José Manuel Prostes da Fonseca- Homenagem

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Todos sabemos que faleceu subitamente a 3 de Fevereiro deste ano de 2013. Todos sabemos que nasceu no dia 20 de Março de 1933, todos sabemos que era o Engenheiro Prostes, como era denominado por todos nós no ISCTE, hoje ISCTE-IUL, por ser Licenciado em Engenharia Química. Sabemos também que foi Diretor Geral de Administração Escolar antes do 25 de Abril e Secretário de Estado de Administração Escolar do Ministério de Educação e Ciência dos três primeiros Governos Provisionais a seguir à data da nossa liberação da ditadura, opressão de que não fez parte. Bem como todos sabemos que foi Diretor do Conselho Diretivo do ISCTE entre 1984 e 1999, com o Catedrático em Comunicações José Manuel Paquete de Oliveira.

O ISCTE tinha problemas de subsistência e ele e o seu saber educativo, mais a sua fé em divindades católicas e os amigos do seu partido por adição, o Socialista de Portugal, ajudaram-no a obter a independência do ISCTE como Instituto Universitário ou a 13ª Universidade Pública de Portugal. O Decreto foi promulgado em 1991, após intenso trabalho do Engenheiro e do Presidente do ISCTE dos anos 90, Afonso Morais Sarmiento de Barros, continuada a obra em 1991 por João de Freitas Ferreira de Almeida.

O que não é sabido é a sua disciplina ferranha para o trabalho, a sua proposta da criação da Comissão Coordenadora do Conselho Científico para melhor gerir o ISCTE nas investigações, de que passou a fazer parte. Após termos criado, com o Catedrático em Economia Mário Murteira, mais de 100 doutores nas décadas do 80 e 90, essa quantidade de doutores dificultavam as nossas reuniões semanais do nosso pequeno Conselho Científico de cinco pessoas, entre os anos 1981-1985. Foi o seu saber educativo que o levou a organizar o ISCTE como uma Empresa de Ensino e Investigação, e indicar ao Presidente do ISCTE, Afonso de Barros, a formação da CC do CC.

Sempre pensei que a minha pessoa era a primeira a aparecia no ISCTE de manhã cedo e a última a sair à noite ao longo de vários anos. Para minha surpresa, o Engenheiro já lá estava quando eu chegava e só saia após do fecho das portas à noite, para retornar de manhã cedo. Em casa a jantar, confessou-me um dia que eram as melhores horas para preparar a papelada que fariam do ISCTE uma Universidade Autónoma: havia silêncio, os telefones não tocavam, ninguém batia a sua porta, salvo a minha pessoa que aparecia com um pequeno toque no seu Gabinete, apenas para dizer: Bom Dia, caro amigo. Sem levantar os olhos das folhas, levantava a mão com a sua eterna pena de tinta, essa que sempre usou ao longo de muitos anos. No minuto em que a nossa escola, como a denominamos ainda hoje, tinha movimento e barulho, metia a sua papelada na sua mala e ia aos diversos ministérios ou instituições convenientes para garantir a existência do ISCTE como Instituto Universitário e autónomo.

Um dia abandonou a reunião da já criada Comissão Coordenadora do Conselho Científico, estranho para ele, e entrou o Presidente do ISCTE, Afonso de Barros, que propôs a nomeação do Engenheiro como Catedrático Convidado. A aceitação foi por unanimidade e Catedrático ficou. Ensinava Educação no antigo Departamento de Gestão, agora INDEG, aulas bem preparadas e escritas, de onde saíram livros e sebentas. A sua forma de falar era em voz baixa e direta. Ele pouco falava. Considerava-se membro do Ministério da Educação requisitado pelo ISCTE por dois anos, mas que passaram a ser seis anos. Cumprida a sua missão, tornou ao Ministério e criou a CEEP ou Centro Europeu com Participação Pública, sedeada na Escola de Gestão.

As reuniões a que presidia eram breves e curtas. Uma folha era preparada para ser entregue a todos os membros dias prévios, e assim levarmos a informação necessária para as suas tarefas de refundar o ISCTE. O que conseguiu em breve tempo. A partir de 1990, a reconstrução ficou nas mãos da presidência, Gabinete em que gastava a maior parte do seu tempo para orientar Presidentes do Instituto e dos vários Departamentos, reuniões a que éramos convocados, por vezes, sem prévio aviso. No seu entender, cada um de nós, devia saber de cor o que acontecia com cada docente e o que ensinavam e a sua utilidade prática, debates transferidos a seguir para a Comissão Coordenadora do Conselho Científico, criada por Afonso de Barros, após a já invocada proposta do Engenheiro.

Amava Antropologia e sempre procurava autores para ler. Oferecia-lhe todos os da Antropologia da Educação. Como criador e Presidente da Associação de Antropologia de Portugal, após consulta com o Conselho Diretivo de APA, criámos o Sócio Honorário da APA. Por causa desta nomeação, assisti à sua condecoração pelo Presidente Jorge Sampaio, com a Ordem de Cristo.

Merecia mais prémios, mas o seu afazer de gestor e de entendido na educação, não o permitiram: não tinha tempo, dizia-me. Acrescentava: eu apenas cumpro com a minha função de funcionário público.

Este afazer constante o matou no domingo de 3 de Fevereiro deste ano.

Esta é a minha homenagem a tão ilustre sabedor da educação e das instituições que a regiam. O Ministro da Educação PSD, Nuno Crato,  devia ler e ouvir esses exemplos. Mas um PSD pensa que tudo sabe, um Ministro que remunera os seus motoristas de oito carros, com ordenados mais altos que os de um professor primário. O José Manuel ou andava a pé ou conduzia o seu carro se a deslocação fosse comprida, como aparece na minha carta da Parede.

Meu Caro Zé Manuel, tanta atividade aos teus 79 anos, acabou por matar-te. És um homem de paz, deves estar com a tua divindade…enquanto no PS te rendemos homenagem, em silêncio.

Raúl Iturra

7 de Fevereiro de 2013.

Fonte: a minha memória e a pesquisa.

Agradeço a Alta Associada em Educação, Maria Paula Almeida, a fixação do texto.

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