Postcards from Greece #30 (Thessaloniki)

Potentially violent demonstrations

(fotografias tiradas daqui e daqui)
era o que estava aparentemente anunciado para hoje, embora eu não o soubesse antes de a Giota me ter vindo bater à porta do gabinete, por volta das 3 da tarde. Disse-me que devia sair antes das cinco porque ia haver manifestações e muito provavelmente confrontos entre os anarquistas e a polícia. Perguntei-lhe porque razão. Explicou-me que hoje se assinalava o aniversário da morte de Alexandros Grigoropoulos, um jovem estudante de 15 anos que foi morto em 2008 pela polícia.
 
A área da Universidade era, uma vez mais, uma zona a evitar depois das cinco horas, disse-me a Giota, coisa que confirmei com o segurança do edifício da faculdade, embora ele me tivesse dito que a partir das quatro fechava tudo. Arrumei as coisas e vim para casa. Apanhei o autocarro 16, o que dá uma volta bestial pelo centro e enquanto estava na paragem reparei na enorme quantidade de pessoas que saiam apressadas da Universidade. Reparei igualmente na escassez de trânsito, numa cidade que tem muito tráfego dia e noite. Saí uma paragem antes da Agios Dimitrios, à procura de uma papelaria específica que acabei por não encontrar e fui a pé para casa, depois. A rua estava estranhamente calma.
 

Em casa ‘googlei’ os acontecimentos de 6 de dezembro de 2008. Fiquei a saber o nome da vítima e as circunstâncias ainda não inteiramente esclarecidas da sua morte. Uma coisa se sabe: foram polícias que o assassinaram, sem razão aparente, depois de terem provocado o grupo onde Alexandros se encontrava. Encontrei igualmente, quando pesquisava o anúncio da embaixada dos EUA, com as horas das manifestações em Atenas e em Salónica. Nele se alertava para o carácter potencialmente violento das manifestações de hoje. Relativamente a Salónica, informavam que os Anarquistas se concentrariam às 15h em frente ao tribunal, na rua 26 de outubro, a Extrema Esquerda encontrava~se junto ao Arco de Galério às 17h e uma hora e meia depois, no mesmo local, de novo se concentrariam os Anarquistas. O que o site da embaixada dos EUA não anunciava era que desses locais, partiriam manifestações. Vi a ERT (a televisão pública grega, encerrada pelo governo da Nova Democracia e PASOK e reaberta pelo governo de Tsipras) e nela se anunciavam as ruas cortadas na cidade. A Agios Dimitrios ali abaixo aparecia como uma dessas ruas, mas na verdade, da varanda, além da estranha calma, tudo parecia relativamente normal.
 
Até que por volta das seis e qualquer coisa da tarde ouvi um barulho intenso de vozes que gritavam palavras de ordem. Fui ver à varanda e logo ali abaixo, centenas de manifestantes, vestidos de escuro e empunhando bandeiras vermelhas e grandes cartazes, interrompiam a calma da rua. Atrás deles dezenas de polícias do corpo de intervenção, cujas carrinhas tinha visto em várias ruas quando vim de autocarro. A manifestação passou e eu meti-me para dentro. Passado pouco tempo ouvi várias explosões seguidas. Procurei de novo informação e encontrei um site – ThessaNews- onde já havia fotografias e vídeos dos confrontos*, no fim da Agios Dimitrios, na área da Universidade, no sítio onde ainda hoje de manhã e hoje às quatro da tarde passei tranquilamente. Cocktails molotov e pedras, do lado dos manifestantes. Gás lacrimogénio da parte da polícia. Outros sites de notícias falavam de uma ‘zona de guerra’ perto da Universidade e anunciavam um polícia ferido. Em Atenas a situação parecia ser, pelas imagens, bastante mais crítica.
 
Ao ver as imagens pensava que se não fosse a Giota ter-me avisado, provavelmente estaria ainda na Universidade às seis da tarde e estaria impedida de sair de lá. Ou se conseguisse sair, saíria diretamente, como geralmente faço, para a Agios Dimitrios, encontrando-me assim mesmo no meio dos confrontos. A verdade é que desde que cheguei aqui e, essencialmente, desde há duas semanas, já é a segunda vez que me avisam para não me aproximar da universidade devido a acontecimentos que podem ser potencialmente violentos. Amanhã Erdogan, o presidente turco, inicia a sua visita de dois dias à Grécia**, depois de 65 anos sem que um presidente turco aqui viesse, e estão já programadas manifestações em Atenas. Em Salónica não ouvi ou li nada sobre manifestações agendadas, mas o consulado turco é já aqui uns quantos quarteirões abaixo e ainda há umas duas semanas vi duas manifestações de estudantes a defender o Enosis que terminaram em concentrações em frente ao Museu Ataturk. Se calhar amanhã não vou poder sair de casa.
 
*Ver mais sobre os confrontos, aqui
**Algumas informações sobre a visita aqui

Comments

  1. atento às cenas says:

    obrigado