Conflito não resolvido entre economia e meio ambiente

“Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero

a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade,

quero a bondade. Quero o pecado.”

Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Chamou-me a atenção um ensaio do Dr. Daniel Sieben*, um jovem economista alemão doutorado, que recebi através de um amigo alemão. Por demonstrar que o pensar e agir sistémico-holístico se encontra instalado em todas as faixas etárias e por apontar exactamente na mesma direcção por mim postulada em relação à saída da crise, resolvi traduzi-lo. Espero que dê para pensar e que vos seja útil.

Rolf Domher

* Nascido em 1974

Da avidez para o espírito –
a crise económica como desenvolvimento interior
por Dr. Daniel Sieben
Na crise económica e financeira mostra-se o conflito não resolvido entre economia e
meio-ambiente. As medidas tomadas para a estabilização ignoram os nexos ecológicos
e as consequências. Para o meio-ambiente o crescimento representa uma crescente
carga, enquanto, em contrapartida, uma recessão traz um alívio passageiro. A crise
seria uma oportunidade para um novo começo, uma renovação espiritual e ecológica
do pensar e agir económico. Tornou-se evidente a instabilidade do sistema económico-
financeiro, que se encontra pendurado no fio de seda da fé na sua futura capacidade
de funcionamento. A inexistente sustentabilidade da economia – nem o desempenho
actual da economia nem o novo desempenho a surgir são sustentáveis – constitui o
resultado da alienação espiritual-económica das próprias bases naturais de sustento de
vida. Por isso a produção agrária de víveres saudáveis apenas possui uma importância
social reduzida, bem ao contrário dos produtos high tech que oneram o meio-
ambiente.
O novo governo federal representa a esperança de que a crise seja apenas um
fenómeno passageiro e que em breve um novo crescimento económico comece a
andar. Agora pretende-se que a solução seja implementada precisamente pelos
mesmos representantes do pensar económico orientado para o crescimento material
que causou a crise – para que tudo fique na mesma e que nada de novo nasça, que
possa exigir uma mudança interna e externa. Este pensar constitui um recalcamento
maciço da responsabilidade pessoal. A bem da verdade, a avidez não apenas se en-
contra entranhada nos banqueiros e nos seus produtos financeiros mas dentro de
todos nós. Também o cidadão normal quer os juros mais elevados possível do seu
banco. Sendo assim, quem quer saber o que se passa com o seu dinheiro e como os
juros são obtidos? Apesar do cidadão na sua qualidade de contribuinte a longo prazo
ter que suportar a um preço bem caro o apoio estatal ao sistema bancário, nas suas
decisões de investimento ele de boa vontade deixa-se seduzir como antes pela
publicidade-isco dos bancos, tais como prémios únicos ou contas ou cartões gratuitos.
A avidez – também do cidadão simples – encontra-se inquebrada! Em vez de assumir
responsabilidade própria e confrontar-se com as causas interiores da sua própria
avidez e da sua solução, a responsabilidade é recalcada, sendo as culpas lançadas
sobre “autores de um delito”, para o próprio poder assumir comodamente o papel de
“vítima” inocente. Esta renúncia da própria responsabilidade contém, fatalmente, a
renúncia da própria liberdade. Porque o pensar de vítima projectado sobre o meio-
envolvente faz-se dependente dos actos de outros, desistindo, assim, da competência
de decisão independente e da liberdade criativa para a própria vida. Sendo assim, a
verdadeira vítima é a fé numa realidade material-objectiva independente do indivíduo
como sujeito.
Uma visão objectiva-material do mundo, corresponde ao estado da ciência antes da
física quântica e da moderna investigação da consciência. Estas descrevem consenta-
neamente uma realidade criativa-subjectiva que é normativamente marcada pelos
próprios pensamentos, sentimentos e convicções da cada indivíduo. A investigação e a
cognição isenta de juizo de valor das causas interiores de situações da vida e aconte-
cimentos exteriores, torna-se pelo nexo entre mundo interior e exterior um importante
teor de vida. A libertação das próprias avaliações e condenações auto limitantes é, com
as palavras do iluminismo, a “libertação do indivíduo da sua menoridade de que ele
próprio é culpado”. Este processo de consciencialização ninguém mais pode assumir
por nós, nenhum Deus, Santo, iluminado, terapêuta, parceiro, conhecido ou parente.
O conceito por mim desenvolvido de uma sustentabilidade integrada, ao invés da
orientação convencional para o mundo exterior de desenvolvimento sustentável,
considera a união entre mundo interior espiritual e mundo exterior material. Viver de
forma sustentável significa consequentemente, viver ao mesmo tempo livre e res-
ponsavelmente no conhecimento da união de homem, próximo e natureza. Isto requer
passos corajosos em direcção à liberdade para abandonar a própria “gaiola” espiritual.
Essa “gaiola”, frequentemente de forma inconsciente, pode consistir em justificações
porque não se excerce a profissão que nos preenche mas apenas a que nos faz ganhar
dinheiro. Ou então consiste numa espera pelas condições certas, tais como p.ex. por
mudanças sociais ou políticas ou por uma libertação de fora, por um salvador mundano
ou redentor espiritual. Todos esses modos de pensar causam um permanecer em
dependência condicionando, por isso, a própria força criativa. Custa largá-los sem
sentir já a segurança de uma nova e melhor situação.
Não tenho nenhum modelo para uma nova economia à mão. Ela é exactamente isso
que deixamos nascer a partir das nossas convicções. Se nos metemos em algo verda-
deiramente novo, além dos trilhos e discussões conhecidas de mais ou menos mer-
cado, acontecem coisas imprevisíveis. A questão é, pois, como lidamos com a nossa
insegurança. Pretendemos esquivar-nos dela em termos económicos mediante cresci-
mento? Ou aceitamo-la e desenvolvemos confiança na própria criação? A satisfação e
alegria no quotidiano resultante desse passo, certamente terá os seus efeitos no pen-
sar e agir, assim como na relação de economia e meio-ambiente.
Daniel Sieben é economista consultor e vive em Leutkirch/Boschenhof, no sul da
Alemanha.
http://www.danielsieben.de

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