Um argumento tão dilecto como demagógico dos paladinos do acordo de “comércio livre” e investimento com o Canadá, o CETA, – que o Parlamento Europeu se prepara para votar no próximo dia 15 de Fevereiro, podendo desde logo entrar provisoriamente em vigor – é a descomunal afinidade de valores entre o Canadá e a Europa.
Essa intensa comunhão de valores não poderia pois deixar de ser invocada pela deputada Lara Martinho do PS, pelo deputado Mota Soares do CDS-PP e pelo deputado Carlos Costa Neves, do PSD, durante a apreciação da petição pelo debate do CETA na Assembleia da República, no passado dia 12 de Janeiro. Costa Neves, aliás, entusiasmou-se particularmente nessa parte, bradando contra os partidos que apresentaram projectos de resolução de rejeição do acordo (BE, PAN, PCP e PEV): “Com o Canadá, vejam bem! (…) Ou será exactamente por isso que essas esquerdas são contra este acordo, será exactamente por ser com o Canadá e por o Canadá ser como é?”
Não Sr. Carlos Costa Neves, não é por ser com o Canadá, pelo contrário, o movimento de protesto contra o CETA está em tudo solidário com os cidadãos canadianos que rejeitam este acordo, porque já sofrem na pele as consequências do NAFTA. Acontece, sr. deputado, que, por muito querido que o Canadá seja, também lá há investidores gulosos (até porque se trata de uma raça de tubarão internacionalista) e poderosos que sabem usar os tribunais arbitrais (do tipo do que o CETA contém) para processarem estados pela aprovação de leis em defesa do interesse público e ambiental, exigindo indemnizações milionárias, que são pagas pelos cidadãos. E que, via CETA, não só os investidores canadianos, mas também as multinacionais dos EUA vão ficar habilitadas a essas lotarias, porque lhes basta ter uma sede no Canadá para poderem usar o mesmo mecanismo – e olhe que são muitas, senhor deputado, e gigantescas, veja só:
E, sr. deputado, saiba que apesar de tão chegado a nós, o Canadá não reconhece o princípio da precaução consagrado no artigo 191.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE; e que é um dos maiores produtores do mais sujo petróleo do mundo; e que esse mesmo Canadá já intentou acções judiciais junto da Organização Mundial do Comércio, contestando a legislação da UE e dos Estados-Membros (litígios sobre organismos geneticamente modificados (OGM), uso de hormonas em carne de bovino, produtos derivados de foca e amianto) e que tem um longo historial de oposição a leis europeias fundamentais (REACH, pesticidas, qualidade dos combustíveis).
E saiba ainda que com o mecanismo de cooperação legislativa previsto no CETA, destinado a rever e harmonizar as regras das partes, vai ser canja reduzir os actuais padrões da UE sem a gente dar por ela – antes de ser tarde demais.
Mas tudo isto é absolutamente irrelevante para si e para o seu partido, sr. deputado Carlos Costa Neves, porque o Canadá é amigo.
E como o Primeiro Ministro deste transatlântico país amigo, Justin Trudeau, está inteiramente de acordo com a decisão de Donald Trump, de dar luz verde ao relançamento do controverso oleoduto Keystone XL e sendo sabido que “os amigos dos nossos amigos, nossos amigos são”, afinal de contas … às tantas o Trump também é nosso amigo, pessoal! E nós para aqui a chamar-lhe doido, se isso se faz aos amigos!!!
que interessante “patriotismo” e HUMANISMO nortearão a defesa destas arbitrariedades consignadas no CETA, e quais os interesses pessoais destas cabeças “brilhantes”, para vender a saude politica e económica dos estados membros e dos seus cidadãos?Se existir legislação que prejudique os lucros previstos ou inviabilise venda de produtos com matérias pouco recomendáveis para a saúde e ambiente, vai-se para tribunal arbitral e exigem-se indemenizações. Se os lucros EXCEDEREM os previstos…se os produtos causarem más-formações, doenças crónicas ou morte……????? Perguntas desnecessárias de estúpidos e ignorantes cidadãos tão?? bem???? representados nos parlamentos nacionais e europeus, a quem brilhantes e “desinteressadas” cabeças brilhantes não se dignam responder.
Já cumpriram o indicado ?
Ainda não?
Estão à espera de quê?
http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/docs25a/MFA1-1.HTM
Na muche, Ana Moreno. Obrigada por mais este esclarecimento bem claro da trama que é o CETA, a servir os EUA bem melhor do que o TTIP. Por isso, o TTIP, durante o último ano, ter servido para desviar a atenção das populações do real Cavalo de Troia, o CETA. Lembro que existe a possibilidade dos cidadãos pressionarem os eurodeputados e, em Portugal, pena que até ao momento, muito poucos o fizeram, ou esqueceram-se de validar o seu pedido na mensagem que receberam no e-mail.
Lembro, 23.000 cidadãos assinaram a ICE (iniciativa europeia contra o TTIP e o CETA), 5.313 cidadãos subscreveram a petição que requeria o debate do CETA na AR, mas pouco mais de 1100 pediram aos eurodeputados para VOTAREM CONTRA O CETA!
Façam o CETA Check e não se esqueçam de validar no mail: https://www.nao-ao-ttip.pt/ceta-check/
Gostava só de acrescentar que os srs. deputados que consideram o Canadá “nosso amigo”, deviam ler nosso o artigo sobre “O mais recente paraíso fiscal global” que explica como esse mesmo país é hoje o mais apetecível reduto dos maiores criminosos e especialistas em evasão fiscal do mundo.
Valores comuns? Ora…ora…
José Oliveira
Plataforma Não ao Tratado Transatlântico