De bem com Deus e com o Saramago

 

 

     Naquele dia, Jesus  invadiu os aposentos do Pai, gritando, com a pressa de trazer a Má Nova:

     – Ó pai, ó pai, trago más notícias!

     – Irra! Já ando há mais de dois mil anos a dizer-te a mesma coisa! Quando chamares por Mim, usas maiúsculas. Fazes favor, sais, e voltas a entrar como deve ser. Só não te fulmino, porque sei que ressuscitas ao terceiro dia.

     Jesus encolheu os ombros e saiu. Com o mesmo entusiasmo, reentrou, clamando:

     – Ó Pai, ó Pai, trago más notícias!

     – Vês como és capaz? Diz lá, Meu filho.

     – O Saramago anda outra vez a criticar a Igreja e a Bíblia.

     – Saramago? Quem é esse?

     – Aquele escritor que até escreveu um livro sobre mim.

     – Com essa descrição, havemos de ir longe.

     – É aquele português que, por causa de um senhor que disse mal desse livro, resolveu dizer que se exilava em Lanzarote.

     – Ui, já Me lembro! Na altura, até pensei que se todos os portugueses com razões de queixa do governo fossem para Lanzarote, aquilo já tinha ido ao fundo. Mas, então, o homem disse mal da Igreja e da Bíblia? Mesmo que dissesse mal de Mim, qual era o problema? Até parece que não sou omnipotente. Mas, afinal, quais são as más notícias?

     – É que o pessoal da Igreja e afins ficou logo todo encrespado.

     – Pronto, já estou mesmo a ver! O rapaz Saramago comete o erro básico de falar de literatura como se fosse a realidade e o pessoal da sotaina cai-lhe em cima porque pensam que não se pode dizer mal do livro preferido deles.

     – É um bocado isso, é.

     – É o costume: têm a mania que falam em Meu nome. Se estivessem mais preocupados em dar a outra face em vez de se comportarem como membros de uma claque de futebol…! Mas tu, deixa-te estar, com aquela cena macaca de andares a bater nos vendilhões também lhes deste um rico exemplo.

     – Ó pai, outra vez essa história? Até parece que não te fartaste de fulminar gente!

     – Olha as maiúsculas, rapaz!

    

 

Poesia: ao Carlos Loures em jeito de réplica

Meu caro Carlos Loures, partilhando das mesmas inquietações acerca da arte em geral e da poesia em particular, dedico-lhe este pequeno excerto retirado de um clássico da literatura sobre o assunto:

«A poesia, em sentido geral, pode ser definida como “a expressão da imaginação”, e é congénita do homem. Este é um instrumento para o qual uma série de impressões internas e externas é conduzida, como a alternância de um vento sempre mutável, para uma harpa eólica, fazendo-a vibrar numa melodia sempre vária. Mas um princípio existe em todo o ente humano, e talvez em todos os seres sensíveis, que actua de maneira diversa daquela como age na lira e produz não só melodia, mas harmonia também, mercê de um ajustamento interno de sons e de movimentos assim excitados, ás impressões que os excitam. É como se a lira pudesse acomodar as suas cordas ao movimento do que as fere, numa determinada proporção de som, da mesma maneira que o cantor pode acomodar a sua voz ao som da lira.

Uma criança a brincar sozinha exprime a sua satisfação pela voz e pelos movimentos; e cada inflexão de tom e gesto possui uma relação exacta com um antitipo correspondente nas impressões agradáveis que o despertaram: é a imagem reflectida dessa impressão. E, assim como a lira vibra e ressoa após o vento se haver esvaído, assim a criança, prolongando na sua voz e movimentos a duração do efeito, procura prolongar também a consciência da causa. Em relação aos objectos que deleitam a criança, estas expressões são o que a poesia é para os objectos mais elevados.

O selvagem (pois o selvagem está para as idades como a criança para os anos) exprime as emoções nele produzidas pelos objectos circundantes de uma maneira idêntica; e a linguagem e o gesto, juntamente com a imitação plástica ou pictórica, devêm a imagem do efeito combinado desses objectos e respectiva apreensão.

O homem em sociedade, com todas as suas paixões e prazeres, torna-se em seguida objecto das paixões e prazeres do homem; uma classe adicional de emoções produz um tesouro aumentado de expressão; e linguagem, gesto e artes imitativas, devêm imediatamente a representação e o meio, o lápiz e o desenho, o cinzel e a estátua, a corda e a harmonia.»

… o autor ?

SHELLEY em «DEFESA DA POESIA» de 1820 !

… diga-me lá, honestamente, se não está já lá tudo em potência, senão em acto ? e neste particular, quem precisa do marxismo ou mesmo da antropologia para perceber a coisa ?

abraço.

eh pá, vamos lá manter o nível !

… e não percam tempo com minudências: uma cervejinha europeia e fica logo tudo mais calmo !

… finalmente, um nobel para a literatura !

… permitam-me um momento de felicidade (essa coisa que não sei muito bem o que é mas que também pouco me interessa) e um momento de radicalismo intelectual (essa coisa que faz asco a muita gente) : de longe a longe, de muito muito longe, o Nobel da Literatura é atribuído a um(a) escritor(a), o que é muito muito estranho. Herta Muller é um portento da literatura novecentista. a literatura não é uma questão de «gosto». ponto final. por vezes a academia sueca engana-se. ainda bem.

o homem Herta Muller, O Homem é um grande faisão sobre a terra, trad. Maria Mendonça, Cotovia, 1993. (edição de 1500 exemplares; ainda se encontra à venda, fora de catálogo, nos célebres mercados do livro, vejam lá  !)

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Herta Muller, A Terra das Ameixas Verdes, trad. de Maria Lopes, Difel, 1999.

um excerto:

a dália branca
«Nos dias escaldantes de Agosto, a mãe do carpinteiro tinha metido, com um balde, uma grande melancia dentro do poço, A água fez ondas à volta do balde. A água borbulhou em volta da casca verde. A água refrescou a melancia.
A mãe do carpinteiro foi com uma grande faca para a horta. O carreiro era um rego. A alface tinha espigado. As folhas estavam coladas com o leite branco que lhes corre nos pés. A mãe do carpinteiro levava a faca ao longo do rego. Onde a sebe começa e a horta acaba, florescia uma dália branca. A dália chegava-lhe ao ombro. A mãe do carpinteiro cheirou a dália. Cheirou prolongadamente as pétalas brancas. Aspirou a dália. Esfregou a testa e olhou para o pátio.
A mãe do carpinteiro tinha cortado a dália branca com a faca grande.
‘A melancia foi uma desculpa’, disse o carpinteiro depois do funeral. ‘A dália é que foi a perdição dela.’ E a vizinha do carpinteiro disse: ‘A dália era um rosto.’
‘Por este verão ter sido tão seco’, dizia a mulher do carpinteiro, ‘é que a dália estava cheia de pétalas brancas enroladas. Fez-se tão grande como nenhuma dália alguma vez podia ser. E como houve vento neste Verão, não se desfez’. Embora já não tivesse vida, não conseguiu murchar.’
‘Isto não se aguenta’ disse o carpinteiro, ‘ninguém consegue aguentar isto.’
Ninguém sabe o que a mãe do carpinteiro fez com a dália branca. Não levou a dália para casa. Não a pôs no quarto. A dália também não ficou caída na horta.
‘Ela veio da horta. Trazia a faca grande na mão’, disse o carpinteiro. ‘Nos olhos dela havia qualquer coisa da dália. A córnea estava seca.’
‘Pode ser que tenha esperado pela melancia’, disse o carpinteiro, ‘e entretanto tenha desfolhado a dália. Desfolhou-a com a mão. Não havia pétalas espalhadas pelo chão. Como se a horta fosse uma sala.’
‘Acho que’, disse o carpinteiro, ‘ela abriu um buraco na terra com a faca grande. Enterrou a dália.’
A mãe do carpinteiro tirou o balde do poço ao fim da tarde. Levou a melancia para a mesa da cozinha. Espetou a faca na casca verde. Com a faca na mão fez um círculo com o braço e cortou a melancia ao meio. A melancia rachou. Foi um estertor de agonia. No poço, sobre a mesa da cozinha e até cair aberta em duas metades, a melancia ainda estava viva.
A mãe do carpinteiro esbugalhou os olhos. Como tinha os olhos tão secos como a dália, não se abriram muito. O sumo escorria pela lâmina da faca. Os seus olhos pequenos olhavam com hostilidade a polpa vermelha. As pevides pretas pareciam os dentes dum pente encavalitados uns sobre os outros.
A mãe do capinteiro não cortou a melancia em talhadas. Pôs as duas metades da melancia à sua frente. Com a ponta da faca escavou a polpa vermelha. ‘Tinha os olhos mais gulosos que já se viram’, disse o carpinteiro.
O líquido vermelho escorrera pelo tampo da mesa da cozinha. Escorria-lhe dos cantos da boca. Pingava-lhe dos cotovelos. O sumo vermelho da melancia ficou colado ao chão.
‘Os dentes da minha mãe nunca foram tão brancos nem tão frios’, disse o carpinteiro. ‘Enquanto comia dizia: não olhes dessa maneira. não me olhes para a boca.’ E cospia as pevides pretas para a mesa.
‘Eu virei os olhos. Não saí da cozinha. Tive medo da melancia’, disse o carpinteiro. ‘Olhei para a rua pela janela. Vi passar um homem desconhecido. Ia apressado e falava sozinho. Ouvia pelas costas como a minha mãe escavava com a faca. Como mastigava. E como engolia. Mãe, disse eu sem a olhar, pára de comer.’
A mãe do carpinteiro levantara a mãe. «Gritou e eu olhei para ela por ter gritado tão alto’ disse o carpinteiro. ‘Ela ameaçou-me com a faca. Isto não é um verão e tu não és gente, gritou ela. Sinto uma pressão na testa. Tenho as tripas a arder. Isto é um verão que lança as chamas do fogo de muitos anos passados. Só a melancia é que me refresca.»
herta muller «o homem é um grande faisão sobre a terra»

poema frásico

Se deres a uma mulher o teu esperma ela pode transformá-lo em prazer

… naquele belo dia de caça

450px-Carlos_I_de_PortugalJaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente…
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente …

Papagaio real, diz-me quem passa?
— É o príncipe Simão que vai à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!…
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …

Papagaio real, diz-me, quem passa?
— É el-rei D. Simão que vai à caça.

Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!…

Papagaio real, diz-me quem passa?
–É el-rei D. Simão que vai à caça.

A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!

Papagaio real, diz-me, quem passa?
–É el-rei D. Simão que vai à caça.

Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza …
Desaba um trono em súbita explosão!…

Papagaio real, diz-me, quem passa?
–É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!…

Guerra Junqueiro
8 de Abril de 1890

(parágrafo)

VIVA  A REPÚBLICA COSMOPOLITA, DECADENTE E CORRUPTA …

MAS NOSSA !

Que chova sempre neste belo dia e que o céu nunca seja azul e branco!

(parágrafo)

ass. anarquista «afonsino», carbonário, anti-debutante e anti-cerúleo.

(parágrafo)

adeus, adeus … e até sempre !

o chelsea algarvio

1Jesualdo Ferreira, mister, em conferência de imprensa: o Olhanense é «UMA EQUIPA QUE SE HABITUOU A SER DE TOPO» !

 

 

 

 

ass. anarquista argentino (anti-calhabé!)

ps: este é o meu primeiro e último «post» futebolístico.

ps2: este «post» foi auto-censurado !

aftermath: joão pinto 1 – municípios 0

woodstockufa. até que enfim. e eu a pensar que as eleições municipais são sempre uma seca. uma espécie de corridinha de caciques. ai não. ora vejam. o distrito de aveiro tem um concelho chamado murtosa. eu gosto muito da murtosa. fui muito bem tratado por toda a gente da câmara da murtosa e pelos seus habitantes que me interpelavam na rua a perguntar o que é que eu andaria por lá a fazer. os murtosianos são muito simpáticos, acreditem! nesta bela terra nasceu há 52 anos o cidadão joão pinto. 52 anos depois joão pinto vive no porto e é o candidato à câmara municipal do porto pelo PCTP-MRPP. é membro do partido desde 1974. é o responsável do partido pela zona norte. não é um candidato qualquer. tem ideias originais. contrariamente a rui rio, elisa ferreira, rui sá e joão teixeira lopes, joão pinto quer ser presidente da câmara para acabar com os presidentes e as câmaras. do programa revolucionário que diz apresentar, três ideias se destacam:

1. os autarcas deveriam ganhar o mesmo que o «rendimento médio dos cidadãos do respectivo círculo eleitoral.» (!) logo, o autarca de lisboa ganharia substancialmente mais que o autarca de miranda do douro. o quê ?

2. o Governo Civil deveria sair da cidade do porto porque seriam «mal-vindos … representantes dos governos que mantêm tropas de ocupação noutros países.» (!) logo, os perigosos governadores civis devem abandonar o país, bem como todos os outros representantes do governo e, por acréscimo, pensamos nós, os próprios governantes do governo. para onde ? não se diz.

3. o porto não deve ser governado pela câmara do porto mas sim por um «órgão supramunicipal, escolhido por eleição directa, e que englobe, no mínimo, os municípios da Área Metropolitana.» mais: «as câmaras desapareciam, assim como as juntas de freguesia, sendo substituídas por um órgão intermédio, para tratar dos problemas locais». muito bem. apenas uma pergunta fica no ar: esse tal órgão intermédio para tratar os problemas locais podería ser uma câmara não chamada câmara ou uma junta de freguesia não chamada junta de freguesia ? fica a questão.

vejamos as consequências de uma possível vitória de  joão pinto: se se extingue a câmara não há presidente e logo o problema do rendimento deixa de se pôr. aliás, não se percebe por que carga de água o próprio candidato o põe. enfim. adiante. o governador civil e todos os conjurados são convidados a dar uma volta ao bilhar grande e provavelmente não os deixam viver neste país que «mantêm tropas de ocupação noutros países». o quê ? não interessa. adiante. a cidade do porto será finalmente governada por um tão aspirado órgão regional que deve ir muito para além da área metropolitana e por um órgão intermédio que, por consequência, não deve ir para além da área metropolitana ou talvez para além da área municipal. percebem ? eu não.

no que me diz respeito, só peço uma coisita ao cidadão joão pinto no que respeita ao alargamento geo-político da coisa: deixe lá a murtosa continuar a ser município, por favor !

ass. anarquista do vale

ps: a fonte para este «post» foi a reportagem de patrícia carvalho, tal e qual vem publicada no jornal público de 1 de outobro de 2009. sobre a veracidade ou não das propostas, faço como pilatos …

imagem: woodstock 1969

manual sobre a verdadeira escuta!

woody_allen_image_sleeper«A escuta telefónica pode ser empregue indiscriminadamente, mas a sua eficácia fica ilustrada por esta transcrição de uma conversa entre dois chefes de gang da área de Nova Iorque cujos telefones estavam sob escuta do FBI.

anthony: Está lá? Rico?

rico: Está lá?

anthony: Rico?

rico: Estou.

anthony: Rico ?

rico: Estou a ouvir mal.

anthony: És tu, Rico? Não estou a ouvir.

rico: O quê?

anthony: Estás a ouvir-me ?

rico: Está lá ?

anthony: Rico?

rico: A ligação está má.

anthony: Estás a ouvir?

rico: Está lá?

anthony: Rico?

rico: Está lá?

anthony: Telefonista, a ligação está má.

telefonista: Desligue e torne a ligar.

rico: Está lá?

Por causa desta evidência, Anthony (o Peixe) Rotunno e Rico Panzini foram condenados e estão a prestar serviço, por quinze anos, em Sing Sing por posse ilegal de erva.»

woody allen, «para acabar de vez com a cultura» 1966. trad. jorge leitão ramos. bertrand editora.

ass. anarquista mulder (especialista em scullys, escapes e tubos de ensaio)

viva a suíça !

Roman Polanski and Sharon Tatea suíça em um belo país. o próprio nome «s-u-í-ç-a» é belo. a suíça é o mais limpo país do mundo. a suíça tem bancos. a suíça tem os bancos mais limpos do mundo. a suíça tem neve. a neve na suíça é branca. os suíços são poliglotas. enquanto as salas e os países têm cantos, a bela suíça tem cantões. a suíça é íntegra. a suíça é neutral. durante a segunda grande guerra, a suíça nunca albergou espiões nazis. a suíça nunca toma partido. a suíça tem emigração portuguesa que trata de limpar o país. se os portugueses de portugal cospem no chão, os portugueses da suíça limpam os escarradores dourados dos suíços. a suíça já bateu o pé à grande frança num europeu de futebol. a suíça não tem mar. a suíça é um in-shore. eu nunca gostei da suíça porque não tenho bom gosto. quem tem bom gosto não pode deixar de gostar da suíça. a suíça tem queijos. a suíça tem chocolates. a suíça só faz bem ao mundo e se por acaso faz mal é só ao colesterol. os suíços são os melhores europeus de que há memória. tudo isto já sabíamos. apenas não sabíamos que os suíços têm um sistema judicial que funciona e que está atento a toda e qualquer injustiça universal. qual baltazar garzón qual quê  ? a suíça acabou finalmente de prender o grande pedófilo franco-polaco roman polanski. três décadas depois de abusar da norte-americana samantha geimer e de ter fugido dos estados unidos da américa, a suíça apanhou-o. foi simples. o isco foi a pretensa homenagem ao abjecto realizador no festival de cinema de zurique. ora o ingénuo homem lá aterrou na suíça e deitaram-lhe as mãos. agora querem extraditá-lo para que a justiça se faça. a velha europa está escandalizada. também a polónia, a pátria de joão paulo II. três décadas passadas samantha geimer já perdoou ao senhor e gostaria de viver em paz. a suíça não. justiça é justiça. a suíça não perdoa a um realizador demente que expõe todas as suas perversões pessoais em «repulsa», «faca na água», «a semente do diabo» (uuiiii!!!) ou «o inquilino» – onde o referido esquizofrénico se veste de mulher e pinta os lábios (de mulher!!!!). a suíça diz e muito bem: a arte não é desculpa para perversidades ! a suíça não se impressiona com «pianistas» ! viva a suíça !

ass: anarquista duval

o verdadeiro anarquista não usa gorro!

untitled«Ao declaramo-nos anarquistas, proclamamos antecipadamente que renunciamos a tratar os outros como não quereríamos que eles nos tratassem; que não toleramos mais a desigualdade que permitiria a alguns de nós exercer a sua força, ou a sua artimanha, ou a sua habilidade, de uma forma que nos desagradaria a nós mesmos. Mas a igualdade em tudo – sinónimo de equidade – é a própria anarquia. Ao diabo o urso branco que se arroga o direito de enganar a simplicidade dos outros! Não o queremos e suprimi-lo-emos por necessidade. Não declaramos guerra unicamente a esta trindade abstracta de Lei, de Religião e de Autoridade. Tornando-nos anarquistas, declaramos guerra a toda esta imensidão de embuste, de artimanha, de exploração, de depravação, de vício – numa palavra, de desigualdade – que aquelas difundiram nos nossos corações. Declaramos guerra à sua forma de agir, à sua forma de pensar. O governado, o enganado, o explorado, a prostituída e por aí adiante, ferem, mais do que tudo, os nossos sentimentos de igualdade. É em nome da Igualdade que não mais queremos nem prostitutas, nem explorados, nem enganados, nem governados.»

Piotr A. Kropotkine, A Moral Anarquista, 1899

ass. anarquista duval, anti-regionalista, anti-nacionalista e anti-gorro (contra armas de fogo e plantas naturais)

* Aquilino Ribeiro, anarquista oitocentista

ps: o meu «alter-ego» vai votar domingo sob a inevitável pele lampedusiana de Leopardo.

atrasa lá o museu, por favor !

thegoldendays… abrem-se as páginas 16 e 17 do Público e lê-se:

1. o novo MUSEU DO CÔA, cuja abertura está para breve mas sem data marcada, necessita de um «gestor cultural» e de um novo modelo de gestão (o que quer dizer que poderá abrir e depois lá se escolherá um gestor e um modelo). gravuras rupestres?

2. a obra do novo MUSEU DOS COCHES está parada por questões logísticas (i.e. o transporte de pessoas e equipamento). carros sem motor?

3. o alargamento do MUSEU DO CHIADO avança dez anos depois (mas na realidade ainda não avançou, vai avançar um dia destes). rabiscos?

sobre política cultural neste país…  atrasa lá o museu, por favor !

ass. anarquista duval

balthus, «the golden days»

o senhor que queria pertencer à confraria dos escritores

stack_bookspois então cá vai. eu até nem queria falar mais nisto mas já agora, se faz favor, vamos adiante. já nem sei quando isto começou. talvez com o sucesso da margarida rebelo pinto? até pode ser que não. não interessa quando começou. eis que, certo dia, em portugal, os jornalistas começaram a escrever livros. uns escreveram romances cor-de-rosa. outros optaram pelas biografias desportivas. uns terceiros optaram pela literatura dita séria, sim, séria, ficcional ou documental pouco importa. qualquer posto servia: pivot de telejornal, jornalista de fundo ou comentador. já cá temos um dan brown português que invadiu o mercado norte-americano e se não vendeu está ou esteve para vender os direitos da sua obra para o cinema. já cá temos um outro que escreveu romances policiais (?) ditos seríssimos e argumentos para o belo mundo do cinema português. já cá temos biógrafos de mourinhos, de camachos e o canastro, bem entendido. já cá temos literatura documental para dar e vender e para juiz de instrução, ou não, ler. temos livros seríssimos sobre a casa pia, os partidos, a maddie e sabe-se lá mais o quê. pois, portanto, vamos lá a ver. és jornalista e queres abrir horizontes. eh, pá, escreve um livro. tudo podes. tu consegues. já escreves todos os dias, não é ? então, será canja. mais a mais existem peças jornalísticas que são verdadeira sobras literárias, não é ? então por que esperas ? e então impulsionado pelo céu ou pela terra, o jornalista começa a escrever romances. novelas. biografias. só não escreve dicionários porque ainda não se lembrou. no molho tipográfico deste mundo o jornalista vende. e vende porque o povo compra. porque o povo, e aqui não há volta a dar-lhe, conhece o jornalista e acha que quem escreve, escreve. pois, bem entendido. a bem dizer, compra ainda mais porque conhece a efígie do jornalista. entra-lhe todos os dias pela casa adentro. e depois é ver finalmente o povo a ler o jornalista no metro, sim, finalmente no metro, como em paris, londres, ou nova iorque. e aqui, neste preciso momento, a modernidade avança. então quando vier o tvg é que se vai ler ! talvez o povo pense que o jornalista não deveria escrever um calhamaço pois é muito incómodo ler um calhamaço no metro em hora de ponta. ou talvez o povo pense que quantas mais páginas e folhas tiver o dito cujo, mais importante, sério, inteligente e adjectivante é o jornalista. e , por extensão, o leitor. o jornalista, em última instância, instruído pelo sucesso da sua obra prima vê-se a si próprio como um escritor. sim, um escritor ! e logo quer entrar nos clubes, nas confrarias, nos círculos dos outros escritores que só são escritores e nunca foram jornalistas. e pensa: vendo, logo imito ! mas não é que depois a figura do crítico lhe urina para cima, a bem dizer, porque os dados históricos que utilizou estão errados e ou o ignora ou diz mal dele num pasquim ou suplemento de pasquim com crítica literária especializada ou dita especializa ? como pode ser? quem são esses malandros? vendo, imito e dizem mal de mim. se não vendesse e não imitasse talvez o caso mudasse de figura. mas não. ai não, não! ser um kafka, um bulgakov, um jorge de sena, um desses desgraçados que nunca teve um banho de multidão na vida ? ai, isso não ! escrevo, logo ganho! esse é que é o lema. qual imitar qual quê ! já sabem de quem é que eu estou a falar, já dizia o outro. tudo isto a propósito de mais uma reportagem que assina e assinala a desgraça e o génio incompreendido do senhor miguel sousa tavares e da sua caminhada pelas hordes literárias portuguesas adversas. haja pudor, meu caro miguel ! haja pudor ! um pintor pinta toda uma vida para ser pintor. um escritor escreve toda a vida para ser escritor. um escultor esculpe toda a vida para ser escultor. mas isso não é nada. o senhor miguel acha que o leitor é que manda, as vendas é que o provam e a partir daí é entrarno túnel da luz (perceberam?) e ser aplaudido em surdina como génio literário. o crítico e o literato que se danem. pois. se um dia um pintor de paredes começar a  fazer debuxos antes das demãos e um estucador se lembrar de começar a utilizar mármores temos produção artística para dar e vender. qual miguel ângelo qual quê ! o meu filho desenha e pinta melhor que o miró, pá!

ass: anarquista duval

post scriptum: o referido autor deste texto acrítico até gosta que o miguel sousa tavares e os outros que tais vendam muito. pois deste modo as editoras podem perder dinheiro com os escritores menores que editam a fundo perdido, só para compôr os catálogos das ditas cujas com nomes que vendem muito pouco e que já estão todos mortos ! … e não estámos a falar do sarabago ou do entunes que ainda estão vivos, bem entendido !

uma obra-prima de jim jarmusch

Limits_of_controla última longa-metragem de jim jarmusch, «os limites do controlo» 2009, encontra-se ainda em exibição em portugal. a par de gus van sant e de hal hartley, jarmusch é um dos mais conhecidos cineastas do designado «cinema independente norte-americano». a década de 80 representou a sua afirmação no mundo cinematográfico, pese embora jim pretendesse, originalmente, seguir uma carreira musical. aliás, a sua ligação com o mundo musical está bem presente com john lurie (longe lizards) como protagonista em «stranger than paradise» 1984 e em «down by law»» 1986, este último com a participação de tom waits (que assina a banda sonora de «night on earth» 1991). iggy pop entra em «dead man» 1995 e joe strummer em «mistery train» 1989. tal como a cinematografia de gus van sant, a música tem um papel central na ambiência dos seus respectivos filmes – recorde-se aqui a entrevista que jim jarmusch concedeu ao suplemento do jornal «público» há umas semanas atrás onde é bem específico sobre este tema. em «the limits of control» encontramos a sonoridade de boris. se a américa desolada, emigrante e semi-urbana é o pretexto central para os seus filmes da década de 80, as «noites da terra» entre os estados unidos da américa e a finlândia encerravam definitivamente a primeira fase do seu muito particular cinema. na década seguinte destacam-se duas pérolas arty, o imaginado william blake/johnny deep perdido na américa indígena de «dead man» 1995 – com uma fabulosa roupagem sonora de neil young – e o ghost dog/forrest whitaker, assassino-justiceiro contratado, columbófilo e orientado pelos princípios de Hagakure, «ghost dog: the way of the samurai» 1999 – película pautada pela música hipnótica de rza. o relativo sucesso junto do público chegará apenas em 2005 com «broken flowers» e bill murray numa viagem de um homem celibatário alienado do mundo que plana/viaja em busca de um passado ausente. entre eles, «coffee and cigarettes» reunia encontros im/prováveis que jarmusch filma desde 1986 entre os protagonistas dos seus filmes (e não só) – lá estão iggy pop e tom waits, roberto benigni e steve buscemi, cate blanchett e bill murray, jack e meg white dos white stripes.

este ano jim jarmusch estreia «the limits of control» protagonizado por isaach de bankolé, com pequenas mas importantes contribuições de bill murray, tilda swinton e de um magnífico john hurt. jarmusch parece tornar, de alguma maneira, ao silêncio de «permanent vacation» 1980, retirando do ecrã os apontamentos de comicidade que muitas vezes integra para nivelar as repetições/citações/máximas de cariz filosófico (sempre objecto de discussão crítica) que quase sempre inclui nos seus filmes (aliás como hal hartley – o que, neste particular, nos faz recordar «flirt», embora num outro registo). mais do que toda a obra de jarmusch, é um filme politicamente comprometido e com um final inevitável onde o frio assassino contratado, alheio a toda e qualquer espécie de mundo(s), homem fora do tempo, de hábitos obsessivos, gélido, quase mudo, completa a sua missão mas o «mundo», tal como ele é, ficará inevitavelmente – repita-se – na mesma. não se aplica aqui o princípio de lampedusa. belo. difícil. obra maior de jarmush.

ps: este texto não é uma crítica cinematográfica! 

25 Guitarras de Aço (3)

steve howe 04os yes foram um dos principais supergrupos do designado rock sinfónico da década de 70. e representam-no de tal forma que, para o bem e para o mal, ainda hoje são um fenómeno de profundo amor ou profundo ódio na utópica e mutante pop culture. não valerá a pena contar a história. toda a gente a sabe. o punk rebelou-se, em termos musicais – foi muito mais do que isso, é certo – contra os excessos de virtuosismo na qual a pop se enredou a partir dos primeiros anos da década de 70. os yes representam, muito provavelmente, o limite último na tentativa de atribuir à pop uma roupagem sinfónica – isto se exceptuarmos os devaneios de david greenslade e o seu pentateuco. claro está, existiam os floyd, os soft machine de robert wyatt, os genesis de peter gabriel, os van der graaf de peter hammill, os jethro tull de jon anderson, os gentle giant, os caravan, os henry cow etecétera e tal – em muitos aspectos bem mais importantes. não obstante, sem os yes, o rock progressivo/sinfónico teria sido bem diferente. eles representaram o lado diurno, brilhante e límpido do movimento. a sua influência foi visível em toda uma série de bandas menores por todo o mundo, de portugal – os tantra por exemplo- ao japão. Steve Howe não foi um dos seus fundadores mas entra – substituindo peter banks – naquele que será o primeiro album em que a banda assume a sonoridade pela qual ficou conhecida, «the yes album» 1971, assinando a solo a faixa «the clap». será neste mesmo ano que os yes editam a primeira das suas primeiras obras-primas, «fragile». nesse momento, são um quinteto de músicos portentosos. para além do famoso jon anderson – responsável por grande parte do imaginário místico e quase animista da banda e dono de dotes vocais pouco usuais  – bill bruford (king crimson, uk), um dos maiores baterista de sempre, rick wakeman (o homem dispensa apresentações, incluíndo mesmo a quantidade de material de gosto discutível que quase sempre produziu a solo) – já agora uma curiosidade: sem rick wakeman dificilmente o «hunky dory» do david bowie teria a mesma sonoridade; parece mentira mas não é – e o indesmentível líder da banda, chris squire e o seu fabuloso baixo. steve não deixa de nos maravilhar em, por exemplo, «mood for a day», um instrumental por ele composto. em 1972 surge a segunda obra-prima, «close to the edge», e no ano seguinte o duplo «tales from topographic oceans». incluímos ainda no rasto brilhante dos yes «relayer» de 1974, já com patrick moraz (moody blues) e alan white na formação. a partir daqui muito pouco interessa. steve howe abandonou, voltou, abandonou outra vez, voltou outra vez a integrar a formação mas os tempos eram outros e a fórmula esgotava-se. tal como já estava quando formou os asia, com john wetton,  a primeira banda «rock-fm» da história da música pop !?

do clássico ao jazz, a sua formação e influências é vasta. não há instrumento de corda que steve howe não utilize para compor sonoricamente o emblema «yes», de guitarras clássicas a bandolins. a lista de instrumentos de aço usados no seu «the steve howe album» de 1979 é de 14 instrumentos, incluindo steel guitars e banjos. usava com o mesmo apreço «fenders» e «gibsons», algo pouco característico nos mestres de guitarras, para incluir nos yes toda a extensão de sonoridades possíveis. steve howe não é/foi david gilmour e muito menos robert fripp, mas estes também nunca poderiam ter feito o que ele fez. 

quer goste ou não, faça o favor de ouvir a introdução de «close to the edge» onde steve howe, para utilizar uma expressão prosaica, «é tão bom que até chateia!»

yes close to the edge

ps: como se afirmou, não se pretende hierarquizar este tema nem aprofundar matérias do foro técnico. depois de george clinton, johnny marr e steve howe, o próximo deverá ser peter green ou talvez jack white ou talvez derek bailey, quem sabe.

there is a light that never goes out

duerer_praying_hands

enfim, a ESPERANÇA nos nossos corações ! 

esperemos que a manelita crie RIQUEZA, RIQUEZA nas nossas contas bancárias, directamente, claro está, porque não serão certamente os nossos empresários que, de borla e à francesa, acompanhando as visitas oficiais do presidente da república, se limitam a encher a pança de acepipes e se esquecem do cardápio de negócios ou então aqueles que, à boa maneira portuguesa, como diz o grande homem de negócios do norte, «estou-me a marimbar para o estado, vou investir outdoors». 

esperemos que o filósofo termine com sucesso a rede de creches e lares, e de forma abrangente, com vagas para a totalidade da populaça, porque das duas uma: ou acabamos a ter que aprender a ler e a contar outra vez ou então perdemos toda e qualquer faculdade para tal, medicados durante dias, meses e anos a fio. pouco importa. para o filósofo, ou melhor, para «o filho que matou o pai e a mãe para ser orfão», VIVEMOS NO MELHOR DOS MUNDOS. 

há por aí algum antero de quental numa vila do conde do hoje e do agora que nos salve dos ingleses, perdão, dos espanhóis ?

ass: ANARQUISTA DUVAL

visões estéticas contemporâneas

597_42Oskar Schlemmer
Manifesto da primeira exposição da Bauhaus
1923

«A Staatliches Bauhaus de Weimar é a primeira e, até agora, a única escola estatal do Reich – se não do mundo inteiro – que convida as forças criativas das belas artes, enquanto conservem a sua vitalidade, a actuar. Ao mesmo tempo, mediante a instalação de oficinas sobre bases artesanais, se impôs como tarefa uni-las num todo, numa compenetração frutuosa para as fazer convergir com a arquitectura. O conceito de arquitectura deve restabelecer a unidade que feneceu no envelhecido academismo e nos afectados ofícios artísticos, e tem que restabelecer a grande relação com o todo e possibilita, no sentido mais apurada, a obra de arte total. O ideal é velho, mas a sua aparência é sempre nova. O seu culminar é o estilo e a vontade de estilo nunca foi mais poderosa que na actualidade. Mas a confusão dos espíritos e dos conceitos causaram conflitos e disputas sobre a natureza desse estilo que deve aflorar como a nova beleza dessa confrontação de ideias. Semelhante escola, animadora e animada em si mesma, converte-se num barómetro das convulsões da vida pública e intelectual do seu tempo e a história da Bauhaus converter-se-á na história da arte contemporânea.


A Staatliches Bauhaus fundada depois da catástrofe da guerra e no caos da revolução e na era do florescimento de uma arte explosiva e emocionalmente cheia de pathos, vem a ser o ponto de reunião de todos os que, com fé no futuro e um entusiasmo transbordante, querem construir a catedral do socialismo. Os triunfos da indústria e da técnica antes da guerra e as orgias sob o signo da sua destruição despertaram aquele romantismo veemente que era uma proposta ardente contra o materialismo e a mecanização da arte e da vida. A miséria da época era também a miséria dos espíritos. O culto do inconsciente e do indecifrável, a propensão ao misticismo e ao sectarismo brotaram na procura das últimas coisas que estavam em perigo de perder todo o seu significado num mundo pleno de vacilações e rupturas. A ruptura dos limites da estética clássica fortaleceu a preeminência da emoção que encontrou o seu alimento e confirmação na descoberta do Oriente e da arte negra, dos camponeses, das crianças e dos doentes mentais. A origem da criação artística foi, assim mesmo, tanto mais investigada quanto os seus limites se extenderam mais audazmente. O uso apaixonado dos meios expressivos florescia como nas imagens dos altares. Foi no quadro, sempre no quadro, que se refugiaram os valores decisivos. Ele tem que assumir a sua divida com a síntese proclamada, independentemente da unidade do mesmo quadro, como a conquista mais elevada da exaltação individual.
A inversão dos valores, as mudanças dos pontos de vista, o nome e o conceito dão como resultado a imagem oposta, o novo credo. DADA, o buffon da Corte neste reino joga à bola com os paradoxos e liberta e purifica a atmosfera. O americanismo transposto para a Europa, cunho novo no velho mundo, morte ao passado, a luz da lua e a alma, assim avança o tempo presente com traços de conquistador. A razão e a ciência, os poderes supremos do homem, são os guias, e o engenheiro é o executor imperturbável das possibilidades ilimitadas. As matemáticas, a construção e a mecanização são os elementos. O poder e o dinheiro são os ditadores destes fenómenos modernos de ferro, cimento, vidro e electricidade. Velocidade da matéria rígida, desmaterialização da matéria, organização da matéria inorgânica, todos produzem o milagre da abstracção. Baseados nas leis naturais, são a obra do espírito para dominar a natureza. Apoiados no poder do capital, convertem-se em obra do homem contra o homem. O tempo e a hipertensão do mercantilista convertem-se na utilidade e finalidade na medida de toda a actividade, e o cálculo apodera-se do mundo transcendente: a arte converte-se num logaritmo. A arte, até há pouco desprovida do seu nome, vive a sua vida depois da morte no monumento do cubo e no quadrado colorido. A religião é o processo mental exacto e Deus está morto. O homem, o ser consciente de si mesmo e perfeito, superado por qualquer manequim na exactitude, aferra-se aos resultados da fórmula do químico até que seja encontrada também a fórmula para o espírito.
Goethe: Quando se realizarem as esperanças de que os homens se unam e se conheçam mutuamente em toda a sua força, com a mente e o coração, com o entendimento e o amor, ninguém poderá imaginar o que ocorrerá. Nesse momento já não necessitará de criar pois nós criamos o seu mundo. Esta é a síntese, o resumo, a intensificação e a densificação de tudo o que é positivo para formar um poderoso centro de forças. A ideia do centro, alheada da mediocridade e debilidade, entendida como balança e equilíbrio, converte-se na ideia da arte alemã. Alemanha, país central, e Weimar, o seu coração, não são pela primeira vez o local eleito de decisões espirituais. Trata-se de reconhecer o que é apropriado para nós com o objectivo de não ficarmos sem objectivo. No equilíbrio das oposições polares, amando tanto o mais remoto passado como o mais remoto futuro, conjurando tanto a reacção como o anarquismo, avançando desde o fim em si mesmo, desde o eu singular até ao típico, ao problemático, ao válido e seguro, chegaremos a ser os portadores da responsabilidade e a consciência do mundo. Um idealismo da actividade que abarque, penetre e una a arte, a ciência e a técnica e que incorpore a investigação, no estudo e no trabalho, realizará a construção artística do homem que, no que respeita ao sistema cósmico, é somente uma metáfora. Hoje apenas podemos avaliar o plano de conjunto, colocar os fundamentos e preparar as pedras para a construção.
Mas,
Somos, Queremos, e Criamos ! »

oskar schlemmer, escritos sobre arte: pintura, teatro, danza. cartas y diarios, paidos estética, barcelona, 1987.

comentário: a Bauhaus (1919-1933) criada por Walter Gropius contou com importantes ideólogos e mestres, para além deWassily Kandinsky e do próprio fundador. Entre eles contava-se O.S.  A sua contribuição foi decisiva, por exemplo, nos ateliers de teatro. Este pequeno texto – diferente dos manifestos bem mais conhecidos e técnicos de Gropius, Kandinsky ou Albers – resume, em última instância, o ideal técnico-prático bem conhecido da escola mas também o misticismo estético que, por exemplo, J. Itten e J. Albers desenvolveram a partir da teoria das cores e da oposição «método/intuição» no ensino artístico.

a night at the….

bob_marley_coverlápis azul  – segunda versão: uma das melhores noites da cidade invicta, nos últimos tempos, são as quartas-feiras no CONTAGIARTE. porquê? porque é a noite da festa REGGAE. todavia, o objectivo desde «post» é dizer-vos, caríssimos, que hoje, hoje, vi «gunas», a sério, «gunas» a dançar marley e tosh. eh pá, se tu lá fores, consegues ver todas as noites brancos com rastras, erva a rodos, meninas da foz com vestidinhos dourados, metálicos todos a preceito, belezas africanas, todos a curtir a pátria do grande  BOLT, mas «gunas» !? é de partir. há muitos sítios onde a noite portuense funciona, mas uma noite de quarta-feira no CONTAGIARTE vale sempre a pena, mesmo com «gunas». fumes charros, erva ou cigarros, bebas cerveja ou bebidas brancas. não é uma noite do estilo «porreiro pá!», é só uma noite do «porreiro». ZION TRAIN IS COMMING YOUR WAY ! Marley forever and a day! 

ps: hoje que a minha argentina perdeu, com deus como treinador, tinha que sair, pá !

25 Guitarras de Aço (2)

JohnnyMarrpressupõe-se, erradamente, que um grande guitarrista é essencialmente um solista. uns valentes vinte e cinco anos atrás, numa conversa de comboio, dizia-me o alexandre soares (fundador, primeiro vocalista e guitarrista dos GNR) qualquer coisa como isto: «eh pá, um gajo começa por querer aprender uns acordes para sacar as músicas das bandas que gostamos, depois, com alguma técnica, sacámos mais ou menos os solos e passado alguns anos pensámos que até já somos alguém e temos o nosso som, mas, merda, o que todos nós gostaríamos de ser é como o johnny marr!» Johnny Marr não aparece citado no artigo a que me referi no «post» passado. percebe-se muito bem porquê. está fora do mundo dos grandes solistas. é, aliás, ainda um muito maior escândalo que ninguém refira na citada «classic rock», por exemplo, lou reed. adiante. na primeira metade dos 80’s, em pleno pós-punk – o que na altura ficou conhecido em portugal como som da frente, termo forjado pelo grande antónio sérgio no programa anónimo – as três grandes bandas de culto eram, como toda a velhada sabe, the cure, the smiths e U2. claro que também por cá andavam na boca e ouvidos de todos os the sound, os felt ou os echo and the bunnyman. se nos the cure, robert smith assumiu a banda sózinho, nos U2 e nos the smiths constituiam-se duplas na boa tradição da pop – bono e the edge, morrissey e johnny marr. mais do que os irlandeses, os de manchester foram vistos na altura como os «lennon-mccartney» do seu tempo. foram-no? pensamos que sim. a vida dos the smiths foi curta – entre 82 e 87 – mas a sua obra discográfica é magistral: «the smiths» 1984, «meat is murder» 1985, «the queen is dead» 1986 e «strangeways, here we come» 1987 são os longa-duração da banda. morrissey tentou reeditar a dupla com vini reilly em «viva hate» mas não o conseguiu. por outro lado, a carreira de johnny marr, pós-the smiths, é, no mínimo, errática, mesmo contando com os electronic.

uma das caraterísticas de guitarristas na linha de Johnny Marr é o facto de serem essencialmente grandes músicos de estúdio, muito dados ao meticuloso trabalho na composição e produção musical. é ainda hoje um mistério como as revistas especializadas em guitarras de aço se esquecem dele. mas, como dissemos anteriormente, não é exemplo único. as rendinhadas melodias, a finura harmoniosa mas ao mesmo tempo selvática da sua guitarra transformou a sonoridade dos smiths em algo identificável em qualquer parte do mundo. ouvem-se os primeiros acordes e sabemos logo o que é. Marr tem um estilo compositivo muito unitário embora no último longa duração da banda tente uma abordagem mais vasta. de todas as maneiras, para os mais fanáticos, «strangeways, here we come» não conta muito para a história, pese embora canções como «death of a disco dancer» ou «girlfriend in a coma». bastou meia década para que johnny marr – e morrissey – modificassem a pop. para melhor, claro. muita gente tentou seguir o caminho traçado por marr/morrissey, dos james aos stone roses, mas nunca lá ninguém chegou. mas ouve alguém, e falámos em termos técnico-compositivos, que lá esteve perto – Lawrence e os seus Felt. vejam-se, a título de exemplo, as guitarras do belo e instrumental «let the snakes crinkle their heads to death» 1986.

ps: a quem interesse, ainda se encontra à venda a edição limitada a 10.000 exemplares de «the smiths. singles box» 2009 que reúne os primeiros dez singles com as capas originais e alguns bónus. uma está disponível na fnac porto santa catarina. vale os trinta e tal euros todos e mais alguns.

the smiths this charming man 1983

25 Guitarras de Aço

Funkadelic_free_your_mind_go último número de Classic Rock apresenta-nos o especial «os melhores 100 guitarristas de todos os tempos escolhidos pelos melhores 100 guitarristas vivos». os critérios são unicamente pessoais. algumas das escolhas são previsíveis. steve rothery (marillion) prefere david gilmour (pink floyd), jimmy page (led zeppelin) escolheu jack white (white stripes, raconteurs e dead weather) e david gilmour escolheu jeff beck (john mayall bluesbrakers, yardbyrds, jeff beck group).  algumas supresas. a fraude mark knopfler, muito apreciado nos 80’s, não está lá. poucos são os guitarristas dos 90’s citados, apesar de aparecer o inevitavelmente discutível slash (guns and roses) citado por jonnhy rocker (heaven’s basement). supresa das supresas: john  frusciante (red hot chili peppers) escolheu o grande vini reilly (durutti column), vá-se lá saber porquê. o inenarrável joe satriani – o menos original guitarrista de todos os tempos – escolheu o mais inultrapassável, jimi hendrix. já agora, para que se saiba, o seu discípulo igualmente mau, steve vai, escolheu brain may (queen). os fans da «suposta» maior banda do mundo – metallica – ficaram a saber que james hetfield prefere tony iommi (black sabbath). tinha que ser. no que nos diz respeito, robert fripp (king crimson, the league of crafty guitarrists) – técnica e criativamente – foi eleito pelo «ex-floydiano» e actualmente um dos maiores guitarristas e produtores do mundo, steven wilson (porcupine tree), que estará em novembro em portugal para concertos em lisboa e porto.

25 guitarras de aço: aleatoriamente, comecemos por George Clinton, guitarrista e fundador dos The Parliaments e dos Funkadelic. Hendrix e Clapton (o dos Cream, claro está) foram as suas maiores influências técnicas. psicadelismo, rock, soul, blues negro e british blues em misturas experimentalistas suportadas por mais de uma dezena de músicos. o funk  dos 70’s começou aqui. valerá apenas referir «maggot brain» 1971 e «free your mind and you ass will follow» 1970 dos Funkadelic para o provar. black soul.  let’s funk, man!

girls with twisted pop on her panties

atm-feverray

a suécia não é só os abba. a suécia não é só metal. a suécia é também a terriola dos «the knife», duo constituído em 1999 pelos irmãos karin dreijer andersson e olof dreijer. depois da suave electrónica de «the knife» e «deep cuts» – dispensáveis – «silent shout» 2006 apostava numa evolução bem mais experimental e negra, nos limites da pop electrónica, partindo do princípio que a pop electrónica tem limites, o que é manifestamente falso, como bem se sabe. adiante. karin nasceu em 1975. em 2009 encarnou o projecto fever ray e lançou o seu primeiro album a solo. não deixa de ser curioso que na sua página do myspace se tenha identificado estilisticamente com o «black metal». a ouvir durante anos a fio. só para melómanos. ou. para qualquer nympholeptos a melhor coisa da pop são elas.  simplesmente complicado, como diria o bernard. leia-se:

 

 

Concrete Walls

i live between concrete walls
when i took her up she was so warm
i live between concrete walls
in my arms she was so warm

eyes are open the mouth cries
haven’t slept since summer

oh how i try
i leave the tv on and the radio

fever ray «fever ray» rabid records 2009

a ouvir/ver : fever ray when i grow up

ps: um primeiro «post» sobre algo sueco deveria ser sobre o bergman. todavia, há pouca cultura pop neste antro. cumprimentos.