Os eleitores-fantasma.

Eu não votei. Já tinha esclarecido aqui porque o não ia fazer e, honestamente, não gosto de ser confundido com os que não votam por razões metereológicas ou de ócio. Não votei porque não estou de acordo com o sistema eleitoral, com a prevalência partidária, com os seus lobies e estratégias de poder. Não votei porque não me revejo no discurso estereotipado dos partidos. E não admito que um político de carreira como o Professor Cavaco Silva venha insinuar que, por não ter votado não terei doravante legitimidade para criticar. Logo ele, que foi eleito com 25% dos votos e se arroga ao título de presidente de todos os portugueses.

Antes de ser um eleitor, sou um cidadão e quero ser tratado como tal. Não aceito, portanto, a euforia clubística com que se celebrou ontem a substituição de um partido por outro ideologicamente semelhante, como se o poder fosse um torneio de futebol. O país vive esta mentalidade partidária como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Mas não é. A tal democracia representativa e directa que aqueles meninos e meninas mimados reclamam no Rossio é obtida através do voto, mas de um voto em ideias e não em ideologias. Por isso acho que ficamos todos a perder enquanto as eleições para o Poder Central ou Local estiverem minadas pelo clientelismo partidário, cujo desejo último não é servir o cidadão, mas arrigementar eleitores apenas para alimentar a sua máquina e manter o poder. Só um sistema como o actual, favorece homens cuja vida é dedicada, não em prol de uma causa ou de um ofício, mas de uma carreira, como é o caso de José Sócrates, P. Passos Coelho, Paulo Portas ou Francisco Louçã. Para acabar de vez com a ideia de que a res publica é um emprego e não uma causa.

Não obstante, apesar de saírem da noite de ontem, vencedores e derrotados, devo  salientar os votos (ou a ausência deles) de que ninguém fala porque não fazem deputados: houve 148.058 votos brancos, 75.280 nulos e uma taxa de abstenção na ordem dos 41,1 %. Quase metade do país rejeitou estes políticos. Por razões várias, é certo, mas que não podem passar despercebidas. E não me venham com a conversa de que a democracia está doente. Em democracia (sou contra o voto obrigatório) devemos ter o direito de não ir votar, mas o que assistimos ontem foi um rotundo NÃO à partidocracia, ao dividir para reinar, à clientelização do país.

No fundo, os eleitores são todos fantasmas. Caminham como zombies até à urna num domingo de vez em quando e voltam às tumbas satisfeitos com o dever cumprido, como se passar uma procuração à mediocridade fosse uma obrigação.

Post scriptum: Não posso deixar de lamentar a atitude do Bloco de Esquerda, nas pessoas de Fernando Rosas e Miguel Portas que, apanhados no seu fanatismo e proselitismo, se recusaram a aceitar a derrota. De resto, O BE não reconhece legitimidade a ninguém, a CDU não perdeu, o Bloco Central prossegue no devorismo e o CDS deixa o táxi e passa a um mini-bus. Se não fosse tão mau para a democracia este rotativismo, diria que é bom morar num país de rotinas.

Comments

  1. Caro Amigo,

    Concordo plenamente consigo, e ontem sofri da mesma vontade e direito de escolha! Sinto que somos obrigados a viver nesta teia de interesses, e que manipulam o país…

    Só não consigo perceber como é que existindo mais de 10 partidos em Portugal, os burros votam sempre nos mesmos dois…

    Só me resta concordar com o nosso amigo Engel – “Nós aprendemos com a história, que não aprendemos com a história”

    http://espacopoupanca.blogspot.com/

  2. SHARP says:

    Concordo inteiramente com o seu raciocínio.
    O meu VOTO faz parte dos 41,1%. Por conseguinte, continuarei a impugnar e congratular as vezes necessárias. A pagar os impostos e a cumprir os deveres de cidadão do mundo.
    Assim, por tudo o que foi referido, NÃO ADMITO, NÃO ACEITO QUE, SEJA QUEM FOR, AFIRME QUE NÃO TENHO LEGITIMIDADE…

    Cresçam, aprendam, tornemse homens e mulheres. Esforcemse por utilizar a parte do cerebro adormecida. E talvez um dia percebam que o respeito pelos os humanos é a receita pela verdadeira fórmula da humanidade

  3. SHARP says:

    Cresçam, aprendam, tornem-se homens e mulheres. Esforcem-se por utilizar a parte do cerebro adormecida. E, talvez um dia percebam que, o respeito pelos os humanos é a fórmula verdadeira da evolução da humanidade.

    Valentim

    (este é o paragrafo correcto correspondente ao ultimo do meu anterior comentário)

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