Pena de morte

Lembram-se dos tempos da tal  omminosa Monarchia que para sempre aboliu a Pena de Morte? Pois bem, aqui vos deixo um aviso de Serviço da República. É que como todos sabemos, a abolição de 1852-67 foi letra morta durante muitos anos, inaugurando-se em 1 de Fevereiro de 1908, o alegre caminho que conduziria às quotidianas fuzilarias em todo o país, à Leva da Morte, à Camioneta Fantasma da Noite Sangrenta, aos assassinatos a eito, ao presidenticídio de 1918, etc, etc.

A Bem da Nação.

Curioso… no Expresso

Eis aquilo que alguns têm andado a dizer há anos e que agora encontra eco, desta vez pela pena de Fernando Madrinha. Hoje mesmo, na sua coluna no Expresso.

O caduco traste “República” – ou melhor, a baderna em que se vegeta – que se cuide.

Uma foto quase desconhecida


A Comissão Oficial do Centenário da República, tem divulgado muitas fotos de exaltação da bandeira do seu amado regime. Aqui está uma imagem praticamente desconhecida, tirada pelo exército alemão na antiga União Soviética, há uns setenta anos. Num momento de ajudas da Alemanha, convém amansar os espíritos dos generosos patronos.

Um Pilatozinhos de trazer por casa

No programa A torto e a Direito, um dos temas consistiu na clamorosa total falta de ética da maioria dos agentes políticos deste regime na sua fase derradeira.  Discutia-se a indecência e baixeza que se foi instalando nos últimos anos, aliás visivelmente despoletada pela starlet Joana Amaral Dias, quando em 2009, decidiu divulgar a recusa a um convite feito pelo PS. De Amaral Dias passou-se para o processo autofágico do PSD, onde pontificam excelsas cavidades cranianas como Capuchos, Mendes e outros liliputianos sacholadores desta leira de misérias.

 O convidado de hoje foi Rosado Fernandes – disse que …”não sou monárquico mas já não sou republicano” – e como conhecedor de um passado ainda bastante recente, traçou similitudes entre a actual situação e o período da crise final do reinado de D. Carlos. Para além de referir a estatura política e humana do monarca, discorreu de forma muito perceptível acerca dos ensimesmamentos dos principais Partidos do regime de então. Estranhamente paralelos ao PSD e ao PS, o Partido Regenerador e o Partido Progressista enveredaram por uma espiral de teimosias, ódios pessoaais e destilar de venenos que foram fatais ao sistema constitucional. O homem honesto e que gostava de mandar, era Franco. D. Carlos era o Rei. Sabe-se o que depois sucedeu.

 Comparemos as personagens presentes no palco da nossa desgraçada política de 2011 e vejamos a diferença. Se as superestruturas do PSD e do PS fazem jus aos seus antepassados Regeneradores e Progressistas, a verdade é que hoje e por suprema desgraça, já não existe qualquer João Franco à disposição de um país faminto de decisão, lisura e competência. Muito menos ainda existirá na chefia do Estado, alguém  que mesmo através da imaginação de uma realidade paralela, seja sequer um mísero sucedâneo de Carlos I de Bragança. Até um escrupuloso neutral como D. Luís I, faria melhor e seria mais respeitado que qualquer oculto chefe de dissidências partidárias e em funções pretensamente salomónicas. Em fim de Páscoa, sabemos quem é o nosso Pilatos, também este, um subalterno governador regional de um certo Império na forja.

No Terreiro do Paço e em Dallas

Há quase cinquenta anos, um misterioso tiroteio em Dallas, tornou possível testemunhar quase em directo, o assassínio de um Chefe de Estado. Na ocasião, John Kennedy – uma das mais colossais fraudes mediáticas do passado século – foi abatido aos olhos de uma população chocada e incrédula. As imagens do acontecimento, são igualmente o testemunho da normal aflição de Jackie Bouvier Kennedy que desvairada, rasteja pela parte traseira da limusina presidencial. O pânico daquela mulher, a cabeça estilhaçada do presidente e a tragédia interiorizada por um povo inteiro, remete-nos para aquele outro dia, pouco mais de meio século antes, quando o landau preto, transportava a família real portuguesa. Os mesmos sons de tiroteio, as correrias apavoradas dos atónitos espectadores da matança, a coragem abnegada de cocheiros, polícias e de alguns populares. Mas neste caso, o que a memória colectiva registará para sempre, foi a atitude de uma mulher que erguendo-se na carruagem, teve o braço firme que faltou ao governo, à policia e à população que escapou amedrontada. Dª Amélia não fugiu nem procurou proteger-se. Mais do que a própria vida, defendeu os seus e com a esta demonstração pública de abnegada coragem, honrou o trono e a sua pátria de eleição.

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O Regicídio e a premonição do nosso século XX


“Perante tal atentado, tão selvagem tão planeado, o primeiro gesto é de indignação. Mas isso não exclui a lucidez. Que os povos não tenham ilusões. A revolução, onde quer que nasça e sejam quais forem os pretextos de que se arme, mata primeiro os reis para matar de seguida, mais à vontade, os povos. Faz o seu baptismo de sangue para prosseguir uma tarefa sanguinária. “Liberdade!”, grita o regicida, a maior parte das vezes um instrumentalizado e um impulsivo, o que não o torna mais respeitável. “Servidão”, responde a História.
Gentes de Portugal e doutras paragens: acreditem nos franceses experientes que passaram por todos os dramas, todas as loucuras e também todas as inanidades da miragem revolucionária. O que o complot antidinástico visa é precisamente esta ordem hereditária onde são possíveis liberdades, mesmo num visível constrangimento. Trata-se de instaurar a desordem, em regra parlamentar, onde uma fachada de abertura social mal consegue esconder a pior das tiranias. O assassínio do rei só tem como finalidade o advento de reizinhos anónimos, irresponsáveis e passageiros, os quais, não tendo interesse em conservar a nação, a devoram. Os tiros dirigidos ao soberano eaos seu herdeiro vão atingir o coração da pátria, da mesma forma que, segundo a expressão de Balzac, a Assembleia, condenando Luís XVI, cortava o pescoço a todos os pais de família. Os povos são solidários com os monarcas.”

Le Gaulois, Paris, 4 de Fevereiro de 1908

A Real Associação de Lisboa apela à comparência popular no acto de reparação do 1º de Fevereiro de 2011, a realizar-se na Igreja da Encarnação pelas 19.00H, em Lisboa (Chiado). Estará presente a Família Real.

República Portuguesa 5, Reis de Espanha 0

http://rd3.videos.sapo.pt/play?file=http://rd3.videos.sapo.pt/ywe0IfYcpqPiC9SwLMof/mov/1

Este golo do Ronaldo foi roubado numa altura em que o jogo comemorativo do centenário da República ainda estava a zero, possivelmente por árbitro e fiscal-de-linha pensarem que se tratava de uma homenagem à República Espanhola mas rapidamente até os franceses perceberam que se tratava de comemorar o nosso centenário.

Os outro 4 golos, legalizados, que podem ser vistos aí em baixo, remataram um dos melhores momentos das comemorações deste ano. Viva a República!

É Ouvi-lo Falar

“Presidente da Câmara privou com o Papa Bento XVI”

A nossa centenária república laica possibilitou ao ilustre Joaquim Mota e Silva, notado edil de Celorico de Basto, um momento de católico convívio com o Papa Ratzi Bento XVI. Ele, Mota e Silva, falou e “Sua Santidade ouviu com toda a atenção”. E fiquei, eu, muito impressionado com tão lata colecção de frases feitas. Devo estar a ficar velho, sem paciência para estes apajares. Afinal, o Papa “teve bem ou teve menos bem”?

E quero daqui enviar o meu apreço jornalístico à última edição do jornal Notícias de Basto por, em apenas 24 12 páginas, ter conseguido encaixar 15 fotografias do autarca local, duas das quais na capa. Notável.

Bruna Real, a Republicana (2)

Bruna Real, a Republicana (1)

Cem Anos Sem Rei

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CEM ANOS SEM REI

O que me lixa não é que se comemorem os 100 anos da república, cada um é para o que nasce e “chacun s’amuse à ça façon”.
O que me lixa é que se comemore o centenário da república como se a instauração da dita correspondesse à realização da vontade democrática do povo português; como se estivessem a celebrar 100 anos de democracia, ou lá que raio de sucedâneo de democracia é esta coisa em que vivemos actualmente.
A nossa suposta democracia é uma jovem prestes a completar 36 anos que, talvez por acumular erros de juventude e devido à sua descuidada cultura e educação, para já não falar de uma capacidade financeira que a tem vindo a comprometer na sua ética e na sua independência, apresenta um aspecto desgastado, e pouco atraente.
Será por isso que agora tendem a confundi-la com uma centenária?

A república tem 100 anos e Portugal cumprirá este ano 867.
Quase tudo o que foi importante se passou nos primeiros 767 [Read more…]

Uma História (muito) mal contada


O convite (com muito mau hálito) para a sessão inaugural da Assembleia Constituinte de 1911: mulher NÃO entra!

Neste 8 de Maio e em todo o Portugal, múltiplas instituições comemoram o Dia Internacional da Mulher, num oportuno enxerto com as comemorações oficiais da República. O lema? A Mulher e a República.
A verdade é bem diversa daquela que nos querem fazer crer. Nem sequer dando muita ênfase ao facto de Portugal ter tido duas mulheres que acumularam a Chefia do Estado com a de comandante-em-chefe das forças armadas, há ainda que considerar as regências que se sucederam ao longo de séculos e onde brilharam nomes como Catarina de Áustria ou Luísa de Gusmão, entre outras. A I República excluiu as mulheres da vida cívica, considerando-as como seres inferiores e ameaças ao regime de 1911, atribuindo-lhes um pendor religioso contrário aos postulados vigentes. Neste artigo publicado no pró-Partido Democrático jornal Humanidades (1913), torna-se evidente a contradição entre a retórica de hoje e a verdade da História de ontem. Aqui vai um naco da prosa, para aguçar o apetite:
“As mulheres na sua maioria são verdadeiras crianças, com caprichos singulares, excêntricas exigências, são histéricas, nervosas, morbidamente tímidas, deploravelmente ignorantes. Em frente desta fotografia, o que pretendem as feministas, onde quer que elas existam?
Para disfarçar a sua infantilidade, os seus caprichos, as suas exigências, envergam um trajo tanto ou quanto possível semelhante ao do homem, para proteger o nervosismo, o histerismo, e a sua timidez, usam pistola e para acabar de vez com a ignorância, uma formatura. (…) Basta que ela saiba ser mãe para o que é preciso aprender. Uma parte desta sublime missão sabe-a ela instintivamente, outra desconhece-a geralmente – a educação dos filhos.Para isto é preciso despartilha-la; despi-la de muitos preconceitos que a perseguem e gritar-lhe bem alto ao ouvido: não sacrifiques a tua saúde ao rigor artístico dos figurinos porque ao desenhista nada custou a manejar o lápis sobre um pedaço de papel! “


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Os dias do fim – 11 de Fevereiro de 1910

 
Com o fim do Carnaval, a actualidade política regressou ao topo da actualidade. O «Jornal de Notócias» fala da reforma eleitoral e das audições aos Partidos que estão a ser promovidas pelo chefe do Governo, o progressista Francisco Beirão. Não se sabe muito bem em que consistirá essa reforma, embora se fale na criação de pequenos círculos de 2 a 6 deputados, na existência de voto obrigatório e voto por procuração para os entrevados e ausentes, «excepto o gato do sr. José Luciano de Castro, que esse vota por acumulação».
Entretanto, os partidos da Oposição queixam-se da perseguição que lhes está a ser movida pelo ministro da Fazenda. Francisco Beirão bem prometeu que não haveria retaliações, mas «teve de largar do bico o raminho de oliveira ou engoli-lo, transformando ao mesmo tempo a bandeira branca em lençol para envolver o corpo dos adversários que vão descendo à cova.»
Reuniu-se ontem a Câmara do Porto, sob a liderança do presidente Cândido de Pinho. Foram debatidos os melhoramentos na cidade, em especial o porto de Leixões e do Douro. Em Coimbra, foi preso o democrata Francisco da Fonseca, por ter em casa duas carabinas novas e algumas caixas de munições. Em Braga, vai ser organizado um «bodo aos pobres» por iniciativa do conde de Agrolongo.
Do noticiário internacional, saliente-se a tomada de posse do novo Governo de Espanha, chefiado por José Cavalejas. Em Paris, anda à solta um estripador que já fez dezenas de vítimas. Em Tribunal, uma mulher, Roselia Bosch, foi condenada À morte por ter morto uma rapariga.
Faltam 237 dias para a instauração da República.

Estórias de quixotescas correrias, ideais e conspirações à portuguesa


O que podem trazer a Portugal os ânimos exaltados e um caldeirão de conspiratas de café, arremetidas à D. Quixote, sortilégios e ideais messiânicos de salvação colectiva?

Embora o Aventar seja um blog plural – sem encapuzados, vendados, portadores de punhais ou de círios votivos -, o dia que hoje alguns comemoram deve ser respeitado e assim remeto para outras paragens, o relato dos acontecimentos que tiveram o seu epílogo às 11 da manhã – hora deste post -daquele já distante dia de 1891. É que tudo acabou em bem, como devia e exige a legalidade e o Estado de Direito!

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Mais coisas giras em ano de Centenário


1ª O Supremo Tribunal Administrativo é uma loja maçónica criada, instalada, dirigida e presidida por maçons – como, aliás, o Supremo Tribunal de Justiça é uma loja maçónica, criada e instalada por maçons, em aplicação do disposto no Ritual do Grau 27, e sendo o seu primeiro presidente — B… — e seguintes igualmente maçons.
2ª E sabe-se como ensina o maçon C… — ex-Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano, Soberano Grande Inspector Geral e presidente do Supremo Tribunal Maçónico — «onde está um Maçon está a Maçonaria» (António Arnaut, Introdução à Maçonaria, Coimbra Editora, p. 86).

10ª Além disso, enquanto loja maçónica que é, o Supremo Tribunal Administrativo sempre tem procurado seguir o ensino do grande maçon António de Oliveira Salazar, a saber: «criminosos arvoraram-se em juízes e condenaram pessoas de bem» (Discursos, vol. V, p. 52); «o que muitas vezes resulta em Portugal do funcionamento das instituições legais — o castigo dos justos» (vol. II, p. 357); «se os tribunais não fazem boa averiguação dos factos e recta aplicação da lei, temos (…) “a mentira da justiça” (vol. 1, p. 28); «os povos, como os indivíduos precisam ser tratados com justiça» (111:108); e «a sociedade tem de inspirar-se nas suas decisões pelo princípio da justiça devida a cada um (vol. IV, p. 108).

Querem ler o documentozinho na íntegra? Ora venham AQUI !

Centenário da República: os posters comemorativos (2)

2. O culto à sagrada bandeira: Liberdade, Igualdade, “Fróternidade”

Um dos aspectos nada negligenciáveis destas comemorações oficiais que se avizinham, consiste numa re-leitura da História, tentando adaptá-la à conveniência do sistema vigente.
Órfãos de referências que solidamente indiquem uma continuidade, alguns elementos mais preponderantes na conformação da verdade oficial tudo têm feito ao longo dos anos, para apresentar a actual República como uma directa sucessora daquela outra que implantada em 1910, baquearia vítima dos seus próprios erros. Assim, a audácia na apresentação de uma ruptura habilmente apresentada como hiato – o “interregno” de que o dr. Mário Soares se tornou paladino -, tem como fim, a total evaporação do pesadíssimo legado histórico, político e social que a 2ª República significou. Regime saudado com esperança e saído do desespero colectivo em que o país mergulhara, teve uma vida inicialmente acidentada e com a consolidação, durante algumas décadas normalizou-se naquela expressão que Salazar caracterizaria como “viver habitualmente”.

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É mesmo??? "Cadê o Povão"???

No blogue paramimtantofaz estiver a ler ISTO que descobri através do Carlos do Intervenção.

No momento em que o Aventar se prepara para um especial a comemorar a República, nada como uma boa polémica.

No Centenário: o fim das ilusões operárias


Interessante texto para ler A Q U I

“O Governo, já só quase exclusivamente interessado na distribuição de “poleiros” (Bernardino Machado ganha o apelido de “São Bernardino”, nas ruas de Lisboa), deixa progressivamente o País entregue aos vários interesses económicos que povoam o território.Em Janeiro de 1912 dá-se o inevitável, o divórcio entre as massas operárias e a República consuma-se .O Cálvario da I Republica tem assim o seu ínicio e fim no 1º e único Governo de esquerda que existiu até à III República, o Governo de Domingues dos Santos (1924-1925), o último suspiro eleitoral da I República e o principio do fim da aspiração a um Estado Democrático.”

Por Ricardo Gomes da Silva, in Centenário da República

Centenário da República: os posters comemorativos (1)

1. A DOCE MÃEZINHA

Mário Soares anda todo ancho, já perspectivando o ciclo de forró comemorativo que se avizinha. Assim, vai avisando que apenas serão comemoradas as duas repúblicas do imaginativo esquema vigente, deixando a mais longa e duradoura, como coisa esquecida no limbo da conveniência. Olvida assim, aquela que foi precisamente a 2ª República, – a actual, queira ou não queira, é mesmo a terceira – quem solidificou a instituição, tornando-a corriqueiramente respeitável e alçando os Venerandos à semi-divina condição de entes intocáveis, de que aliás, Mário Soares muito beneficiaria.

A sua questionável coerência, deixa-nos por vezes pérolas de inestimável valor republicano e nos meandros do texto que hoje o Diário de Notícias publica, encontra-se esta saborosa justificação para o dinástico alçar do sr. Artur Santos Silva à presidência da Comissão Oficial do Centenário:

“O Governo decidiu – e bem – constituir uma Comissão Nacional para as Comemorações, presidida pelo Dr. Artur Santos Silva, bisneto de um dos heróis do 31 de Janeiro de 1891 (…), neto de um ilustre médico, várias vezes ministro da 1ª República (…) e filho do ilustre advogado e resistente antifascista (…) de quem tive a honra de ser amigo.”

A plutocracia tem destas coisas. Os amigos são para as ocasiões, mesmo sendo santos entre silvados.

Os laparotos milionários da Comissão do Centenário da República

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O banqueiro Artur Santos Silva (PSD,/BPI/Partex/Gulbenkian/Jerónimo Martins, etc), veio ontem inaugurar publicamente as actividades da milionária  Comissão Oficial do Centenário da República.

Como curiosidade, declarou que …”a república representa a afirmação da liberdade e da cidadania, o combate à pobreza e a celebração do Estado de Direito“. Dada a actual situação que o país vive social, económica, financeiramente, na Justiça e no progressivo cerceamento da liberdade de expressão, a atoarda do sr. Santos Silva não deixa de ser uma originalidade.

De todo o babado e risonho discurso, apenas retivemos desta Comissão, a promessa do tal pau de bandeira com cem metros de altura – o laparotismo autárquico do  Guinness – e o anúncio de fazer soar A Portuguesa no próximo dia 5 de Outubro, tocada por “centos de bandas filarmónicas em todo o país”.

Fazem bem. O Hino é patriótico, bonito e como se sabe, bastante apreciado por  D. Carlos, a quem foi dedicado pelos seus autores. Aqui deixamos em imagem, a capa da partitura original. Talvez o sr. Santos Silva decida publicá-la para o povo ver.

Ainda têm dúvidas?

Buíça (1) aí uns cobres!

 

 

Segundo o Público, Mário Soares está raladíssimo com a crise em que o PSD se afunda. Sabedor como poucos do tipo de contratempos que a travessia no deserto da oposição significa para um Partido, M.S. diz que é necessário dar uma ajuda ao grémio laranja. No mundo onde roda a engrenagem das rotativas – na imprensa e no Parlamento -, são sempre necessários dois comparsas para a dança do costume. É que todas as precauções são poucas, pois embora o colega Silva Lopes, jovenzinho de setenta e sete anos – proveniente do caetanismo pró-terceira via – tenha cometido a proeza de se fazer nomear para a gestão de uma grande empresa "com ligações ao Estado", estes lugares jamais poderão deixar de ser cativos: "ou são para vós, ou são para nós, nada de penetras!"

 

E agora, só para irritar os do falso mas miliardário Centenário, aqui vai mais um naco de prosa de um ex-republicano, que em 1912 decidiu dizer (2):

 

"Com a República não há salvação possível. Uma esperança! Uma única! A restauração monarchica poderia trazer uma reacção benefica. Uma salutar licção para monarchicos e para republicanos. Talvez retardasse um pouco, pelo menos, a queda rapida, escorregadia e lobrega em que vamos para o abysmo. Mas com a república, está inteiramente, e desde já, tudo perdido."

 

Homem Christo, in Banditismo Político, Madrid, 1912.

 

(1) Buíça: em dialecto do sul de Moçambique, quer dizer "dá cá". Nada de confusões, p.f.

 

(2) isto não foi escrito após o debate do Prós e Contras de segunda-feira. O Português escrito é pré-Costa/Formiga Branca/Camioneta Fantasma/Leva da Morte.

 

No Centenário (5): direitinho ao dr. A. Santos Silva

 

Aqui está o tipo de "democracia" que os do Centenário querem fazer-nos comemorar!

 

 "Hontem, por volta das 9 horas menos um quarto da noite, o sr. José Pereira de Sampaio (1) descia, só, tranquilo e socegadamente a rua Sá da Bandeira, desta cidade.  Atravessou a rua, vindo da tabacaria Gonçalves, o dr. Affonso Costa, acompanhado de vinte indivíduos, aproximadamente. Subito, o dr. Affonso Costa, dirigindo-se ao sr. José Sampaio, berrou-lhe: – Ah, seu canalha! E, levantando a mão armada de um "box de ferro", assentou-lhe uma forte pancada na cabeça. Logo, os indivíduos que acompanhavam o dr, mettendo-se na contenda, agarraram os dois, mas permittindo que o dr. Costa continuasse aggredindo violentamente o sr. José Sampaio. (…)"

 

Jornal Voz Pública, 12 de Janeiro de 1902

 

(1) (Sampaio Bruno, que entretanto se desfiliara do Partido Republicano) 

De face às claras

 

O sr. Cavaco Silva anda aborrecido, com e sem razão. Com razão, porque os seus não o informam acerca do que se passa, negando-lhe assim, os essenciais elementos para o jogo político a que desde sempre se dedicou. Sem razão, porque neste jogo, tanto pode perder, como ganhar. Foi exactamente para isso mesmo que se fez eleger por um em cada três portugueses. São episódios que de longe vêm e a que sua excelência dá plena continuidade, como bem sabida lição da história.

 

 

"(…) O Partido Republicano não tem emenda. O Partido Republicano está cada vez peor. E, isso,  sendo um grande perigo, é, ao mesmo tempo, uma verdadeira afronta ao paiz, onde o Partido Republicano procede  como se fora um exercito invasor. Isto é d’elles. Mas é d’elles à má cara. Mas é d’elles a ferro e fogo."

 

H.C., Jornal Povo de Aveiro, 3 de Maio de 1908.

 

No Centenário (4): Faces Ocultas de ontem e de hoje

 

 "Ill.mº Ex,mº Srº

 

Ahi vão as informações que me deu sobre o celebre Affonso Costa o official da contabilidade de secretaria da universidade.

 

O Affonso Costa, antes de ser deputado, e depois de sahir de Coimbra, abonava as faltas com certidões de medicos que attestavam a doença d’elle, e contava-se-lhe e recebia todos os mezes o ordenado. Como o abuso se prolongava, baixou da reitoria uma ordem para não aceitar certidão de abonação de faltas. Desde que foi elleito deputado, sempre se lhe tem contado ordenado, e elle tem-no recebido, sendo o bedel da faculdade que o recebe e lh’o remete para Lisboa. O ordenado conta-se-lhe sempre, porque quando a camara está fechada, pertence elle a uma comissão extra-parlamentar, não sei de quê, mas que obteve da camara para poder receber o ordenado sem trabalho. Este é um dos catões que se propoem salvar a pátria!

 

Sou de

V.ª Ex.ª

Manuel d’Oliveira Chaves Castro

 

Coimbra, 22 deJunho de 1910"

 

 

Apenas uma nota: torna-se bastante difícil continuar a ignomínia do alçamento das "excelsas virtudes" de apregoados grandes vultos. Se este aspecto comezinho – no dizer ou possível opinião do dr. M. Soares – não chega, acrescentem-se então ao palmarés do Costa de outrora, a cacetagem, o incentivo ao crime físico com a eliminação de adversários, a censura a priori à imprensa, a fraude eleitoral, o radical cerceamento dos cadernos de eleitores, o nepotismo descarado, o ataque cerrado ao Partido Socialista de Azedo Gneco – acusado de conspiração com o rei -, a promoção dos antecessores da PIDE – a famosa Formiga Branca – e um sem fim de iniquidades. Na Comissão do Centenário, o dr. Augusto Santos Silva parece querer patrocinar isto. Lendo as notícias deste nosso "habitual quotidiano", anotamos a coerência. Vê-se!

Armistício esquecido

  

 

 

Passaram ontem 91 anos da assinatura do armistício firmado entre as potências da Entente e o Império Alemão. A curta cerimónia na floresta de Compiègne, punha fim à hegemonia da Europa sobre o planeta Terra e inaugurava um século XX de violência e extremismos sem precedentes.

 

Em Portugal, um dos derrotados de facto da I Guerra Mundial, o Armistício apenas tinha algum significado para o cada vez mais escasso número de antigos combatentes, que empurrados por um regime ignóbil para uma frente de guerra longínqua, foram sacrificados ao fugaz interesse de uns quantos políticos do momento, sequiosos do reconhecimento das Potências. O Armistício e as cláusulas de Versalhes consagraram essa derrota política e militar, pois o nosso país não obteve qualquer compensação territorial e materialmente, as indemnizações foram de pouca monta. Contando reequipar a marinha de guerra – o bastião armado da I república – com alguns dos despojos da Hoch See Flotte doKaiser Wilhelm II, chegaram ao Tejo, apenas uns fracos cascos de escolta da liquidada armada austro-húngara. Compreende-se assim, obliteradas pela hodierna informação as grandes tiradas e piedosas pagelas  dedicadas ao "Soldado Milhões", este conveniente esquecer que o regime vota à efeméride. 

 

 

A História da participação portuguesa na Grande Guerra está ainda eivada dos mitos endeusadores da iimplacável propaganda a que o país esteve sujeito ao longo de mais de três quartos de século. Se as Memórias de Chagas ou os Diáriosde Relvas os desmentem cabalmente,  as resmas de livrinhos, opúsculos e revistas que enaltecem essa autêntica saga de derrotados, impuseram a falsidade como norma. O Poder sempre viu como uma necessidade, um reescrever de uma História que lhe era e é , sem dúvida, totalmente adversa. Desde o mito de Tancos, até à "reconquista de Quionga" (Moçambique), teceram-se lendas, falsearam-se números, esconderam-se realidades. Estas ditas realidades são facilmente descortináveis no meio do autêntico matagal de cipós e trepadeiras parasitas com que o regime enredou o incauto aventureiro nestas actividades do conhecimento. Até há pouco, era unanimemente aceite como facto, o clássico duelo de um punhado de bravos que teve de enfrentar a colossal máquina guerreira engendrada pelo militarismo prrussiano e pelas novas artes de matar propiciadas pela fabulosa Revolução Industrial. 

 

A verdade é bem mais comezinha e típica daquele conturbado período que uma população indefesa teve de suportar estoicamente. A falta de organização, o desleixo e abandalhamento de umas forças armadas fatalmente atingidas pelo vírus desagregador do 5 de Outubro, colocaram desde o início em causa, a própria colaboração de Portugal com a sua formal  aliada, a Inglaterra.  O corpo de oficiais encontrava-se profundamente dividido quanto à forma do regime e pior que tudo, participava agora activamente nos combates políticos na arena de S. Bento. O efeito dissolvente sobre o sentido de hierarquia, seria absolutamente fatal no momento em que a tropa teve de enfrentar as disciplinadas, e aguerridas divisões alemãs. Os últimos anos da Monarquia tinham feito chegar aos arsenais armas novas, desde espingardas modernas  com as quais o exército se armou durante o próximo meio século, ao famoso canhão de 75mm francês. Comprado em importante quantidade e acompanhado por pessoal bem treinado, era talvez a única arma susceptível de prestar eficientemente o serviço na frente. Contudo, uma parte dos efectivos foi deixada em Portugal, com o estrito fim de controlar as crónicas sublevações políticas e militares que ensanguentavam o país e tornavam periclitante a república. Assim, o desastre foi total, desde as trincheiras de Armentières ao sul de Angola e a todo o norte e centro de Moçambique. Não se ganhou uma só refrega – por muito secundária que fosse -, a doença grassou com inaudita ferocidade, acompanhada pela fome, frio e parasitagem de toda a ordem. Resumidamente, foi este o palmarés que a república honestamente devia ter apresentado como seu, exclusivo, único. Mas não, não procedeu de acordo com o rigor histórico, porque colocou os seus publicistas ao serviço e de sentinela, escrevinhando-se mirambolantes feitos épicos de canhoneiras contra submarinos, de um soldado que sozinho aguentou vagas de Sturmtruppen, não se esquecendo no plano da valentia política, apresentar como glorioso feito, o apresamento das sete dezenas de navios alemães internados nos portos nacionais. A verdade foi outra e decorreu, como é óbvio, do acicate britânico ditado pela premente necessidade, no momento em que a guerra submarina fazia perigar o equilíbrio de forças a favor dos Impérios Centrais. 

 

Após a assinatura do Armistício, assistiu-se a uma patética correria na imprensa, tendente a fazer crer da inevitabilidade de uma portentosa recompensa territorial ao esforço da república. Assim, a Ilustração Portuguesa apresentava num dos seus números e na capa, um orgulhoso Afonso Costa que empunhando um mapa, mostrava o Tanganica (Tanzânia), como a natural anexação para a criação de um Grande Moçambique. 

 

Não foi a participação da república portuguesa  no conflito, aquilo que mais interessa reter neste aniversário. O que realmente importou, foi o tremendo erro e claro engano imposto aos vencidos que acreditando à letra no próprio significado político e militar da palavra Armistício, foram alguns meses depois, obrigados a submeter-se a uma jamais vista humilhação universal que para sempre mudou o conceito que os povos tinham da diplomacia e das relações internacionais. Decorridos à época, quase exactamente cem anos após a esmagadora d
er
rota do império napoleónico, à Alemanha não lhe foi permitido conservar o regime político, nem sequer teve o direito de negociar qualquer cláusula, fosse ela de índole militar, económica ou territorial. Estava-se num momento, em que mesmo que o Reich contasse com uma horda de Talleyrands, esta não teria exercido qualquer influência no desfecho daquilo a que se designou por Tratados. A guerra tinha sido dolorosamente longa e mercê dos equipamentos colocados à sua disposição pela magia tecnológica dos novos tempos, irredutibilizou os ânimos, fomentou ódios irreconciliáveis e lançou as sementes para um futuro e mais devastador conflito.

 

A I Guerra Mundial significou a liquidação da Europa como espaço político, económico e militar que durante séculos ditara uma hegemonia global. Os americanos entraram na guerra, precisamente para esse arrebatar  de testemunho, revertendo a seu favor o esforço de terceiros, drenando recursos, subsidiarizando economias e o espírito criador. Territorialmente, os 14 Pontos de Wilson significaram o fim da tradicional fidelidade dinástica que durante séculos e até 1918, fez com que os exércitos do Kaiser de Viena, congregasse nas suas fileiras  mais de quinze povos, unidos pela história e pelo interesse que uma situação geográfica vital, impunha  a necessidade da união, mesmo que pessoal. De facto, o destruir da Áustria-Hungria, jubilosamente gizada em Paris e Washington, representou um irremediável desastre para a Europa que hoje, tenta encontrar um modelo que lhe reabra o trilho de progresso e poder que foi seu ao longo de meio milénio.

 

Seria interessante saber qual teria sido a participação portuguesa, no caso de o 5 de Outubro – e logicamente o Regicídio – jamais terem ocorrido. É um trabalho para os historiadores que dispondo da informação contida  nos arquivos nacionais e chancelarias estrangeiras, poderão assim avaliar cabalmente um enigmático "se" da nossa História.

 

 

Fontes Pereira de Melo e Maria Filomena Mónica

 A verdade dita por Maria Filomena Mónica

 

 

Maria Filomena Mónica é uma mulher bonita, elegante e não a conhecendo pessoalmente, parece-me acessível.  Tem um certo ar de outros tempos, num misto de Marlene e de Deneuve, mas sem a frieza coquette da primeira ou o arrogante e desdenhoso olhar da gaulesa. Excelente comunicadora, é expansiva, ri com facilidade e o seu fácies expressivo testemunha aquilo que sente e a certeza do que diz. Não parece portuguesa porque exala optimismo, coisa tão afastada do clima que há tanto tempo se vive no nosso país, como se de uma longínqua galáxia se tratasse.

 


Ontem, tive o prazer de assistir à entrevista concedida a Mário Crespo, na Sic Notícias. Comentando a biografia que escreveu sobre o grande homem que foiFontes Pereira de Melo, Filomena Mónica mostrou uma total independência perante o comodismo académico ainda preponderante, dizendo de forma clara e inequívoca, estar o país a sofrer há mais de um século, o abusivo relato de uma história falseada, porque inexistente. Referindo-se ao período que a obra estuda – a Monarquia Constitucional – e comparando-a com o regime que se lhe sucedeu – a 1ª república -, a autora foi incisiva na afirmação daquilo que hoje se tornou impossível de esconder.

 

Disse uma grande verdade e tão incómoda quanto impiedosa: a inelutável lei da natureza, vai fazendo desaparecer os promotores de uma historiografia oficial que ao longo de cento e cinquenta anos se acirraram na promoção da ficção de uma história nada científica e apenas fundamentada no dogma, alinhamento partidário ou mero fanatismo de grupo. Em suma, os lóbis que se vão sucedendo no poder, vão amesquinhando o todo nacional, em benefício do arrivismo mais atrevido e seguidor de figurinos importados pela conveniência clubística do momento.

 

Todos sabemos que a Monarquia Constitucional consistiu no mais longo período de normalidade daquilo que o preceituado da cartilha liberal pressupunha. Fizeram-se todas as reformas necessárias que adequaram o país aos novos tempos anunciados por uma Europa saída do caldeirão fervente da agressão napoleónica e sem um rumo ainda bem definido, mercê da destruição da velha ordem pré-revolucionária e da derrota militar do imperialismo rapinante do Corso.

 

Estradas, caminhos de ferros e infra-estruturas correspondentes – pontes, túneis, portos, entrepostos comerciais, mercados -, abolição da Pena de Morte, modernização do sistema eleitoral, simplificação das medidas e sua normalização "à europeia", fomento de indústrias e promoção do conhecimento científico, eis sucintamente, o programa que foi sendo executado em Portugal ao longo de mais de três décadas. Uma autêntica revolução material e nas mentalidades, surgiu como possibilidade modernizadora que aproximaria Portugal de uma Europa que começava a descobrir as potencialidades de um Ultramar pelo qual se digladiaria. Independente o Brasil, Portugal prosseguiu fortemente ligado à antiga possessão além-mar, mas a África tornou-se numa outra possibilidade de expansão, onde o país contava com direitos históricos, tenuemente garantidos pela presença em presídios costeiros e tácito reconhecimento in absentia por parte de outras potências. 

 

A derrota da França em 1870-71, criou uma situação de status quo territorial na Europa, implicando paralelamente, a corrida aos mercados que no além-mar prometiam ser o sorvedouro dos produtos da  recente industrialização. Fontes foi o Presidente do Conselho num momento em que existiam os capitais estrangeiros destinados ao investimento em economias que pretendiam a modernização. Países como Portugal ou a Rússia a eles acorreram, conseguindo criar as bases de uma modernização urgente porque imperiosa para a própria segurança internacional dos Estados. A adequação do modelo social em todas as suas vertentes – movimento sindical, sistema eleitoral ou o despontar dos compromissos sociais patrocinados pelo Estado – suceder-se-iam normalmente.

 

Maria Filomena Mónica é uma boa comunicadora, de fala simples, incisiva e compreensível para a maioria dos interessados. Ontem, ousou dizer a verdade que geralmente anda tão afastada das crenças enraizadas por sucessivas gerações de eternos e privilegiados pensadores do pessimismo que amolece a nossa gente, destrói a consciência nacional e impede a verdadeira autodeterminação de cada um e de todos. A autora prestou um relevante serviço ao país que importa.

A inexistente Censura

  

 

Todos os testemunhos fotográficos testemunharam a imponência dos funerais do rei D. Manuel II. Assustando o "regime da situação" na sua nova vertente de salvação do 5 de Outubro, comboios encheram-se de gente que de todos os pontos do país afluiu à capital, prestando aquela que desde o Regicídio, seria a maior homenagem pública de que havia memória. O corpo do rei esteve exposto em S. Vicente por um dilatado período de tempo, tal a dimensão da manifestação de pesar. Isto encontra-se testemunhado por reportagens imparciais, nacionais e estrangeiras, que além de centenas de fotografias e de milhares de cartas trocadas, consistiram numa justa homenagem ao monarca que ficou conhecido pelo Patriota. 

 

Apesar desta bem conhecida verdade dos factos, ontem, tal como hoje, existia uma censura que distorcia a notícia, calava as consciências e ameaçava pelo descarado despudor e manipulação. Assim, a imprensa oficial da 2ª república fazia difundir a velada ameaça, susceptível de ser lida nas entrelinhas. Dizia que …"os últimos chapéus altos da monarquia estavam presentes em S. Vicente de Fora. No Terreiro do Paço, toda a causa monárquica cabia em dois automóveis modestos."

 

Quando figuras do regime – como Mário Soares – tentam a todo o transe demonstrar o "monarquismo" do Estado Novo e e a inexistência de uma situação de república no Portugal de 1926-74, a linha editorial prosseguida durante mais de quatro décadas, desmente as patéticas, mentirosas e abusivas alegações. São bem conhecidos os movimentos policiais em torno da rainha D. Amélia, quando a soberana visitou Portugal em 1945. Escassas notícias publicadas pelos jornais da "situação" e do tolerado "reviralho", impedimento da divulgação de toda a agenda oficial da rainha, a sua discretíssima chegada de comboio à Estação de Entre-Campos (Lisboa), a gorada insistência em apartar D. Amélia do contacto popular. Conhece-se a carta da rainha a Salazar, em que esta alfinetava graciosamente o presidente do Conselho, salientando a constante "companhia" da indesejada PIDE, a policia política do regime. Apesar de tudo, as enormes manifestações populares de regozijo nas ruas, montras do comércio no país e em todos os locais onde D. Amélia se apresentou, desmentiram e assustaram o regime do poder e da sua oposição: o regime oficial da 2ª república e os dejectos sobreviventes da 1ª que para cúmulo, seis anos depois seriam ambos ultrajados nas ruas de Lisboa, quando do funeral da rainha. Centenas de milhar de pessoas invadiram as ruas, ultrapassando a presença popular nas pompas fúnebres de D. Manuel. Nunca mais se viu tal manifestação de pesar em Portugal.

 

No dia em que a oficialmente inexistente censura actua uma vez mais, convém recordar, pois este Centenário da República não passa da consagração da miséria mental a que este país chegou. Da descarada esquerda à cobarde e colaboracionista direita.

 

Um dia destes, ainda ouviremos os senhores Cavaco ou Soares perorar acerca da bandeira que durante mais de quatro décadas esteve hasteada na sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Ficaremos a saber que "oficialmente" a bandeira verde-vermelha não era a da república, mas talvez, a da Casa Gucci. Que gente…

 

 

Uma história muito mal contada

 

"No meio da crise angustiosa, que temos atravessado, e continua, vemos os republicanos, propugnadores das ideias avançadas, apparecerem na praça publica, a fazer manifestações ruidosas, a voltar aos ventos e encher os ouvidos da plebe, de palavras de patriotismo, com o fim, não de resolver o momentoso problema da dificil situação economica e financeira, que nos assoberba, mas -oh! patriotas- para tão sómente crearem difficuldades ao governo.

Discursos, palavras, gestos declamatorios, telegrammas para a imprensa estrangeira annunciando a revolução, eis as armas que de se serve esse grupo de portuguezes para salvar a situação.

Só a república -entendem esses senhores- póde salvar o nosso credito abalado, restaurar as nossas finanças e melhorar a situação economica do paiz.

É ridiculo esse movimento; magoa até, vêr meia duzia de aventureiros, appellidarem-se de portuguezes, todos inchados de patriotismo, apresentaram-se para salvar a patria, quando, na quasi totalidade, ignoram os principios mais rudimentares de administração publica e desconhecem por completo a forma de restaurar o nosso credito e finanças.

 

Nem um plano, nem um alvitre, sequer, indicam. Cerebros vasios que, na sua ignorancia, pretendem saltar por cima dos homens praticos e de reconhecido saber, para impõrem uma ideia ao paiz que poderá ser bonita como ideal, mas deixaria em peor estado a nossa situação.

Quando, depois do ultimatum houve o movimento contra a Inglaterra pelo assalto de tigre com que nos feriu na nossa dignidade nacional, houve enthusiasmo que, por vezes, subiu até ao delirio, e a resistencia, embora exhorbitante, produziu algum resultado util.

Assim houve, e ainda ha, quem movido justamento pelo odio contra a Inglaterra, repudiasse productos da industria ingleza, para se fornecer dos de industria nacional. Este facto é legitimamente patriotico. (…)

Á semelhança do que se fez desejaria eu que esses patriotas republicanos, em vez de blafesmarem na praça publica, e insultarem pela imprensa as instituições e os homens publicos, se congregassem e unissem em um só pensamento, promovendo por todos os meios uma grande subscripção que tendesse a exonerar-nos dos encargos que pesam sobre a nação; que apresentassem e publicassem planos financeiros com o mesmo fim; e finalmente que fizessem alguma cousa de util e proveitoso para o paiz."

 

Olha-olha…

  

 

O mais conhecido e dispendioso mudo nacional, recusa-se a tecer qualquer tipo de comentários acerca do mais recente caso de tráfico de influências, viaturas de alta cilindrada, envelopes "notificadores" e outras prendas habituais.

 

Faz bem em não comentar. Aliás, não se esperava outra coisa, desde a teimosa resistência quanto a um certo episódio ocorrido há poucos meses e que envolveu uma velha instituição nascida logo após a Restauração de 1640.

 

Como diz Miguel Sousa Tavares, "não há Máfia em Portugal, porque não é preciso ameaçar gente com uma pistola. Basta abanar umas notas".

 

Querem pistas? Pelo "diz que disse", podem começar pela adjudicação de troços de auto-estrada na zona de Condeixa – já há uns bons dez anos – e certas campanhas eleitorais destinadas a róseos palácios.

 

No Centenário (2): Relvas aparadas

 

Da leitura em diagonal das Memórias Políticas de José Relvas, decidimos retirar mais alguns valiosos contributos para o melhor conhecimento daquilo que foi o regime saído do golpe de 1910, assim como das questíunculas, ódios e irresponsabilidade política e moral dos seus principais dirigentes.

 

Sendo Relvas geralmente apontado pelos panegiristas do regime da Demagogia, como uma inatacável personalidade eivada de todo o tipo de qualidades políticas, morais e intelectuais, os seus escritos deverão ser encarados como honestos testemunhos da situação imposta pela violência a um país coagido pela coacção física e propagandista.

 

Já na fase pós-sidonista, Relvas parece esquecer-se da feroz luta contra a "ditadura" administrativa de Franco (1906-08) e assim, declara em 1919 …"como pode o Governo com o actual Parlamento que já não representa a vontade nacional, visto que o País aceitou o meu Ministério, não só sem resistências, mas até com aplauso? Foi por isso que eu fiz na entrevista um apelo ao Parlamento para nobremente votar o princípio da dissolução e uma nova lei eleitoral, elaborada com o consenso dos partidos, deixando entrever que se a vida do executivo ainda fosse possível com as actuais Cortes iríamos até ao momento em que novas eleições constituíssem uma necessidade inevitável para a formação dos dois novos e grandes partidos, base duma tranquilidade, que não conhecemos há muito tempo".

Este parágrafo remete-nos de imediato à famosa entrevista dada pelo rei D. Carlos aoTemps, em que os pressupostos para a normalização da vida pública, tinham como ponto central a formação de dois partidos constitucionais verdadeiramente alternativos – o governo "à inglesa" – e à elaboração de um novo sistema eleitoral mais equilibrado. Mais de uma década decorrida e num cenário de indescritível desordem pública, miséria económica e clara, embora camuflada derrota militar na I Guerra Mundial, Relvas parece pretender ressuscitar o plano de João Franco, num momento em que a dissolução do regime já se tornara inevitável.

 

Continuando, o autor escreve que …"acentua-se a campanha da dissolução em termos da maior violência. Hoje, na Câmara, quando se começava a discutir o projecto a que me referi na carta de ontem, o Francisco Fernandes afirmou que tal projecto, recordando o decreto de 31 de Janeiro, de João Franco, o excedia todavia nas autorizações arbitrárias que concedia ao poder executivo. Devo dizer-lhe que não é muito grande a correcção do dr. Fernandes e o seu espírito de transigência, não hesitando em aprovar o projecto desde que ele contivesse a restrição das autorizações concedidas apenas ao actual Governo". Por outras palavras, é a "ditadura!

 

A guerrilha entre os caciques republicanos, vai enrubescendo de fulgor e assim, …"o Cunha Leal – comediante-tragediante sabendo que o Parlamento já não existia, resignou o seu mandato de deputado perante o comício. E acrescentou que, se o Governo não decretasse a dissolução, convocava desde já o povo para dissolver o Governo!" Foi esta a gente de alegados elevados princípios de rectidão moral que quis governar o país. Continuando, vai escrevendo que …"esse farsante subiu as escadas do Ministério do Interior, acompanhado de populares, que a breve trecho entravam violentamente no meu gabinete, armados com pistolas e espingardas, invectivando-me e não me tendo morto, graças à oportuna e enérgica intervenção de Tito de Morais (…) entretanto, nas Ruas do Ouro e dos Capelistas continuava o tiroteio com a polícia, obrigada a defender-se dentro já da esquadra do banco de Portugal. Havia mortos e feridos. O primeiro polícia foi morto à porta do Ministério (…) durante a noite a Polícia, que se manifestara hostil ao Governo, teve de render-se, não sem ter manifestado num pátio da Parreirinha os seus afectos em vivas entusiásticos à Monarquia"…

De Machado Santos, a grande figura do 5 de Outubro da Rotunda, , dizia que …"é um sincero em tudo o que faz. Há porém entre estes dois homens diferenças fundamentais. É honestíssimo. Mas é de uma mediocridade intelectual assustadora, o que o conduz, fora da Rotunda, a todos os desaires e a todos os desastres. Está sendo cúmplice inconsciente do Cunha Leal, que não tem escrúpulos de nenhuma espécie, que é superiormente inteligente, e ilimitadamente ambicioso".

 

Na sua 24ª carta, desabafa que …"quando mataram o Sidónio – vilíssimo assassinato -, e quando o Teófilo Duarte passeava por Lisboa as suas loucas tropelias, dizia-lhe eu que tinha a impressão de presidir a um manicómio. Hoje tenho a impressão de habitar um covil de feras!" Estas palavras são absolutamente idênticas às de D. Manuel II logo após os acontecimentos de 1908-10, mas Relvas parece esquecer-se do constante recurso à violência física promovida pelos chefes do p.r.p. nos derradeiros anos da Monarquia Constitucional.

 

De Guerra Junqueiro, fazendo juz ao preconceito da época e aludindo ao desvario pela acumulação de riqueza que parecia obcecar o vate da república, dizia que …"ofundo irresistível da sua origem semita procura conciliar, com a mais alta e nobre visão da Pátria, os interesses da sua ambição. O que o conduz por vezes a situações lamentáveis".

 

Voltando à dissolução do parlamento, Relvas escreve: "Outro acto de firmeza do governo que parece estar esquecido, e que todavia não podia ser de maior transcendência, foi a dissolução do parlamento. Por não estar incluída na Constituição a faculdade de dissolver o Parlamento, atravessámos épocas políticas agitadíssimas, e viemos a dar a uma revolução." Curiosa auto-condescendência do escriba-primeiro ministro, parecendo oportunamente esquecer-se da tremenda campanha de imprensa levantada pelos republicanos durante o governo de João Franco. Assim, para Relvas a ilegalidade justifica-se desde que seja a "sua ilegalidade".

 

Não nos alongando mais no demolidor contributo do antigo primeiro ministro da 1ª república, finalizamos, como epitáfio de uma situação insolúvel, com um pequeno parágrafo:

"Entretanto, todas as pessoas que passam pelo meu gabinete estão assombradas com o espectáculo duma política tão mesquinha. Realmente, este gabinete é agora um posto de observação, e até de estudo, para psicólogos. Nesta luta de pigmeus, a fingirem de grandes homens, é fácil distinguir os motivos que os fazem agir (…) é a indicação que leva ao Terreiro do Paço outro Governo, que não pode ser, senão em outros moldes e com outras pessoas, uma reprodução do que vai desaparecer sumido nessa terrível voragem de desorientação e desprestígio em que se somem, nos últimos anos, em Portugal, umas atrás das outras, todas as situações ministeriais?"

 

* Na imagem, manifestação popular de apoio a D. Manuel II, diante do Paço das Necessidades (1910).