Os dias do fim – 11 de Fevereiro de 1910

 
Com o fim do Carnaval, a actualidade política regressou ao topo da actualidade. O «Jornal de Notócias» fala da reforma eleitoral e das audições aos Partidos que estão a ser promovidas pelo chefe do Governo, o progressista Francisco Beirão. Não se sabe muito bem em que consistirá essa reforma, embora se fale na criação de pequenos círculos de 2 a 6 deputados, na existência de voto obrigatório e voto por procuração para os entrevados e ausentes, «excepto o gato do sr. José Luciano de Castro, que esse vota por acumulação».
Entretanto, os partidos da Oposição queixam-se da perseguição que lhes está a ser movida pelo ministro da Fazenda. Francisco Beirão bem prometeu que não haveria retaliações, mas «teve de largar do bico o raminho de oliveira ou engoli-lo, transformando ao mesmo tempo a bandeira branca em lençol para envolver o corpo dos adversários que vão descendo à cova.»
Reuniu-se ontem a Câmara do Porto, sob a liderança do presidente Cândido de Pinho. Foram debatidos os melhoramentos na cidade, em especial o porto de Leixões e do Douro. Em Coimbra, foi preso o democrata Francisco da Fonseca, por ter em casa duas carabinas novas e algumas caixas de munições. Em Braga, vai ser organizado um «bodo aos pobres» por iniciativa do conde de Agrolongo.
Do noticiário internacional, saliente-se a tomada de posse do novo Governo de Espanha, chefiado por José Cavalejas. Em Paris, anda à solta um estripador que já fez dezenas de vítimas. Em Tribunal, uma mulher, Roselia Bosch, foi condenada À morte por ter morto uma rapariga.
Faltam 237 dias para a instauração da República.

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