max weber

Após ter escrito sobre os contributos, ou antes, a fundação da Ciência Social por Émile Durkheim e Marcel Mauss e os contributos de Bronislaw Malinowski para o desenvolvimento de ciência, parece-me o mínimo escrever sobre as ideias de um sociólogo, que, por escrever em língua alemã, quase passa desapercebido pelos Ocidentais de fala inglesa e francesa. É verdade também, que a Sociologia e a Antropologia nascem dentro dos parâmetros franco saxónicos, mas se não fosse por Max Weber, que dedicou a sua vida ao estudo da sociologia da religião, pouco ou nada saberíamos das formas criticadas por Marx sobre a acumulação capitalista. Marx nunca leu Weber, nasceram e faleceram em diferentes quartéis do Século
XIX. Enquanto Weber nascia Maximillian Carl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia, Marx organizava em Londres a Primeira Internacional ou OIT, estava a preparar a o seu livro mais importante, O Capital.

O Capital Weber, no entanto, estudou a obra de Marx e criticou a teoria materialista na que Marx baseava a sua crítica à acumulação do capital. Para Marx, essa acumulação era o resultado do valor a mais ou mais-valia, que rendia a fabricação de mercadorias para o proprietário dos meios de produção. Essa mais-valia definida por Marx em 1862 e 1863, como o excedente bruto que rendiam as vendas dos bens para o capitalista ou industrial: pela mercadoria, era pago ao produtor do bem um salário fixado previamente, na base de horas trabalhadas e não da quantidade de bens produzidos nem o preço com que eram vendidos no mercado.

Para Weber, a teoria de Marx, estava incompleta. Faltava explicar alguns factos para explicar a acumulação da riqueza. Não era apenas o investimento, era a forma e uso de trabalhar das pessoas, que permitiam a acumulação que refiro. É sabido que Weber era um Sociólogo da Religião e foi ai que procurou qual era a diferença dos lucros que uns obtinham e outros não. Como analista da religião e a sua prática, comparou os costumes de trabalho entre diferentes confissões cristãs.

Através de trabalho de campo realizado ao Sul do rio Elba, analisou comportamentos de católicos e luteranos, descobrindo que na ética das duas confissões, estava a diferença. Os católicos paravam os seus trabalhos nos dias da comemoração de santos padroeiros, ou se aparecia um Bispo ou se se realizava uma procissão. O uso do horário de trabalho era diferente. Os luteranos não tinham imagens para venerar nem Bispos dentro da sua confissão: não havia motivos religiosos para, como no caso dos católicos, excepto os Domingos, dedicado pelos luteranos a escola da catequeses dominical e a oração da tarde, enquanto os católicos dedicavam os seus Domingos á Missa matinal e o resto do dia a comer e beber, o que lacerava os seus corpos para trabalhar na Segunda-feira.

Por outras palavras, Max Weber, para entender a acumulação do capital, entrou pelos caminhos da ética das confissões que analisou de forma comparativa, pessoas todas com as que viveu e trabalhou. O seu tempo foi dedicado mais ao convívio com os católicos por trabalharem menos e porque estavam sempre em festa. Alegrias da vida que os luteranos não se permitiam, excepto para comemorar o começo de um novo ano. Eu próprio vivi com luteranos na Escócia, denominados Presbiterianos. A minha mulher e eu fugíamos a Londres, porque a festa no meio da neve fria, do gélido inverno de Edimburgo, não permitia andar de casa em casa a cumprimentar as pessoas e beber whisky até cair na rua, podres de bêbados…É apenas uma pequena anedota para aligeirar este pesado texto…

Como resultado da sua pesquisa, escreveu um texto fundamental para o entendimento das formas de pensar e agir de católicos e protestantes, bem como para entender as religiões, as suas ideias e formas de comportamento. Era um livro teórico, porém, amplo e abrangente: sabia explicar, havia uma teoria dentro do texto. Foi o seu texto de 1893, publicado pela sua mulher em 1905 intitulado Die Protestantiche Ethic. Em português: A ética protestante e o espírito do capitalismo, texto em linha que pode ser lidoem língua francesa, em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Weber/ethique_protestante/Ethique.html. Em formato de papel, em língua castelhana, editado pela Taurus de Madrid, em 1998; a versão portuguesa, traduzida por Ana Falcão Bastos e Luís Leitão, e revisto por António Firmino da Costa, é de 1983, Editora Presença, Lisboa. A mais recomendável é a editada, com prólogo analítico de Anthony Giddens, do ano 1976, editado por Unwin Paperbacks, do mesmo ano que a crítica introdutória de Tony Giddens O original é um texto de quase 300 páginas.

O livro é de importância extrema para entender as religiões do mundo. Não foi por acaso que o autor escreve-se a Ética protestante e o espírito do Capitalismo. Este é um ensaio fundamental sobre as religiões e a afluência dos seus seguidores. Subjacente a Weber está a realidade económica da Alemanha do princípio do século XX. Quanto às relações entre a cultura protestante e o “espírito do capitalismo”, pode-se dizer, de maneira esquemática, que estão relacionadas principalmente com a doutrina da predestinação e da comprovação — entendidas aqui, respectivamente, como a ideia de que Deus decretou o destino dos homens desde a criação e a ideia de que certos sinais da vida quotidiana podem indicar quais são os eleitos por Deus e quais os danados. Conquanto, para os católicos, há certos elementos atenuantes que permitem ao crente cometer certos deslizes, para os protestantes, sobretudo os calvinistas, a exigência de uma comprovação de que se é eleito impõe vastas restrições à liberdade do fiel, de modo a levar a uma total racionalização da vida. Essa racionalização, entendida como uma “ascese intramundana” — isto é, uma visão de mundo que propõe a iluminação através da santificação de cada ato particular do quotidiano —, abre um campo para o enaltecimento do trabalho, visto como a marca da santificação. É essa característica que permite a articulação entre a ética protestante, por um lado, e o espírito do capitalismo, por outro.

A ética denominada protestante, que é de facto luterana, é a que permite esse trabalho permanente e dá fama ao seu autor. Era conhecido como sociólogo da burocracia, habilidade que lhe permitira estudar os livros de conta das famílias luteranas com as que conviveu.
O elo central do livro, o que separa a católicos e luteranos é a eterna disputa que começa no Século IV com Agostinho de Hipona, como consta no seu livro de 409: O Livre Arbítrio, publicado em 1986 em Portugal pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Braga, sobre a predestinação, e que entre católicos acaba em 1568, por édito do Papa Pio V, no fim do prolongado concílio de Trento. Entre os luteranos, Weber descobre que esse temor existia e existe entre os protestantes, como eram denominados os Luteranos. A sua orientação era a Bíblia traduzida no Século XVI por Lutero ao Alemão. E a Bíblia fala da condenação se não houver boas obras no comportamento dos fiéis. A conclusão de Weber era que esse temor levava aos protestantes a trabalhar sempre e não delapidar os lucros, o que não era permitido pelos Mandamentos, como consta no livro atribuído a Moisés ou Livro de Moisés e os Mandamentos. A acumulação da riqueza resulta do comportamento trabalhador e pouco expansivo dos Luteranos e Presbiterianos, menos importante entre os Calvinistas. Os católicos podiam delapidar riqueza por contarem com outros meios de salvação: a confissão que perdoava os pecados, e o Purgatório, criado durante o Concílio de Trento, na contra reforma dos romanos que perdiam seguidores.

É esta a ideia central de Weber, a análise da salvação da alma e a predestinação: o ser humano nasce já com um futuro, profundamente credível nos anos estudados por Weber, como as religiões analisadas por ele: Budismo, Confucionismo e Taoismo A Ética é uma análise do debate sobre a salvação da alma ou a sua condenação, matéria importante nos tempos antigos e recentes. A riqueza advêm de esse temor que diminui entre romanos, mas permanece viva entre Luteranos, Calvinista e Presbiterianos. Apenas que os denominados pecados têm mudado. As faltas são outras, como os próprios católicos têm definido desde 1991. Apenas que não sabemos se o chefe actual dos Romanos, Ratzinger, vai mudar para anos do passado, o que Wojtila na sua persistência, soube entender. É pena não termos um Weber vivo que saiba analisar o que os fiéis das várias religiões pensam, mas há pessoas como os vivo que saiba analisar o que os fiéis das várias religiões pensam, mas há pessoas como os doutores formados por mim e eu próprio, que sabemos, ou pretendemos, usar a epistemologia weberiana, difícil para todos, excepto talvez para o meu novo Doutor José Manuel Pombeiro Cravo Filipe….ou o mais antigo, Telmo Caria.

Uma frase e acabo: farto estou de andar a dizer entre Poncio e Pilatos, de que sem saber religião, é impossível curar seres humanos, analisa-los ou entende-los.Como defino no meu livro de 1974, colectivo do Seminário Em Nome de Deus, organizado por Donizete Rodrígues, Afrontamento, Porto, defino, dizia eu, que A religião é a lógica da cultura, ideia que defendo ao longo de 40 páginas. Ou em outros livros meus da ASA e da Fim de Século, que vai já na segunda versão, a minha melhor editora, junto com Afrontamento: pagam….
Mas, falo de Weber. Tornemos a ele: Um dos conceitos chaves da obra de Weber é a acção. A acção é um comportamento humano no qual os indivíduos se relacionam de maneira subjectiva e a acção social, característica por ser uma acção que possui um sentido visado e é determinado pelo comportamento alheio. A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre quatro tipos de acção (que são sociais):

• A acção racional com relação a um objectivo é determinada por expectativas no comportamento tanto de objectos do mundo exterior como de outros homens e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos racionalmente avaliados e perseguidos. É uma acção concreta que tem um fim especifico, por exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte.
• A acção racional com relação a um valor é aquela definida pela crença consciente no valor – interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer outra forma – absoluto de uma determinada conduta. O actor age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença consciente no valor, por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio.
• A acção afectiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou humor do sujeito, é definida por uma reacção emocional do actor em determinadas circunstâncias e não em relação a um objectivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se comportar mal.
• A acção tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o ator não precisa conceber um objecto, ou um valor nem ser impelido por uma emoção, obedece a reflexos adquiridos pela prática.
Tanto a acção afectiva quanto a tradicional produzem relação entre pessoas (relações pessoais), são colectivas, comunitárias, nos dão noção de comunhão e conceito de comunidade.

Eis, em consequência, a base da minha ideia da solidariedade ser uma emoção, apesar de ser negado por Durkheim. Observe-se que na concepção de Durkheim, a comunidade é anterior a sociedade, ou melhor, a comunidade se transforma em sociedade. Já para Weber comunidade e sociedade coexistem. A comunidade existe no interior da sociedade, como por exemplo, a família (comunidade) que existe dentro da sociedade
Suficiente. O temor a perder a alma, faz do trabalho uma riqueza, um imenso lucro. É suficiente observar a Europa do Norte, Anglicana, Luterana e Calvinista, para entender o facto que afirmo nesta linha final. Compare com a França, Espanha e….Portugal!