A arte de não apalpar cus

Gosto de mãos, gosto de humor, gosto de ternura, de meiguice, de gestos bonitos, de elegância, mas um bom cu é maravilhoso. Penso que também não conseguiria resistir a um cu razoável. Mesmo alguns cus maus passam a ser quase razoáveis em certos dias. Resistir à vontade de apalpar cus é um esforço, como acontece com todas as aprendizagens.

Ando na vida para apalpar os cus de que gosto, mas não posso ou, no mínimo, não devo, pelo menos sem autorização de quem fala em nome do cu.

Sempre que vejo passar um cu que gostaria de apalpar, tenho de fazer um esforço imenso, não para controlar as mãos, não somos animais, mas os olhos. O pior de tudo é não poder ficar a olhar, porque há cus que merecem tempo, porque tempo pode ser dinheiro, mas também é imaginação. Imagino as minhas mãos e o cu observado, mas, como disse, nem sempre há tempo.

Olhar para um cu significa descobrir aqueles segundos em que sei que ninguém está a ver que estamos a olhar, o que inclui, antes de mais, a pessoa a quem pertence. Não há nada pior do que uma pessoa ser apanhada pelo objecto observado em flagrante delito de observação. No fundo, quem tem cu, tem medo e eu não tenho menos cu do que as outras pessoas. [Read more…]

As purgas que não te farei: uma história de perdão e estratégia, com Rui Rio e Nuno Morais Sarmento

Há purgas e purgas. E se foram por demais evidentes os ajustes de contas no aftermath das internas, reflectidos na construção das listas do partido à Assembleia da República, nem todos os opositores, desertores e/ou traidores foram tratados da mesma maneira por Rui Rio. Veja-se o exemplo de Morais Sarmento. Integrou a actual direcção desde o início, abandonou o barco após Rangel ter desafiado Rio para o duelo eleitoral, mostrou-se indisponível para voltar a integrar a direcção, recusou-se a apoiar o líder posto em xeque, colocando-o no mesmo patamar do “oportunista” que desestabilizou o partido na antecâmara das Legislativas, e agora, consumada nova vitória de Rio, não foi acossado ou alvo da vendeta do incumbente. Antes, foi premiado com a presidência do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD.

E porquê?

Porque, como em tudo na vida, nem todos os barões são iguais. Alguns são mais iguais que outros. E porque o spin, neste caso o do Robin Hood laranja, que tira aos notáveis para dar às bases, não passa disso mesmo: propaganda.

É abuso de autoridade, é violência policial, é terrorismo pago por todos nós, ó animais – ou quando o racismo vem fardado

“É gás pimenta, ó animal”: militares da GNR torturam por diversão imigrantes de Odemira

Quantos mais “casos isolados” de violência policial terão de haver para percebermos, enquanto sociedade, que já não são casos isolados?

As autoridades competentes da UE ou da ONU têm alertado: cuidado com a infiltração da extrema-direita nas Forças de Segurança portuguesas. Mas ninguém parece estar minimamente interessado. [Read more…]

O Al-Amin

Vou falar-vos do Al-Amin.

O Al-Amin tem trinta e três anos, tem um filho, tem esposa, tem casa. O Al-Amin tem um mini-mercado em São Domingos de Benfica. O Al-Amin sorri muito, cumprimenta sempre, de vez em quando desabafa e mostra empatia por quem passa pela sua lojinha – pequena e apertada, mas arrumada e asseada.

O Al-Amin, tendo esposa e um filho, está sem a esposa e o filho. Tem-nos, certamente, sempre na memória e no sentimento. Pode vê-los, sempre que quer, na tela do seu telemóvel ou computador, a nove mil quilómetros de distância. Da tela do Al-Amin saem saudades que se alojam directamente na tela da sua família, no Bangladesh. E será, certamente, pelas saudades que, sabe, nunca são eternas, que se mantém em Portugal. O Al-Amin abre a sua loja todos os dias, de Segunda a Domingo e aos feriados também, das 8:00 às 23:00. Não tem folgas. É patrão e empregado ao mesmo tempo. Paga com todas as suas obrigações. Quase 60% do que factura ao fim do mês, envia para o Bangladesh. “Para a minha esposa e para o meu filho ir à escola”, contou-me um dia. [Read more…]