A insuportável superioridade moral de João Miguel Tavares

Entre alguma direita democrática, há muitos que se distraem a defender o Chega. Para quem anda há tanto tempo a dizer que o crescimento do Chega se deve à esquerda (o que faz algum sentido), seria conveniente, nomeadamente para os eleitores do PSD, que a derrota monumental da direita nas últimas eleições

(sim, sim, não esqueçamos: derrota monumental da direita. Também não me esqueço da derrota monumental da esquerda, mas ficará para depois)

se deve à indefinição de Rio relativamente ao Chega – a origem da debandada dos votos de esquerda no colo do PS.

João Miguel Tavares resolveu dar uma lição de democracia a todos os que desprezam o Chega, mostrando-se escandalizado com o tratamento dado a elementos desse partido em debates televisivos e condenando os preconceitos revelados pelos adversários. Já Rui Rio, relembre-se, sentiu necessidade, na ausência de André Ventura, de explicar a posição do Chega relativamente à prisão perpétua. Podemos (e devemos) acusar o Chega de muita coisa, mas não de falta de agressividade ou, como se diz no futebol, de raça, algo que se aplica também aos chamados caceteiros, o que pode ser um elogio ou não.

Volta e não volta, a direita mostra-se muito incomodada com a “superioridade moral” da esquerda. Não cesso de me espantar, porque sempre me pareceu que a minha posição sobre muitos assuntos é moralmente superior à de quem defende a posição contrária. Tenho este problema: as minhas opiniões são melhores do que as opiniões contrárias. Há um problema que não tenho: julgo que isso não é exclusivo da direita ou da esquerda, mas sim da humanidade – o meu clube é melhor do que o teu, a filarmónica da minha terra toca melhor do que a da aldeia do lado e o meu gosto em roupa é infinitamente melhor do que a dos parolos todos que preferem outra coisa completamente diferente. Sim, temos todos tendência para uma insuportável superioridade moral.

Entretanto, e antes de terminar, sou muito suspeito: sinto-me insuportavelmente superior a quem tem o discurso simplista e odioso do Chega. Por uma vez, convivo bem com este meu complexo de superioridade, o que até é raro, tendo em conta a minha já lendária baixa auto-estima.

João Miguel Tavares, depois de criticar a insuportável superioridade moral dos outros, termina o seu artigo a chamar madrinha de Sócrates a Edite Estrela,

(pessoa, de resto, destestável em muitos aspectos)

o que parece constituir uma “insuportável superioridade moral” de João Miguel Tavares, que, curiosamente, está mais preocupado em defender Gabriel Mithá Ribeiro do que a (infelizmente) futura Presidente da Assembleia da República. Entretanto, a questão da eleição de Diogo Pacheco de Amorim para vice-Presidente é uma questão… de eleição.

Comments

  1. JgMenos says:

    « a derrota monumental da direita nas últimas eleições» … quando o total de votos à direita cresceu?

    • JgMenos says:

      …quando o total de deputados aumentou?

      • António Fernando Nabais says:

        Ó coisinho, depois de seis anos a governar e depois de semanas de sondagens com o PSD a subir, uma maioria absoluta do PS não é uma derrota esmagadora da direita? Isto não é uma simples conta de somar. Para cúmulo, para infelicidade ainda maior da direita, não se trata de uma maioria de esquerda, é uma maioria absoluta do PS completamente sozinho, coisinho, minha loura das anedotas. Se houvesse uma maioria semelhante à geringonça, a direita ainda poderia sonhar com uma crise política daqui por dois anos. Jerico querido, não serve de nada ficar muito contente por marcar oito golos se o adversário marcar nove, percebeste? Mesmo que no jogo anterior tivesses marcado dois golos. A direita perdeu. A esquerda perdeu ainda mais, se andas à procura de consolo. Pede que te mudem a palha, que essa já está a criar bicho.

    • José Peralta says:

      O “menos”

      Lambe lá as feridas e cala-te !

      Ou queres insinuar que houve trapaça na contagem dos votos, coisa que nem o teu partido chegano se atreveu a isso…

  2. JgMenos says:

    A despesa no bar da AR vai aumentar…

  3. balio says:

    Não houve “derrota monumental da direita”. Se na direita se incluir o Chega e a Iniciativa, então a direita obteve cerca de mais 10 deputados nesta eleição do que nas legislativas de 2019.

    • António Fernando Nabais says:

      Repito, sem impropérios, o que escrevi numa resposta a um comentário do inefável menos: o facto de o PS alcançar uma maioria absoluta nestas condições que, ao que tudo indicava, eram adversas, significa uma derrota esmagadora de todos os outros, mais à esquerda do que à direita, o que, para todos os efeitos, é irrelevante, uma vez que, de acordo com a tradição parlamentar, o PS não precisa de ninguém para governar. A direita tem mais deputados, o que quer dizer que poderá fazer um bocado mais de barulho – diante de uma maioria absoluta, o barulho será só barulho, porque são os votos que contam. Repito : é uma derrota esmagadora para a direita. Para a esquerda, é uma mais do que isso, é um atropelamento, um esmagamento, um maremoto.

  4. estevesayres says:

    Sendo assim, muito em breve, vamos ter o PP e o PPD, na segunda “divisão”. o que nos deve deixar um pouco preocupados, visto que os sociais-democratas estão em debandada para o PS do Costa!!! E o PP/CDS para partidos neofascista e neoliberais… Até lá, rezem porque eu sou agnóstico a caminho do ateísmo