
Já passaram dez anos, desde aquele réveillon em Cascais, marcado pelos diamantes e pela boa disposição. O anfitrião, proprietário do chiquérrimo Farol Design Hotel, era Markos Leivikov (na foto, à esquerda), oligarca russo com ligação directa a Putin e a outros oligarcas da rede de crime organizado dirigida a partir do Kremlin.
Não surpreende, esta proximidade entre Leivikov e o jet set português, também ele repleto de tios e tias, maridos e mulheres dos oligarcas locais, pendurados nos negócios do Estado e nas mais variadas formas de corrupção e tráfico de influências. Fazem parte do mesmo habitat natural. Leivikov, no fundo, é aquele animal selvagem, proveniente de um destino longínquo para dar um toque de exotismo ao zoológico da cleptocracia nacional, e ser admirado pela corte de percevejos eco-chiques da Comporta, agora que os oligarcas angolanos estão em vias de extinção.
O jet set nacional, globalmente falido, mas sempre vestido a rigor com os seus smokings e vestidos alugados para o circuito do canapé, em bicos de pés para aparecer cinco segundos no Fama Show, sempre teve especial apreço pela sua bandidagem, de Salgado a Rendeiro, passando por toda a maralha de grande empresários portugueses, cujo único acto de gestão bem sucedido foi a contratação do ministro que tutelava a sua área de negócio. Não admira, por isso, que Leivikov tenha sido recebido de braços abertos. Tinha tudo para singrar no meio.

Agora que a bolha rebentou, e que nós, a ralé, descobrimos a presença de um oligarca do regime carniceiro de Vladimir Putin em território nacional, é possível perceber o poder de facto destas pessoas. Pouco ou nada se tem falado no caso, excepto Mariana Mortágua, que meteu a carne toda no assador, e o que lemos na imprensa nacional é, essencialmente, a versão do genro de Leivikov, Marco Galinha, que nega qualquer ligação à oligarquia russa, pese embora os muitos negócios em parceria com o sogro. E isto diz-nos quase tudo o que precisamos de saber sobre quem efectivamente controla a comunicação social deste país.
Convenhamos que não será grande surpresa, a facilidade com que se está a reciclar o passado de Markos Leivikov. Para quem andou anos a reciclar oligarcas angolanos, a vender património estratégico do Estado a oligarcas chineses, a glorificar o luxo das oligarquias do Golfo ou a enviar missões de venda de Visto Gold para Moscovo, o caso Leivikov não é mais do que business as usual. O jet set, em todo o seu esplendor parolito, não é muito diferente da selvajaria que impera na economia global: terminada a sessão fotográfica para a caridadezinha, de avental cor-de-rosa e sapatilhas Balenciaga, para servir uma refeição ao menino pobre em frente às câmaras da SIC Mulher, direitos humanos e democracia são uma maçada. E os oligarcas até podem ser gente pouco recomendável, mas você já viu bem o tamanho daquele iate estacionado na Marina de Tróia?

Se não estavam lá a Lili Caneças, o Castelo Branco e a Betty, então é porque o oligarca russo era um pindérico.
Que o diga a Cinha Jardim!
Eu só acredito nas ligações da oligarquia russa com a elite portuguesa no dia em que os vir todos no Big Brother dos famosos. 😂🤣😂