Sento-me entre estas mulheres, eu que apenas espero por quem há-de sair, como se partilhasse a angústia delas, uma mais entre elas, na sala de espera, eu tão vestida – de roupa, de palavras, de artifícios -, elas nuas com a sua roupa coçada, os seus gestos bruscos, o seu cansaço de muitos anos. Mulheres castigadas, que até da doença se sentem culpadas, que se deitam para que um médico as toque como se assim se rebaixassem, que sentem o corpo como algo que lhes não pertence mas do qual devem sentir vergonha.
Um corpo que serviu um homem, que pariu filhos, que trabalhou e envelheceu, e que agora tem de ser mostrado, na sua infinita tristeza, ele que nunca se incendiou, que nunca resplandeceu, que andou pelo mundo como se estivesse destinado ao dever e jamais à alegria. E que quando poderia descansar, adoece, rende-se, sucumbe ao peso da vida sem alegria. Diamantina, Armanda, Dulcídia, Maria de Fátima, Lurdes, Ana Paula. Mulheres sem cabelo, com a cabeça coberta por um lenço branco, a pele amarelada, os braços caídos, mulheres que em breve hão-de partir da vida e dela só viram um poço, uma parede nua, uma música que tocava lá ao fundo e que elas não puderam dançar.
Muito bom…..
Um poema, Carla, dos verdadeiros
Que vontade de chorar….