“Os portugueses sentem-se pouco europeus”, leio por aí. Olha que novidade. Os portugueses nunca se sentiram verdadeiramente europeus por todas as razões que os separam desse povo imaginado, indistinto e vago, constituído por gente culturalmente muito diversa entre si, cidadãos de um império alargado em combinações possíveis. Os portugueses são um povo demasiado (ou suficientemente, conforme a perspectiva) ancorado materialmente na sua identidade (na sua terra concreta, a que sempre regressam, propulsados pela saudade) para conseguirem projectar-se numa utopia a que a realidade tem conferido crescente distância. [Read more…]
A recessão já chegou à língua
Esta notícia do Sol é um autêntico repositório da recessão em que vive o uso da língua portuguesa. O jornal, que não segue o chamado acordo ortográfico (AO90), recorre aos serviços da Lusa, praticante do alegado acordo. Resultado: a notícia referente à recepção de alunos estrangeiros no Instituto Politécnico de Leiria (IPL) terá aparecido como “receção” no texto da agência noticiosa e transformou-se em “recessão” no jornal.
Vale a pena repetir: por várias razões, a iliteracia já era imensa no reino da língua portuguesa. O AO90 veio agravar o problema e a confusão entre “receção” e “recessão” confirma, entre outros aspectos, a importância das chamadas consoantes mudas. Recorrendo à imagem sempre profícua da construção civil, estamos longe de resolver problemas nas fundações e andamos entretidos a colocar telhas que não se seguram e deixam entrar entrar chuva por todo o lado.
Por outro lado, também não é bom sinal que se use a expressão ‘kick-off’, quando a língua portuguesa já deu o ‘pontapé de saída’ há vários anos.
Adenda: faltou dizer que descobri a notícia no mural do Francisco Belard.
Tranquilizemo-nos! Os Orixás garantiram a felicidade ‘pós-troika’ a Cavaco
Presidente da República, ex-primeiro ministro e pioneiro do desenvolvimento irracional que, de resto prolongado por outros, teve como desfecho o estado a que chegámos (Saravá Salgueiro Maia!, com enorme saudade) continua a ser figura libidinosa da nossa democracia. Mais a mais, tendo sido professor de Finanças Públicas e quadro do Banco de Portugal, seria expectável um mínimo de sensatez nas declarações públicas, intervaladas por longos e misteriosos silêncios. Todavia, o discurso incoerente, porque demasiado premonitório e duvidoso, constitui uma das idiossincrasias do PR.
Em encontro com 50 jovens empresários – por deformidade nacional, estamos viciados em números redondos e personagens quadradas – Cavaco, crente na predição dos Orixás, sentiu-se compelido à adivinhação. Na cerimónia, decidiu tecer prematuros e infundados elogios ao período “pós-troika” – um período que, por influência dos Orixás, tem o privilégio de conhecer antes de qualquer outro ser humano, português, maori ou de qualquer origem.
Com sabedoria de quem está animado pela crença na mitologia ‘yoruba’, ainda dissertou sobre a mecânica de alavancas:
“aos empresários da economia pós-troika”, Cavaco Silva afirmou que “as alavancas disponíveis para provocar o crescimento económico são o investimento nacional e estrangeiro, as exportações, turismo; acompanhados de uma redução menos drástica do consumo privado”. [Read more…]
Eleições italianas: um dia para a história
O Movimento 5 Estrelas, um espaço de cidadania num país onde a esquerda há muito se tornou residual, é o grande vencedor das eleições italianas (em 3º lugar com 25%).
O homem da Goldam Sachs, Monti, é derrotado em toda a linha. Berlusconi perde qualquer relevância política (sim, ainda existe, como uma vez me explicava um amigo italiano, “é aqui que vive o Papa”). Em 1º ficam aqueles que nem uma coisa de esquerda sabem dizer, e a quem agora cabe o ingrato papel de deixar arrastar o sistema político italiano, até próximas eleições (o caos, que horror, escreve-se no Público, como se a austeridade liberal não fosse mais caótica do que isto).
Parabéns Beppe Grillo, afinal é possível devolver a política aos cidadãos.
Depois da Grécia, a Itália. O caminho demora a ser trilhado, mas basta ver os resultados nas sondagens da Syriza depois de uma votação com uma pistola germânica apontada à cabeça dos gregos para entender que é esse o caminho da Europa atacada pela especulação financeira,, por um Euro à medida de alguns, e pela inevitável austeridade deliberadamente apontada ao estado social, aos direitos conquistados pelos europeus ao longo de dois séculos.
Nós por cá votamos no sábado, caminhando pelas ruas, primeira etapa: correr com eles. O resto logo se vê.
Greve de Fome em Cabeceiras de Basto
Segundo o autarca local num monólogo televisivo, qual lapa agarrada à rocha, Cabeceiras de Basto é “o centro do Norte”. Claro!
Relvas, Qualidades Humanas e Políticas
Estou numa etapa da minha vida marcada pela distensão na militância cívica, pelo amor à minha paz de espírito e pela compaixão pelo próximo. Procuro fundamentalmente abster-me de chatices. Mas sempre que acidentalmente passo os olhos pelo que escreve um socratista, a advogar mais Sócrates, claro, tenho imediatamente uma recaída, sobretudo quando o ponto de partida ou o termo de comparação é Relvas. Reagir, para mim, é como palitar os dentes. Como diria António Costa, ó’bam’á’ber: ninguém no seu inteiro juízo terça argumentos contra ou a favor de Relvas.
«Os licenciados em História são inúteis para a economia» (III)
Diziam os antigos romanos que até as coisas belas devem ser úteis. Pois Camilo Lourenço, para além de não ser útil a quem quer que seja, de beleza… enfim, fico-me pelas reticências. Se fosse licenciado em História, perceberia que não serve mesmo para nada.
2M: Maré da Educação (II)
No Porto, às 15h, em frente à DREN.
Em Lisboa, às 14h30, em frente ao MEC.
Mais informações no Face do evento.
Turcas tramaram belgas
O CF “Os Belenenses” não conseguiu a promoção à divisão superior (Trophy) europeia, tendo-se classificado em 5.º lugar no Campeonato europeu feminino de clubes, em hóquei de sala, que decorreu no Pavilhão Acácio Rosa, em Belém. Salvou-se a organização e a grande lição de comunicação. E um grande entusiasmo à volta da prova.
Com apenas um empate no jogo inaugural e uma vitória folgada no segundo, o Belenenses foi vítima sobretudo da explosão que o hóquei turco feminino está a ter e que apanhou todos desprevenidos, até a grande favorita, a Bélgica, que apenas conseguiu ser segunda, à frente da Irlanda e da Suécia. Atrás das meninas da Cruz de Cristo, quedaram-se galesas e húngaras, estas últimas, despromovidas.
Grove Menzieshill HC e HK Zrinjevac são os clubes despromovidas da Divisão B, que poderão defrontar o Lisbon Casuals HC que, este ano, conquistou o título nacional, quebrando a hegemonia que vinha pertencendo, exactamente, ao Belenenses, e conquistaram o direito a representar Portugal na prova, em 2014. [Read more…]
Inutilidades
Hoje, ao ler o Aventar, lembrei-me de Caeiro e de Pratt.
A utilidade, a empregabilidade, em determinadas áreas é uma questão que não faz sentido: qual é a utilidade da Música, da Matemática pura, dos Estudos Clássicos que destruíram em Portugal, e da Filosofia, que quiseram destruir mas não conseguiram? São coisas que têm a ver com o exercício da liberdade humana. Para mim, a ideia do livro nunca foi a ideia do útil, mas sim a do imprescindível, do amigo. Perguntar para que serve a Filosofia é o mesmo que perguntar para que serve um amigo: para tudo e para nada.
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«Os licenciados em História são inúteis para a economia» (II)
E qual é a utilidade de Camilo Lourenço? Nenhuma, a não ser servir para fazer uns broches fretes ao Governo. Mas já há tantos a fazer o mesmo…
Censura é isto
Para os choramingas do Relvas: ” No final da conferência de imprensa, a PSP identificou Nuno Ramos de Almeida, um dos membros do Que se lixe a troika, e questionou qual tinha sido o assunto da conferência de imprensa à porta do aeroporto.”
«Os licenciados em História são inúteis para a economia» (I)
Alguém me pode dar o número de contribuinte do Camilo Lourenço?
2M: Maré da Educação no Porto
Pela Escola Pública!
Alunos, Pais, Administrativos, Auxiliares, Professores, etc… TODOS juntos na Maré da Educação que vai engrossar o MAR de GENTE que vai voltar a encher a Avenida dos Aliados.
Pioneiros no Turismo
O Turismo do Porto e Norte de Portugal foi pioneiro no conceito de Lojas Interactivas de turismo. Uma forma dos turistas terem informação permanente, 24h e 365 dias por ano. A primeira loja do género abriu no Aeroporto Internacional do Porto (já abriram em Santiago de Compostela, Amarante e S.J. da Madeira). Quando o projecto estiver todo concluído, o Norte de Portugal terá várias dezenas de lojas em rede neste sistema.
Um primeiro passo rumo ao futuro. Por isso mesmo, não admira que este projecto seja candidato a um dos prémios da Publituris na BTL 2013 que arranca esta semana em Lisboa. Aqui fica uma breve explicação:
Lojas Interativas TPNP from Nextpower Norte on Vimeo.
Allô Passos Coelho?
Vai, corre, não olhes para trás
Enquanto tentava acompanhar a conversa à minha mesa de café, o que se contava na mesa do lado interessava-me cada vez mais. Com inclassificável falta de vergonha, fui-me inclinando para o lado para apanhar o que podia.
– A funcionária da repartição … quarenta e pico… filhos na universidade… deixou tudo… fugiu para parte incerta… com um músico de rua… mais novo do que ela.
Oh, a emoção da vida dos outros, quão palpitantes podem ser as desventuras dos anónimos da mesa do lado.
Distraio-me por completo da conversa à minha mesa e sigo, com o coração aos pulos, a aventura da mulher de meia-idade, funcionária entediada de uma repartição, que mandou tudo às urtigas e fugiu com o baladeiro. Imagino as noites de insónia, as incertezas, e depois a mala feita à pressa, a carta aos filhos, o comboio apanhado de manhã cedo, à hora a que a devia estar a sair para o serviço. As mãos dela à volta da cintura dele, a guitarra ao ombro. E quando dou por mim, estou capaz de levantar-me da mesa e gritar-lhe: “Vai, não olhes para trás, corre!” [Read more…]
José Sócrates começou a trabalhar
Ao fim de 55 anos de vida, finalmente começou a trabalhar. Alguma vez haveria de ser a primeira. Só é pena que seja numa empresa ligada à Máfia, mas temos de ter em conta que é um trabalhador inexperiente a dar os primeiros passos no mundo do trabalho…
Guerra civil
Os búlgaros tomaram a rua com vassouras nas mãos e o Governo caiu. Preços da electricidade privatizada (entregue a grupos estrangeiros) despoletaram a subida de tom. Propostas cidadãs de alteração à Constituição e de escrutínio activo do sistema representativo estão agora em cima da mesa do povo búlgaro. “Nós temos dignidade e honra. Foi o povo que nos deu o poder” disse o primeiro-ministro búlgaro, acrescentando que não participará “num Governo quando a polícia bate no povo e as ameaças de protestos substituem o debate político”. Um clima de guerra civil (olhado com altaneira indiferença pela generalidade dos actuais governantes) espalha-se pela Europa das desigualdades. [Read more…]
Banda sonora
Não há dúvidas que a canção é uma arma. Acho, assim, muito bem, que se cante em protesto. Apenas sugiro que se diversifique mais um pouco as escolhas. Com todo o respeito pela “Grândola, Vila Morena” e pelo Zeca Afonso, com todo o respeito pela máxima “O povo é quem mais ordena” e pela herança revolucionária, acho que seria, também, de cantar bem alto outras canções que fazem, outra vez, todo o sentido, como por exemplo:
“Entram empresários moralistas. Entram frustrações. Entram antiquários e fadistas. E contradições. E entra muito dólar, muita gente. Que dá lucro aos milhões.”
Isso mesmo, cante-se também a “Tourada” de Ary dos Santos e Fernando Tordo:
Aceitam-se mais sugestões.
“Podemos Cantar Todos, Não?”
Sim, podemos. Mas para cantarmos todos… convinha todos saberem a letra…
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