Vitórias no papel

Em Março do ano passado, Trump anunciou que ia entrar em diversas guerras comerciais. E que estas eram boas e fáceis de ganhar.

“When a country (USA) is losing many billions of dollars on trade with virtually every country it does business with, trade wars are good, and easy to win,” Trump tweeted Friday morning. “When we are down $100 billion with a certain country and they get cute, don’t trade anymore – we win big. It’s easy!” [CNBC]

Não fugindo à norma, estas declarações não tinham fundamento e apenas reflectiram o lado narcisista de Trump.

Comparativamente com Agosto do ano passado, segundo o Expresso, o balanço é o seguinte:

  • As importações de produtos norte-americanos pela China caíram 22%;
  • As exportações da China para os Estados Unidos registaram uma quebra de 16%.

Olhando só para estes números, vê-se que Trump não está a ganhar guerra alguma. Nem tal será fácil. Surpresa. O cowboy americano ainda não descobriu os conceitos de win-win e de cá se fazem, cá se pagam.

Mas pode sempre pegar no seu marcador preto com que alterou a rota do furacão Dorian e rabiscar qualquer coisa que lhe amacie o ego.

Ou pode abrir mais excepções, como o adiamento das novas taxas a aplicar aos produtos chineses, essas que, segundo Trump, não afectam a economia americana – apenas para que, afinal, não afectem as compras de Natal, digo, o espírito natalício.

Houve um tempo em que se podia ter controlado a China, quando a indústria se estava a mover em massa do ocidente para o oriente, em busca de salários quase nulos e de ausência de respeito ambiental e laboral. Esse tempo há muito que passou. E não serão taxas sobre importações que irão limitar o gigante amarelo nesta economia interdependente.

A China e a picada de escorpião

Vejam só as voltas que o mundo dá. Essa China que nos anos 90 levou à destruição da nossa indústria têxtil, graças à ganância dos que, sistematicamente, deixaram ultrapassar o limite das já de si muito elevadas quotas de importações de têxteis, é a mesma China que agora quer impor uma taxa às importações de vinho europeu. Fica a curta quota portuguesa no mercado de vinho na China ainda mais curta. É o efeito do escorpião que pica o mercado que o alimentou.

Nota: o segundo link do post, sobre o panorama víniculo em Macau merece uma  leitura atenta

Apesar de tudo agora podemos começar a pagar as nossas dívidas

Este ano, para além do ano da contestação (ou resignação se acreditarmos no feeling do Sr. Gaspar), pode ser também o primeiro ano em que colectivamente, como país, começamos a pagar as nossas dívidas ao exterior.
De forma muito simplista isso só será possível quando começarmos a vender mais do que compramos e é isso que parece estar a começar a acontecer.

O gráfico abaixo publicado pelo Banco de Portugal mostra-nos já com um saldo 0 ao nível do ano e com uma tendencia aparentemente positiva.

É verdade que o pico costuma ocorrer por esta altura mas se mantivermos o mesmo padrão anual já teremos um resultado global incomparavelmente melhor do que a habitual taxa de cobertura de 80% dos tempos da pre-troika.

Regozijemos portanto.

Ai as minhas ricas exportações…

Cartoon de Santy GutiérrezLa Opinión de A Coruña

O sábio aponta a Lua, o idiota olha o dedo!

A dívida do Estado de que Sócrates nunca fala, é um dos factores que mais entorpece o desenvolvimento da economia. Desde logo porque uma parte significativa da riqueza criada vai para fora à conta dos juros; depois porque as taxas praticadas são cada vez maiores e os empréstimos são obtidos em condições muito desvantajosas; e os investimentos em que esses empréstimos são aplicados, muito raramente têm o retorno que possibilite o pagamento atempado.

Claro que nada disto interessa se o objectivo for fazer betão para alimentar a máquina das construtoras e dos bancos. As parcerias Público/Privadas são contratos onde o Estado reserva para si todos os riscos, com compromissos leoninos que admitem toda a sorte de negociações, rearranjos e golpes com vista a favorecer as empresas do regime.

Quando todos os economistas que não precisam do Estado para viver, indicam o precípicio para onde o país caminha, Sócrates vem-nos dizer que as gerações futuras não nos perdoariam se não fizéssemos hoje, as obras. Não diz que as gerações futuras nem sequer cá estão para saberem que vão pagar com o que não têm. Uma economia que gere riqueza! E sem riqueza vão pagar com o desemprego, com o nível de vida, com o atraso do país, como está aí à vista de todos, após décadas de investimentos públicos!

Porque pedir emprestado dinheiro lá fora e depois dar à manivela das betoneiras, todos fazem, é simples e fácil, dificil, seria pôr o tecido empresarial a produzir bens e serviços transaccionáveis que se exportam, que substituem importações. Isso é que teria mérito!