Another esquema do Chega, exposed

Ontem foi dia de um daqueles eventos que começa a ser um clássico por cá. Uma manifestação contra os preços obscenos dos combustíveis, alegadamente espontânea e de iniciativa popular, era afinal mais um truque mal disfarçado dos suspeitos do costume. Suspeitos esses que se estão nas tintas para o preço, que não pagam ou não lhes pesa, mas que pretendem, através destas acções de guerrilha, cavalgar o descontentamento popular. Nada de novo, claro está. Copiado do textbook do facho Bannon.

Quanto ao preço dos combustíveis, nada de novo também. Mais uns cêntimos, para tornar ainda mais revoltante uma situação já de si insustentável, que não há meio de ser invertida, pese embora a esmola ontem anunciada. Mas não é só nos combustíveis que esta situação se tornou insustentável. É a factura global, a todos os níveis, que assumiu proporções de assalto à mão armada. O problema, contudo, não são os impostos. O problema é a não proporcionalidade do retorno que daí resulta. Deixarei essa reflexão para uma outra posta, mas deixo desde já uma declaração de interesses, que não será particularmente popular: sou a favor de um modelo de gestão pública no qual os impostos, sempre progressivos, são necessariamente elevados. A contrapartida, porém, não pode ser um Estado falido, mas um Estado que devolve esse esforço aos cidadãos sob a forma de uma rede de serviços públicos abrangente, funcional e gerida com rigor. É assim nas democracias mais avançadas do planeta, e é isso que sonho, um dia, para o meu país. Um país livre de flatulências trumpistas, sublinhe-se.

José Gomes Ferreira revela um problema grave

O José Gomes Ferreira, de vez em quando, revela um problema grave! Qual? É que, quando menos se suspeita, está carregadíssimo de razão.
Se faço um pedido? Faço: deixem-se de bramir sobre questiúnculas entre esquerda e direita e afins sem qualquer relevância e unam-se sobre o que, de facto, é importante para o futuro de todos neste país.

CLICKBAIT: De Nick Brewer a Raquel Varela

Na série “Clickbait”, da Netflix, Nick Brewer é raptado e acusado de ter assassinado uma mulher. Aos cibernautas é pedido que divulguem o vídeo onde Nick segura cartazes onde supostamente assume a acusação e prometem consumar a vingança assim que o vídeo atinja os 5 milhões de visualizações. A série explora muito bem o ambiente doentio que se vive à volta da cultura do cancelamento, capaz de levar até às últimas consequências as conclusões sobre qualquer caso, mesmo quando se está longe de ter todos os elementos de análise sobre um determinado assunto. Para estes novos Torquemadas a verdade é um detalhe praticamente irrelevante, posto que jogam tudo na guerra pela percepção e nas respectivas consequências, em si suficientes, caso bem sucedidas, para atingir os seus objectivos.

Ao contrário do sistema de justiça, e também ao contrário do que devem ser os pressupostos do jornalismo de investigação, a justiça digital não precisa de factos, nem de contraditório, nem de verificação de dados. A acusação basta. A narrativa dessa acusação é o fio condutor que vai convencendo aqueles que clicam antes de pensar e aqueles que clicam com os olhos postos nos seus desejos e não na realidade. Em qualquer caso de clickbait importa mais a percepção do que a verdade, mas isso não basta para que todos acabem a comer gelados com a testa.

Nas últimas semanas, onde o “caso Raquel Varela” tem persistido em algum alinhamento, percebemos que aqueles que acusaram a historiadora de fraude, apostaram tudo nesse enviesamento, numa sucessão de estórias sem história, de casos sem casos, onde mais do que a verdade, prontamente desmentida com factos, bastaria a percepção da fraude para ganhar a maioria da opinião pública e ferir a credibilidade da figura nos vários contextos onde exerce a sua actividade. Ora, sem exorbitar da paciência de ninguém, vejamos o tema em cada um dos eixos que se foram sucedendo na imprensa que desistiu de fazer jornalismo:

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