José foi Pai por convite e Pedro um amigo de Jesus. Não creio que, pela proximidade ao Mister, qualquer um deles tenha merecido uma convocatória para a cidade condal. Aliás, estes dois nomes, com muitas semelhanças e algumas diferenças, terão alguma dificuldade em encontrar um lugar simpático lá em Cima.
Acredito que possa haver perdão em doses industriais para distribuir a quase todos, mas palpita-me que perante o evidente interesse público do perdão, este vai a caminho de ser privatizado ou então convertido numa parceria público-privada.
Na prestação de contas educativas in loco, cá pela Litosfera, diria que há uma enorme diferença entre José e Pedro – José fez mal, mas não procurou transformar e educação num negócio. Pedro olha para a Educação e para a cultura como uma coisa menor, vendável e apetecível aos amigos.
De facto José Sócrates criou a Escola a tempo inteiro, melhorou o Parque Escolar, fez um enorme investimento na dimensão informática das Escolas. Mas, Guida, Nós, os Professores e as Professoras deste país, saímos à rua porque o ataque de Maria de Lurdes Rodrigues à nossa carreira e às nossas condições de trabalho foi brutal. A burocratização e a monitorização excessiva de tudo foram marcas dessa governação que vieram estragar e MUITO a Escola Pública. Foi com Sócrates e com Maria de Lurdes que boa parte do nosso tempo ficou entregue a tarefas sem sentido, a rotinas desgastantes que nos afastam do essencial – o trabalho com os alunos.
E, acredite, esta foi a marca mais significativa de Sócrates na Escola Pública – mudou, completamente, a postura de um imenso corpo docente que se funcionalizou e que acabou por adaptar as suas práticas para responder à estupidez exigida nos diferentes níveis da administração: “é para fazer assim? A gente faz. Querem assado…”
E se me permite, pergunto: onde está a tal avaliação de que tanto falaram? E onde ficou a divisão entre titulares e não titulares? Pois…
Agora, este ódio feroz da classe a Sócrates, a Maria de Lurdes e ao PS não se mistura com a percepção do que está agora em cima da mesa – o Primeiro-Ministro Vitor Gaspar está a colocar o jogo a outro nível.
Mas a resposta, por não ser sentimental, vai ser menor. Os professores TODOS não irão outra vez para a rua porque Nuno e Pedro não são agressivos e não tratam mal como Maria de Lurdes fez – comunicam melhor! Aprenderam com os erros – nas escolas já ninguém acredita neles. No entanto, ninguém os odeia como odiou Maria de Lurdes. Como odiou José Sócrates!
A diferença, dentro das Escolas, entre Pedro e José está aqui. Perdão às suas almas.
Não percebi nada, porque é exactamente que não vão para a rua agora? Porque vos tratam pior mas com falinhas mansas?Se não forem “agressivos”, podem…?
Eu também não percebo, confesso. Procuro apenas uma explicação para algo que não percebo…
Não vão (ainda) para a rua porque a maioria dos professores provavelmente votou PSD ou CDS.
Eu preferia que me chamassem besta a tirarem-me os subsídios de férias e Natal. Será uma questão de sensibilidade ? Não me parece.
Também concordo e já o escrevi.
Um dos grandes motivos, no meu entender, é que os grandes afectados por este governo foram os professores contratados, enquanto que com Sócrates comiam todos por igual. Sendo que, a grande força dos sindicatos está do lado dos professores efectivos, sendo os contratados de pouco interesse, os sindicatos não estão a mobilizar os professores na defesa da Escola Pública. E isso faz toda a diferença. A FNE diz que não concorda e tal, mas mobilizar 0. A Fenprof organizou uma manif o ano lectivo anterior e este dedicou-se a distribuir flyers nos centros de emprego e escolas. Os contratados estão a ser “exterminados” e os sindicatos assobiam para o ar (até parece que aceitam e consideram inevitável). Sendo que muitos contratados ou desesperam em casa ou estão a desistir da docência. A justificação que o João Paulo apresenta (sentimental e comunicação) não me convence.
Luís, não entendi. A questão é: porque é que antes os Professores iam para a rua e agora não vão. E antes, como agora, a força não eram os docentes contratados…
JP
João Paulo, porque os sindicatos são fundamentais na mobilização da classe. E porque com a Lurdinhas toda a classe foi atacada, logo toda a classe reagiu. Hoje existe um ataque fortíssimo aos contratados e perda de direitos nos do quadro (tal como todos os funcionários públicos). Ora, os sindicatos não estão muito interessados em combater esta situação. E os professores do quadro, estão consternados com as suas perdas (muitos deles acreditam que são justas e necessárias). Sem uma forte mobilização dos sindicatos, não haverá união da classe contra este governo. Foi criada uma plataforma pela educação e uma associação pela vinculação dos professores contratados, porque é que o João Paulo acha que os professores sentiram necessidade de criar estas duas estruturas? Porque os sindicatos já não os representam.
Obrigado pelo comentário Há de facto um ataque global, tanto na dimensão profissional, como na própria Escola enquanto instituição. Concordamos aí. Não concordo, de todo, com a ideia que aos sindicatos não interessa combater o actual momento. Isso não faz qualquer sentido. Quanto à Plataforma, a ideia foi a de juntar e de unir, nunca de substituir. Quanto ao resto, a história poderá um dia fazer-se. Quanto à frase final, é um comentário com que não concordo. JP
Nesse caso, porque não pergunta ao colega Mário Nogueira? Ele decerto saberá… Quanto à questão colocada pelo Luís, se me permite, não entendo o que é que não entende, é evidente que anteriormente se “atacava” (porque foi com agressividade) o status quo dos professores “do quadro” e agora se espezinha com delicadeza embora com bota de chumbo os contratados a prazo.
Meu caro, (minha cara?) Bone, obrigado por ter comentado. Quanto às minhas dificuldades, diria que nem o Mário as resolve – a pergunta é séria e real: porque é que hoje os professores não estão dispostos a lutar quando o “ataque” é, incomparavelmente maior e mais feroz. Confesso que não entendo.
Quanto a isso dos contratados e dos efectivos, meu caro, é peditório que dispenso. Se calhar ainda andava pelo infantário quando eu já “militava” na rua na defesa dos professores contratados e nas lutas pelo direito, por exemplo, ao subsidio de desemprego. A questão é muito mais séria do que essa e quando falo de ataque à escola público falo à instituição e não ao emprego de A ou de B. Por isso digo que é muito mais grave o ataque. Relembro ainda que o despedimento começou com Sócrates. JP
Quando se insiste em comparar o que não é comparável, a discussão torna-se estéril. Infelizmente a incapacidade de grande parte da classe docente para lutar pela escola pública com a mesma convicção com que defende as suas regalias enquanto classe profissional tornam o seu combate indistinguível do de qualquer outra corporação. É esse o pecado original dos professores que só se manifestam a sério quando os seus privilégios são beliscados e, sinceramente, quanto acham que vale a pena fazer barulho, mais do que por convicção. Agora não o fazem porque a lógica já é a do salve-se quem puder. Há excepções, claro, e a sua inquietação é disso sinal, mas são excepções.
“O que não é comparável”? Refere-se a ….
Quanto ao resto, estou de acordo, infelizmente.
JP
Refiro-me à política do anterior governo para a educação que, não sendo naturalmente isenta de crítica, era uma política para a educação e não contra a educação como é a do actual governo. Claro que o ódio de estimação à “Lurdinhas” é difícil de abandonar e também revela muito da imaturidade da nossa classe docente.
Concordo!