Existem peças jornalísticas que são autêntico serviço público e esta, do Jornal de Notícias é uma delas. Porém, o título é todo um programa.
E qual é o título? É este: “O drama dos sem-abrigo nas ruas do Porto está a chocar os turistas”. A chocar os turistas? Porquê, não nos choca a todos? Não choca os responsáveis pela gestão da cidade? Não choca os poderes públicos? Ou só interessa que não choque os turistas? Eu quero acreditar, mais, eu acredito que o jornalista Alfredo Teixeira cometeu um erro no título mas isso não invalida da importância do seu trabalho como uma forma de chamar a atenção dos poderes locais para este problema social grave.
A câmara diz que o número de pessoas que vivem na rua não aumentou. Não? Então não percebo. É preciso recuar muitos anos para me lembrar de ver a cidade com tantos sem abrigo. Muitos anos. É preciso recuar aos tempos em que um vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, de seu nome Paulo Morais, tomou em mãos o problema e, aí sim, diminuiu drasticamente o número de pessoas a dormir nas ruas da cidade do Porto. Ora, quando no passado mês de dezembro (e janeiro) estive na cidade fiquei chocado com a quantidade de sem abrigo espalhados pela cidade. Não só na Baixa como na Boavista e na Foz, só para citar três exemplos. E isso deve chocar todos. E deve ser resolvido não porque incomode os turistas mas porque nos incomoda a todos como seres humanos. A mim incomoda-me que só seja um problema porque “choca os turistas”. A mim incomoda-me que a cidade, nomeadamente os poderes públicos da mesma, não tomem medidas para resolver este problema, a exemplo do que no passado foi feito. Olhem, falem com o Paulo Morais ou com alguém que tenha pertencido à sua equipa. Quem sabe se desviarem umas verbas do marketing e comunicação do município e o aplicarem na resolução deste flagelo. Quem sabe se a câmara com a ajuda da Misericórdia possam investir na resolução deste problema social e dou o exemplo da misericórdia pois vejo que a esta não lhe tem faltado dinheiro para a recuperação do seu património, para investir na comunicação e promoção (nomeadamente dos seus dirigentes)…
É uma questão de prioridades. É uma questão de humanidade.
(a fotografia é do JN)
Também li o artigo do JN. O número de sem abrigos no Porto está a tornar-se assustador. Admito que a pandemia veio majorar este problema, mas até por isso urge resolvê-lo. No mínimo. minorá-lo.
Pode haver alguma provocação no título da notícia, uma vez que os portugueses parecem viver conformados com este problema.
Se o jornalista faz a denúncia, cumpre o seu papel. Alertar para a catástrofe social que se avizinha.
O público esta semana também alerta de novo para o problema dos emigrantes de Odemira e não só. A ironia é estarmos a ser governados por um partido que se diz socialista.
O dinheiro camarário tem sido canalizado para obras faraonicas porque é quem dão visibilidade e estatuto com direito a placa na inauguração e famfarra. Fala num eventual apoio da Misericórdia mas estas também não está viradas para mais apoios sociais, não sei se por já estarem saturada com tantos apoios já concedidos ou se afogada em dívidas. É um mal crónico destas instituições que angariando fundos mas, a maior parte deles, não chegam ao seu destino.
“O drama dos sem abrigo nas ruas do Porto está a chocar os turistas”
(texto integral do artigo)
“ A pandemia agravou a situação de carência económica de muita gente e basta circular pela cidade do Porto para se perceber que locais que até 2020 estavam deso- cupados de pessoas em si- tuação de sem abrigo integram agora um bilhete postal cada vez mais caracterizado por cobertores, travesseiros, roupa e lixo. De acordo com o último inquérito oficial realizado sobre o fenómeno, em finais desse ano, no Porto existiam 590 pessoas em situação de sem abrigo, das quais 398 na condição de sem casa e 192 na condição de sem teto.
Logo pela manhã os serviços de limpeza da Câmara do Porto não têm mãos a medir na higiene do espaço público ocupado pelos sem abrigo. O cheiro a urina denuncia a falta de asseio, assim como os restos de comida e os pacotes de vinho vazios. “São drogados e por esse motivo não querem ir para uma instituição e pre- ferem dormir na rua. É aqui, é na Batalha, é na Sé. Têm apoio alimentar, mas não querem seguir regras por- que nas instituições têm de entrar e sair a horas”, diz Anabela da Costa, residente no Centro Histórico.
Num dos lados do chafa-ris da Rua de Mouzinho da Silveira, um jovem estran-grito dorme embrulhado em cobertores, na companhia de dois cães. Do outro lado, uma família permanece deitada.
MÁ IMAGEM DA CIDADE
“Todas as manhãs vem o pessoal da Câmara com as mangueiras e lava tudo e deita tudo fora. Devia-se procurar uma forma de os levar para um lugar onde ti-cessem cuidados, porque isto é a Zona Histórica e até fica mal para o nosso país”, acrescenta Anabela.
Na Praça da Liberdade, o impacto desta “má ima-tem” sente-se junto de quem passa. Maria José, Só-Bia e Verónica são turistas espanholas naturais de Cádiz e estão no Porto pela primeira vez. “É chocante! Vemos que há muita gente a viver na rua. Numa mesma porta mais de três ou quatro pessoas e já vimos algumas famílias”, refere Maria José, enquanto coloca um saco com comida junto a um sem abrigo que dorme na entrada de uma antiga dependência bancária. As tu-tostas compraram sandes, tortilhas com carne e fiam-breve. “É um cenário horroroso. Em Espanha os sem abrigo estão mais resguardados no inverno, aqui são deixados à sua sorte na rua!
Um montão em cada esquina, o que não se justifica, até porque o Porto não é assim uma cidade tão grande”, acrescenta a espanhola.
SEM DOCUMENTOS
Desemprego de longa duração, consumo de substâncias psicoativas, rutura com a família e desestruturação familiar e aumento das perturbações do foro da saúde mental são fatores que estão na origem desta condição de sem abrigo. De acordo com o NPISA – Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo do Porto, a cidade acaba por atrair pessoas em situação frágil, dadas as estruturas de apoio de que dispõe. Muitas pessoas também deixam os concelhos de origem por vergonha.
Carlos Alberto tem 67 anos e é de Guimarães. Dorme há dois meses na Travessa do Cativo, numa das portas laterais do Teatro Nacio-não de S. João. Alimenta-se na cantina do Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA), mas só à noite. Não tem dinheiro e de dia não come. Senta-se na Praça da Batalha e conta as horas até à hora do jantar.
“É arroz todos os dias. É arroz com arroz”, conta. “Gostava de ter uma casa ou um quarto”, acrescenta, reclamando apoio da Segurança Social. Nas várias entradas do teatro vivem sete pessoas.
O problema da falta de documentos é comum a muitas destas pessoas que estão na rua. Jason tem 39 anos e vive há três anos e meio na Rua de Camões, sob as arcadas de um edifício e a escassos metros do Departamento de Investigação e Ação Penal do Porto. Em direção aos cafés ali instalados, polícias, advogados e juízes pas-San pelo genovês Jason e por outros sem abrigo, “indiferentes ao espetáculo de miséria”, refere uma comer-voante. Mais uma vez, os turistas que saem dos hotéis existentes na artéria mostram-se perplexos e tiram fotos com o telemóvel.
AJUDA ALIMENTAR NÃO PÁRA
“Durante a fase mais crítica da pandemia, não fechamos o portão, mas houve alturas em que tivemos de pôr um travão porque temos poucas ajudas e o financiamento é limitado. Foi um aumento muito elevado de pessoas a pedir ajuda”, conta Inês Lima, assistente social no Refeitório Social da ACISJF – Associação Católica Inter- nacional ao Serviço da Juventude Feminina. Neste momento, são servidos 75 almoços todos os dias a pessoas sem abrigo ou com carência económica na cantina que a associação gere nas traseiras do Ateneu Comercial do Porto . “Quando foi o confinamento eram 190 refeições, enquanto recebíamos os mesmo apoio da Segurança Social. Foram qua-triste meses muito gritantes em que as pessoas desciam aqui o beco e pediam de comer. Como temos uma missão de dar de comer, decidimos não fechar portas”, salienta a responsável.
Também Natália Couti- nho, coordenadora do Cen- tro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA), que tem uma equipa de 400 voluntários que diariamente distribuem na rua 150 a 200 refeições e que servem nos restauran- tes sociais 600 pratos, notou um aumento de solici- tações, quer de pessoas sem abrigo quer de famílias sem rendimentos. “Pessoas que perderam emprego e que se não tivessem este apoio ali-mentir seriam sem abrigo”, afirma.
APOIOS DA AUTARQUIA
A Câmara do Porto afirma que, ao contrário da perce-
ção que existe em quem cir-vila pelas ruas, a população sem abrigo não aumentou. “Decorrido o período de pandemia e os problemas 5 que daí advieram, na cidade do Porto não se verificou um aumento do número de pessoas em situação de sem abrigo, ao contrário do que se tem verificado noutros centros urbanos onde o fenómeno se tem intensificado”, afirmou ao JN Cristina Pimentel. A vereadora da Ação Social destaca a respos- ta da Autarquia com o Cen-trocar de Acolhimento Temporádio Joaquim Urbano, os três restaurantes solidários, o acompanhamento das equipas de rua e o apoio médico e psicossocial! “
Nada se resolve sem a escapatória que uns supostos ‘Direitos do Homem’ ou umas hipotéticas ‘Liberdades e Garantias’ deixem de dar escapatória aos políticos e às supostamente almas mais sensíveis.
É direito de alguém viver nas ruas de uma cidade?
Ninguém hesita em deitar abaixo casa que ofenda o PDM, mas vão dizendo que há quem viva na rua porque quer e como se isso fosse um direito.
Sociedade mais falsa!!!
Pois é!
Desde que Vosselência saiu do armário (*), atingido em cheio no seu Real Fundo das Costas por uma epifania do Venturoso Enviado Quarto Pastorinho, que tem vindo a deslizar por aí abaixo em elevada velocidade, rumo ao fascismo mais salazarrasca disponível no mercado.
È preciso, pelo Menos, recuar muito, mas mesmo muito, para encontrar uma prosa tão trogolodita como a dos mais recentes comentários de Vosselência, do qual este constitui notório exemplo.
Ou me engano muito ou já não faltará muito tempo para virem por aí propostas de reserva de uns descampados vedados, com confortáveis guaritas à volta, e umas fornalhas muito quentinhas alimentadas a cobalto, porque o gás está caro devido ás manobras do Czar.
(*) Ainda é um mistério para todos a função dos musculados fuzileiros que o acompanhavam. Mas adiante!
O “menos”
“Sociedade mais falsa”, mais falsa do que a que tu querias, se não te “cagasse o cão na carreira”, e os teus sonhos húmidos de que voltasse-mos ao fascismo, se te foram pelo intestino grosso abaixo…
Agora como última esperança, deves estar a pensar no “êxito” que terão os 12 biltres na A.R.,não estás ?
Tira daí o sentido, ó “menos” !
Já nem escondes as tuas “contradições existenciais”…
Olha meu coirão, no tempo do que chamas fascismo não havia um sem-abrigo nem uma puta nas ruas do Porto.
E como sempre, dizes nada que seja útil, só vómitos de azia e arrogância de quem se julga mais do que lixo esquerdalho.
Pois não!
Havia sempre uma barraquinha disponível.
Ou um lugarzinho naquelas “ilhas” muito confortáveis, com uma latrina para 40.
E elas, lá na “Rua Escura” estavam sempre em casa. Nada de vir cá fora excitar a malta! Havia respeito!
E uma foto do Oliveira da Cerejeira ao pé do Sagrado Coração de Jesus por cima da cama. Para a clientela se “despachar” mais depressa, ao que consta.
E por vezes apareciam por lá uns senhores da PIDE a fiscalizar. Chegavam a experimentar pessoalmente o material, para aferirem da qualidade. Nesse tempo, quando se vendia gato, era mesmo por gato!
Eram muito bem tratadas, naquele tempo! Se estivesse um prior por perto, o que era bastante frequente, até acabavam benzidas!
Não me digas, deviam erguer barracas debaixo da ponte, como nos bons velhos tempos?
Boa intervenção…., pena que vai cair em saco roto até às próximas eleições autárquicas.
Infelizmente, há muito que as SCMisericórdia perderam a Santidade e a Misericórdia. Basta considerar que diversas são geridas como uma empresa pessoal onde se infiltra familiares e amigos, além de muitos dos dirigentes serem socialistas a ateus, quando estas Instituições foram obra da Igreja Católica, cujos Mandamentos estão nas antípodas da praxis socialista.
Não admira que depois o real comportamento é o descrito pelo autor deste artigo!
Com o preço das casas a disparar como se tem visto e vai continuara ver, haverá cada mais desalojados. É só olhar para o que se passa nos EUA. E não é tanto uma questão de humanidade,mas sobretudo de capitalismo selvagem no seu melhor