História is a bitch…..

Entre 1640 e 1668, entre Portugal e Espanha, tivemos a chamada “Guerra da Restauração”. Portugal lutava contra o ocupante, Espanha. Lutava pela restauração da sua independência enquanto nação. Para alguns, o melhor teria sido Afonso VI de Portugal ter desistido, acatar as exigências de Carlos II de Espanha. Foi uma guerra violenta. Por vezes, entre vizinhos que se conheciam. Outras vezes utilizando mercenários e não faltaram incidentes de crueldade singular. Os portugueses não aceitaram ser súbditos dos seus vizinhos castelhanos. E ao não aceitarem as exigências de Carlos II de Espanha, este teve ainda muitas vidas para ceifar…

Para alguns, hoje, nada teríamos para festejar a 1 de Dezembro. O Aventar seria mais um blogue em castelhano e, com sorte, a gasolina estava mais barata. O mais certo seria que em Portugal os chamados partidos independentistas fossem maioritários nas eleições regionais. Os seus líderes, com algum azar, estavam presos ali para os lados de Valladolid. Porque mantinham viva a vontade frustrada em 1640, porque, ainda hoje, tantos séculos depois, não perdoam a rendição de Afonso VI. Estes gajos independentistas não querem perceber que com a sua decisão, Afonso VI evitou mais um banho de sangue. Os castelhanos sempre o acusaram de ter estado ao serviço do imperialismo britânico, mas que teve a lucidez de na 25º hora ter recuado. Os independentistas relembram que os castelhanos assassinaram Afonso VI, pela calado, uma semana depois da assinatura do acordo (palavra simpática para rendição).

A ver se percebi, é isto que estão a pedir a Zelensky para fazer? É isto que consideram ser o melhor para os ucranianos? É fácil pedir para os outros se renderem. É fácil pedir aos outros para viverem sob o jugo de um ditador como Putin. A mim cheira-me a egoísmo. Mas isso sou eu que estou a soldo do imperialismo ocidental. Seja lá o que isso for. Se é viver num país onde posso livremente escrever estas merdas, livremente escolher os meus líderes, livremente escolher onde quero viver e trabalhar, livremente escolher o que quero ver nos meus tempos livres e livremente ser português, então estou a soldo desse tal imperialismo ocidental. Do russo, cubano, venezuelano ou norte coreano é que não, obrigado.

ALTERIUS NON SIT QUI SUUS ESSE POTEST

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    A nossa relação com a Espanha em termos de património territorial não difere muito da Ucrânia. Tendo em conta a dimensão dos Estados em causa, claro.
    Perdemos Ceuta e Olivença a favor dia Espanhóis. Só os conseguimos enganar no Brasil. Vá lá!
    Temos um Acordo sobre caudais nos rios internacionais, para o qual os Espanhóis se estão permanentemente a marimbar. Andamos desde o início a nossa independência a levar com eles em cima.
    Emancipámo-nos em 1139, mas os Espanhóis (Leão) só nos reconheceram em 1143 e o Papa em 1179. Sempre, sempre a foderem-nos.
    Com os ingleses, os “nossos camaradas de armas”, que nos ajudaram a livrar dos Espanhóis e dos Franceses, tivemos que lhes ceder uma boa parte dia territórios ultramarinos, que correspondem hoje ao Zimbabwe, Zâmbia, etc e garantir-lhe uma boa parte das encostas do Douro.
    Eu acho muito bem que o Presidente Zilenski incentive o seu
    povo a defender a Ucrânia. Já não consigo perceber a obsessão em querer integrar a NATO. E também não consigo perceber porque razão a Crimeia, com 60% da população russa tem de fazer parte da Ucrânia?

  2. Ernesto says:

    Também durmo muito melhor por saber que temos lá o camarada Mário Machado a lutar pelo Mundo livre.

    Gracias Mário!


  3. O mais irónico é que, não tivesse a Espanha andado a lutar contra a Catalunha, que já em 1640 queria ser independente (“Revolta dos Ceifeiros ou “Sublevação da Catalunha”) apoiados pelos franceses e, provavelmente, hoje seríamos mesmo espanhóis. Enquanto andavam eles entretidos com catalães e franceses, nós aproveitamos a oportunidade.

    Mas há que ver também que hoje existe Portugal porque um filho da putin decidiu guerrear contra a própria mãe e andou por aí com tiques imperialistas a conquistar territórios dos mouros.

  4. JgMenos says:

    Para os marxistas cá do bairro só lhes chega o patriotismo a espasmos clubistas.
    A História é a memória de uma qualquer horrorosa dominação de classe…

    • British says:

      What ?

    • Paulo Marques says:

      Para os fasços, só lhes chega o patriotismo que lhes dê lugar de destaque na hierarquia.
      A História é algo a reescrever até ele existir e ser justificado.

    • POIS! says:

      Pois tá bem! Brilhante!

      Temos de compreender que o Menos gosta muito de dizer coisas.

  5. Paulo Marques says:

    Não sei com quem é que está a discutir, mas quanto a Portugal-Espanha, é exactamente o que se pede à Catalunha. E em relação a países invadidos, é o que se pede à Palestina, como à não muito tempo se pedia a uma pequena Índia ou Irlanda, onde também se criaram fomes a ver se saiam da zona de conforto. E se quisermos liberdade de decidirem por si, podia-se ir muito mais longe e analisar consensos e acordos consoante interesses geopolíticos de recursos e demais extractivismo.
    Liberdade é outra coisa, não é ter 20 marcas na prateleira e qual é o pobres coitados que as empacotam e entregam sem poder ir ao WC.

  6. Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues says:

    O rei não era Afonso, nem era VI. Era João, e era o IV. De facto, a História é uma bitch…

    É o que acontece quando fazemos leituras apressadas. Corremos o risco de não ver a floresta, por andarmos demasiado preocupados com meia-dúzia de árvores.

    E, tal como disse o Rui, a independência ficou-nos bastante cara, tendo em conta o que tivemos de ceder aos ingleses (mas esses nsão nossos “amigos” – por isso voltámos a meter-nos em alhadas menos de duzentos depois (invasões napoleónicas), e de novo voltámos a ter de lhes pagar forte e feio (para além de termos levado com os exércitos franceses). Lá está a bitch da História outra vez.

    O Zelensky, com as suas manias, encurralou um povo inteiro. Tudo para poder aparecer na fotografia ao lado do Biden. E a “solidariedade” do Ocidente, como sempre, revelou-se extremamente selectiva. Tanto que já se apressou a fazer as pazes com o Maduro, e já foi ao beija-mão ao tirano Bin Salman.

    Parafraseando Orwell: Todos os tiranos são iguais, mas uns são mais iguais do que outros.

    • Fernando Moreira de Sá says:

      O rei que assinou com Carlos II não foi D. Afonso VI???

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Tratado de Lisboa 1668

      • Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues says:

        D. Sfonso VI sucedeu a D. João IV em 1656, e foi “removido” do trono por ser incapaz em 1668. Difgicilemnte se lhe poderão assacar quaisquer méritos pela vitória na guerra da Independência.

    • Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues says:

      Ainda em complemento. D. Afonso VI só subiu ao trono em 1656. É, aliás, um rei de triste memória, tendo sido “removido” do trono em 1668, ficando o reino governado pelo regente D. Pedro, irmão do rei (futuro rei D. Pedro II).

      • Fernando Moreira de Sá says:

        Quem assinou o Tratado de Lisboa foi Afonso VI com Carlos II de Espanha como escrevi.

        • Fernando Manuel Dias de Lemos Rodrigues says:

          E isso é relevante porque?… Quem restaurou o trono, e inicou a guerra da Independência, foi D. João IV. O tal D. Afonso, como disse, fez pouca coisa de útil durante o seu breve reinado, e acabou louco numa cela em Sintra.

          Atribuir-lhe méritos só porque, por coincidência, estava no trono quando finalmente a Espanha aceitou a paz é querer reescrever a História.

          • Fernando Moreira de Sá says:

            Para si foi. Serviu até para uma critica e tudo. Isto é um post de blog e um exercício irónico.

  7. J. M. Freitas says:

    “é isto que estão a pedir a Zelensky para fazer?” não se está a pedir isso a Zelensky mas é o que ele vai fazer, muito provavelmente.
    Mais, fazer comparações de acontecimentos históricos com o que imaginamos que seria se se tivesse seguido outro rumo, é um exercício arbitrário que nada permite concluir. E podemos sempre ir buscar acontecimentos que corroborem o que quisermos. O “se tivesse sido assim” em História não resulta.
    Se na guerra civil americana os que perderam tivessem saído vitoriosos? Quantos países haveria?
    Se na guerra do Paraguai este país tivesse reconhecido a derrota quando devia? Vai dar-se o mesmo com a Ucrânia? Etc. Basta ter imaginação e procurar o que interessa na História!
    E que tal reparar para o que o Professor J. Mearsheimer diz?
    E que tal recordar Vassalo e Silva? Ou será que afinal Salazar é que tinha razão?

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