Podia ser uma grande produção hollywoodesca mas não é. Está mesmo a acontecer. O discurso incendiário, o muro, a confrontação, o insano do Bannon, a sucessão de tweets, o Putin, o fecho selectivo de fronteiras, o inimigo árabe, com o devido regime excepcional para a Arábia Saudita, o Brexit, a Le Pen. De um momento para o outro, o mundo está virado de pernas para o ar. Em Bucareste há quem tente liberalizar a corrupção. Em Moscovo legaliza-se a violência doméstica. Vale tudo. Até arrancar olhos.
Na nova América de Trump, há algo de José Eduardo dos Santos no ar. O genro de Donald, Jared Kushner de seu nome, é um tipo que pelos vistos faz bons negócios e casou com a filha do homem mais poderoso do mundo, era ele ainda apenas um dos homens mais poderosos do mundo. Agora é conselheiro da administração norte-americana. Só pode ter sido por mérito.
A esposa do conselheiro, Ivanka Trump, é uma jovem empreendedora que, entre outros investimentos, possui uma linha de roupa, que por estes dias foi dispensada pela cadeia Nordstrom, que alegou quebra de vendas. O papá, sentado na Sala Oval, pegou num tweet e atirou-o à Nordstrom. As acções da empresa subiram em flecha e a empresa cresceu 450 milhões de dólares em valor de mercado de um dia para o outro. Toque de Midas Trump.
É então que entra em cena a alucinada Kellyanne Conway, uma espécie de Michael Kelso do mal, que inventa massacres que não aconteceram e tem um espaço diário na Fox News para dizer parvoíces. Mais uma conselheira de topo do reino de Trump.
Disse a indivídua, num daqueles púlpitos que vemos nos telejornais, com a bandeira e o selo da Casa Branca por trás, que não gosta de fazer compras mas que ontem ia fazê-las. E porque? Porque os produtos da Ivanka são fabulosos! Vai daí começa um momento de publicidade gratuita para o negócio da filha do presidente, algo que de resto foi abertamente assumido pela conselheira. Reality show.
Segundo a lei americana, caso ela ainda vigore, usar funções oficiais para promover produtos é ilegal. Nada que deva preocupar a mulher que deu ao mundo a verdade absoluta dos factos alternativos. Se funciona em Angola e noutras paragens, porque não há-de funcionar lá?
*****
P.S. Não é que tenhamos grande moral para falar. Em Portugal não faltam papás poderosos no sector público a arranjar empregos e negócios para filhos e amigos. Claro que assusta mais quando acontece na potência que governa o mundo.
Sofia não fica na Roménia. Devia querer dizer Bucareste?
De resto, bom texto. Há algo de muito surreal em tudo isto, Trump Presidente não é diferente do Trump reality show. Um homem de 70 anos que se comporta como uma criança de 10 e faz birra por tudo, porque não está habituado a ser contrário em nada.
Alguém que lhe cancele as próximas temporadas…
Grande lapso! Obrigado pelo toque 🙂
Quanto ao Trump Show, era bom que o tirasse do ar mas vamos ter que o aturar. E não descarto a possibilidade de reeleição, principalmente se a oponente voltar a ser a senhora Clinton…
Eu não descarto a hipótese de destituição. A questão é que com Pence não penso que ficaríamos melhor servidos. Seria menos mediático e provocador e mais respeitado internacionalmente mas tem o mesmo pensamento que The Donald. A cartilha Bannon é para cumprir.
Para 2020, fala-se no Biden como candidato Democrata. O Bernie Sanders já será demasiado velho, infelizmente.
Em França Fillon não está a ser acossado pelo facto propriamente dito de contratar a mulher, mas pela possibilidade da senhora ter recebido sem trabalhar, ou estar a receber do Estado, trabalhando para o partido. Ao que parece nomear familiares para cargos públicos é absolutamente normal e nem a moralista FN escapa…
Mesmo em Portugal, olhe-se para as bancada dos partidos, não vou nomear nomes porque vocês sabem quem são, e vejam quantos apelidos não vos são familiares. Mas não olhem para a bancada do partido que não gostem, olhem para todas…
Na América isto vai dar problemas a Trump e algo me diz que Pence ainda irá prestar juramento como Presidente dos EUA… É que nem se atrevam a comparar nesta matéria os EUA com a Europa…