Oh Firmino Marques, e vergonha na cara?

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É ano de eleições autárquicas e Firmino Marques, o vice-presidente da CM Braga, não resiste – aliás, insiste – em fazer-se fotografar junto de um grupo de “crianças e jovens sinalizados na Comissão de Crianças e Jovens em risco de Braga (CPCJ) e instituições de acolhimento do Concelho de Braga, nomeadamente das Oficinas de S. José, Instituto Monsenhor Airosa e Colégio de S. Caetano“.

Ora, Firmino Marques, a expressão “crianças sinalizadas” não o faz pensar que, se calhar, não pode valer tudo?
A estupidez não é nem crime nem pecado: arranje lá outra desculpa e retracte-se!

Tirem dali as criancinhas

Não é que seja novidade, miúdos que prometem ir a Fátima se passarem de ano é estupidamente mais vulgar do que se pode imaginar, mas esta imagem passa os limites; não é uma longa e extenuante caminhada a pé, é uma violência física exercida sobre um corpo em crescimento. A fotografia provêm do Público online, e pergunta-se onde pára a Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco e o próprio Ministério Público.

Que 100 anos atrás, ali mesmo, em Fátima, uma criança chamada Lúcia Santos tenha sido sequestrada para o resto da vida, compreende-se à luz da mentalidade da época. Que isto hoje suceda, não.

KONY 2012, o vídeo que anda a correr o mundo

Com milhões de visitas em poucos dias, tem feito mais pela visibilidade das “crianças invisíveis” no Uganda do que muitos discursos, eventos, campanhas internacionais, etc. Para ver, lembrar e agir, mesmo considerando as polémicas (que são muitas, como lembra, num comentário a este post, a M. João Nogueira).

a cultura e a sua lógica

 

Mozart Serenatta Noturna k.239 Marcia (1-3)

               Muda o governo,mudam os hábiotos, mud a a educação. Vejaos como                A questão está em entender o amor, já definido ao começo, e ver as bases religiosas que desenvolvem a psicanálise, como prometi referir. Toda criança procura que o seu pai seja quem comande, não perca a omnipotência. O totem faz parte dessa autoridade. Aí é bem tempo de definir o conceito de omnipotência e de totem, e o melhor, mais uma vez, é o estudante de Wundt, Freud, que diz baseado no seu professor: “In the first place, the totem is the common ancestor of the clan; at the same time it is their guardian spirit and helper, which sends them oracles and, if dangerous to others, recognises and spares its own children”[1]. Mas, um totem é também a forma de organizar as relações individuais das pessoas, definir o conceito polinésio de proibição ou tapu ou tabu, pelo que Wundt, Frazer, Durkheim e Freud, salientam uma segunda parte: “It is as a rule an animal (whether edible and harmless or dangerous and feared) and more rarely a plant or a natural phenomenon (such as rain or water), which stands in a peculiar relation to the whole clan”.[2]No entanto, Freud salienta, no [Read more…]

O direito a não levar com uma religião na cara

 

A decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem de considerar que  "a exibição obrigatória do símbolo de uma determinada confissão em instalações utilizadas pelas autoridades públicas e, especialmente em aulas”, restringe os direitos paternos de educarem os seus filhos “em conformidade com as suas convicções”. Adiantou que a exposição do símbolo cristão também limita “o direito das crianças a crerem ou não” representa um franco progresso em matéria de liberdade religiosa.

O que está em causa é o direito a não levar com a simbologia de uma crença nas salas de aulas, sujeitando crianças educadas noutra religião, ou muito simplesmente em religião nenhuma (direito que deviam ter, já que a fé dos pais não pode ser imposta como se fosse hereditária). 

É tempo que todos entendam que a religião é uma questão de fé, individual, terminando o direito de a propagandear onde começa o direito dos outros a sentirem-se ofendidos com essa propaganda. Idealmente devia ser como nas nossas caixas de correio: religião não solicitada, não entra.

No caso do cristianismo a utilização de imagens da execução pública do seu fundador é no mínimo de mau gosto, e nem me parece incentivar uma prática pedagógica de combate à pena de morte.

É certo que há representações artísticas de inegável valor. Esta de Dali nem é das minhas favoritas, mas desconfio que se tivesse sido adoptada por alguma escola seriam os próprios devotos os primeiros a protestar.

 

 

 

A Geometria da Vida

TEXTO DE ISABEL SATURNINO

 

Quando me interrogo sobre as “não decisões” que alguns tomam em nome dos “direitos” de outros, questiono-me sobre o que é na verdade um direito? E por paralelismo um “dever”.

Quando me falam no país onde vivo como o país dos normativos avançados, questiono-me se as pessoas que os operacionalizam, acompanharam as mentes criativas ( que admiro!) que os criaram.

Que percursos “divergentes”se desenharam entre as leis que criaram e os destinatários que as carregam?

Já que Agora, neste Presente que continua a ser Passado e parece querer contaminar o Futuro há crianças que vêem o seu futuro comprometido por decisões de homens que querendo ser Deuses, se afastam do seu destino de Homens Justos, que sendo homens como os outros são frágeis, influenciáveis, fruto de uma educação de um modelo, que não pode ser “ O Melhor” porque “O Melhor” não existe, o que existe é “O Possível”. 

 

Assim, se nos fosse possível partirmos destes princípios, ou melhor destas interrogações poderíamos fazer convergir os caminhos e então diríamos….

Tudo correu bem, os homens e as leis entrelaçaram-se e foram felizes para sempre …. “E acabou a história da D. Vitória”

Aonde ficou a geometria da vida? Não ficou esquecida! Servi a entrada.

Aprendi a crescer entre triângulos e círculos. As casas, aprendi a desenha-las com um tecto. O tecto é o abrigo. As rodas rolam, caminham, imprimem um dinamismo.

As rodas enquadram-se na mesma realidade A Criança, a Família, a Rede de suporte familiar e institucional, a Cultura, a Educação, o Emprego.

Círculos contidos em círculos cada vez mais abrangentes, com um pequeno ser no meio, a nascer, a crescer. Chegou à creche, deixou a chucha, largou a sesta; foi para a escola, caiu-lhe o dente; foi para o liceu, cresceu a espinha, picou a barba, foi para outra escola ou para o trabalho, tornou-se adulto, se teve meios tirou a carta comprou o carro.

Quem esteve lá, quem o acompanhou, quem lhe deu carinho, o consolou, alimentou, o levou à escola, lhe ralhou e castigou? Quem lhe restituiu a esperança quando sofreu a primeira decepção?

Retomando o Triângulo. No vértice está uma criança, o ponto de equilíbrio é frágil! Tem um pezinho no bico, para que lado irá cair, quem a irá empurrar?

Em baixo estão duas famílias, num lado a família biológica, aquela mãe estrangeira, desenraizada do seu país, que tendo consciência da sua fragilidade, das descontinuidades possíveis no trato, decide caminhar até ao outro vértice e pedir ajuda a uma outra família.

Neste vértice, um núcleo de diversas pessoas acolhe-a, mima-a, ajuda-a a crescer.

Estas pessoas serão uma família comum portuguesa, provavelmente não tão distante da família que deu origem á mãe da menina. Provavelmente não foi o acaso que as aproximou!

Foram estes que lhe garantiram estabilidade, amor, cuidados

Um dia a mãe biológica partiu e a menina ficou. Um dia a mãe biológica quis levar a menina. Quem decidiu, segundo que parâmetros, quem ouviu as figuras para ela significativas. Não falo só da família de afecto, mas dos outros, dos filho do casal, da família alargada, dos outros que estão na escola, na vizinhança, no Centro de Saúde, numa teia alargada da rede que a sustentava.

Sei que havia outras questões a ponderar, sei que o futuro poderia não ser seguro, poderia ser também frágil, mas cabia “a quem de direito” equacionar essas probabilidades.

Agora pelo menos tenho uma certeza, o seu Presente é frágil, a sua construção é feita de hiatos, como será no futuro?

Acabo como comecei continuo cheia de dúvidas. Sinto-me naquele patamar a que alguns chamam “ dos indecisos”, e que eu prefiro apelidar “dos inquietos”

* Isabel Saturnino é assistente social.