Paulo Pinto Mascarenhas: O 25 de Abril é do povo

(Paulo Pinto Mascarenhas, Consultor de Comunicação, ex-jornalista)

A escrever para o Aventar, um espaço de liberdade de expressão, dou comigo a pensar que já sou um pré-histórico, daqueles que ainda se lembra onde estava no 25 de Abril de 1974, com apenas 7 anos, encavalitado em cima do muro do quintal de um primo, com o meu irmão, em Lisboa, a festejar com os dedos em V de vitória, o que não sabíamos bem o que era, mas que foi uma boa festa e parecia trazer um País melhor – como acabou por se confirmar. 

Para as novas gerações, que já nasceram com as liberdades adquiridas, é bom lembrar o que significou o 25 de Abril, sem nunca esquecer a ditadura que foi derrubada, mas também o que se seguiu depois, o chamado Período Revolucionário Em Curso (a Wikipedia ajuda a perceber o que se passou), com o cortejo de novas ameaças à democracia, das nacionalizações selvagens às perseguições políticas, dos saneamentos sumários às detenções arbitrárias. 

Um PREC que se suavizou com o 25 de Novembro de 1975, mas que sobreviveu simbolicamente até 1982, dois anos depois da morte de Francisco Sá Carneiro, com a existência do Conselho da Revolução, extinto num acordo de revisão constitucional entre o PS de Mário Soares e a Aliança Democrática, já liderada por Francisco Pinto Balsemão, então primeiro-ministro – e devemos aproveitar o 25 de Abril para prestar homenagem a alguns dos fundadores da democracia parlamentar em que vivemos, que estiveram na oposição ao Estado Novo e depois combateram também pela liberdade contra os extremismos de esquerda.  

(Não deixa de ser estranho falar sobre a liberdade em tempos sombrios de tantas restrições por causa da pandemia, de confinamentos e desconfinamentos, mas também pode servir para nunca nos esquecermos que ela – a liberdade – deve estar sempre acompanhada pela responsabilidade. E o 25 de Abril libertou-nos de um longo confinamento autoritário de 48 anos.) 

Digo que é bom lembrar o 25 de Abril e o que veio depois para não repetirmos os erros do passado, porque é certo e sabido que os extremos se alimentam mutuamente e devemos proteger a nossa democracia, tão cheia de defeitos e fragilidades que a ameaçam, como a corrupção, mas que sempre foi e continua a ser o melhor de todos os regimes conhecidos. 

Uma democracia que não pode nem deve ter donos, ao contrário do que alguns ainda pretendem, porque, como se dizia nos anos quentes do PREC, o 25 de Abril é do povo – e nunca foi de Moscovo. 

Comments

  1. O texto do Paulo circunscreve-se ao mais politicamente correcto, procurando passar ao lado dos que querem e sempre quiseram usar a democracia para a destruir. Lembro o homem do bigodinho que ascendeu ao poder por via quase democrática, ou o coiso que venceu as eleições no Brasil com os expedientes mais torpes, ou a campanha Republicana para suprimir votos nos EUA, e a lista não teria fim.
    Para concluir, pergunto: vamos dar oportunidades aos anti-democratas para destruir a democracia?
    Nunquinha! (Como diz a minha amiga brazuca)

  2. Filipe Bastos says:

    Claro que o texto do Sr. Mascarenhas é politicamente correcto: o Sr. Mascarenhas é ‘consultor de comunicação’, logo um dos arautos – e criadores – do politicamente correcto.

    A sua profissão é louvar e branquear mamões, numa daquelas empresas de gente muito bem paga que tira aquelas fotos de braços cruzados em permanente pose ‘corporate’. Pensem no Arnaut, no Mamão Xavier ou no Mamão Mexia.

    Especializa-se assim em textos anódinos, redondos, forçosamente PC para nunca ofender ou inquietar ninguém – excepto, claro, esquerdalhas demasiado pobretanas para comprar os produtos dos seus clientes ou pagar os fees da sua empresa.

    Notei que além dos comunas costuma malhar no PS, o que sempre é menos mau. O PS não deve ainda ser cliente.

    • Nascimento says:

      Ora deixa cá ver: 28 Setembro, 11 de Março, malinhas com guito a sair em barda, Jorge de Brito e as suas mui famosas peças de Arte! A fuga pró Brasiu ou Espanha, dos Donos Disto Tudo ( depois veio ,convidado pelo Mário,mas com o aval Du Franciú Miterrand… ) , O camarada,ups, o Amigalhaço Cónego Melo ( direito a estatutária na Braga Socialista do Augusto Mesquita Machado), assalto a sedes,agressões instigadas pela padralhada, bombas e assassinatos, ás vezes os ” democratas” até se matavam entre eles ( olha o Porsche do irmão do presidente de A. Valdevez ,como ficou!). Sobre isto? o escriba? Rabisca o quê? Nada…Espectáculo!
      Mas, o que nos vale é a narrativa de Jornaleiros do Regime.
      Vá, vai lá pró Centro da Mesa , pá!
      O Repasto ainda não terminou…. aliás vem aí a Bazuca!
      Não sabias?

  3. Ricardo Pinto says:

    Obrigado pelo texto, Paulo.
    Mas já que te referiste às ameaças à democracia, não te terás esquecido do Chega?
    Abraços.,

    • Paulo Pinto Mascarenhas says:

      Ricardo, não é preciso falar do Chega para se perceber que está subentendido nos extremos, como não é preciso falar do PCP e do BE, acho eu. Abraço.

      • João L Maio says:

        Paulo Pinto Mascarenhas,

        Muito obrigado pelo texto.

        Ainda assim, cuidado com as falsas equivalências.
        Podemos dizer que, historicamente falando, o PCP chegou a pôr em causa a Democracia durante o PREC. Depois disso, acho que é unânime, soube reduzir-se à sua posição de partido de oposição à esquerda; o mais à esquerda, diga-se. Profundamente ortodoxo e sectário, mas longe de ser uma ameaça à Democracia.

        Quanto ao BE, ainda espero que alguém seja capaz de dizer um único aspecto em que, durante 22 anos de existência, tenha posto em causa a ordem democrática ou que não seja defensor da Democracia. Relembro que o Bloco surge em oposição a PCP e PS, contra o dito “socialismo real” e a social-democracia, mas sendo de capaz de ir buscar aspectos aos dois, fazendo da pluralidade a principal bandeira para se estabelecer como a principal alternativa à esquerda.

        Ser radical ou ser extremista, porque muito que possa parecer, não são a mesma coisa. Ser radical é saltar de um avião com o pára-quedas às costas; ser extremista é querer saltar sem o pára-quedas. Vê a diferença?

  4. Paulo Pinto Mascarenhas says:

    João, obrigado, o BE resulta de uma fusão de partidos, da UDP ao PSR, como sabe. Só para dar um exemplo, o BE teve um candidato autárquico que foi condenado no processo das FP 25 de Abril. Já agora, queria agradecer o convite do Aventar, já o fiz no meu Facebook e no Twitter, mas deixo também aqui, com os parabéns pelos 12 anos de vida.

  5. JgMenos says:

    As ameaças à democracia surgem quando os arautos de uma ideologia começam a perorar que querem os seus seguidores protegidos de ideias que têm por adversas.

    São sempre os pastores que querem rebanhos tranquilos.
    Quanto mais indigentes ou quanto mais têm os seguidores por indigentes, mais se alarmam.

    • Paulo Marques says:

      Ui, quem te lê até pensa que nunca uivaste contra o marxismo cultural, feminismo e direitos LGBT+, a bem da pureza das criancinhas.
      Mas isso já não conta como ameaça à liberdade, claro, são só bons costumes que só por acaso encaixam nos interesses do rebarbado.

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