TUDO O QUE CHEGA , CHEGA SEMPRE POR ALGUMA RAZÃO
Fernando Pessoa
Notícias – mesmo as ditas importantes – que por aí pululam não são alvo de muita atenção. No entanto, geralmente as coisas mudam de figura e a atenção sobe, quando publicações de prestígio mundial, tais como THE ECONOMIST e DER SPIEGEL, ligam importância ao tema.
Desta vez é DER SPIEGEL ONLINE que fala sobre Portugal (ver abaixo). Fala sobre uma situação ameaçadora que todos conhecemos. Contra à mesma já adverti em 2001 numa carta dirigida a um articulista no Expresso (18.08.01) que então perguntava:
“Portugal Para Onde Vai ? Alguém Sabe ?”
(ver abaixo).
Como já escrevi hoje aos meus amigos alemães, toda a União Europeia deve ter um interesse máximo em que os seus subsistemas menos desenvolvidos não tenham que “passar pelas armas”. Quem pensa de outra forma esquece que numa UE às avessas todos estamos na fila para o abismo, alguns mais à frente e outros mais atrás – incluindo parceiros grandes e (aparentemente) menos apertados como p.ex. a Alemanha. O dilema da UE, na forma introvertida e egocêntrica das pessoas, coloca-se entre o diabo e belzebú: se ajudamos a Portugal, Grécia, etc., é contra as regras e o euro perde valor – se não ajudamos o mundo pensa que a UE está nas lonas e acontece o mesmo. A alternativa estrategicamente correcta e eficaz que aumentaria a atracção da UE e do euro existe: chama-se New Deal!
Agora a saída do círculo vicioso depende de nós, tanto do suprasistema UE como do respectivo subsistema que por sua vez também pode consegui-lo sózinho – com a estratégia certa!
Rolf Domher
SPIEGEL ONLINE, 23.01.2010
———————————————————————
Krise in Portugal: Herkulesaufgabe für Sonnyboy Sócrates
Crise em Portugal: Tarefa de Hércules para “Sonnyboy” Sócrates
———————————————————————
Portugals Defizit hat sich verdreifacht, Rating-Agenturen warnen vor
einem “langsamen Tod” – der Staat ist neben Griechenland ein weiteres
Sorgenkind Europas. Der smarte Ministerpräsident Sócrates verspricht
Reformen und Erneuerung. Doch zur Finanzkrise kommt politische
Unruhe.
O défice de Portugal triplicou. As agências de rating advertem contra
uma “morte lenta” – o estado é, além da Grécia, mais uma “criança”
que causa muitas preocupações à Europa. O vivo Primeiro Ministro
Sócrates promete reformas e inovação. Contudo, à crise financeira
junta-se agitação política.
Von Katharina Peters
Den vollständigen Artikel erreichen Sie im Internet unter der URL
http://www.spiegel.de/politik/ausland/0,1518,673512,00.html
Mail de 18.08.01 dirigido a um articulista do Expresso (18.08.01) que então perguntava:
“Portugal Para Onde Vai ? Alguém Sabe ?”
“É a sua estratégia que determina se e de
que forma você se desenvolve – e não a
dimensão da sua inteligência, conhecimentos,
esforços e meios !” Wolfgang Mewes, investi-
gador de sistemas e autor da Estratégia-EKS
“ … Exmo. Sr.,
dizer que sei para onde vai Portugal seria mentira. Posso, no entanto, tentar dar uma simples dica geral através de uma abordagem cibernética da questão:
Um sistema, activado, pode produzir vários tipos de efeitos:
- preestabelecido;
- imprevisível, mas submetido a leis conhecidas;
- totalmente imprevisível.
A cibernética considera o segundo caso e o seu objectivo é manter o efeito dentro de certos límites. (Dicionário Enciclopédico de Língua Portuguesa).
Portugal tem tudo o que precisa, bons gestores, bons empresários, bons artesãos. O que se encontra na origem da sua produtividade ainda baixa, é pura e simplesmente a sua estratégia a nível de pais que deve ser melhorada. É por isso que lamentavelmente ainda não subiu dentro da UE (no seu actual estado) da qual é subsistema.
Ora, isto não seria muito dramático se o sistema superior, a UE, estivesse por sua vez em franco desenvolvimento sócio-económico, cultural, político e ecológico, transmitindo o mesmo a Portugal. Infelizmente, a UE, perseguindo objectivos primariamente introvertidos e egocêntricos e não sabendo lidar com a mudança de paradigma em curso, encontra-se de candeias às avessas numa verdadeira espiral negativa. Infelizmente, acontece nestes sistemas de espiral negativa que são sempre os seus subsistemas menos desenvolvidos que na hora da verdade têm que passar pelas armas primeiro.
Todavia, não quero ser apodíctico, pois em sistemas sociais abertos existe sempre a hipótese de dar a volta por cima às coisas. Basta, pois, uma pequena alteração de estratégia – tanto faz se despoletada por Portugal ou pela Alemanha, pela França, etc. e todas as tensões potencialmente destruidoras podem ser convertidas em novo crescimento orgânico e utilizadas para alcançar, sem descargas violentas por meio, os patamares de uma nova ordem. Uma ideia do que Portugal pode fazer para sair do círculo vicioso das “subsidiocracias de sucesso” comunitárias pode, porventura, dar o meu artigo publicado em 1997 no Semanário Económico “Porque vale a pena apostar em África”.
O que, no entanto, é absolutamente indispensável para vencermos a mudança do paradiga, é nos abstrairmos da cartesiana reflexão linear-mecanicista e aplicarmos uma reflexão holística-cibernética …”
Rolf Dohmer
Saber, sabe, mas lá na minha terra diz-se: a burro que está a comer não se lhe deve mexer na barriga…