O carnaval de Ovar é hoje a maior manifestação cultural da cidade e um dos mais importantes certames do género do país. Realiza-se todos os anos com a presença de milhares de espectadores, vindos de todo o país para assistir «in loco» a um cortejo marcado pela alegria e vivacidade, pela cor e movimento.
Apesar de toda a organização que revela hoje em dia, podendo ser considerado um verdadeiro produto turístico que traz enormes benefícios para o concelho, o carnaval de Ovar começou por ser algo de espontâneo que se realizava todos os anos por vontade da população, que «se lembrava» de sair à rua para se divertir, esquecer as agruras do dia-a-dia e, por uma vez no ano, fingir que era alguém completamente diferente.
«Nesses tempos, diz-que os vareiros – «eles» e «elas» – perdiam alguma vergonha no carnaval. De certo modo assim era, porque até onde a memória nos leva, vemos o carnaval em Ovar como a válvula de escape da loucura que os vareiros domavam dentro de si, durante muito mais de trezentos dias e outras tantas noites – o que é, ainda, mais difícil -, com uma paciência que só a planura do chão- e não a dos costumes – pode justificar… E durante os três dias e as três noites, longas quanto baste, que antecedem a quarta-feira de «cinzas», «eles» e «elas» trocavam entre si as momices que a quadra exigia… e que a moral só permitia nessa quadra.» (A. Hugo Colares Pinto)
Antes de o carnaval ser organizado, os festejos ocorriam na mesma, mas de forma mais espontânea, como se disse. Na tarde de Domingo Gordo e na terça-feira seguinte, percorriam as ruas do centro os mascarados. Iam fantasiados de Charlot, de arlequins e columbinas, de noivos e noivas, de piratas, de polícias, de reis, de tudo e de nada.
À noite, coabitavam os bailes elegantes do Orfeão e do Progresso – uma espécie de carnaval veneziano, se a comparação não se considerar muito ousada – com os festehos populares que não raro terminavam em assaltos e em violência.
O carnaval porco, que se realizava no âmbito do principal, consistia numa batalha entre a população. O adjectivo porco advinha-lhe do facto de os adversários em confronto usarem de tudo um pouco para a batalha, desde pacotes de serradura, água, tomates, ovos e tudo o que calhasse. Durava uma hora – começava com a sirene dos bombeiros e terminava da mesma forma. Eram sessenta minutos de anarquia, sessenta minutos de loucura total.
Tirado daqui
«Dos camiões rolando, derrapando, grunhindo, chiando – uns para cima, outros para baixo, uns de frente, outros de lado ou de marcha atrás, – chovia preto, jorrava amarelo, chispava branco e tudo se misturava no ar empestado de perfumes a condizer para cair de chofre ou lentamente, em cartuchadas pesadas ou em baforadas suaves, sobre os beligerantes e envolvendo, penetrando e matizando ruas, passeios, canteiros, janelas e sacadas, apanhando pelo caminho fugitivos pouco lestos e neutrais distraídos.» (A. Hugo Colares Pinto)
Os exageros em que por vezes se caía, exageros esses bem patentes na descrição feita, ditaram o seu fim. Mesmo que a lei tenha caminhado nessa direcção, o povo já tinha decretado desde há muito, no seu coração, tamanha «selvajaria», no dizer do historiador local Manuel Bernardo.
Quando se iniciou a década de 50, apesar de a desorganização continuar a marcar o acontecimento, os festejos de carnaval já se haviam estendido ao sábado e à segunda-feira; já se tinham organizado grupos nos diferentes bairros; os preparativos e os ensaios começavam cada vez mais cedo – no Ano Novo, por exemplo, já começavam a aparecer mascarados. Um pré-carnaval, se assim se pode chamar, em que tudo podia acontecer. «E acontecia. Ou aparecia o homem invisível, em carne-e-osso, ao mesmo tempo que o víamos na televisão, ou o Morgado arreava a giga, ou o Olhos-de-Bagaço, pimba, tropeçava nele mesmo, ou a Vênus de Milo aparecia todinha vestida, de lábios pintados e cigarro ao canto da boca, ou, simplesmente, tudo acontecia na mesma noite.» (A. Hugo Colares Pinto)
A partir de 1952, a organização acabou com a espontaneidade e o improviso que até aí tinham caracterizado os festejos. Domesticou-se o carnaval, como alguém disse. José Maria Fernandes da Graça, Aníbal Emanuel da Costa Rebelo e osé Alves Torres Pereira tomaram a seu cargo essa primeira edição. Os seus objectivos eram institucionalizar uma festa que, apesar de uma longa história, continuava a ser marcada pelo improviso e pela espontaneidade; e, obviamente, explorar as suas imensas potencialidades turísticas, como se veio a verificar.
Perdeu-se em alguns aspectos, ganhou-se noutros. Tudo passou a ser mais artificial do que era, mas passou também a ser mais organizado e, quiçá, mais bonito. Evoluções do tempo, sempre com os seus prós e contras.
Mesmo assim, nesses idos anos de 50 ainda não era o Carnaval tal qual o conhecemos hoje. Não havia barreiras nas ruas e a multidão abria alas para a passagem dos carros alegóricos. Nesse ano inicial de 1952, dia 24 de Fevereiro, organizado apenas com um mês de antecedência, as entradas foram gratuitas e, dos dez carros que fizeram o percurso S. Miguel – Largo Família Soares Pinto, venceu o da Arruela, classificado pelo júri como melhor carro da classe Excepcional Bom Gosto. O rei foi António Lírio Ramos.
No ano seguinte, 1953, dada a adesão popular do ano anterior, desfilaram mais três carros do que na edição anterior e o público passou a pagar 2$50, tendo direito a seis serpentinas grátis. Nesse ano, o custo total da festa ultrapassou os vinte escudos, ou seja, dez cêntimos!
De ano para ano, esta «vitamina da alegria» foi aumentando em termos de adesão popular. Um facto contribuiu, em 1954, para a nacionalização do evento: a ida dos carros vareiros ao corso Porto, na terça-feira de entrudo, para participar no corso carnavalesco do Clube Fenianos. Foi aí, pela primeira vez, que o resto do país reparou que numa vila do distrito de Aveiro se realizava uma grande festa de carnaval.
Com o decorrer dos anos, a tradição foi-se adaptando à época e aproximando-se da actualidade. Em 1961 surge pela primeira vez uma mulher como a rainha do Carnaval. Mais tarde, introduzem-se barreiras para os carros poderem circular à vontade. Em 1963, o corso passa a sair em dois dias. Em 1968 surgem os grupos organizados, que não vão tardar a substituir os bairros típicos.
Quanto ao local da concentração do corso, foi mudando com o decorrer dos anos. Entre 1952 e 1963, partia do largo de S. Miguel. A partir daquele ano e até 1972, foram escolhidas as Ribas para o início do cortejo. Desde 1972, a festa parte do mercado municipal.
Tudo passa a ser planificado ao milímetro, começando a organizar-se a edição do ano seguinte com um ou mais anos de antecedência. Desde 1952 até hoje, só não se realizou em duas ocasiões: em 1962, devido à guerra colonial; e em 1975, devido ao Verão quente pós-revolucionário.
Na década de 80, mais concretamente em 1982, aparece a primeira escola de samba, a «Costa de Prata», que representa, simultaneamente, a «brasileirização» do carnaval de Ovar. Foi essa a pedra de toque que deu lugar aos tempos modernos do carnaval de Ovar. À «Costa de Prata», seguiram-se a «Charanguinha» (1985), a «Juventude Vareira» (1986), a «Mangueira» (1989), o «Kan-Kans» (1990), o «Império Ovarense» (1993) e muitas outras.
Em 30 de Novembro de 1998, foi constituída pela câmara municipal a Fundação do Carnaval, cujos objectivos são «a promoção de eventos culturais, recreativos e a valorização e divulgação do património cultural e turístico do concelho e da região.»
Ao nível do ritmo, das roupas das participantes, do desfile em geral, em suma, tudo tem caminhado na direcção do carnaval do Rio. Têm surgido críticas a este novo figurino, muito diferente do estilo imprimido nos primeiros anos da sua realização e do espírito que lhe estava inerente. Mas o certo é que a adesão popular tem sido cada vez maior e, nos dias do cortejo, a cidade simplesmente pára. Pára para não mais parar. De dançar, de cantar, de desfilar.
«Os grupos, esses, são, ainda, a ligação ao espírito inicial. Mas, vindo de fora ou germinando no seu interior, o ritmo e a cor de todos são cada vez mais canarinhos. Dizem os espertos na matéria que se trata de recuperar o que, há cinco séculos, levamos para o lado de lá do Atlântico e que os nossos irmãos brasileiros desenvolveram, enriqueceram e viraram neste mexer envolvente, absorvente e trepidante. (…) Carnaval, que, cada vez mais, bumba, zabumba, trepida e pandeira… como rebolam as cadeiras da brasileira.» (A. Hugo Colares Pinto)
Tu hoje andas muito dado à família do aventadores. Esse A. Hugo Colares Pinto penso ser o pai de um nosso convidado, também ovarense, que só não aparece mais vezes porque ainda é mais preguiçoso que eu:
http://www.aventar.eu/2010/01/21/hugo-colares-pinto-reflexos-4/
Por acaso, agora que me dizes, o nome não me pareceu estranho.
ola,ola,ola!!!!!!!!!!!!!
O Hugo Colares Pinto foi um no que soube, um promotor de conjuntos habitacionais em Ovar.Por sinal foi pupilo do Colégio Julio Dinis,como eu, naqueles bons tempos, onde o conheci!!!
O carnaval de Ovar, por sinal, é um dos mais festejados em Portugal, desde os idos dos anos 50 tornou-se notavel, com diversas pessoas que afluem a esta cidade, para assistirem aos festejos; apesar destas festividades, possui muito esporte aquático na Ria de Ovar, bem assim esporte piscatório; alem,evidentemente de possuir uma das praias mais frequentadas na época balnear!
Yes. I know in Portugal’s
carnival, have a good name of carnival in this country. Congratulations!!!
Everyone living in Ovar-City, know well what is the Carnival in this city. I was there on february long ago ando so I saw anything very good about Carnival. Todey 2015/05/13.