Podia ser mentira de 1 de Abril mas não é…

Aqui há uns tempos ouvi falar de um livro que tinha sido publicado sobre a blogosfera portuguesa. Obviamente, enquanto velho blogger português e que escreve num dos mais antigos blogues portugueses, fiquei curioso. Como vivo fora de Portugal perguntei a alguns amigos se já o tinham comprado e lido. Não foi fácil. Até que um deles me disse: “esquece, não vale a pena”. Nestas coisas sou um curioso e teimei. Até que esse amigo me enviou isto:

Quando li este pequeno naco compreendi. Com que então, citando: “…só chegou à blogosfera em 2017, quando já quase toda a gente tinha ido embora”. Fiquei esclarecido. O autor, Sérgio Barreto Costa, cumpriu uma espécie de norma muito portuguesa, o “ouvi dizer”. Como aqueles “orçamentistas” que param para ver um acidente na estrada e explicam o acontecido terminando com um “eu, a bem dizer, não vi pois cheguei no fim mas uma senhora que viu tudo contou-me”. Agora compreendo duas coisas: o porquê de alguns velhos bloggers portugueses terem passado ao lado da obra e, mais importante, a sentença do autor quanto à blogosfera portuguesa: “morreu”.

Ora, para “cagar sentenças” é preciso ter alguma arte, um mínimo de conhecimentos e, também, um pouco de sorte. Se quanto às duas primeiras me abstenho (não vi o acidente), já quanto à terceira posso afirmar que a sorte não esteve com Sérgio Barreto Costa. Então a blogosfera morreu? Como se explica tal quando as audiências do Aventar, por exemplo, duplicaram nos últimos meses (efeito pandemia?). Como explicar o facto de “velhos” bloggers estarem a regressar aos seus blogues colectivos? Como explicar a vitalidade de vários clássicos da nossa blogosfera (apenas vou citar três: O Meu Quintal, Blasfémias e Insurgente)? É o problema de falar sobre o que não se conhece. Um desporto com muitos praticantes em Portugal.

Em conclusão, o autor da obra sonhou umas coisas, uns bacanos sopraram-lhe outras, os amigos forneceram uns bitaites e a coisa fez-se. Até podia ser mentira de 1 de Abril. Infelizmente, não é. É o que temos, ou, citando um outro blogger, “isto não dá para mais”.

Um “ensino orientado para a vida”

É assim há muitos anos: entre alternâncias aparentes e reais continuidades, o Ministério da Educação é uma mina de veios já demasiado explorados. Ao longo dos anos, esquerda e direita (também sempre mais aparentes do que reais) limitam-se a povoar a Educação com os respectivos tiques, dificultando, de modo contumaz, a vida das escolas. Na realidade, o que lhes interessa é diminuir a massa salarial, desiderato alcançado por Sócrates e Passos Coelho, graças a alterações de carreira, modificações nos horários e congelamentos.

João Costa, secretário de Estado da Educação, debita, numa entrevista recente, lugares-comuns, disfarçando mal o complexo de superioridade de quem julga ter descoberto o fogo ou inventado a pólvora.

É evidente que não é possível nem desejável rebater a maior parte das afirmações de João Costa, exactamente por serem lugares-comuns. A maioria dos professores, por incrível que pareça aos iluminados de gabinete, já descobriu a importância das pedagogias alternativas, das novas tecnologias ou da realização de projectos (essa mesma maioria de professores tem-se confrontado, também, com crescentes bloqueios no que se refere a condições de trabalho). [Read more…]

Indisciplina nas escolas: a culpa só pode ser de quem?

O Paulo Guinote já teceu alguns comentários acerca da entrevista a João Sebastião, investigador do ISCTE e antigo responsável pelo Observatório de Segurança em Meio Escolar. Como a entrevista é curta, aproveitarei para comentar cada uma das respostas. Comecemos.

A indisciplina em sala de aula é um dos problemas da escola portuguesa?
O principal problema da escola é o insucesso escolar porque o objectivo da escola antes de tudo o mais é o de ensinar. Portanto, desviar o assunto para a indisciplina é desviar do essencial. Dito isto, lembro que a questão da disciplina é comum a todas as organizações, não é um problema específico das escolas. Trata-se de garantir que todos os indivíduos nessas instituições tenham comportamentos semelhantes e expectáveis.

João Sebastião começa por não responder à pergunta, preferindo falar daquele que considera o principal problema e não de um dos problemas.

Depois, de certa maneira, considera que a pergunta é um desvio, deixando claro que o assunto não faz parte do essencial.

Finalmente, resolve continuar a não responder, recorrendo à técnica da generalização, talvez acreditando que um problema desaparece se for comum a várias instituições, o que faz tanto sentido como, face a alguém que se queixe de uma dor, dizer-lhe que o mundo está cheio de pessoas na mesma situação. [Read more…]

Timing errado

Até nisso somos uns tristes. Uma semana atrás e seria uma inspiração quase divina – sexta feira santa o Tribunal Constitucional matava o Governo, no sábado acontecia a visita ao sepulcro e no Domingo de Páscoa o Passos falava ao país.

Uma Revolução Porreira (Pá)

Desconheço o autor desta fotografia, uma das várias que, para mim, sintetiza o que foi a “revolução” acontecida no dia 25 de Abril de 1974, ‘inda eu não era nascido.
Dizem que o “povo saiu à rua”. E saiu mesmo! – veio o povo apear-se junto aos soldados, eles com armas em punho e o povo com as mãos nos bolsos a ver a banda passar ou a tomar chã na praça. Foi uma revolução de sucessos.
Só foi pena que os vândalos do costume transitassem, imperturbados, do velho regime para o novo regime: um regime porreiro. Só um regime porreiro poderia permitir que um espanca-pretos se tornasse uma importante figura no estado  a que o Estado chegou.
Porreiro!