Crónica de uma decisão anunciada

PÚBLICO, 16 de Julho de 2022

Lendo este artigo percebe-se que há um forte lobbying para se fazer o aeroporto no Montijo, apesar de ser uma escolha pior – a pior – e que não resolve os problemas, segundo o que afirma Carlos Matias Ramos.

A quem interessa esta má solução? Para além da Vinci, claro. Ao País não será. E porque é que o ministro sem coluna vertebral se lançou nesta cruzada?

Estaremos daqui a dez anos no habitual rol de processos judiciais com o Ministério Público a investigar porque é que alguém – pessoas com nome, como o ministro gelatina – escolheu determinada opção? Obviamente que sim, porque é que haveria de ser diferente desta vez?

Outra coisa fantástica neste país é andar-se 50 anos em estudos para a frente e para trás (belo negócio para os estudiosos) para depois a decisão ser tomada por uma pessoa – uma!, passando por cima da extensa documentação produzida ao longo de décadas.

A solução do ministro tem, porém, um grande mérito. Para quê construir um aeroporto quando se podem construir dois? Só me espanta que, no país da Santíssima Trindade, ainda não tenha aparecido uma alma a defender a solução Ota + Alcochete + Montijo.

Ainda o Montijo

Num artigo que tresanda a spin para justificar a opção do governo, fica logo claro porque é que Montijo foi escolhido.

Mesmo descontando perdas motivadas pelos anos a mais que demorará a obra, o custo extra de uma infraestrutura construída de raiz, no caso, em Alcochete, ascende a 6 mil milhões de euros. É o quíntuplo do valor que a ANA Aeroportos se comprometeu a investir até 2028 na reconversão da infraestrutura do Montijo e melhoramento e expansão da Portela. O custo de Alcochete ascenderia a 7,6 mil milhões – cujo custo iria necessariamente recair, ao menos em parte, sobre os contribuintes -, em vez dos 1,5 mil milhões no Montijo, assegurado pela ANA e financiado pelas taxas aeroportuárias. [DN]

“que a ANA Aeroportos se comprometeu a investir até 2028”

Esta é a chave para a decisão.

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O negócio de Montijo

Governo já tem proposta para substituir lei que bloqueou aeroporto no Montijo

Essencialmente, o que António Costa e o seu PS, apoiado pelo PSD de Rui Rio, se prepara para fazer é deixar claro que estamos num Estado onde a lei não é o alicerce da governação mas sim um instrumento para se atingir um fim. Não é propriamente uma novidade mas é de registar que a inversão de valores não é alheia a este executivo. Também mostra bem de que lado está o Governo e não é do lado dos cidadãos.

Sobre o negócio de ocasião para a ANA e a Vinci, pouco há a acrescentar ao que anteriormente se disse. Excepto que é de se sublinhar que os dois submarinos ainda vão dar jeito ali.

Subida do nível das águas – projecção para 2030 (fonte)

Só para recordar,

como está a situação daquele aeroporto que o Costa quis dar à Vinci ali para os lados de umas areias que ficarão debaixo de água daqui as umas décadas?

Sobre o futuro anexo ao aeroporto de Lisboa, conhecido como aeroporto do Montijo

Durante décadas falou-se em construir um novo aeroporto porque era preciso aumentar a capacidade e porque era perigoso ter um aeroporto ao lado da cidade. Consequentemente, o aeroporto de Lisboa seria encerrado.

Por isso, talvez tenha passado despercebido que a actual proposta recorrendo ao Montijo pressupõe que o actual aeroporto de Lisboa continue em operação. Mais, até se planeia a sua expansão. Está tudo explicado no comunicado da Vinci e ainda melhor ilustrado num vídeo produzido pela própria Vinci. Só faltou explicar porque é que o anterior perigo de ter um aeroporto no centro de Lisboa deixou de ser um problema.

Foi publicado na Nature, no passado dia 29 de Outubro, um artigo sobre a subida dos níveis da água do mar e o impacto nas zonas costeiras. A imagem seguinte é a projecção para 2030, portanto para daqui a 10 anos.

Subida do nível das águas – projecção para 2030 (fonte)

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Onde colocar um aeroporto perante a subida do nível das águas do mar?

O degelo dos glaciares, com a consequente subida do nível das águas do mar, está longe de ser um mito – que o digam, por exemplo, os noruegueses.

Sendo um aeroporto uma obra para funcionar durante décadas, onde é que se deve construir um nova infraestrutura destas?

Junto ao nível do mar, obviamente.

Pergunta para bingo

O que é que se há-de fazer com um pedaço de paraíso?

Um aeroporto, obviamente. Stairway to heaven.

Começa o spin

Num artigo que mais parece um detox de opiniões saído de uma trituradora de declarações, compõe-se uma história que dê corpo ao título.

Sobre futuro aeroporto do Montijo

aeroporto_montijo
Rede para o Decrescimento

No momento em que se anuncia a assinatura de um acordo sobre o modelo de financiamento de um novo aeroporto civil no Montijo entre o Governo Português e a empresa VINCI AIRPORTS, proprietária da ANA , a Rede para o Decrescimento reforça a sua oposição a este ou a qualquer outro projeto de aumento da capacidade aeroportuária no território português. A Rede para o Decrescimento junta-se a uma frente com dimensão internacional (vide rede global ‘Stay Grounded’) de resistência ao incremento da circulação aérea e à prossecução de uma política em tudo contrária à mais urgente necessidade da Humanidade: parar as emissões de CO2 que estão a destruir o nosso ecossistema, visando particularmente aquelas que ficaram de fora do Acordo de Paris, como as provenientes do tráfego aéreo e marítimo, uma exclusão imoral e desastrosa para todos. Os interesses imediatos das multinacionais do sector e as vantagens imediatistas de um tipo de economia sem futuro são os únicos ganhadores anunciados neste processo. [Read more…]

O aeroporto

“È meglio que questa Declaracione de Impacto Ambientale saia a contento e presto, se capisci cosa intendo. O lo faccio una proposta qui non puo rifiutare.”

Liberalismo do PàF no seu melhor

Ryanair diz ter urgência na utilização do aeroporto do Montijo e até quer investir mas não a deixam. Nem a proposta de criar uma rota para a ilha Terceira foi aceite. Sem direito a explicações.