David Justino é simpatiquíssimo

David Justino diz que Marques Mendes às vezes também faz papel de idiota

O orçamento do Estado e a “circulatura” do quadrado: As 50 sombras que David Justino não tem

Por Santana Castilho

  1. Para titular este artigo apropriei-me de um neologismo feliz que Bagão Félix criou, porque exprime bem o processo técnico (não teria sido melhor que António Costa o assumisse como político?) que nos trouxe ao orçamento de 2016.

O plano macroeconómico do PS não contemplava o aumento de impostos. O aumento previsto era o dos rendimentos líquidos dos portugueses, designadamente por via da redução da TSU. Podíamos questionar a viabilidade de êxito da proposta, mas não podíamos deixar de lhe reconhecer coerência. Porém, essa coerência esfumou-se entre os acordos com a esquerda parlamentar e as negociações com Bruxelas, dando lugar a um caminho de fraco norte e forte risco.

Os benefícios deste orçamento resumem-se à função pública e à restauração e são parcos para virar a página da austeridade, quando o aumento líquido da receita fiscal e contributiva ultrapassa os 2.600 milhões de euros. Este é um orçamento simplesmente menos servil, com execução no fio da navalha e sem dinheiro, como serão todos, não importa de que governo, enquanto não for reduzido o peso e o custo da dívida. Porque a “circulatura” do quadrado só se consegue no domínio da mistificação política.

Todavia, devemos reconhecê-lo, António Costa venceu o dramatismo ridículo de certa comunicação social, o discurso caceteiro da direita, o teatro majestaticamente rasteiro da Comissão Europeia e conseguiu valorizar o Estado e os seus servidores e promover alguma justiça social, de que o fim das benesses fiscais aos fundos imobiliários em sede de IMI e a extensão da tarifa social da energia são os melhores exemplos.

Se lhe concedo, portanto, um sinal débil de virar de página, quando chegamos à Educação a página vira para trás e a desilusão tem, para quem se iludiu, o exacto tamanho da ilusão. [Read more…]

Cavaco nacional da educação

PORTUGAL FEIRAS NOVAS PONTE DE LIMA

Que a um outro Conselho Nacional da Educação, com uma maioria mais para os lados do PS/BE e parte do PC, representando a esquerda eduquesa, que acredita nas ditas ciências da educação como se aquilo fosse uma ciência, troca o aprender com o saber fazer umas cenas giras e confunde ensino com arbitragens à benfica, lhe desse para propor o fim da avaliação, não estranhava.

Já este CNE, com tanta direita tradicionalista, à antiga, e a mesma ignorância académica quanto ao ensino, mesmo invocando o pilim que se pouparia com a medida, se tenha virado para esse lado, não entranhei e muito me admirei.

Demorei um bocado até entender a tolice, mas a lógica é simples: David Justino, que preside à CNE, é muito próximo da Cavaco Silva. Cavaco Silva, como é sabido, reprovou no que hoje seria ensino básico. Cavaco tem um trauma, e antes de perder o que lhe resta de influência, deve ter metido uma cunha ao amigo para que não mais uma criancinha portuguesa passe pelo horror do chumbo, a vergonha da raposa, a humilhação de uma nega. Está tudo explicado.

Claro que podia fazer umas contas e demonstrar como acabar com as retenções sendo possível e ideal ficava muito mais caro (turmas reduzidas, professores de apoio, psicólogos, CPCJotas a funcionar, etc. etc.), mas as dificuldades com os números também são um traço do cavaquismo.

De boas intenções está o CNE cheio

De acordo com a notícia do Público, o Conselho Nacional de Educação defende o fim das retenções, argumentando que os alunos sujeitos a essa medida têm mais dificuldades em recuperar e que, para cúmulo, é uma medida dispendiosa para o Estado. Para além disso, o CNE faz referência a uma alegada “cultura de retenção”, reduzindo, no fundo e de modo simplista, as causas do problema, como é costume, aos maus hábitos dos professores.

Já começa a ser cansativo repetir que as causas do insucesso escolar são várias e que muitas delas têm origem no exterior das escolas. É igualmente cansativo relembrar que as escolas, apesar do folclore da autonomia, têm falta de recursos humanos, docentes e não docentes, o que dificulta a detecção e resolução de muitos problemas. Relembre-se, ainda, e muito a propósito, que a municipalização da educação em curso corresponde a uma diminuição da autonomia das escolas.

Tirando isso, há recomendações que me parecem razoáveis, mesmo que estejam muito longe de ser originais, nomeadamente as que se referem à necessidade de detectar o mais cedo possível os problemas que poderão dificultar aprendizagens e à realização de exames apenas no final do ano lectivo (ao contrário do que acontece para os 4º e 6º anos). De qualquer modo, e voltando a meter o rabo na boca da pescada, a primeira recomendação implica autonomia das escolas e, muito provavelmente, contratação de recursos humanos.

Há quem nos diga que os porcos voarão

Santana Castilho *

1. Quando, em dois de Janeiro passado, antecipei nesta coluna o descambar da situação do país, logo no fim do primeiro trimestre da execução do orçamento de 2013, não fui original. Tão-só acompanhava a voz dos que não acreditavam que algum dia os porcos voassem. Aumentou o desemprego. Cresceu o défice e a dívida. Galoparam a recessão e o sofrimento dos portugueses. E, enquanto a realidade evidencia que nenhum problema foi resolvido e todos se agravaram, há quem diga, de cara dura, que é uma questão de tempo, que sim, que os porcos voarão.

2. Crato regressou da sua viagem à volta da Terra, em 14 dias, depois de a troika ter aviado a sétima avaliação. Fez bem. Assim, a troika decidiu por ele, sem lhe perguntar se concordava com a chuva. Nada do que se passa, aliás, depreende-se das declarações do ministro à chegada, tem a ver com ele, porque, disse, “… o mundo está a mudar muito depressa …”, “… a situação política é volátil …” e, além disso, “… não há nenhum ministro que decida tudo por si…”. Querem razão mais científica e tempo mais propício para um saltinho à China, Chile e Brasil?

3. E que se passa, afinal? [Read more…]

Abandono escolar: uns desistem, outros aldrabam

escolaDavid Justino descobriu que os jovens prolongam a escolarização quando o desemprego aumenta, o que parece ser inquestionável, face aos números apresentados. Logicamente, quando havia mais emprego e a escolaridade obrigatória terminava no ensino básico, havia mais jovens a abandonar a escola, sendo que, na opinião de David Justino, se tratava “de um abandono sem que os jovens adquirissem as competências mínimas para uma inserção qualificada no mercado de trabalho.”

Se estas conclusões de David Justino fazem sentido, em grande parte, é necessário ver, por outro lado, que o mercado de trabalho não costuma estar disposto a absorver qualificações de que não necessita, o que quer dizer que as baixas habilitações literárias de muitos dos estudantes que abandonaram a escola foram consideradas suficientes para quem lhes quis dar emprego.

Na actual conjuntura, por várias razões, incluindo as aduzidas por David Justino, os jovens tenderão a prolongar a sua escolarização e a retardar a busca de emprego. Qual assaltante emboscado, o antigo ministro da Educação diz que é tempo de saltar ao caminho dessa juventude: “faça-se um esforço por proporcionar uma escolarização qualificante, mantendo a aposta no ensino vocacional, independentemente do modelo mais ou menos alemão ou mais ou menos compulsivo, apesar das carpideiras …” [Read more…]

Difícil é educá-los

POr SANTANA CASTILHO

A epígrafe é título de livro. Simples, como o são todas as coisas importantes. O livro que David Justino escreveu não será suficiente para catalisar um debate e um compromisso social sem os quais continuaremos a estragá-los. Mas é mais um passo nesse percurso meritório a que a Fundação Francisco Manuel dos Santos se entregou. O livro é um contributo sério para que algum dia comecemos a educá-los. Recomendo a sua leitura a todos os que se interessam por eles. Eles são os nossos estudantes.
A amizade que me liga a David Justino foi construída, era ele ministro da Educação, sobre discussões longas e francas que tivemos a propósito das medidas de política que ia lançando. Muitas vezes fiquei perplexo, e assim lho dizia com frontal franqueza, face à dissonância que encontrava entre o pensamento dele e as medidas que acabavam por ganhar forma. A resposta era invariavelmente a mesma: os constrangimentos de contexto político e os estranhos equilíbrios, que nunca entendi, de que o ministro não podia dispensar o professor. Que pena tenho que David Justino, ministro, não tenha feito aquilo que David Justino, professor, hoje defende no seu livro. Estaríamos, sem qualquer dúvida, a educá-los melhor.
Na apresentação do livro, David Justino afirma haver uma pergunta decisiva por responder em Portugal: o que queremos do sistema educativo? [Read more…]