Sei que o provérbio, de origem anglo-saxónica, tem conotações com práticas de prostíbulo – ‘no money no sex’ é a forma menos eufemística de retirar a ideia de prazeres libidinosos a desventurados sem vintém.
Todavia, como outros, tal adágio é generalizável a inúmeros contextos. Pode, por exemplo, ser alternativa para caracterizar a decisão de anular o concurso da ligação Lisboa-Poceirão, A obra deste troço integrava-se no projecto do TGV, cuja realização, no todo, parece condenada a adiamento até data indeterminada.
Todos os cortes de despesa deste género, na conjuntura actual, constituem desfechos esperados. E, por maioria de razão, o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mendonça, deveria ser o primeiro a saber, atempadamente, da inevitabilidade da decisão governamental; poupar-se-ia, ele próprio, à triste figura de, em Julho passado, se ter deslocado a Badajoz para acompanhar os testes de carga da ligação por TGV entre Lisboa e Madrid.
A somar ao erro político, o ministro, até por formação, jamais poderia ter ignorado os gastos para o erário público de actos inúteis. Sem se excluir, é claro, os ‘custos de oportunidade’ gerados, dessa forma, por si próprio e pela comitiva de acompanhantes. São comitivas normalmente numerosas e cujos participantes, na maioria, usufruem de remunerações do Estado.
O cínico em mim pergunta se não haverá aqui mais história, dado que o facto de o país estar à beira da bancarrota parece não afligir esta gente quando se trata de gastar dinheiro alheio, canalizando-o para o bolso dos amigos necessitados.
Vale a pena relembrar o que se passou com o troço Caia/Poceirão:
* 2009.09.01 – Consórcio dos espanhóis da FCC apresenta proposta mais barata para troço Caia/Poceirão, de 1870 milhões de euros (notem que a proposta mais cara ia aos 2310 milhões de euros);
* 2010.05.08 – Soares da Costa confirma concessão do TGV a 40 anos – Aqui o custo desceu para 1494 milhões de euros…
É curioso notar que este número 1494 ME está muito perto do que era previsto em 2008… Estaremos a assistir a uma variação deste tema com o troço Lisboa/Poceirão? Os preços da construção de linhas de TGV são assim tão elásticos? Muitas perguntas, uma trapalhada do principio ao fim.
Por outro lado, parece que os amigos da Mota-Engil estão capitalizados e com os respectivos problemas de dívidas, por principio, resolvidos, não estando por isso com muita pressa neste momento… Será? (A Mota-Engil e a FCC estariam bem posicionados para discutir esta concessão.)
TGV: Ler, lembrar, reflectir, pensar, confirmar, julgar
Chegou o anúncio de que o Governo irá suspender mais um dos troços do TGV. Depois do Porto-Vigo e do Lisboa-Porto, é agora a vez do Lisboa-Poceirão. Já só falta o troço Poceirão-Caia.
Sobre este assunto já falei várias vezes, e há muito tempo. Primeiro, em Outubro 2008, questionei sobre o porquê de não se continuar a investir no Alfa Pendular em vez de partir para o TGV e depois, em Abril 2009, questionei sobre os critérios apresentados pelo governo na escolha dos percursos, da estratégia e do retorno.
Sendo assim, não me vou repetir. Convido-os apenas a ler ou reler os meus posts e também a…
… Relembrar o que Manuela Ferreira Leite disse na campanha para as legislativas 2009
… Reflectir sobre o porquê de muitos de vós não terem votado PSD
… Pensar se não teria sido melhor votar PSD
… Confirmar que José Sócrates anda – com 1 ano de atraso – a fazer tudo o que vários vaticinavam
… Julgar se o mundo está sempre a mudar de 15 em 15 dias
… Questionar a capacidade deste governo e deste Primeiro-Ministro
Claro que já de seguida virão os socratianos (como o João Galamba) dizer que o TGV não foi cancelado, foi adiado por 6 meses. Como se o problema da dívida portuguesa, ou a crise económica, fosse desaparecer nessa janela curta de tempo.
Enfim. É gente desonesta intelectualmente, sem carácter ou personalidade, que mentiu aos portugueses. Gente que apesar destas trapalhadas todas não tem um pingo de vergonha na cara, e ainda vem com uma enorme cara de pau tentar atirar mais areia aos olhos dos portugueses.
Caro Helder Guerreiro,
O seu comentário, documentado, ilustra a ‘guerra’ entre os consórcios de ‘obras públicas’ que, quanto a mim, têm servido os interesses dos próprios e de políticos, nomeadamente daqueles que, ao libertarem-se de cargos ministeriais, se convertem em administradores de grandes empresas do sector – Ferreira do Amaral na Lusoponte, Jorge Coelho na Mota-Engil e por aí fora.
Cptos.
Caro Luis de Melo,
Não tenho dúvidas da razão de MFL, mas coitada até o seu próprio partido achou que a senhora, deveria ser afastada; e, na realidade, afastou-a.
Com uma experiência de vida mais longa e preenchida de desilusões, sinto que é na falta de qualidade dos polítcos que reside a ausência da minha convicção para votar – como sabe, não estou só neste sentimento.
Cptos.