A opção europeia – uma questão de fé

Carvalhas_sbento_abril_1985
11 de Abril de 1985 (Arquivo RTP)
Fonte: Centre d’études européennes

S. Bento, Lisboa, Abril de 1985. No Parlamento fumava-se, e a então deputada comunista Zita Seabra comia, enquanto Carlos Carvalhas, à sua frente nesse plano televisivo, discursava interpelando um ministro do PS (quem seria?) que chamara aos estudos então realizados pelo PCP sobre as vantagens e desvantagens da adesão de Portugal à União Económica Europeia “uma cortina de fumo cujas opções se radicavam em razões ideológicas” – o velho argumento que é pau para toda a obra quando o objectivo é tergiversar. Respondendo a esse ministro, Carlos Carvalhas lembrava que “a Europa não [era] a CEE – a CEE [era] a Europa dos monopólios e não a dos trabalhadores [hoje chamamos-lhes cidadãos] – e nem sequer um clube, e muito menos um clube caritativo”, pois seria nalgum ponto necessário começar a contribuir – pagando como os outros. Tecera ainda esse ministro considerações sobre o modelo do PCP, o que levara Carvalhas a lembrar que esse modelo estava “consubstanciado na Constituição da República”. Interessante também para nós hoje aqui, 28 anos depois e a braços com o pesadelo que conhecemos, é saber que o PS usou por esses dias, para defender a adesão à UE (e CEE era uma sigla mais honesta), as palavras da propaganda de sempre: desafio, choque, e – o PS tinha fé na CEE. Por fim, a CEE (a UE, vai tudo dar ao mesmo, à mesma Europa sem um programa político) era para o PS, na súmula que nada significava a não ser a ruína certa daí a uns anos, “a opção europeia”. Perguntava então Carlos Carvalhas: “Portugal perde ou não parcelas significativas da sua soberania com a integração europeia? Há ou não vastos sectores da economia portuguesa que serão arruinados com a integração? [Vão ou não] o aumento da dívida externa e do desemprego ser os resultados palpáveis desta integração?” O resto aqui.

Comments

  1. Ainda penso says:

    Ainda bem que alguém ainda se lembra do que já na altura dizia o PCP. Obrigada.

  2. João Paz says:

    A dívida pública que era, nessa altura, de 40% do PIB passou entretanto para os actuais 120% do PIB. De facto, como foi muito bem dito na altura por poucos, NÃO FOI PORTUGAL QUE ENTROU NA CEE FOI A CEE QUE ENTROU EM PORTUGAL.
    E para quê?
    Para acabar com os nossos estaleiros, siderurgia, minas, pescas, agricultura etc etc etc.
    Como se houvesse outro resultado possível com estas “medidas” a troco de uns milhões para os boys do sistema para que nos calassem.

    • Ficamos na subsídio-dependência, de mão estendida, às ordens da CEE dos ricos, que nos pauperizaram com um ‘desenvolvimento’ que lhes convinha. .

  3. Chamava-se, então, a esta linha de ideias – a cassete.

    E continuou-se a chamar enquanto se ia desbaratando tudo o que vinha e tudo o que havia por cá.

    Fizeram-se os negócios que hoje conhecemos (apenas um bocadinho…); meteu-se dinheiro nos bolsos e convenceram-nos que pertencíamos à carruagem da frente.

    Hoje, quase sem indústria, sem agricultura e sem pescas, fazem-nos ouvir a verdadeira cassete pirata de termos vivido acima das nossas possibilidades, de não sermos competitivos, de ganharmos muito e de querermos um estado social sem o pagarmos.

    É a cassete pirata do aguenta, aguenta.

    Sem que os responsáveis sejam chamados a responder pela borrada que fizeram – os do chamado arco de governação.

    Depois de anos sem visão global de desenvolvimento, eis que continuamos a caminhar, agora em direcção à implosão total, tentando convencer-nos que da destruição sairá a bonança, como se a gestão de uma nação fosse uma purificação da alma ao gosto da religião católica apostólica e romana.

  4. maria celeste ramos says:

    A UNIÃO faz a FORÇA dos poderosos e os que o não são são reduzidos e indigentes pobres coitados e pigs

  5. Jorge says:

    OH! Boy é tao bom estar na CEE

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