Concordo com as críticas que têm sido feitas à excessiva predominância de laços familiares no governo de António Costa, com ramificações no Parlamento, em empresas públicas e noutros domínios da vida pública portuguesa.
Não se trata de questionar a competência de A ou B. Trata-se, acima de tudo, de questionar o processo de selecção, que numa sociedade democrática não se pode assemelhar ao de uma monarquia.
Contudo, há uma dúvida que me assalta (literalmente): como é que isto é diferente dos favorecimentos que, ao invés da consanguinidade, privilegiam as famílias partidárias? Ética e moralmente, qual é a diferença os entre laços familiares do executivo socialista e os laços partidários que tomam de assalto inúmeras autarquias deste país, da administração das mesmas até ao controle absoluto das mais variadas prestações de serviços, pela via do ajuste directo, por um grupo restrito de amigos do poder?
Posto isto, o que se passa hoje no governo é mais grave do que a decisão da ministra Cristas de nomear uma série de militantes do seu partido para tomarem conta da Parque Expo? E quando a Segurança Social foi preenchida por boys e girls do executivo Passos Coelho? E quando as mais variadas empresas e organismos públicos foram literalmente ocupados por boys de José Sócrates, Durão Barroso, António Guterres ou Cavaco Silva? Qual é a diferença, se o critério por trás do favorecimento é exactamente o mesmo?
Investiguem o que se passa nas vossas autarquias, caros leitores. Vão ver quantos jotas, amigos e militantes do partido do vosso presidente de câmara foram nomeados ou agraciados com empregos que, em muitos casos, nem sequer existiam.
Vão ver quem são os beneficiários dos ajustes directos, em particular aqueles com valores tipo 74.990€, que, coincidência das coincidências, conseguiram evitar a abertura de um concurso público, obrigatório, para certos serviços, a partir de montantes de 75 mil.
Vão ver quem são as empresas que organizam os concertos ou quem a vossa autarquia chama sempre que precisa de materiais gráficos. E de seguida investiguem quem organizou os concertos e produziu os materiais gráficos das suas campanhas eleitorais.
A rede de favorecimentos politico-partidários é um cancro que metastizou um país inteiro, que sustenta, ad eternum, as mesmas elites políticas de sempre. E muitos daqueles que agora apontam o dedo ao governo, não conhecem outra forma de vida que não seja a de parasitas do erário público. Mas quem vive acima das suas possibilidades, caro leitor, é você.
E tudo isso vem a substituir quem?
Quadros da função pública admitidos por concurso, hierarquizados, avaliados e auditados.
Há lutas a esse propósito na função pública?
Não.
Boa parte deles já são sobras desse processo, agentes partidários ou gente a quem disciplina e avaliação são ofensas a direitos.
Quando um direitalho, versão direitrolha, que só conhece a “chamada” função pública dos filmes, e está tão cheio de certezas, a esquerda tem futuro! Avante!
Muito bem observado. A doença é transversal a todos os partidos políticos. Aliás, suspeito que as ideologias políticas como as conhecíamos morreram e no seu lugar está a ideologia do “venha-a-nós”.
O Partido Socialista sempre foi useiro e vezeiro neste tipo de aconchegos profissionais, dentro do aparelho estatal. Faz parte do seu ADN. Não é o único, mas é aquele que mais se faz notar, mesmo que outros, em “número e qualidade”, ombreiem com a família socialista.
Qual a razão?
Vamos por partes:
Contrariamente ao PSD, cuja traficância é fundamentalmente entre o Estado e as Empresas, em especial as que se candidatam a negócios de renda fixa, mas também outras que tentam sacar algum fundo(zito) de coesão, tipo QREN, o PS, maioria das vezes está excluído deste universo, onde só a direita mete de facto a mão.
Dizia em tempos um político socialista de topo, que o PS tem mais vocação redistributiva, do que empresarial.
Eu acho que eles têm mais vocação para a acrobacia. Fazerem flick flack’s.
Desprezados pela economia de mercado, por não serem aceites como gente com ambição desmedida, capaz de verem no atropelo de direitos fundamentais, uma das condições básicas para o aumento da eficácia e produtividade, resolvem então, desterrados, proliferar nos quadros de topo da administração pública e nos cargos de governo, o seu clã.
É por isso que eu não voto neles. Detesto coisas híbridas, em politica.
Exemplo paradigmático:
Ângelo Correia, o que é que lee ainda não foi, no mundo empresarial?
“O empresário, que foi um dos fundadores do PSD e ex-ministro da Administração Interna, adquiriu 40% da Terra Verde, a primeira a obter licença para cultivo de canábis em Portugal, segundo noticia o “DN”. Ângelo Correia reconhece que “isto é um novo mundo que nós desconhecíamos”, até aqui considerado “dos tipos que fumavam droga”
Esse tipo tinha uma cunha aos organismos públicos bem decente:
‘Dêem-me a resposta ao pedido antes de a comunicarem ao solicitante.’
E ser bem informado é condição de ser empresário,