
“LARGOS DIAS TEM ABRIL”

Quando começou a tocar a música
A borboleta libertou-se da gaiola
uma contagem pessoal dos 40 dias para os 40 anos do 25 de Abril
Sob motes diversos, usando quase sempre um poema, uma canção e uma imagem, comecei a contar os dias que faltavam para os 40 anos do 25 de Abril, a 16 de Março.
Contei 40 dias.
Estão aqui.
Sophia
Sophia, sempre Sophia. Sempre. Há um ano, aqui no Aventar, também o Ricardo Santos Pinto nos trouxe este Poema. Como já tive a oportunidade de escrever, «Em português europeu, Abril não é abril. Em português europeu, Abril é Abril. Sempre».
Uma Revolução Porreira (Pá)
Desconheço o autor desta fotografia, uma das várias que, para mim, sintetiza o que foi a “revolução” acontecida no dia 25 de Abril de 1974, ‘inda eu não era nascido.
Dizem que o “povo saiu à rua”. E saiu mesmo! – veio o povo apear-se junto aos soldados, eles com armas em punho e o povo com as mãos nos bolsos a ver a banda passar ou a tomar chã na praça. Foi uma revolução de sucessos.
Só foi pena que os vândalos do costume transitassem, imperturbados, do velho regime para o novo regime: um regime porreiro. Só um regime porreiro poderia permitir que um espanca-pretos se tornasse uma importante figura no estado a que o Estado chegou.
Porreiro!
Estórias de Abril
Após a longa invernia, o tempo cinzento de chumbo, a palidez das faces cansadas pelo frio e fustigadas pelas chuvas inclementes, temos sempre montões de cravos vermelhos, brados de vivas a Portugal!, canções patrióticas e a exaltação de heróis populares, uma parte indissociável de Abril. Há coincidências históricas neste calendário e uma delas remete-nos para os anos também conturbados e caóticos do início do século XIX.
Quando do movimento da Abrilada, os partidários de D. Miguel, os Apostólicos, eram cobertos por cravos vermelhos, uma flor desta estação e com claras conotações religiosas cristãs. A mãe do infante, a rainha D. Carlota Joaquina, comemorava o seu aniversário precisamente a 25 de Abril, altura em que ao passar em carruagem descoberta pelas ruas de Lisboa, via-se bombardeada por braçadas de cravos e sempre no meio de estrondoso vozear popular, alternando-se os ditos encomiásticos, com as canções da moda. O cravo vermelho ia-se tornando num símbolo dos adversários dos constitucionalistas e era comum os soldados serem presenteados com estas flores, procurando-se cativar a essencial simpatia de quem tinha a posse das armas.
Ansioso por se …”ver livre da pestífera cáfila de pedreiros-livres (1)“, a 25 de Abril de 1828, o Senado da Câmara Municipal de Lisboa proclamava D. Miguel como Rei e em delírio, era normal a sua carruagem ver-se desatrelada dos cavalos, sendo puxada ruas fora por populares que entoavam a plenos pulmões o “Rei Chegou!”:
“O rei chegou, o rei chegou!
e em Belém desembarcou;
na barraca (2) não entrou
e o papel (3) não assinou!
C’o papel o cu limpou!”
Tudo isto, no meio de uma chuva de cravos vermelhos atirados por raparigas da rua, senhoras burguesas e da sociedade, numa festa primaveril sem fim à vista e em antecipação aos Santos Populares.
Mais tarde, quando do cerco do Porto e posterior entrada das tropas liberais em Lisboa, a flor vencedora passou a ser a hidranja que aqui na capital se conhece pelo nome de hortênsia. Os soldados de D. Pedro desfilavam pelas ruas, tendo as espingardas decoradas com as ditas flores, invariavelmente azuis e brancas, as cores nacionais.
Estórias de outros Abris.
(1) A Maçonaria
(2) O Parlamento
(3) A Carta Constitucional
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