Se fosse editado hoje, A Bolsa de Max Weber seria certamente publicado nesta famosa colecção dos totós.
Publicado em 1894 como um conjunto de 2 textos destinado ao grande público que talvez considere a bolsa como “uma associação de conspiradores vivendo da burla e da gatunice, à custa do honesto povo trabalhador” e com o objectivo de explicar o funcionamento dos mercados bolsistas, esta obra, que li na versão portuguesa da Relógio D’Agua Editores traduzida por Rafael Gomes Filipe é obrigatória para quem quiser perceber como chegamos à complexidade do actual mundo financeiro.
É curioso como a especialização que tinha como objectivo partir um problema em pequenas partes de forma a que através dessa simplificação esse problema se tornasse resolúvel, acabou no fim por tornar um qualquer problema numa amálgama de pequenos pormenores que dificultam ter aquilo que na moda actual se chama de visão holística.
Assim, para mim pelo menos, ter uma visão histórica ajuda a perceber a realidade de hoje na medida em que apresenta de uma forma condensada e coesa aquilo que no mundo actual podem ser várias áreas de conhecimento que eventualmente já nem têm grandes pontes entre si.
A propósito dos tempos que correm, de bancos “too big to fail” mas que passado um ano já estão a dar aos lucros habituais, e pegando só numa das (muitas) partes que este pedagógico A Bolsa de Max Weber refere não posso deixar de transcrever estas 2 frases:
“(…) não existem na bolsa transacções que, em razão da sua forma, seja em si mesmas «sérias» ou «pouco sérias», mas apenas homens de negócios sérios ou pouco sérios que se servem destas formas. A bolsa é uma questão de pessoas.”
“A transição de uma transacção com fins comerciais para uma pura operação especulativa de agiotagem é muito fluida, é progressiva e imperceptível(…)”
Vítor, ser origem de captação de capitais e premiar as melhores é um objectivo sério, o que acontece é que quando as coisas chegam à bolsa a batota, na maior marte das vezes, já chega montada. Tive algum envolvimento em operações de bolsa e o que aontece, é que as regras só funcionam para as mais-valias, os riscos são transferidos para quem está fora do sistema!
mas esse é um problema essencialmente português ou mundial?
Claro que lá fora as regras são muito mais apertadas porque há muito mais gente preparada e vigiam-se uns aos outros. Mas mesmo assim não deixa de haver batota como se viu recentemente.O problema é que o que começou como uma forma de financiar as empresas passou a ser um lugar onde se captam mais valias. Quando a bolsa de Nova Yorque está a fechar, biliões de moeda (que não existe) são transferidos para a bolsa de Tóquio que está abrir , e o mesmo dinheiro ganha nos dois lados do mundo, no mesmo dia. E depois consegue-se controlar grandes empresas com uma percentagem ínfima do capital, como temos cá grandes exemplos, como foi o caso do BCP,da PT…e, claro, nada disto tem a ver com a produção de bens e serviços…