A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto que fita é Portugal.
Mensagem, Fernando Pessoa
Mal sabia Fernando Pessoa que a História viria a dar outros significados ao poema “Os Castelos”, porque o tempo traz consigo novas leituras.
É verdade que a estagnação europeia estava já presente no texto pessoano, com um continente que se limita a fitar, apoiado nos cotovelos, o que poderá implicar, por sua vez, que esteja também de joelhos.
É igualmente verdade que a Europa nasce a Oriente, estendendo-se para Ocidente, tendo levado algum tempo a chegar à Península Ibérica: enquanto Ésquilo escrevia Os Persas, haveria humanóides a grunhir na bacia do Tejo. Ainda assim, tivemos tempo para fazer mais e melhor. O Pessoa da Mensagem acreditava que Portugal poderia voltar a liderar o mundo, ser a face do Ocidente, cabeça da Europa.
Ora, a verdade é que, ontem, foi a Grécia a dar a cara por ideais europeus assentes numa palavra aí criada há milhares de anos: democracia.
Este simples facto retira a Portugal o lugar anatómico em que Pessoa o imaginou. Um país sem ideias não pode ser cabeça e uma nação com tanto medo só pode ser aquilo que tem quem tem medo, o que explica muita merda.
É, então, importante fitar o verdadeiro rosto da Europa, perscrutar os olhos gregos. Talvez voltemos a aprender alguma coisa.
Falar bem da Grécia está certo. Falar mal dos habitantes da Península Ibérica está mal. O cromeleque dos Almendres tinha 3000 anos quando Ésquilo escreveu os Persas e certamente que não foi construído por humanoides. Dizer coisas destas assemelha-se às teorias racistas do III reich. Os alemães dizem, por exemplo, que depois das invasões eslavas, Ésquilo ficou sem descendentes na Grécia.
Quando à coragem dos gregos e a brandura dos portugueses muito haverá a dizer. E não é o que aqui foi vertido.
Não vale a pena discutir porque “o povo é sereno,é só fumaça” como diria o nosso almirante ; se calhar já está tudo vendido e podemos ir todos de férias para Paris como dizia o nosso amigo Eça !!!