Programas de Português nos Cursos Profissionais: o que é um ano lectivo?

Para se ser Ministro da Educação, em Portugal, é fundamental não se saber o que é exactamente um ano lectivo. Não faz sentido, mas é normal.

O final do desastroso mandato de Nuno Crato ficou marcado por uma boa notícia: a reposição da Literatura e da História da Literatura nos programas de Português do Ensino Secundário. Talvez estranhamente, alguns não rejubilaram, em nome de um estranho conceito do interesse dos alunos.

Esta alteração curricular deveria ter tido efeitos imediatos nos programas do Ensino Profissional, cujos alunos poderão vir a ser sujeitos ao mesmo exame de Português no 12º ano. Nada disso foi acautelado, o que, mais uma vez, não faz sentido, embora seja normal.

Os novos programas entraram em vigor no ano lectivo de 2015-2016, no Ensino Secundário. No que respeita aos cursos profissionais, os professores continuaram a leccionar o programa que continuava em vigor, devidamente desfasado do do ensino regular.

Este ano, depois de os professores terem começado a planear o ano lectivo, chegaram instruções, no dia 9 de Setembro (exactamente: 9 de Setembro), para que os alunos do primeiro ano dos cursos profissionais (10º ano, portanto) passassem a aprender, finalmente, os mesmos conteúdos do programa de Secundário. [Read more…]

Teatro no Porto: bom e barato

No final dos três anos de qualquer curso profissional, os alunos têm de participar numa Prova de Aptidão Profissional (PAP), o que lhes permitirá obter uma certificação profissional, para além do diploma de 12º ano.

Na Academia Contemporânea do Espectáculo, a PAP integra, frequentemente, a representação de peças, em que intervêm alunos dos três cursos: Cenografia, Luz e Som e Interpretação. O facto de estas provas estarem abertas ao público constitui uma possibilidade de ver o trabalho de um conjunto de jovens talentosos que estarão no futuro das artes do espectáculo em Portugal. É uma ocasião para assistir a espectáculos de grande qualidade pagando pouco.

Este ano, estarão em cena os espectáculos If…GípolisO Maldoror Está Vivo.

Não sigam o cherne. Sigam os cartazes. [Read more…]

Abandono escolar: uns desistem, outros aldrabam

escolaDavid Justino descobriu que os jovens prolongam a escolarização quando o desemprego aumenta, o que parece ser inquestionável, face aos números apresentados. Logicamente, quando havia mais emprego e a escolaridade obrigatória terminava no ensino básico, havia mais jovens a abandonar a escola, sendo que, na opinião de David Justino, se tratava “de um abandono sem que os jovens adquirissem as competências mínimas para uma inserção qualificada no mercado de trabalho.”

Se estas conclusões de David Justino fazem sentido, em grande parte, é necessário ver, por outro lado, que o mercado de trabalho não costuma estar disposto a absorver qualificações de que não necessita, o que quer dizer que as baixas habilitações literárias de muitos dos estudantes que abandonaram a escola foram consideradas suficientes para quem lhes quis dar emprego.

Na actual conjuntura, por várias razões, incluindo as aduzidas por David Justino, os jovens tenderão a prolongar a sua escolarização e a retardar a busca de emprego. Qual assaltante emboscado, o antigo ministro da Educação diz que é tempo de saltar ao caminho dessa juventude: “faça-se um esforço por proporcionar uma escolarização qualificante, mantendo a aposta no ensino vocacional, independentemente do modelo mais ou menos alemão ou mais ou menos compulsivo, apesar das carpideiras …” [Read more…]

Nuno Crato, o marialva bissexto

Um dia, deu-me para escrever sobre o político marialva, essa espécie que, aparentemente, é frontal e corajosa, sendo que essa aparência não passa de um verniz que engana jornalistas incompetentes e portuguesinhos preguiçosos.

Nuno Crato integrou muito bem esse rebanho e o recente projecto de passar o ensino profissional para os institutos politécnicos é mais um sintoma de uma integração perfeita. Vejamos.

Há pouco tempo, Nuno Crato explicou, com aparente frontalidade, que havia menos alunos e que, portanto, não havia lugar para tantos professores nas escolas básicas e secundárias. Dito de outra maneira: se as escolas não conseguem angariar mais clientes, têm de despedir trabalhadores.

De repente, descobre-se que os institutos politécnicos estão em dificuldades, havendo, igualmente, falta de alunos. O ministro marialva do parágrafo anterior teria uma solução muito simples: despedir professores. Estranhamente, Nuno Crato inventa uma solução absurda, baseada em argumentos absurdos, mantendo uma sobranceria marialva face a ensino não superior, que, de acordo com esta medida, será, mais uma vez, sacrificado.

O marialvismo, no entanto, não passa de um verniz que estala de modo evidente: quem se mostra tão servil diante do superior é, afinal, um fraco, tal como quem precisa de mentir para justificar o despedimento de milhares de professores.

Os institutos politécnicos poderão passar a leccionar cursos profissionais

O ensino politécnico, em Portugal, é um subsistema do ensino superior. Nos últimos anos, o número de alunos tem diminuído, o que constitui um problema cujas causas não serão difíceis de adivinhar, num país em crise.

Graças, muito provavelmente, a jogos de bastidores, que devem ter incluído queixas pungentes, Nuno Crato propõe que os institutos politécnicos passem a leccionar os cursos profissionais do ensino secundário, como uma das formas para resolver problemas de financiamento desses mesmos institutos. Segundo o ministro, essas instituições seriam necessárias ao país, ao contrário, depreende-se, dos milhares de professores que ficaram sem emprego, graças às muitas medidas tomadas pelo agora cavaleiro-defensor dos politécnicos.

Com a mesma mistura de leviandade e de desonestidade, Nuno Crato diz que os politécnicos “têm professores, instalações e conhecimentos que muitas escolas secundárias não têm”. É claro que não sabemos em que se baseia para fazer tais afirmações, mas a verdade é que isso não faz parte das suas preocupações.

Esta medida não visa melhorar o ensino profissional, como é evidente. Para além de colocar professores do ensino superior a dar aulas ao secundário, tarefas que exigem habilitações e competências diferentes, Nuno Crato irá contribuir para aumentar ainda mais o desemprego entre os professores do ensino básico e secundário, gente, pelos vistos, sem conhecimentos.

O adjectivo “vergonhoso” para qualificar o consulado deste ministro já é eufemismo.

O ensino profissional como desistência e retrocesso

Penso que ninguém põe em causa as virtudes do ensino profissional, desde que encarado, sobretudo, como uma escolha consciente dos alunos e não como um reduto para quem tenha revelado dificuldades de aprendizagem.

Ana Maria Bettencourt, presidente do Conselho Nacional de Educação, e Luís Capucha, antigo director das Associação Nacional para a Qualificação (responsável pelas Novas Oportunidades) criticaram o recentemente encantamento de Nuno Crato com o sistema dual alemão, tendo em conta que obriga dos alunos a escolher um percurso profissionalizante numa fase precoce da vida. Para além disso, como lembra bem Luís Capucha, Portugal “não tem um tecido empresarial suficientemente forte e consolidado para assumir a formação profissional”. [Read more…]

Nuno Crato prepara mais despedimentos de professores

O interesse que os responsáveis governativos mostram pelo ensino profissional releva de uma visão distorcida da Educação. Antes de mais, o ensino profissional é visto como uma alternativa para os alunos que revelam dificuldades. Assim, por um lado, desvaloriza-se o ensino profissional como verdadeira escolha e, por outro, o Estado demite-se de acompanhar os alunos com dificuldades, o que implicaria, é claro, verdadeiro investimento na Educação.

É, também, nesse contexto, que se insere a ida de Nuno Crato à Alemanha para conhecer o sistema dual, que, aliás, já tem ramificações em Portugal. Para além disso, no entanto, desconfio de que esse sistema contém verdadeiras potencialidades no âmbito da actividade preferida do Ministério da Educação: despedir professores. Efectivamente, o facto de uma boa parte da formação ser feita em empresas, em contexto de trabalho, poderá constituir uma oportunidade para afastar mais técnicos e professores das escolas, ao mesmo tempo que poderá ser um modo de, através de uma variante das parcerias público-privadas, colocar mais alguns dinheiros públicos nas mãos dos privados.

Pode ser que me engane. Pode ser que nos enganem.

Teatro em Cedofeita e na Praça Carlos Alberto

À praça! À praça! decorrerá no dia 5 de Outubro, a partir das 19h. Começa na Rua de Cedofeita e continua na Praça Carlos Alberto.

Ensino vocacional: pôr portaria na ventoinha

O ministério da Educação criou o projecto-piloto do agora chamado ensino vocacional. Como poderão ler no portal do governo ou na portaria, se tiverem paciência, o projecto é dirigido, segundo parece, a alunos que “queiram optar por uma vertente de ensino mais prática.” Para isso, os referidos alunos – que já queriam optar pela referida vertente de ensino – serão sujeitos a “um processo de avaliação vocacional que demonstre ser nesse momento a via mais adequada às necessidades de formação dos alunos.” Faz-me um bocado de confusão que os alunos queiram optar por uma via e que, para poderem optar por essa via, tenham de ser sujeitos a um processo que poderá permitir-lhes enveredar pela via que… tinham escolhido. [Read more…]

Quem consegue dormir direito ou esquerdo?

É o desemprego em massa dos professores,

é a TSU,

são os salários que estão mais magros a cada ano que passa,

foi o investimento em formação académica (licenciatura e mestrado e livro publicado) que não teve nem tem contrapartidas financeiras (só a realização pessoal) –  o ministro não foi Gago ao exortar os portugueses a voltarem à escola e a conquistarem o canudo e o título de  «doutor»,

são agora as dezenas de vozes a apregoar pelo ensino profissional (o outro, o Paulo Rangel, que escreveu esta semana «Pelo direito fundamental a não ser dr.»),

é o outro, quase gago, que nos pede mais sacrifícios,

é a outra, também sabida em Finanças, a Ferreira Leite, que até é do mesmo partido do PM, a avisar o governo que se não «arrepia caminho» este país fica destroçado,

somos nós que não dormimos a pensar onde podemos cortar ainda mais nas despesas,

que ganhamos menos que há 4 anos, por exemplo,

nós que até somos sortudos em ter trabalho, mas não sabemos até quando,

é o outro, um José, que desesperado já aos 28 anos, se resignou, baixou a cabeça e aguarda de braços cruzados que lhe arranjem emprego,

são os outros, «vão p´ro diabo», que se lembraram de mandar erguer uma Cidade do Futebol,

é o mimado do CR que chora, choras porquê, “menino da lágrima”? – olha à tua volta!

é o futuro dos nossos meninos, dos nossos filhos, que nos preocupa…

A eles não queremos que falte o necessário.

 

O pior do Crato

Sinto-me sinceramente honrado por ver que tenho o mesmo gosto para títulos que o grande João Quadros, que faz uma crítica certeira  ao sinistro Crato.

O ensino profissional é um logro

Santana Castilho *

É recorrente considerar que a falta de preparação profissional responde por boa parte da falta de competitividade da economia portuguesa, embora seja astronómica a dimensão do dinheiro consumido por programas de formação, em 38 anos de democracia. Compreende-se o paradoxo quando se analisam os critérios (ou a sua ausência) que têm presidido às respectivas decisões políticas. Nuno Crato acaba de persistir na via da leviandade. Não é ele que conhece as necessidades de formação dos activos das empresas. São os próprios e as suas empresas. Não é ele que deve decidir sobre o futuro dos jovens. São os próprios e os seus pais. Mas proclamando irrelevâncias e desconhecendo realidades, acaba de desviar 600 milhões de euros, reservados à formação de activos, para financiar o sistema formal de ensino e serenar os reitores (para as universidades e uma tal “formação avançada” irão 200 milhões). A isso e a um esboço de resposta atabalhoada ao prolongamento da escolaridade obrigatória se resume o que acabou de fazer, em nome do mal tratado ensino profissional. [Read more…]