Beatriz, vamos chamar-lhe assim, açoreana do Faial – essa ilha «personagem» de Vitorino Nemésio em Mau Tempo no Canal – era uma boa mulher, simpática, generosa, disponível. Nos seus 71 anos, ainda tinha ganas de trabalhar de manhã à noite.
Mas o pôr-do-sol era sagradinho: não deixava escapar nenhum (ou quase nenhum). Largava tudo. Contemplava-o sempre da mesma maneira: olhando para o seu Pico que deixou em rapariga quando se casou.
Um dos vizinhos pedia-lhe, não raras vezes, que alimentasse os seus cães quando se ausentava. Ela fazia-o com todo o gosto. Não sabia dizer «não».
Mas um dia, um dia de Julho, foi surpreendida por esses mesmos cães que alimentava com carinho.
Os vizinhos foram encontrá-la já cadáver: «Não merecia»; «Que morte tão estúpida, meu Deus»; «Aquela mulher não parava»; «Foi sempre a mesma Beatriz que eu conheço desde a juventude…» – comentaram estupefactos e assombrados.
O cão de maior porte, aparentemente perigoso, está agora no canil.
Do dono dos cães, não sei nada. O jornal «esqueceu-se» de referir o seu paradeiro e a sua responsabilidade…
P.S. –Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
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