Vivo num país falhado

Num estado a sério, podemos confiar que o estado não muda de opinião como quem muda de cuecas. Por isso se podem tomar decisões a longo prazo, fazer investimentos, contar com uma reforma, fazer opções reflectidas. Num país falhado, obriga-se ao investimento em maquinaria e obras para se terem espaços de fumadores e depois, passados nem 5 anos, mudam-se as regras e diz-se que esses equipamentos e essas obras são para mandar para o lixo.

Num estado a sério, o estado abstém-se de intervir no espaço privado de cada um. Num país falhado, o estado entra pelo pão a dentro para controlar o sal, salta para o carro para ver se há fumo ilegal e está a um passo de entrar casa dentro para decidir como se vive saudavelmente.

Num estado a sério, o estado procura educar as pessoas para que estas se tornem responsáveis e tomem as melhores decisões. Num país falhado, o estado toma os cidadãos por imbecis e faz de papá-galinha.

Infelizmente, mesmo sendo não fumador, vivo num país falhado.

Comments

  1. Um Estado a sério tem que controlar (vigiar) a vida de todos os cidadãos, felizmente a tecnologia evoluiu no sentido de um gigante panóptico. Não esquecer que o mais importante teórico do Estado moderno é Stalin, o píncaro do movimento intelectual dos finais do século XVII, com os libertinos, os deístas, etc. e obviamente Grócio com a separação entre direito natural e direito divino.

  2. Tito Lívio Santos Mota says:

    O higienismo foi uma das principais componentes das ditaduras do século XX.
    Daí todas terem “movimentos de jovens” para-militares, todas fazerem grande alarde da “vida no campo”, do desporto coletivo, do “retorno ao campo”. E, sobre tudo, todas terem estigmatizado quem não “tem vida saudável”, e todas terem legislado no sentido de nos obrigar a ter vida conforme com isso.
    Em resumo : todas as ditaduras (e aprendizes ditadores) adoram “criar o bem dos outros contra as suas vontades.

Trackbacks

  1. […] que vivemos num país falhado, Passos Coelho e Relvas nem por um momento pensarão abandonar o poder onde se acabaram de alapar. […]

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