Já estamos outra vez no 1.º de Abril?
Dia das Mentiras – a homenagem a Pedro Passos Coelho
Cinco dias após o 1º de Abril, este recuerdo chega tarde mas a boas horas, porque nem todos os embustes são tão inofensivos como aqueles com os quais brincamos no Dia das Mentiras. Alguns chegam e sobram para se ser eleito primeiro-ministro e submeter milhões a um bafiento radicalismo que muitos julgavam extinto.
Video: Luís Vargas@Geringonça
Dia 1 de Abril não é especial para José Sócrates
Fonte do gabinete do ainda Primeiro-Ministro confidenciou ao Aventar que o dia 1 de Abril é um dia igual aos outros para José Sócrates: “Os outros dias todos são exactamente iguais a este: o senhor Primeiro-Ministro faz sempre o mesmo. Ele até costuma dizer, com muita graça, que primeiro de Abril é quando um gajo quiser.” A mesma fonte lembra que não foi preciso esperar por este dia para ouvir José Sócrates dizer que não iria haver aumento de impostos ou que cada PEC seria sempre o último. “O senhor engenheiro até pode ter muitos defeitos, mas ninguém o pode acusar de incoerência.” declarou a mesma fonte.
1 de Abril, Dia das Verdades
Vai, vai, vai, disse o pássaro: o género humano
Não pode suportar tanta realidade.
T.S. Eliot
Não sejamos ingénuos, a manipulação e a desinformação existiram sempre, em todas as épocas, regimes e círculos de poder. Mas a mentira, descarada e desmascarada, nem sempre passou com tanta indiferença como agora. A questão não está, apenas, num governo, por exemplo um governo, mentir. Está, isso sim, em saltar a mentira à vista de todos e passar impune. Está em ser recorrente, passar com normalidade e ser encarada com naturalidade. Está em ser aceite como uma das regras do jogo, como uma malandrice necessária para que o jogo funcione e avance.
A banalização da mentira tornou-a isso mesmo: banal, habitual, quotidiana. O dia 1 de Abril, como dia das mentiras, perdeu impacto e aquele arzinho transgressor que carregava. Hoje, ninguém compra um jornal para decifrar a mentira que lá vem disfarçada de verdade. No entanto, estou em crer que o contrário funcionaria. Eu, por exemplo, compraria um jornal para descobrir qual a verdade perdida nas suas páginas, disfarçada de mentira.
Por isso proponho que o dia 1 de Abril passe a ser o dia das verdades. Seria apenas um dia por ano e isso, acho, poderíamos suportar.
Como Se Fora Um Conto – A Srª D. Anésia, O Sr. Dr. Antunes e o Primeiro de Abril
Convivi com eles muitos anos, perto de vinte, para mais que não para menos. Viviam no primeiro andar do meu prédio. Foi para esse andar que, nos idos de 78, eu fui viver, separando-me da casa de meus pais.
Ela, muito católica, oriunda do norte Valenciano, de lábios finos e nariz adunco, ele, economista, ex-funcionário da alfândega, coleccionador de selos. Ambos de uma bondade extrema, de uma educação esmeradíssima, de idade avançada, silenciosos, reformados, amigos.
Sem filhos, mas com uma sobrinha que a cada passo aparecia e que era a luz dos olhos deles, não lhes conheci amigos ou outros familiares. Viviam sós, um para o outro, a maior parte do tempo na sala virada ao sol, de onde viam o arvoredo do Consulado e o quintal que numa parte também lhes pertencia.
Davam-se muito bem connosco, em especial com a minha mãe, por quem tinham uma consideração especial.
O Sr. Dr. Antunes, era um velhinho muito culto, a quem eu achava muita graça ouvir falar. Utilizava com frequência termos que já nessa altura pareciam fora de moda. Com frequência o ouvia tratar as pessoas por excelência e pedir coisas por obséquio. Tinha uma voz agradável, um tanto ou quanto cantarolada e em momentos, aguda. A sua forma de falar lembrava-me a do Presidente do Conselho de Ministros da altura. [Read more…]
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