Acordo Ortográfico: foi você que pediu uma gramática única?

Diz um conhecido aforismo que “uma mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade”. Os defensores do chamado acordo ortográfico (AO90), usando de um entusiasmo cabotino, gritam aos quatro ventos que, agora, portugueses e brasileiros podem escrever textos conjuntos, iguaizinhos, mais parecidos que gotas de água: enquanto Jesus multiplicou os peixes, os profetas do AO90 proclamam ter reduzido as ortografias a uma una e única.

Se assim fosse, teríamos chegado à altura ideal para publicar uma gramática única. Imaginem que, para maior credibilidade do projecto, uma editora resolvia juntar um brasileiro e um português. É certo que a ortografia alegadamente unificada teria acabado com duplas grafias como adjectivo/adjetivo, facto que serviria para manter a harmonia entre os dois gramáticos.

O AO90, no entanto, manteve outras duplas grafias, como sinónimo/sinônimo, antónimo/antônimo, homónimas/homônimas ou muitas outras referentes a termos do âmbito do léxico. Chegados aqui, como iriam os nossos imaginários autores escrever um texto ortograficamente uno? O português deveria subjugar-se ao brasileiro, por este ser cidadão de uma potência económica? Deveria o brasileiro baixar a cerviz diante do português, devido ao facto de Portugal ser mais antigo? Deveriam lutar de punhos nus e a ortografia seria escolhida por knock-out?

Poderão dizer-me que qualquer uma das três propostas é absurda. Concordo, mas não é menos absurda do que andar a espalhar a ideia de que o AO90 criou a uniformização ortográfica, o que corresponde a um dos grande mitos urbanos da actualidade.

 

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    escrevem tão bem que estou tentada a aceitar ir a aulas especiais para prceber o que não percebo – estes tipos só fizera o sama e Brasiília vá lá gopstei de brasilília sobre tdu na 2ª visita 10 aos depois de ir com parte ainda em construção – é cidade para ricos estilo L.A. para andar de Plymouth e chauffer com boné e wisky para conduzir melhor

  2. Nuno Castelo-Branco says:

    Noutra época, em tempos de tempestade guerreira à escala global, a então Rainha Isabel, até há uns anos mais conhecida como Queen Mother, graciosamente dizia a um pateta norte-americano que criticava a forma de falar dos ingleses: “a Grã-Bretanha e os Estados Unidos são países divididos pela mesma língua”. Não sei se o parlapatão – pertencia à administração Roosevelt – entendeu onde a a Rainha quis chegar, mas este episódio é perfeitamente actual e extensível ao estapafúrdio e político “acordo” ortográfico. Factos são factos e quem anda de fato, pode vê-lo enodoado.

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