Há pais que não dão comida aos filhos só porque não têm dinheiro

Sacanas dos pobres, gente de má vontade.

Ó Ticas, vá à méda qrida

É por estas e por outras que gostaria de assistir ao extermínio dos pobres. Os ricos desapareceriam naturalmente: ao deixarem de ter a caridadezinha para se entreterem e exibirem aposto que se desvaneceriam no ar.

Ou como escreveu o Calimero que nos brindou com estas imagens:

 “Ajudar uma família ajudar os pobrezinhos, cantar-lhes fado e publicar as fotografias no Facebook.”

(e não me venham com a tanga de que aquelas pessoas precisam; eu sei que precisam, todos sabemos que precisam, mas quem exibe a sua “generosidade” desta forma também precisa de ter vergonha na cara)

via Paulo Guinote

É natal, deixem os pobres em paz

Entrámos na vertigem da caridadezinha agora chamada de voluntariado, registo que será o do ano de 2012. Não vou agora discutir a mais hipócrita das formas de perpetuar a miséria, é natal e estou contagiado pelo espírito de paz, amor e peúgas. Mas há um limite de decência para a propaganda travestida de jornalismo: os pobres também têm direito ao anonimato e ao sossego, senhores, mesmo que não tenham capacidade de se defenderem da vossa falta de vergonha.

Porque não vão entrevistar o Américo Amorim e acompanham a sua triste consoada? porque não tem Ricardo Espírito Santo direito a uma perguntinha sobre o bacalhau e se estava bem servido? porque não se questiona Belmiro de Azevedo sobre o frio de dezembro e se confirma se teve agasalhos que o abrigassem na noite da consoada?

É mais fácil ir para a rua e para as cozinhas económicas deste mundo entrevistar voluntários muito cristãos (excepto na soberba, no ódio ao franciscano e no esquecimento do velho princípio de que a caridade não se exibe) e sobretudo os desgraçados que além da indigência ainda levam com a devassa da sua privacidade, e essa é a miséria do jornalismo desta quadra. Mas será só por ser mais fácil?

Eu sei que quando um pobre escorrega cai logo em cima de um monte de merda mas um pouco de decência nas televisões ficava bem, ao menos no natal.

A comida dos pobres pode ser toda badalhoca


Toda a gente merece uma Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) a fiscalizar a comida que leva à boca. Toda a gente menos os pobres que recorrem às IPSS’s e que, por isso, comem o que houver e no estado em que estiver. Para quê pôr a ASAE a fiscalizar? As Misericórdias, famosas pela agiotagem em que se distinguiram ao longo dos séculos, e demais instituições ligadas à Igreja Católica, tratam do assunto.
Já agora, amontoam-se putos em creches superlotadas, prescrevem-se uns medicamentozitos fora do prazo – o que não faz mal a ninguém – e temos aqui um verdadeiro Programa de Emergência Social. Pedro Passos Coelho e Marco António (o verdadeiro Ministro da Segurança Social) são caridosos. Esta noite, a consciência não lhes pesará. Dormirão como bebés.

Programa de Emergência Social: vamos brincar à caridadezinha

Programa de Emergência Social (PES) agora apresentado ultrapassa as piores expectativas, e muito por baixo. A lógica é um clásssico: esmolar aos pobrezinhos. Os pobrezinhos, tão engraçados, não tendo pão podem comer merda proveniente das cozinhas das instituições do costume (que não tem dinheiro não tem vícios, e a ASAE é um vício).

Os pobrezinhos, tão engraçados, receberão em média 11 euros mensais de esmola. Uma fartura.

Quem recebe RSI passa a trabalhar (tramando o mercado de emprego, mas ninguém repara nisso, e há que meter os malandros a render).

A lógica disto tudo é muito simples: para baixar os custos de produção aumenta-se o desemprego, logo corta-se nos salários (em breve concorreremos com o mercado asiático).  É claro que não é por aí que se aumenta a competitividade económica do país, mas sempre crescem os lucros. Por sua vez os que vêem os seus lucros aumentados dedicam-se à caridadezinha. Como conta o Nuno Ramos de Almeida

No grupo Jerónimo Martins detectou-se um número elevado de roubos de funcionários nos supermercados. Perceberam que essa gente o faz porque tem fome e resolveram fazer um plano social para ajudar na alimentação de 1100 trabalhadores. Fantástico! Posso dizer uma coisa? Porque raio não lhes pagam salários decentes? Se o fizessem, essas pessoas não precisavam de roubar.

A pergunta faz sentido. Mas o sentido desta gente é outro: aproveitemos a crise, os pobrezinhos que se lixem, e deixem-nos brincar à caridadezinha. Um verdadeiro dois em um: é que assim os ricos garantem um lugar no céu. Ámen.