O flagelo do desemprego e as contas à FMI e à Gaspar

gráfico da Eurostat (2)

Tive de rasurar o gráfico com os dados do Eurostat, publicado apenas há doze dias (01-Fev-2013), relativos ao desemprego em Portugal. A taxa de 16,5% em Dezembro de 2012 agravou-se para os 16,9%, o que, segundo o ‘Público’, corresponde a mais de 923.000 desempregados. O INE, de forma mais analítica, precisa que a taxa hoje divulgada reflecte um aumento homólogo (Dez-2011) de 19,7% (+ 151.939 desempregados); aumento este que não reflecte as várias dezenas de milhar que, em 2012, resolveram emigrar e evitar a Vítor Gaspar uma dimensão maior dos erros que comete – em Junho de 2012 dizia a sábia figura que, em 2013, a taxa ficaria pelos 16%, tendo posteriormente o ajudante Pedro Martins,  entretanto afastado do Ministério da Economia e do (Des)Emprego, que o pressuposto do governo para o OGE deste ano ficaria pelos 16,4%.

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Da alfaiataria, meu caro Krugman: this is the West, sir…

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Facts are stubborn things; and whatever may be our wishes, our inclinations, or the dictates of our passion, they cannot alter the state of facts and evidence

John Adams

Pergunta Paul Krugman: «de onde vêm os “factos”?».  As aspas são matéria muito interessante e sobre ela já se debruçaram, por exemplo, Frege, Tarski, Quine e Davidson. Neste caso, o objectivo de Krugman não é o de citar factos referidos algures por outrem, mas atribuir ao vocábulo exactamente o valor oposto, funcionando “factos” como antónimo de factos. Quanto à pergunta (de onde vêm os “factos”?), verificando os dados factuais (isto é, os factos sem aspas) e concluindo que a asserção (note-se, asserção e não acepção, muito menos *aceção, palavra insuportável, sendo evidente a função diacrítica da consoante não pronunciada, sim, claro, em português europeu) de que a despesa federal aumentou 37% durante a administração Obama não corresponde à realidade (ou seja, é “facto” e não facto), o professor de Princeton – e conhecido Nobel da Economia, a quem o actor Jon Stewart chamou “the rare gray-bearded urban laureate”, durante a recente polémica sobre a moeda de 1 bilião de dólares – infirma-a e demonstra que o aumento correspondeu, de facto (sinónimo de ‘efectivamente’, palavra extraordinária e bastante popular entre a jovem população urbana portuguesa de finais dos anos 80), a 12,7%, verificando aquilo que se passou  entre 2008 e 2012 (contas relativas aos respectivos quartos trimestres).

Assim, resta-me a dúvida: aqueles “factos” serão fatos? Claro, a dupla grafia no seu esplendor. A função das aspas no texto inglês de Krugman poderia ser assumida pela supressão da letra consonântica C numa versão portuguesa. Sim, fatos como “factos” e em vez de factos. Fatos na função de [Read more…]

A consciência dos sociopatas

Santana Castilho *

1. Annette Schavan, directora espiritual de Crato para o ensino profissional e até há pouco ministra da Educação da Alemanha, demitiu-se após ter sido acusada de plágio pela universidade onde se havia doutorado há 33 anos. Na origem do escândalo esteve a denúncia de um blogue. Schavan reclama inocência e vai pleitear a causa em tribunal. Mas a sua consciência disse-lhe que, neste momento, esse era o caminho. Curiosamente, a tese que escreveu (ou plagiou) estudava o carácter e a consciência. Antes de Schavan, Karl Guttenberg, ministro da Defesa, procedeu do mesmo modo, por motivo idêntico. E, antes dele, fora a vice-presidente do Parlamento Europeu, Silvana Koch-Mehrin: mesmo erro, idêntico padrão de comportamento e de consciência.

2. A Lusa questionou Nuno Crato sobre o relatório do FMI, que alude ao eventual despedimento de 50 a 60 mil funcionários do sistema de ensino, docentes e não docentes. Importa reter e comentar algumas afirmações do ministro, extraídas da resposta:

– “Nós não somos irresponsáveis. Isso não está em causa, de forma alguma.”

– “O Governo irá apresentar um conjunto de medidas … para a redução da despesa, algo que todos os contribuintes querem”.

– “Nós, até este momento, não fizemos nenhum despedimento na Educação … “ [Read more…]

Touche pas mon bijou…

Loureiro dos Santos, general de pousio, assanhou-se todo – em frente do Medina!… –  contra a hipótese de as “reformas estruturais” chegarem ao reino sombrio das forças armadas. E digo sombrio porque impensado e, parece, impensável.

Gostava de ter visto o ilustre comentador – oportunidades não lhe têm faltado – ostentar a mesma firmeza quando este governo carniceiro rapina sobre o que há de mais essencial para uma vida digna deste povo. Mas não. Só agora aparece a ranger os dentes e a ameaçar irresponsavelmente com movimentos “de indisciplina nas forças armadas”. É típico e não é uma estreia.

Não, não sou dos que entram em demagogia sobre a utilidade das forças armadas. Mas gostaria que todos – sublinho, todos – os partidos e movimentos políticos se confrontassem séria e profundamente sobre as questões da defesa nacional e, por uma vez, enfrentassem corajosamente os seus problemas, dispensando-nos à retórica vã e politicamente cobardolas que é habitual sempre que nos abeiramos deste tabu. [Read more…]

Orfeu Negro

Orfeu e Eurídice em versão Brasil e Carnaval.

De Marcel Camus (1959). Ficha IMDB.