Os equívocos do senhor doutor

É, de facto, impressionante a quantidade de banalidades que o sr. doutor manuel de herédia caldeira cabral escreve no seu artigo.

Não quero discutir a questão dos salários dos outros – coisa que parece ser da manifesta preferência de muitos portugueses – e não tenho muito tempo disponível. Não posso, no entanto, deixar de fazer um breve comentário a uma passagem que parece absolutamente incrível ter sido escrita por um doutorado em Economia:

“Em áreas em que a densidade populacional é baixa, o transporte por autocarro é, em geral, mais eficiente, económico e em muitos casos até mais ecológico (se se tiver em conta todo o impacto de manutenção da via). Nesses casos, não faz sentido manter linhas só porque estas aí foram construídas no século XIX, nem em termos económicos, nem no que toca à justiça social.”

– O maior custo de investimento em transportes em “via dedicada” – como escreve o doutor – é exactamente o da instalação da “via dedicada”, pelo que o abandono de uma pré-existência em favor de uma outra alternativa deve ponderar esta perda de investimento como um acréscimo de custo para a tal alternativa.

– Dá por garantido (takes for granted) que a falta de rentabilidade de determinadas ligações não pode ser alterada, por exemplo, por reformulação dos serviços indo de encontro às necessidades das populações servidas, ou aumentando as ligações a transportes conexos, ou… (you should know, you name it).

– Não tomou certamente muita atenção às escolhas dos seus hóspedes ingleses durante o tempo em que terá realizado o seu doutoramento em Nottinghamshire (terá tido que lá estar pelo menos uma vez, para apresentar a dissertação – digo eu…). Segundo os seus critérios este serviço regional seria impossível em Portugal e esta linha devia ser fechada por causa da pouca população (em termos relativos da muito povoada velha Albion) das povoações que serve.

Nada como uma “Robin Hood Line” para calar um pretendente a “Xerife de Nottingham”, hem? ;)

zedeportugal in comentário

Comments

  1. Rodrigo Costa says:

    … Para que pensa que servem os economistas, na generalidade?… Na casa deles não há banhos de afecto; tudo tem preço…

  2. Manuel Tão says:

    O meu colega “doutor” (porque eu também o sou), devia olhar para as estatísticas do INE, no tocante às viagens diárias em 1990, quando havia combóio, e ao número de viagens idênticas, 20 anos depois. É que, em eixos como Évora-Reguengos ou Évora-Moura., o mercado global de viagens diárias QUINTUPLICOU!!! E agora, o que é feito dos autocarros de “substiuição ao comboio”??? DESAPERECERAM NA MAIOR PARTE!!! Então, onde está a “adequação” dos autocarros aos fluxos regionais??? O meu caríssimo colega, Doutor Caldeira “esquece-se” de um “pormenor”, que oresto da Europa já descobriu há muito: a “Elasticidade-cruzada” entre automóvel e autocarro é ZERO! Sim, é verdade, manter linhas regionais de caminho de ferro tem um custo. Mas deixar toda uma região na dependência da estrada e da viatura particular também. E não será maior???

  3. john says:

    Nunca vejo, nestes estudos os custos da execução e manutenção das rodovias. E manutenção não é tapar buracos que algum tempo depois estão novamente buracos!

  4. português says:

    Mais um iluminado, que se julga dono da verdade absoluta, mas depois sai bacorada, é devido a senhores como este que ao longo dos anos se tem vindo a destruir a industria pesada, pescas, agricultura, agro-pecuária, etc…

  5. António Sousa says:

    O autor destes insultos já se questionou sobre os custos de manutenção de linhas como a do Oeste (custa mais de 17 milhões de euros por ano só em custos correntes – tem receitas de menos de um milhão de euros) ou da linha do Tua (onde o preço por passageiro/km é três vezes mais caro do que o de um taxi), linhas onde se tem gasto dezenas de milhões de euros em investimentos para manter o minimo de segurança.
    O problema é que os custos existem. O problema é que em algumas destas linhas regionais os custos contam-se às dezenas de milhões e os passageiros diários são umas centenas. Em alguns casos gasta-se com cada um destes passageiros dezenas de vezes as pensões que se dá às pessoas para sobreviverem.
    É preciso fazer escolhas. É estranho que a escolha que este blog defende seja a de manter toda e qualquer linha mesmo que sirva tão pouca gente que a alternativa de colocar um táxi à disposição de cada passageiro seja mais barata. É em parte por acumular prejuizos tão elevados nestas linhas que a CP e REFER se endividaram tanto e agora estão a reduzir serviços. É em parte pela atitude destes fundamentalistas que foi tão fácil fazer demagogia contra o TGV e se conseguiu amputar esse projecto.
    Eu pela minha parte preferia bem que se fechassem algumas linhas regionais (as que não fazem sentido económico ou social), garantindo alternativas de transporte às populações de forma mais barata, mas que se evitasse estar a reduzir e a piorar os transportes públicos onde eles fazem sentido, que é nas grandes cidades e no longo curso entre cidades de média e grande dimensão. O caso da cidade inglesa que referiu é um bom exemplo de um eixo onde faz sentido existir caminho de ferro. Nottigham é uma cidade com cerca de 600 mil habitantes e a linha até Londres (200 km) passa por várias cidades que no seu conjunto devem ter perto de três milhões de habitantes.

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