Somos governados por negacionistas

Nestes tempos que vivemos, aos olhos do Estado e sua armada, a linha entre céticos e negacionistas é bastante ténue. Toda e qualquer atitude que questione decisões do Governo ou das altas instituições em relação à pandemia é intitulada de negacionismo. Os progressistas de antigamente combatiam o sistema em busca de algo mais, os de hoje tornaram-se servos do Estado sem saber muito bem porquê. Talvez por todos termos cada vez mais poder nas mãos, podendo dar opiniões em plataformas ao alcance de qualquer um, boa parte da sociedade deixou de reconhecer o cinzento e tornou tudo numa questão de preto ou branco.

Questionar a necessidade de máscaras com 85% da sociedade vacinada é negacionismo? Questionar a necessidade de máscaras em salas de aula com indivíduos vacinados e que pertencem a um grupo etário com taxa de mortalidade praticamente nula, prejudicando a aprendizagem e dando mais probabilidade a problemas de saúde a longo prazo, é negacionismo? Questionar a eficácia das vacinas, devido aos rumores de uma possível terceira dose ou não, é negacionismo? Questionar as imposições feitas às pessoas que são divididas entre vacinados e não-vacinados é negacionismo? [Read more…]

Spin orçamental

António Costa, por vezes, parece esquecer-se que chefia um governo minoritário. E como chefia um governo minoritário, e rejeitou acordos escritos com outros partidos no início da actual legislatura, não tem outra alternativa que não seja negociar com as restantes forças políticas, sujeitando-se a parte do caderno de encargos dos partidos de quem pretende obter votos favoráveis ou abstenções.

Fazer rodar o spin “o país não vai compreender se os restantes partidos chumbarem o OE22” até pode servir para consumo interno, mas, para lá dos limites do Largo do Rato, não cola. O que o país não vai compreender é se Costa recusar aceitar as exigências dos restantes partidos e, ainda assim, lhes imputar a responsabilidade pelo chumbo do orçamento. Não pode. A responsabilidade é sua. O governo, não a oposição, é quem tem a exclusiva responsabilidade de fazer aprovar o SEU orçamento. E se não está disponível para o fazer, que se sujeite às consequências. E que nos poupe a spins de mau pagador.

Eu Apoio: Médio-Prazo-Memória-Curta

Em 2019, Paulo Rangel, em entrevista ao Diário de Notícias, revelava o seu apoio incondicional a Rui Rio. 

Dois anos volvidos, o que mudou? Dois anos de distância são curto, médio ou longo prazo? Paulo Rangel estará confuso agora? Ou estaria confuso em 2019? E quando Rui Rio era presidente da CM do Porto e Paulo Rangel auxiliava nos assuntos jurídicos, pondo ao seu serviço a CuatreCasas, sociedade de advogados representada por Rangel? Também estaria confuso?

E é assim, na espuma dos dias e no cavalgar da fraca memória dos portugueses e da opinião pública, que Paulo Rangel montou todo um cenário diabólico acerca de Rui Rio, conseguindo até, no entretanto, jogar a cartada do ‘coitadinho’ (desengane-se quem achar que os timings do vídeo da bebedeira em Bruxelas e da saída do armário – do PSD – foram coincidência) e, com isso, que dele se falasse – a estratégia do “bem ou mal… falem de mim!” é por demais conhecida à direita.

O Partido Popular Democrático caminha, a passos largos, para um enterro cada vez mais inevitável. Uma coisa é certa: Pedro Passos Coelho matou o PPD/PSD, Rui Rio abriu a cova; e agora, só falta que Paulo Rangel, mais um incapaz, comece a atirar-lhe a terra para cima. Mais depressa se apanha um troglodita no PSD do que um santo numa igreja.

Isto faz todo o sentido.

Cego e surdo

Intercidades. Devidamente munido de alguns livros, estou pronto para a viagem, preparado para entrar noutros mundos e protegido contra o tédio, dispensado, portanto, de conversar com desconhecidos. Ao meu lado, senta-se um homem. Baixa a mesinha mínima presa ao lugar da frente e poisa sobre ela um livro de capa vermelha, folhas mais largas do que altas. Apesar do formato estranho, adivinho um irmão leitor. Abre o livro: várias páginas de uma partitura musical. As mãos, poisadas nas coxas, começam a percorrer um teclado imaginário e o pé vai pisando um pedal do mesmo piano. Imaginário, digo eu, claro, porque, no mundo deste homem sentado ao meu lado, sou cego e surdo. Saiu antes de mim e deixou-me aqui o piano.