, assumiu as consequências. Não há nem manha nem calculismo” – Rodrigo Adão da Fonseca.

Ora então, passadas 24 horas, o que temos?

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Mentir. 

Infelizmente, hoje em dia, politica e mentira são pleonasmos e,  ao afirmar isto, quase que estou a citar o deputado João Almeida, do CDS.

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Neste assunto da CGD/Centeno, terá havido algum tipo de mentira, isso já se percebeu há muito, seja pela omissão, seja pelo recurso a factos alternativos.

É motivo para uma comissão de inquérito, abertura de telejornais, conferências de imprensa e comunicados do Primeiro-Ministro e do Presidente da República?  Obviamente que não. E se for preciso enquadrar, vejam-se os anteriores posts desta série, sobre a mentira na política, para se comparar entre o que pede PSD e CDS agora e o que fizeram quando foram governo – essas sim, enormes mentiras e com consequências para o país. Já esta lengalenga com o Centeno  só o interesse em destruir a mantém na agenda.

Enoja mais a atitude hipócrita de quem anda com moralismos a pedir a demissão do ministro, depois do exemplo que deram, do que a mentira branca de Centeno. E o povo vai mostrando o que pensa disto. “O outro queria era o tacho sem mostrar o vencimento”, ouvi há dias comentarem. Ninguém sairá a ganhar desta triste novela. E, paradoxalmente, parece ser esse  o ganho de Passos, que acha que ganha quando o país perde.

Nota: sequência de posts agendada no dia 15. A ver vamos se a realidade não os atropela. 

Uma Europa inspirada em Publius Clodius

Corria o ano de 62 a.c., mais precisamente a 1 de Maio, quando a jovem e bela Pompeia Sula organizou uma orgia báquica, exclusivamente feminina, em honra de Bona Dea, deusa da fertilidade e virgindade. Ao que consta, ainda os François Fillon desta Europa não teriam nascido, muito embora o jovem e rico Publius Clodius, tenha traído a confiança da seriíssima mulher de César, ao introduzir-se clandestinamente na festa disfarçado de tocadora de lira. Descoberto pela mãe de César, é expulso a tempo de deixar Pompeia Sula sem mácula.
pompeia-sula-1Volvidos mais de 2 milénios, François Fillon está a ser investigado pela justiça francesa para apurar se a sua mulher,  contratada pelo próprio como sua assistente no Parlamento francês, terá recebido remunerações indevidas. De imediato, tentando preservar a sua honra, o visado anuncia que, caso venha a ser constituído arguido até às presidenciais, renunciará ao seu estatuto de candidato. [Read more…]

Se o ridículo render votos, Cristas será sempre a campeã eleitoral

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Descansem camaradas! Não, não vos venho falar da imagem colocada em epígrafe. Não vos venho falar da tentativa frustrada que a autora da imagem fez para tentar transparecer sensualidade de um feio e infantil vestido de kiwis. Não vos venho falar da imagem que a meu ver deverá ter sido o motivo que levou a Juventude Popular a promover a educação para a abstinência sexual nas escolas como aqui ironizou (e bem) o meu camarada João Mendes nem vos venho falar da falta de beleza da senhora, caso para considerar como um terrível act of god para a humanidade. Venho portanto falar-vos de Assunção Cristas, uma líder partidária bifurcada que nos dias que correm se tem assemelhado a um daqueles tentáculos das máquinas de brindes, ora focada em tirar com um crédito coelhos da cartola da gestão de Costa na CML, ora focada em tirar com a outra nabos da púcara do mesmo sujeito na AR nas questões da descida da TSU e da dívida pública.

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Crónica do Rochedo XI – A morte de Rita Barberá

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Há uns dias vi uma reportagem do canal televisivo espanhol Antena 3 sobre Rita Barberá. Nesse momento decidi que tinha de escrever sobre a reportagem em causa. A preguiça foi adiando a empreitada. Até que ontem, Rita Barberá foi encontrada morta num quarto de hotel em Madrid.  Sofreu um enfarte, segundo o que se pode ler nos jornais espanhóis.

Vamos por partes. Quem foi Rita Barberá? Foi a presidente da Câmara de Valência (Alcaldesa como se diz por aqui) durante 24 anos, pelo Partido Popular (PP) e grande obreira das vitórias do seu partido na “Comunidad Valenciana”. Adaptando à nossa realidade, foi um dinossauro político e daqueles bem grandes – a ela muito deve o PP de Aznar e ainda mais o de Rajoy, de quem era amiga pessoal. Enquanto autarca revolucionou Valência (para o bem ou para o mal dependendo das opiniões e dos alinhamentos partidários de cada um). Uma coisa é certa, existe um antes e um depois de Barberá em Valência. E só isso já é relevante. Até que…

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O eleitor não é inocente

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(publicada no diário As Beiras a 10/11/2016)

A propósito das eleições americanas, regressou ao debate uma questão que é um clássico da ciência política. Devemos criticar ou não os eleitores pelos resultados de candidatos com potencial destrutivo para a sociedade, como Marine Le Pen, Donald Trump ou o britânico Nigel Farage? Há quem julgue que não se deve culpar o eleitor. A culpa é remetida exclusivamente para os restantes candidatos e respetivos programas, desculpabiliza-se o eleitor argumentando, por exemplo, que nenhum candidato é bom, logo é aceitável votar num candidato desbocado.
A própria definição de democracia requer que ninguém deve estar à margem da crítica ou do escrutínio, inclusivamente o eleitor. Mas mais do que catalogar negativa e cegamente todos os eleitores deste perfil de candidatos, interessa sim interpelá-los em questões concretas e fundamentais. No caso dos candidatos referidos é especialmente difícil debater diretamente assuntos basilares da sociedade, como a igualdade de género, o respeito pelas minorias, a orientação sexual ou a laicidade. Mas quem não pode fugir a estes debates são as respeitáveis figuras públicas que apoiam personagens deste calibre. Entre os apoiantes de Trump estão veneráveis mecenas, banqueiros e personalidades como Clint Eastwood, Slavoj Žižek ou Rudolph Giuliani. É a estes que deverão ser colocadas as questões que dolorosas que vão do racismo à misoginia de Trump.

Geringonça

Temos um novo player para seguir com atenção:

“A Geringonça é um exercício colectivo de opinião à esquerda e informação às direitas, orientado por uma agenda que todos entendemos ser necessário discutir publicamente, independentemente da esquerda que aqui nos trouxe”

Pluralismo

Bruno Santos

Mentir, truncar, manipular, omitir ou silenciar, não são exercícios intelectuais ou éticos que possam configurar o conceito de pluralismo.

O pluralismo é a qualidade do que é plural, múltiplo, do que admite a existência do que é diferente, diverso, discordante.

O pluralismo é um dos mais exigentes desafios da Democracia, mas não cabe na sua definição a mentira voluntária, a manipulação, a omissão ou o silenciamento. Não cabe o crime. Não é pluralismo admitir que se possa, por exemplo, assassinar, roubar, falsear os factos. Duas testemunhas podem ter sobre um acidente de trânsito visões plurais, que este travou ou não travou a tempo, que aquele buzinou antes de bater, que ambos tinham prioridade à luz do código da estrada. Isso é pluralismo. Mas nenhuma pode dizer que eram três carros em vez de dois (quando, de facto, eram dois), ou que uma nave extraterrestre desceu sobre o cruzamento e desviou, com um feixe de positrões, um dos veículos, fazendo-o chocar com um holograma e desviando a sua trajectória. Quer dizer, poder, pode, no caso de o acidente se ter dado no Entroncamento.

Mas o Pluralismo depende, a priori, de uma Ética.

Abstenção – tempo para resolver

A normalidade eleitoral atira para o fim de 2017 o próximo processo e por isso, parece-me que há algum tempo para proceder a uma actualização dos cadernos eleitorais.

De acordo com os dados disponíveis, estão inscritos nos cadernos eleitorais 9700645 pessoas.

Começo por sublinhar a diferença existente entre esses dados e os que a PORDATA apresenta, exactamente para o mesmo universo: 9746069 (45424 eleitores de diferença, mais do que os votos do Henrique Neto).

Podemos (e devemos) ir buscar todos os dados disponíveis para analisar esta questão, mas há um ou outro que até o Google nos revela: há em Portugal 1506048 jovens com menos de 15 anos (dados de 2014).

Ora, se aos 10 401 000 habitantes se retirarem estes jovens, sem capacidade eleitoral, temos  8894952 habitantes com mais de 15 anos. Sabemos que, destes, alguns são jovens e outros, estrangeiros, não têm (ainda) possibilidade de participarem nas eleições, mas são, de qualquer modo, muito menos que os eleitores.

Em síntese, há uma diferença de 8,7%  entre os eleitores oficiais e o número de pessoas com mais de 15 anos, por isso, há pelo menos esse valor a retirar à lista de eleitores. A abstenção é uma questão de responsabilidade, mas é também uma opção política. É urgente a sua resolução enquanto o tempo das eleições não volta.

Educação: o que há para mexer

É um lugar comum em Portugal – na Educação mexe-se muito e essa instabilidade é um dos problemas mais decisivos para as dificuldades que, em particular a Escola Pública, vai sentindo. Costumo dizer que a Escola funciona apesar do Ministério da Educação.

E, em boa verdade, nunca a Escola mudou tanto como com Nuno Crato que fez letra morta da Lei de Bases do Sistema Educativo (uma espécie de Constituição para a Educação), o que, na ausência de um tribunal constitucional para o sector, permitiu todo o tipo de barbaridades. E, quando atribuo a Nuno Crato esta capacidade falo do centro da Escola, da sala de aula, dos conteúdos, daquilo que é suposto os alunos aprenderem.

Com a mudança de governo chegou um Ministro com um perfil surpreendente – um jovem cientista que passou uma parte importante da sua vida fora do país e de quem, em boa verdade, nunca se ouviu ou leu, uma linha sobre Educação. Nos primeiros dias manteve um silêncio que se mostrou prudente e, há uns dias, quando falou, na Comissão Parlamentar, revelou uma surpreendente capacidade política que é, em boa verdade, aquilo que se exige a um Ministro – ser político.

Mas, o primeiro momento verdadeiramente político aconteceu com a comunicação às escolas da proposta de alteração na avaliação do ensino básico – repito o que antes escrevi: é um texto que subscrevo integralmente e, nem sequer sou muito sensível aos argumentos de quem diz que a mudança, a acontecer, deveria coincidir com um ano lectivo. Levar essa regra ao extremo impediria o Ministério da Educação de trabalhar de setembro a julho e, em boa verdade, errado seria obrigar alunos a fazer uma prova que está completamente desajustada.

Tiago Rodrigues tem em mãos uma tarefa ingrata. Até Nuno Crato houve um acordo não escrito entre o PS e o PSD para gerir as grandes questões da Educação, nomeadamente ao nível curricular – foi havendo uma linha condutora que Nuno Crato, de forma radical, quebrou. O novo Ministro tem, por isso, muito onde mexer: [Read more…]

Fazer política é outra coisa

Paulo Portas está há 16 anos à frente do CDS. Nesse período esteve várias vezes no Governo e em cargos de responsabilidade. Para aceder a tudo isto prometeu vezes sem conta a Reforma do Estado. E afirmou-a como prioritária. Pois, mas ao fim de 16 anos, o máximo que conseguiu foi um texto em letras gigantes e um PowerPoint com meia-dúzia de slides.

Paulo Portas é exímio na arte da lenga-lenga e na capacidade de fazer headlines, mas isso não me impressiona nada. O país está como está, e perdeu oportunidades atrás de oportunidades, muito por culpa de maus políticos como Paulo Portas que nunca souberam colocar o país à frente da sua circunstância pessoal.

Muitos elogiam-lhe a capacidade estratégica e de análise política. E fervilham em artigos, onde defendem que o anúncio da sua saída da presidência do CDS só pode querer dizer uma coisa: o “estratega” Portas acredita que o Governo de António Costa está para durar. Esquecem-se de dizer que a simples existência do Governo de António Costa, a capacidade que este revelou para juntar à sua volta a esquerda do parlamento, é uma violentíssima derrota eleitoral e política de Paulo Portas. De todos, talvez ele seja o que mais perdeu, pelo que, esta sua atitude (ainda se verá se irrevogável ou não) talvez seja somente o reconhecimento de que está num beco sem saída. O que para um mestre de estratégia e análise não é grande elogio.

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Overdose

“Política (…) denomina-se a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados” (Wikipedia); Ou: “Política é uma actividade orientada ideologicamente para a tomada de decisões de um grupo para alcançar determinados objectivos. Também pode ser definida como sendo o exercício do poder para a resolução de um conflito de interesses. A utilização do termo passou a ser popular no século V a.C., quando Aristóteles desenvolveu a sua obra intitulada precisamente “Política””. (http://conceito.de/)

Tendo notado que estou a ficar crescentemente enjoada de tanto argumento usado – tanto por uns, como por outros – conforme convém no momento, de tanta demagogia, de tanta roupa suja lavada incessantemente, meti-me a pesquisar sobre o termo “Política”, para saber realmente de que é, ou de que deve ser composta. Escolhi as definições supracitadas que me pareceram bem claras, mas se calhar teria de me dedicar a isto mais aprofundadamente – confesso desde já a minha ignorância. Certo é que uma parte dela é o exercício do poder; não menos certo é que, com isso, visa a tomada de decisões para a organização, direcção e administração de um Estado. Nada é dito sobre abocanhar o poder e não o largar.

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Determinação para o mal e para o bem e um país dividido

Angela Merkel é um fenómeno. Surpreendeu-nos com o abandono da energia nuclear na sequência de Fukushima. Indignou-nos – e indigna-nos!!! – pela sua posição quanto à dívida pública. E agora é essa mesma figura que se revela uma humanista intransigente, tudo arriscando e tudo fazendo em nome e em prol da defesa da universalidade da dignidade humana. Na sua política para os refugiados, Merkel não se cansa de repetir que estamos perante um desafio histórico, uma tarefa imensa, mas obrigatória. Tanto a nível europeu como a nível nacional, vem travando uma luta incansável e firme. Não é possível solucionar de imediato problemas que foram sendo criados ao longo de décadas e cujas causas são múltiplas e profundas (até Blair acabou de “apresentar as suas desculpas” admitindo que “os erros” na invasão do Iraque podem ter contribuído para o surgimento do grupo terrorista Estado Islâmico). De momento, resta gerir o imenso desafio de prestar assistência a milhões de refugiados.

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Qual é o sentido da política?

perguntou Hannah Arendt em A promessa da política (Relógio d’Água Editores, 2007). «É a liberdade.». Mas a liberdade com «aqueles que são meus iguais» – salvaguardadas todas as diferenças, que subjazem lá no fundo da verdade do que somos, diz-me um gnomo pragmático que, à semelhança e triste exemplo de Francisco Assis, tem o péssimo hábito de se meter onde não é chamado.

No fundo da verdade do que somos (isto é, predadores, até mesmo de nós próprios mediante os habituais jogos de poder, e cujo eufemismo mais popular será na actual semântica de guerra a palavra competitividade), ouço justamente Francisco Assis a declarar que “o diálogo com a direita não está a ser produtivo.”

Não está a ser produtivo para ele e para o sector do PS que representa, pelo que presumo que Assis tudo fará para que venha a sê-lo, obstinado que parece em fazer da política uma coisa sem qualquer sentido.

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José Vilhena

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando

(Canto I de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões)

Tudo tem um fim e a vida do Mestre José Vilhena não foi excepção.

Já a sua mestria não terá, imortalizada que está em cada traço, em cada palavra com que satirizou a política, a sociedade, os costumes.

No dia da morte do Mestre, partilho convosco uma foto da capa do primeiro número da histórica publicação “Gaiola Aberta” (uma relíquia que guardo com especial carinho).

Obrigado, Mestre José Vilhena.

Gaiola Aberta

 

 

Paulo Portas: Não gosta

mas também não põe na beira do prato.

Passus Eroticus

“O que aqui está não abre nenhum buraco em lado nenhum” (Passos Coelho, discurso de apresentação do programa do PàF)

Não te preocupes, está tudo bem!

Não penso

A corrupção não existe. A corrupção, o tráfico de influências ou qualquer forma de clientelismo. Pelo menos na política. Existem uns quantos chanfrados, que se escudam nestes argumentos patéticos como forma de desculpar a sua inércia enquanto pessoa, enquanto empreendedor, porque na verdade não passam de invejosos egocêntricos que mais não sabem fazer do que se queixar e criticar.

São tudo teorias da conspiração. Um político quer, por princípio, ser reeleito. Existem leis que impedem delitos. Existem grandes escritórios de advocacia que ajudam na criação dessas mesmas leis para que se tornem infalíveis. E também esses escritórios querem continuar a trabalhar e o Estado, os organismos públicos, são clientes que pagam e que por norma são muito sérios. Até porque alguns dos seus funcionários são também funcionários do Estado logo seria uma loucura achar que estas pessoas, idóneas, seriam potenciais criminosos.

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Novo Jornalismo

Onde Política e Gastronomia se cruzam

cavacoCom um Cavaco na Presidência e um Coelho a primeiro-ministro muitos OCS se aperceberamWild rabbit  siting on sand track das grandes poupanças a fazer na Editoria de Política.

Na conjuntura que atravessamos, em que a “fusão” está presente em todas as áreas do saber e da cultura, nada mais lógico que “encolher” a Política e “expandir” a Gastronomia, mantendo os ingredientes, perdão, os intervenientes na ribalta. Assim é mais infotainment!

Afinal, quantos leitores/ouvintes/espectadores/utilizadores é que se irão aperceber da diferença?

Ver também, sobre o mesmo tema, aqui

É muito difícil ser-se político

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Digo eu, apesar da minha experiência no ofício ser mínima. Toda a honestidade do mundo não basta: ainda assim está-se sempre sob suspeita. Os enxovalhos são constantes, digamos o que dissermos, e há momentos em que apetece desistir de todo e qualquer envolvimento cívico.

Quantos portugueses, entre os que não participam na política, suportariam ler as toneladas de “hate mail” e de comentários anónimos injuriosos e difamantes que invariavelmente se lêem na internet sempre que os nossos depoimentos, quaisquer que eles sejam, são publicados?

Se defendes ideais de Esquerda, és um comuna. Se de Direita, és um facho. Se moderados, és do centrão. Se fores filiado num partido, és um “boy”. Se não fores, és um arrivista. Se inicias a vida política num período tranquilo, és um carreirista. Se a inicias num período conturbado, és um oportunista. Se te diriges ao eleitorado, és um populista. Se te diriges às elites, és um autista. Se defendes o investimento público, és um despesista. Se não defendes o investimento público, és um retrógrado. Se tens um passado impoluto, és um moralista. Se tens um passado atribulado, és um corrupto.

Não obstante, os políticos só existem em regimes democráticos; a sua alternativa são os déspotas. Por isso admiro quem se entrega à política para propor um rumo aos seus concidadãos, e se dispõe a defender sinceramente aquilo em que acredita apesar do opróbrio sobre ele lançado.